Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

2. A voz de uma criança

Capítulo 2 | O Silêncio das Flores


Quando era criança, seu apelido no jardim de infância era Mudinha. Zoey nunca disse, mas sempre odiou esse apelido e tudo que se remetia a ele. A moça se recordava claramente do dia em que sua turma fazia um projeto escolar. Ela tinha cinco anos. Cada aluno ganhou uma muda de planta e os professores pediram para que todas as crianças desenhassem suas plantas em uma folha e dar-lhe algum nome. Zoey não se lembrava de qual nome havia colocado na sua planta, mas muitos sugeriram que colocasse seu próprio nome. Zoey. A Muda. Desde então, até a palavra que se remetia às pequenas plantinhas lhe deixava enojada.

Muda; do verbo mudar. Mudas, os pequenos brotinhos. Muda, aquela pessoa que não fala.

Talvez as três palavras de fato tivessem algo em comum. Plantas não falavam. E Zoey se sentia tão exposta e tão frágil quanto elas. Mesmo com suas flores, causava mistério para aqueles que a regavam.

Você precisa mudar, era o que mais escutava em sua pré-adolescência. Até as mudas se transformavam em enormes plantas. Enormes árvores. Belas flores coloridas. Mas Zoey não... Desde os três anos de idade, sofria toda vez que tentava falar com alguém – a não ser seus pais, os quais ela conseguia se comunicar normalmente.

Aquilo sempre fora um mistério para ela e para todos que conviviam com Zoey. Ninguém entendia por que ela conseguia falar normalmente com os pais e não com o resto. Nem com os tios e os avós – os quais ela nunca teve muita convivência. A reação de seu corpo diante à possibilidade respondia sua pergunta: com os pais, era como se houvesse um conforto. Não havia perigo ali. Estavam ali desde o momento em que nascera.

Era comum, na infância de Zoey, escutar de pessoas – principalmente adultos:

- O gato comeu sua língua?

A garota se encolhia toda vez que escutava isso. Aquela frase em particular a irritava. Não fazia sentido. Primeiramente, nem gato ela tinha. Ela ignorava e logo depois esquecia. Era fácil, na infância, fingir que se via como qualquer outra criança. Para ela e para os pais, era tímida demais. Apenas isso. Ela vai falar quando ela quiser, sua mãe dizia quando um dos colegas do Jardim de Infância perguntavam a ela.

Mamãe, o coração de Zoey queria gritar. O que eu mais quero é conseguir falar.

As crianças normalmente não julgavam tanto Zoey quanto os adultos. Os pequenos só queriam brincar. Os adultos, por outro lado, a enxergavam de outra forma.

Sempre tentavam aconselhar seus pais de alguma forma.

- Autista – ela já ouviu uma de suas tias dizer. – Como certeza ela é autista.

- Leve-a na igreja – um desconhecido havia dito ao ouvir a história dela. – Isso pode ser trabalho de algum obsessor. Jesus vai curar sua filha.

- Não se preocupem, isso é birra de criança - um psicólogo disse bem na frente de Zoey. – Isso vai passar com o tempo.

Ninguém realmente se dispôs a entender mais a fundo o caso da pequena Zoey. Por isso, os pais desistiram. E a garota cresceu sem nenhuma melhora. Quando entrou na adolescência, tudo começou a ficar ainda mais difícil. Expressar-se com o olhar ou com gestos não eram mais suficientes pra ela. As pessoas não eram mais tão tolerantes quando antes – nem mesmo os pais.

Por isso, era de se esperar que as cobranças seriam piores naquele ano que se iniciara. Dias após o começo das aulas, o pai a chamou para uma conversa. Seu semblante sério a deixou preocupada.

- Sente-se, Zoey – ele pediu, passando a mão pelos cabelos claros e curtos. A moça obedeceu, sentando-se no sofá da sala. O pai se sentou ao lado. Ela observou a expressão do homem por alguns segundos.

- O que foi, pai? – ela perguntou, observando-o passar os dedos exageradamente na barba clara.

- Você precisa se esforçar mais – ele começou. – Não poderemos resolver tudo para você daqui pra frente. Você já é uma moça... Já tem quase dezesseis anos.

Zoey engoliu em seco. Sabia muito bem do que ele estava falando; mas, mesmo assim, fingiu que não.

- Como assim? – perguntou com a voz trêmula.

- Você precisa começar a falar com as pessoas – ele disse. Aquilo fez com que o coração de Zoey começasse a disparar. Falar. Zoey não gostava daquela palavra.

Aliás, não só a palavra. Ela odiava falar sobre aquele assunto. Preferia ignorá-lo. Não que não tivesse importância - mas porque a deixava extremamente envergonhada e angustiada. Fugir daquilo era muito mais fácil.

- Mas eu não quero! – ela disparou. Sabia que era mentira. Ela queria. Mas não conseguia nem pensar na possibilidade de abrir a boca. Queria sair correndo daquela sala e se trancar no quarto. Suas mãos já começavam a suar de novo. Ao invés disso, porém, ela cruzou os braços e fechou a cara. Não era um comportamento que se esperava de uma adolescente.

- Não somos eternos, Zoey – o pai continuou, sério. Ele tentava manter-se calmo. – Um dia, eu e sua mãe não estaremos mais aqui. Você precisa ser mais independente!

Ela teve vontade de chorar, mas segurou as lágrimas. Parecia fácil demais para ele... Sabia que o pai preocupava-se com ela e queria ajudá-la, mas aquela não era a melhor forma de abordá-la. Não julgando-a. Não pressionando-a daquela forma.

- Eu e sua mãe vamos procurar um psicólogo – ele disse, cortando o silêncio que havia se instalado. Zoey encarava a televisão desligada, recusando-se a olhar para o pai.

- Não. – Zoey murmurou. – Eu não quero.

- Não é uma escolha sua, Zoey. – ele se levantou do sofá e foi para a cozinha. Ele estava claramente irritado.

A moça correu para o quarto e fechou a porta. Sentou-se sobre a cama, colocado a mão sobre o rosto. Chorou baixinho, o peso no estômago a deixando enjoada só de imaginar a possibilidade de se enfiar em uma sala com uma pessoa desconhecida. Suas últimas experiências com profissionais não foram muito boas.

Ela tinha dolorosas lembranças de infância – que prefere guardar para si – que ainda a deixava um tanto angustiada. Zoey lembrava-se perfeitamente da sala de paredes amarelas e os brinquedos jogados no tapete, enquanto a porta branca da sala do psicólogo infantil permanecia fechada. A garota tinha cinco anos. Seria a segunda vez que iria a uma clínica como aquela. Na primeira vez, a psicóloga que se encarregou de analisar seu caso pareceu desistir logo nas três primeiras consultas, alegando que a pequena Zoey não tinha nada (o que, mais tarde, ela entendeu como: não sei o que ela tem e eu não posso ajudar, adeus).

O segundo psicólogo era um homem de aproximadamente quarenta anos, cabelos grisalhos e barba sempre amparada. Era impossível esquecer aqueles olhos azuis e gélidos que causavam um frio na barriga em Zoey, como se ele pudesse arrancar-lhe todos os seus segredos a força. Ele estava determinado a resolver a mudez de Zoey – tão determinado que deixava a menina intimidada. No começo, era sempre a mesma coisa: histórias de crianças que havia perdido a língua e que não podiam mais falar. Ou histórias de pessoas que eram mudas de nascença e que não havia nada que pudessem fazer por elas. Aquilo soava para Zoey tanto quanto os julgamentos de alguns adultos: tanta gente queria estar falando e não pode, por que não abre a boca?

Como se fosse uma escolha... Como se Zoey fizesse aquilo de propósito.

As consultas foram ficando cada vez piores para ela. Seu coração disparava e suas mãozinhas suavam toda vez que ficava sozinha com aquele homem. Os brinquedos espalhados pela mesa e os pufes coloridos era quase irônico. Não havia brincadeiras ali. Nada naquele momento era colorido o suficiente para que a menina se sentisse melhor. Se sentisse segura. Pois aquele homem – cujo nome ela nunca lembrava – tinha a absoluta certeza que ela falaria. Por pressão ou não.

Pressionar só pioraria as coisas, ela sabia. Mas os adultos não tinham muita paciência. A voz de uma criança era o que eles mais ansiavam. Zoey sempre se lembrava de pais de bebês que, com menos de um ano, repetiam sempre: Vamos, diga papai. Pa-pai!

A pequena Zoey sentia-se culpada e julgada. Não sabia, na época, que essas palavras definiam o que ela sentia, mas quando amadureceu soube. Pressão demais. Culpa. Irritação. Julgamentos. Tudo isso nas costas de uma criança que mal escrevia.

Até que, um dia, Zoey não aguentou mais. Ela saiu da sala chorando, agarrando-se aos pais que esperavam na sala de espera. As palavras do homem que se intitulava profissional de psicologia infantil repetiam-se em sua mente, enquanto os olhos azuis a encaravam assustadoramente: fale agora ou mandarei seus pais irem embora e não voltar mais! Ficará aqui para sempre.

Ela nunca mais voltou àquela clínica e nunca mais viu aquele homem pessoalmente. Mas ele perturbou seus sonhos durante um bom tempo. Era sempre um monstro perseguindo-a, apertando sua garganta, fazendo-a entrar em locais escuros que faziam seu coração bater descontroladamente. Os pais tentaram fazê-la ir a outro profissional, mas Zoey começava a chorar e a suplicar para que não fosse.

Aquele trauma – que pode parecer um tanto bobo aos olhos dos mais velhos – havia deixado marcas profundas na garota. Por isso, mesmo aos dezesseis anos, a possibilidade de ter que lidar com aquele tipo de profissional a deixava mal. Preferia deixar as coisas como estavam.

Apertou os olhos, tentando ignorar o desconforto em seu peito. Quando abriu os olhos novamente, Anne estava sentada de pernas cruzadas sobre seu tapete felpudo roxo. As sardinhas marrons em sua pele pálida pareciam ainda maiores. Zoey soltou uma risada pelo nariz enquanto enxugava as lágrimas. Às vezes, a capacidade de imaginação dela a assustava. Anne era fruto de sua imaginação, mas aparecia quando menos esperava. Quem sabe fosse algum mecanismo de defesa de seu cérebro – ela precisava de alguém pra conversar sem ser seus pais ou sua irmã, que nada entendia de seus assuntos.

- Você vai? – a ruiva perguntou, apertando os dedos dos pés. Zoey olhou para ela, imaginando-a com um vestido amarelo e branco. Combinava com ela.

- Eu não sei. – ela disse. – Eu não quero.

- Pode ser legal – Anne insistiu. – E se essa pessoa conseguir te ajudar?

- Não tem como me ajudar. Eu sou assim.

Anne coçou o queixo. Zoey se perguntava se aquela menina era seu próprio subconsciente. E se conseguissem me ajudar? E se de repente eu deixasse de sentir todo esse medo?

No fundo, ela queria tentar, mas algo maior a impedia. Não sabia explicar exatamente – era tudo muito contraditório. Não era uma escolha dela, entretanto. O pai deixara aquilo bem claro.

- Acho que você não tem escolha mesmo – disse Anne. 

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro