Capítulo 13: Súbitas Intenções
*ALERTA DE GATILHOS: CAPÍTULO LIVRE DE GATILHOS.
*RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA DA TRILHA SONORA PARA O CAPÍTULO: CAP 13: Midnight Dance - Vian Izak e Your Power - Billie Eilish
A noite do retorno havia melhorado, mudado repentinamente, após Gaya se reconectar com a árvore, suas raízes e sentir em seu espírito a forte presença da avó Anika. Precisava daquela experiência como um suporte numa ocasião tão delicada pelo falecimento e o medo extremo de ser capturada por aqueles que andavam com batinas.
Houve paz e conforto logo que seus pés voltaram ao interior, atravessaram a porta de correr e sem se importar com a curiosidade dos presentes, se juntou às mães e Dane, ao puxar uma cadeira de jantar e apanhar a xícara que restou na bandeja.
— Você a viu? — Anya tomou o espaço silencioso, Delphine expectou pela resposta e Dane não compreendia do que falavam.
A jovem bebeu o chá morno e discordou com a cabeça.
— A ouvi — as duas se ajeitaram no sofá. Buscavam as palavras da filha. — Ela expôs que não preciso dela que sou suficiente assim que implorei que a queria aqui — as mães se emocionaram. — Senti mais do que escutei e parece haver algo para mim lá na frente.
Inerte, conversava em transe com os olhos perdidos no chão.
— Acho que esse conselho da vovó, serve para todas — voltou o olhar direcionado às mães. — É um processo doloroso para nós, porém é compreensível.
Gaya desejou falar mais.
— Há coisas mães, que percebo com o tempo. Um espírito só sossega quando há paz em nós que éramos próximas — buscava palavras de modo a não expor o que passava com Moniese. — Se a vovó quis partir, então precisamos entender isso.
— Ela está certa — Delphine tomou a palavra. — Não há descanso se houver o sentimento de apego.
— Não sei... — a outra mãe completou. — É muito cedo para se pensar nisso.
— Mãe, em algum momento, sem percebermos, ficaremos bem porque vovó está bem.
Era bem difícil para Anya por ser a única a presenciar o repouso de sua mãe. Mas não seria impossível sair do estágio que se conservava.
Mesa posta, todos se reuniram na finalidade de jantarem depois de tudo o que aconteceu. Um chá não era o suficiente e pelo cheiro, Dane ouviu a barriga estremecer.
Pela primeira vez jantava com bruxas de respeito.
Legumes cozidos, molho salgado de cogumelos, batatas assadas douradas e feijão foi o prato servido na mesa acompanhada de uma jarra gelada de suco natural de laranja.
Famintas, Delphine e Anya se sentaram de frente para Dane e Gaya, que debruçaram no alimento ao preencher cada coisa no prato. Há tempos que ela sentia falta do almoço das mães.
Havia um sabor diferente do que ingeria na capital. As comidas eram naturais e apetitosas. Nem se esforçasse, atingiria o ponto das mães.
— Onde ocorrerá o funeral da vovó? — Gaya falou de boca cheia e esqueceu por um momento.
Não era apenas questão de bons modos. Também envolvia higiene. Ninguém estaria disposto a testemunhar uma partícula de comida voar para qualquer canto.
— Olha a comida... — Anya reclamou, mas parecia levemente abatida pela mãe.
— Desculpe mãe — respondeu após mastigar bem e engolir. — Fiquei curiosa em descobrir.
— Conseguimos uma cova no cemitério de Rye — Delphine expôs. — Ela ficará mais próxima de nós.
— Mas não temos condições ou temos, mãe? — se preocupou com gastos.
— Não nos preocupamos com isso — Anya estava impaciente depois do que Anika repassou à Gaya entre a conexão com o cedro.
Não aceitava bem a forma que sua mãe agiu. Sentiu conforme uma atitude egoísta.
— Como não? — a jovem desentendeu. — Nada está tão fá... — fora interrompida.
— Foi designado um espaço com a natureza ao redor porque os outros cemitérios próximos de Rye, se negaram a enterrar sua avó — Anya replicou ríspida e mirou a comida enquanto cortava a cenoura ao meio.
— Como? — enchia de questionamentos que instigavam a impaciência.
— Somos bruxas, Gaya. Não quiseram enterrar uma bruxa em solo "santo". Será que é difícil de compreender?
Dane e Delphine pareceram constrangidos ao se entreolharam e o rapaz focou na própria comida.
— Mas Moniese foi enterrada e nunca foi uma boa pessoa — se enfureceu. — E enterrar a vovó em Rye, é algo que me surpreende. Quem ajudou?
Anya e Delphine cruzaram os olhares tensos como se precisassem falar de imediato. Mas a filha preenchia de perguntas que pesavam a paciência e a pressão.
— Não queríamos contar, filha — Delphine relutou. — Acho que não tem tanta importância saber, não é? — deu de ombros.
— Também fiquei curioso — Dane respondeu à medida que fatiava a cenoura no prato.
Não deveria se intrometer, mas era um bom bisbilhoteiro.
Anya deglutiu o líquido com aspereza e Delphine tossiu um pouco, tomou o ar, até responder.
— Franco Gregori — sem rodeios, comunicou o responsável.
Gaya levou o copo de suco até os beiços de modo a empurrar a comida entalada na garganta. Se engasgou.
Dane desviou o olhar para as pernas escondidas embaixo da mesa e entendeu em qual situação se enfiou.
O sobrenome Gregori ecoou no interior dos ouvidos e cabeça. Era a tal revelação.
— Ele utilizou aquele dinheiro amaldiçoado com a minha avó?! — enxugou os lábios com um pano, se levantou da cadeira e Dane apanhou sua mão, solicitando que se sentasse por educação.
Ansiava mantê-la calma diante das mães que já carregavam o peso de organizar o enterro.
— Não! — Anya se impôs e se igualou de pé à filha. — Ele usou a função de padre a fim de trazer descanso à sua avó — indicou à jovem. — Por causa dele que sua avó será enterrada perto de onde há natureza. Graças a ele que traremos as nossas amigas bruxas para se despedir da sua avó. Pensei que entendesse a nossa circunstância atual, Gaya — surrou a mesa que tremeu e os pratos com talheres vibraram. — Sua avó queria morrer em paz e será enterrada em paz. Porque uma bruxa feito ela, não ser enterrada num cemitério, é orgulho a quem sempre nos odiou — o indicador apontou para a porta. — Essa cidade é igualmente nossa e se houver alguém que esteja do nosso lado, a ajuda será bem-vinda.
Gaya não quis emitir sequer uma palavra à Anya. A mãe estava ainda muito abalada, juntou com grosseria suas louças, pôs na pia no intuito de qualquer um lavar, se retirou e bateu os pés até o aposento sem muitas palavras.
Até um estrondo ser propagado por culpa da porta fechada do quarto do casal.
Gaya voltou a se sentar, constrangida, abalada e revoltada. Temia que o retorno de Franco causasse um certo abalo na sua conduta. Principalmente ao saber que o atual padre agia por trás de muitas coisas.
Embora fosse um indivíduo familiar desde sua infância, Franco detinha poder. Seu sangue carregava riquezas, a residência guardava relíquias, apesar do amaldiçoado ter doado tantos objetos, o sobrenome era sinônimo de dominância na pacata cidade.
A moça, preenchida de receios, o via agora tal qual um estranho.
— Ela esteve no momento da morte de sua avó — Delphine continuou a jantar com os dois e Gaya abaixou a cabeça por culpa do comportamento. — Estamos passando pelo luto, mas sua mãe Anya absorveu mais. Então, proponho compreendermos e aceitarmos a ajuda de Franco, tudo bem?
Delphine precisava ser forte para entender duas pessoas na qual amava com todas as forças. A esposa e filha entraram em conflito e Hawthorne se visualizava no instante como uma mediadora. Um papel que Anika cumpria com frequência na casa.
— Eu apenas queria que ele se afastasse. Todos os problemas retornam quando Franco está aqui, mãe. Nunca parou para pensar? Era meu amigo. Mas a partir do momento que escolheu estar ao lado do inimigo, creio que não merecemos nada que venha dele.
Parecia ter mudado bastante o pensamento a respeito do Gregori.
— Não era dessa forma que você pensava.
Gaya expandiu as escleras e suplicou que sua mãe não mencionasse acerca dos atos do passado com Dane por perto.
— Londres muda a mente das pessoas, mãe — conversou unindo o garfo e a faca no prato já vazio.
— Você não está mais em Londres. Regressou à Rye, portanto, retorne seus sentidos aqui.
Delphine olhou para Dane focado em unir a comida no talher, confusa com o silêncio do rapaz e mirou o tecido quadriculado da mesa.
— Planejam se casar? — quis mudar o assunto, a fim de apagar a tensão da noite.
Ambos se entreolharam temerosos e a Demdike percebeu.
— Por que tantos olhares? — cerrou os olhos aos dois que tentaram disfarçar o constrangimento.
— A sua ansiedade por uma filha casada, mãe — revirou as escleras.
— Não é sobre isso, Sra. Delphine — riu anasalado e tímido.
— Espero que não estejam debochando de mim. Mas se estão juntos, já pensam em morar em algum lugar por aqui? Após o enterro voltarão para Londres, outra cidade próxima...
Gaya não desejava expor os reais motivos naquele átimo.
— Ficaremos um período por aqui, mãe.
— Como assim? — os globos oculares transitaram nos dois.
— Não é bem assim, Sra. Delphine — recolheu as mãos da jovem que iria se levantar. — Viajaremos após Rye. Não permaneceremos por muito tempo. Nosso destino é... incerto. Talvez outro país, não é Gaya? — ela somente balançou a cabeça. — Porém, pensamos em nos casar.
A jovem se reprimiu em querer derrubar o rapaz da cadeira. Seu rosto estava em completo pavor. Mas Dane só falou aquilo para as Demdike não interferirem nas decisões de ambos.
— Então conversarei com o Franco para saber se poderia celebrar o casamento — Gaya se tornou furiosa, pois entendia aonde a mãe ambicionava chegar. — Ele costuma nos visitar na floricultura e pode se interessar em celebrar.
Delphine apenas falava isso ao sentir que a filha não aparentava estar tão unida com Dane. Algo no ouvido lhe sussurrava que o casal não se amava de fato. O que era verdade. Feito uma mãe, Hawthorne sentia que Gaya ainda era apaixonada por Franco Gregori.
A mãe gostaria que ambos estivessem juntos, porém, não entendia se a filha deixaria o orgulho, e o padre, o sacerdócio.
Seu objetivo era apenas perturbá-la um pouco. Nem gostava do catolicismo.
— Considero não ser adequado discutir sobre isso com o Franco, mãe. É um mero sacerdote que se intrometeria no meu relacionamento, visto que faz isso ao frequentar a floricultura tal qual disse — agarrou o braço de Dane, que resmungou.
— Ele não é intrometido, Gaya. Só costuma comprar papoula-vermelhas — as sobrancelhas de Gaya se acentuaram curiosas. Papoulas-vermelhas trouxeram ótimas recordações do passado. — Creio que gostará de celebrar o futuro casamento de vocês — sorriu animada.
A mãe ergueu-se da cadeira e levou as louças com Dane, que se prestou a ajudar. Enquanto isso, Gaya os acompanhou, assistindo o rapaz lavar e sua mãe enxugar.
— E como se sai feito padre? — o Dawson escutava tudo com atenção.
— Franco lidera em campanhas de doação de roupas das igrejas que ficou responsável, comidas, na praça, atraiu fiéis para uma das capelas desde o dia que regressou à Rye e nos entregou aquele quadro ali que foi pintado pelo próprio.
Apontou com o pano de louças na direção de uma tela de pintura a óleo que representava uma cesta de palha com jasmins brancos. Havia uma assinatura abaixo, conforme um risco bem desenhado. Dane observou com uma leve apreciação. Era uma bela arte, traços, contudo, detestava o pintor.
De repente, o corvo sentiu a necessidade de intervir na conversa que exaltava os feitos do Gregori. O sangue ferveu ao lavar a louça com um rancor nos dedos. Precisava falar algo.
— O Franco Gregori que mencionam — desligou a torneira, enxugou as mãos, enlaçou os braços e se encostou no balcão logo que assistiu as duas desarrumarem a mesa —, é um homem ruivo de óculos e da altura da Gaya? — ondulou uma das sobrancelhas.
— O próprio — Delphine respondeu.
— Como sabe de quem se trata? — Gaya se aproximou do indivíduo que sorriu perverso. — Dane, não lembro de ter comentado acerca dele para você — soprou perto e se afastou à medida que Delphine observava desconfiada.
— O nome e pessoa Franco Gregori carrega um rastro de maldição por todo canto que passa — a puxou e sussurrou no ouvido da jovem. — Acho que agora devo lhe contar sobre o quão ele e eu somos próximos.
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