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|livro um| duodeviginti

"Os olhos são a candeia do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas se os teus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas." — Mateus 6: 22-23.





Os favoritos de Lalisa são garotos e garotas com um diferencial. Eles comumente não são super inteligentes, dotados ou tiram as melhores notas. Lalisa não preza pela inteligência tradicional que os outros professores cultuam. Ela preza pela inteligência nata, pelo brilho natural que faz uma pessoa se destacar das demais. Nem sempre o animal que sobrevive é o mais inteligente, mas, com toda certeza, é o mais esperto. Ele se adapta a qualquer ambiente, seja o mais escasso possível, e é assim que continua perpetuando a espécie pelas próximas gerações.

Com os humanos acontece quase a mesma coisa, há pessoas más por aí, pessoas realmente más, mas que são tão boas no que fazem que nunca vão ser pegas. Ninguém desconfia delas, elas se adaptam. É aquele aluno prodígio que tira as melhores notas, têm os melhores amigos e que te oferece ajuda para terminar o dever. É uma garota que você encontra no metrô e está lendo um livro do qual você gosta. Pode até mesmo ser o seu vizinho, aquele que está sempre trabalhando, mas que no final de semana brinca com os filhos no quintal. É deles que nós nunca desconfiamos. Eles se camuflam e se escondem nessa casca bonita com tanta maestria que ninguém imagina o que está embaixo.

Caso você olhe nos olhos deles, tente perceber aquela casquinha esperando para ser puxada. Aquele mínimo desconforto que te faz desviar os olhos. É um sinal claro que tem algo de errado ali, você não sabe o que é, mas sabe que há. Corra.

Minhas mãos estão agitadas. A lâmpada presa por um fio desencapado balança de lá para cá, fazendo as sombras tremularem como bichos prontos para me atacar. Estou encarando, sem nem mesmo piscar, um dos favoritos de Lalisa. Taehyung. Ele está amarrado em uma cadeira de metal, fixada no chão. As pernas e os braços estão rodeados por correntes, a boca e os olhos estão tapados por bandagens. Ele está vivo, mexendo, tentando gritar.

Era esse o barulho que eu ouvia, alguém pedindo socorro.

O estado dele é deplorável, magro e sujo. A nossa volta, o porão parece ser mais um banker. As prateleiras estão cheias de suprimentos enlatados, facas, algemas, ferrolhos, a própria versão da gaveta de brinquedos sexuais que tem no quarto de Lalisa. Mas aqueles brinquedos não parecem trazer prazer algum, pelo menos não para a pessoa infligida.

Todos os músculos do meu corpo estão enrijecidos, duros, meus pés criam raízes. Demoro a me acostumar com a luz amarelada e demoro mais ainda para ver aquela parede em especial, atrás do garoto que se debate loucamente. A parede em questão está lotada de diplomas. Reconheço dois nomes: Park Jimin e Park Chaeyoung. O garoto de cabelos rosas e a garota que está no fundo de uma represa em revitalização. Nunca mais vi Jimin depois que ele entrou na casa de Lalisa aquele dia. O garoto simplesmente sumiu. Agora entendo o porquê.

— Ela os mata depois que eles se formam — sussurro.

Taehyung refolega, mais forte e mais alto, enquanto tapo a boca com as mãos, em choque.

— Até que enfim! Achei que nunca ia descobrir, Jennie.

Me viro para a porta, o garoto grita. Lalisa está parada nos pés da escada, do lado da cordinha que regula a luz.

Ela estampa um sorriso satisfeito no rosto, orgulhosa da própria façanha de me fazer vir aqui e descobrir tudo sozinha. Lalisa não me contrariou no hospital porque estava na frente do médico, ela não me contrariou porque sabia que eu viria até aqui e cavaria a minha própria cova. Estamos nesse joguinho há um tempo, ela diz que não, eu faço o contrário do que ela diz e ela deixa, porque faz parte do jogo. Como o bilhete na minha calcinha e como a chave roubada que ela sabia que eu havia pego. A única coisa que Lalisa não previu foi a queda de Jisoo.

Seguro um choro raivoso, estou fula, me sinto enganada. Foi fácil desde o começo, tão fácil... Lalisa me chamou para tomar café depois da aula. Lalisa flertou comigo na fila do café. Lalisa sugeriu que eu fosse ao Chance na frente da sala inteira. Aceitou facilmente meu pedido para que fossemos para o hotel depois de um copo de cerveja. Lalisa e o papo de que não poderíamos ficar juntas, porque ela sabia que se dissesse isso eu correria atrás quantas vezes fosse preciso e manteria tudo em segredo. É uma fórmula. Ela fez isso com todos.

Lalisa junta as sobrancelhas e me olha com pena. Seu corpo está relaxado ali, pois ela não precisa fingir mais.

— Não fica assim, Jennie-ah. — A voz dela amedronta tanto a mim como o garoto amarrado. — Você foi especial durante um tempo... — Lalisa se aproxima de mim, devagar. — Na verdade, você foi a aluna mais especial que eu tive.

Sinto o meu corpo tremer com o leve toque dos dedos dela no meu queixo. Lalisa está quente e as ondas de tensão me atingem como se eu estivesse em uma sauna. Por incrível que pareça, mesmo que minha mente esteja dividida entre correr para longe dali e socar Lalisa, uma pequena parte também pensa que não seria de todo ruim se ela me beijasse.

— É isso que você fala pra todos eles? — Maneio a cabeça em direção ao menino, atrás de nós. — Você também falou para ele o quanto ele foi especial?

— Sim. — Ela segura meu queixo com mais confiança e encara o fundo dos meus olhos cheios d'água. — Mas estou sendo sincera com você agora, Jennie. Você me...

— Surpreende. — Completo a frase. — Você nunca encontrou alguém tão interessante e maluca assim. Foi isso que você me disse.

Ela sorri e sobe com os dedos até a minha bochecha, em um carinho singelo.

— Isso não é mentira, e sabe o que também não é? No começo eu não prestei a mínima atenção em você, Jennie. Naquela primeira aula eu olhei todos aqueles rostinhos ingênuos e pedintes, pensando em qual eu poderia escolher... É sobre isso, entende? Sobre quem está mais vulnerável, sobre quem me olha com mais dedicação, louco para ter um pouquinho de atenção de uma professora que parece ser tão legal... — Ela arqueia as sobrancelhas, as palavras saem lentas, misturada aos resmungos do garoto preso. O que torna tudo ainda mais amedrontador. — Eu vi Jisoo e pensei, vai ser ela. Viciados são fáceis de manipular e as pupilas dela estavam bem dilatadas aquela manhã.

— Eu fui a porra da sua segunda opção?

— Não, não, não... — Ela coloca o indicador na frente dos meus lábios. — Jisoo foi apenas a porta de entrada, ela levantou a mão e então, me apresentou você... — Os olhos de Lalisa se tornam vagos, como se ela se lembrasse daquele momento com tanta nitidez que doía. — Eu não vi ingenuidade em você ou algo perto de vulnerabilidade. Eu me vi, Jennie. Me vi em você.

Seguro os pulsos de Lalisa, são tão finos que meus dedos fazem a volta, eu posso quebrá-los com um pouco mais de força. Mas Lalisa é toda assim, se encaixa no verbo "parecer."

— Eu não sou como você.

— Claro que não. Eu não sou tão amadora.

Solto uma lufada de ar. O nariz dela toca o meu pela proximidade em que estamos.

— Você acha que eu estou mentindo? Me acha um monstro? Me acha egocêntrica por ter me aproximado de você porque se parece a mim? Você fez a mesma coisa, Jennie. — Ela contorna o meu aperto e toma o controle, agarrando meus braços. — Você encara os meus olhos tantas e tantas vezes, louca para entender o que eu escondo. Sabe por que eles te atraem tanto?

— Não, não, não... — Me afasto de Lalisa com brusquidão. As pupilas dela estão brilhantes e o castanho está totalmente embebido pela pouca luz do porão, de modo que tudo o que eu vejo é escuridão.

— Sabe o porquê? — Ela agarra meus braços e me traz para perto novamente. Os dedos dela me machucam. Estou cheias de marcas das mãos de Lalisa, marcas de posse. — Porque quando você olha para os meus olhos, você vê o seu próprio reflexo, Jennie.

— Não...

— Por isso você não consegue amar ninguém além de si mesma.

Meu peito sobe e desce, rápido. É difícil respirar aqui em baixo. O cheiro podre não é mais um problema, mas a tensão está tão grande que pinica a minha pele. O ar parece não chegar aos meus pulmões, preciso inspirar e expirar mais rápido. Lalisa também está assim, ela me encara sem nem mesmo piscar. É esse o segredo? Me apaixonei por aquela versão de Lalisa, a versão que eu me via sendo daqui há alguns anos? Ela me solta. Cambaleio para trás, tentando não cair.

— Você fez uma bagunça lá fora, ein? Com o porteiro.

Lalisa não diz isso com repressão. É como se ela estivesse vendo uma criança pequena e fofa fazendo arte.

— Ele não quis me deixar entrar.

Agora, mais do que nunca, me sinto uma criança. Lalisa maneia a cabeça, incrédula.

— Era isso que a sua mãe fazia, não é? Ela limpava a sua bagunça, por isso se permitia ser tão descuidada o tempo todo. Se não fosse por mim e por ela, você já teria sido pega...

— Por você?

— Rosé, claro. Você também fez uma bagunça quando matou ela.

É óbvio que ela sabe, mas ouvir Lalisa dizer faz meu estômago embrulhar.

— Quando você descobriu?

— Rosé foi um presente, Jennie.

Meu coração erra algumas batidas. O diploma de Rosé está pendurado na parede. Ela era uma das favoritas de Lalisa, significa que já havia se formado e Lalisa... encontro dificuldade para acabar o pensamento. Lalisa a deu de presente para mim?

— Eu sabia que você iria ao Chance e escolhi a Rosé. Ela era tão boa e prestativa e estava tão apaixonada pela ex professora... aliás, tinha acabado de entrar em uma orquestra graças a minha ajuda, então aceitou meu convite, claro, todos aceitam.

Era difícil rebater qualquer coisa com ela tão perto de mim. Talvez fosse uma tática também.

— Você sabia que eu iria matá-la.

— Foi o que eu acabei de dizer, Jennie, preste atenção, por favor. Rosé era um presente. Eu só precisava incitar um pouquinho, beijei ela quando você chegou e depois pedi que fosse ao banheiro te chamar. Ela era tão... sugestionável. — Lalisa ri. — Que nem mesmo me perguntou o porquê.

— Ela foi boa comigo, ela... me emprestou o batom e queria me animar.

Minha fala soa infantil demais até para os meus ouvidos. As lágrimas jorram pelas minhas bochechas sem qualquer aviso prévio. Eu fui enganada. Fui manipulada o tempo todo. Todas as decisões que pensei ter feito por conta própria foram programadas por Lalisa, incitadas por Lalisa, observadas por Lalisa.

— Achou mesmo que foi sorte do destino você ter se safado de uma acusação de homicídio? Eu conhecia muito bem o histórico de Rosé, eu planejei tudo. Sabia que se ela sumisse pensariam que tinha sido outro surto de bipolaridade. Eu vi você carregando ela pelos fundos do bar e precisei pagar pela filmagem das câmeras para que você não fosse pega. É esse o seu nível de amadorismo, Jennie Kim. Ah! Você precisava ver a sua cara quando eu falei de quem era gata... foi hilário!

— O que você fez com o corpo no lago? Quem você precisou aliciar para que eu não fosse pega? Você quer um "Obrigada" por isso também?

Ela inclina a cabeça para trás, gargalhando.

— Isso foi mesmo sorte do destino. Eu não me meti nesse lance do lago, apesar de achar que existe métodos menos trabalhosos. E o dono do carro ficou bem triste com a perda do automóvel. — Ela rola os olhos. — Que foi? Eu tenho olhos e ouvidos naquela faculdade, Jennie. Sou uma professora querida, esqueceu?

Ela se endireita e caminha até Taehyung. Minhas mãos coçam para soltá-lo, mas Lalisa não deixaria, claro, teríamos que brigar e ele não me ajudaria na luta, está debilitado demais. Onde ela esconde o corpo dos alunos que mata? Os enterra aqui mesmo? Olho para o chão a procura de uma sepultura, um sinal no chão ou qualquer outra coisa, mas o bunker não é grande o bastante para caber todos os donos dos diplomas na parede. Conto mais de quinze. Quem seria o próximo depois de Taehyung? Solar? Sorrio morbidamente ao pensar em Woozi, que daria o próprio carro para entrar no grupo de favoritos de Lalisa.

Ela passa as mãos pelos ombros do menino e ele estremece tanto que sinto pena. Só a presença dela o faz se debater. Imagino que Jimin deve ter passado pela mesma coisa. Lalisa o chamou para um encontro e ele achou que teria uma noite totalmente diferente da que teve. São tantas perguntas, tantas coisas da qual minha língua coça para saber. Escolho a mais urgente.

— Yeri.

Não preciso dizer mais nada. Lalisa levanta os olhos.

— O que você quer saber?

— Como você a matou.

— Eu nunca entendi sua fixação por essa garota e não, Jennie, eu não a matei. Ela não era boa o suficiente... mas meus favoritos são — Lalisa sussurra a última frase no ouvido de Taehyung.

— Eu não acredito em nada do que você diz.

— Isso já não é problema meu. Eu não matei Yeri, mas eu sabia como ela era. Yeri não contaria para o conselho o que viu, mas contaria para a colega de quarto, Joy. Foda-se o conselho, eu não dou a mínima para o conselho, mas os boatos estavam surgindo, sobre mim e você, e os outros alunos estavam com ciúmes. Eles achavam que eram os únicos, como você também achava...

Ela faz uma falsa expressão de pena ao perceber minhas mãos formando punhos.

— Yeri era tímida, um fantasminha adorável. Se ela dissesse algo sobre nós as pessoas iam rir, mas Joy? Joy era um problema. Bem relacionada, revolucionária demais, confiante demais, correta demais... se ela abrisse o bico todo mundo saberia em menos de uma semana. — Lalisa faz uma careta. — Eu não poderia me dar o luxo, entende?

— Logo chegariam ao inusitado desaparecimento de todos os alunos dos quais você gostava. — Me permito ser irônica também.

— Você está pegando o jeito. — Ela aponta o indicador para mim. — Eu fui até ela no mesmo dia para emprestar o segundo volume do livro. — A expressão de Lalisa muda, agora é uma teatralmente triste, ela até faz um biquinho. — Yeri já tinha me procurado antes, e é um tanto quanto irritante os alunos me procuram para desabafar, você não imagina o esforço que preciso fazer. Eles me acham legal e me contam todos os seus problemas idiotas sem eu nem mesmo pedir. Por um lado é proveitoso fingir que eu me preocupo, porque eu sabia exatamente o que Yeri queria ouvir. "Oh querida, você é uma garota tão especial, eu nunca vi alguém com o seu talento e dedicação, mas, as vezes, viver é tão complicado e esses problemas nunca vão acabar, vão te perseguir por toda a vida... Não é fácil simplesmente desistir? Tudo isso vai acabar, todas essas chateações e incertas... — Lalisa dá de ombros. — Ela provavelmente queria me agradecer quando começou a escrever meu nome no livro, mas você fez uma tempestade em copo d'água, Jennie, tsc.

Lalisa caminha até a prateleira e pega uma faca. Um leve reflexo acerta a lâmina afiada.

Agora tudo está tão claro como água. O sadismo, a total incapacidade de sentir qualquer coisa, a construção do personagem que Lalisa criou durante todos esses anos: a professora mais legal do campus, mais falada, mais disputada. A professora que ninguém desconfia. Eu deveria correr, mas não corro. Ela agarra a minha mão e me obriga a pegar a faca enquanto leva os dedos até minhas bochechas, para conter a avalanche de lágrimas que eu não consigo conter sozinha.

— Vamos fazer isso juntas — ela sussurra e sorri, como um pacto, como se estivesse me pedindo em casamento. A partir de então seremos uma só. Eu caminho aos tropeços até o garoto. Lalisa está atrás de mim, com o corpo colado no meu e a mão em cima da minha enquanto aperto com mais força o cabo da faca. Esse gesto me remete a uma professora ensinando um aluno a escrever. Estou trêmula dos pés a cabeça. Eu posso fazer isso, posso enfiar a faca bem no meio do peito dele, consigo acertar o coração de forma certeira. Consigo?

— Ele não fez nada contra mim. Ele... não fez... — soluço. — Eu não posso fazer isso.

— É claro que pode. — A mão de Lalisa aperta a minha. — Quando você para de arrumar motivos idiotas para matar alguém tudo fica mais divertido. Você não quer se divertir de novo? Junto a mim?

Não consigo enxergar mais nada, tudo é um borrão molhado que me impede de pensar corretamente. Minha cabeça dói, meu corpo doí e a mão de Lalisa aperta tão forte a minha que eu não tenho como recusar nem se quisesse. Se eu fizer, acabou? Podemos ficar juntas depois? Podemos fingir que o porteiro não está morto do lado de fora do condomínio e que Jisoo não está me esperando no hospital? Seremos só eu e Lalisa?

Ela me empurra para frente, eu tropeço e caio no meio das pernas do garoto, agora, a lâmina está perto demais, encosta na roupa suja dele. O som que sai dos lábios de Taehyung é insuportável de ouvir.

— Faça, Jennie!

— Isso é tortura!

— Eu mandei você fazer, porra!

— E o que você vai me mandar fazer depois!?

Espero uma resposta, mas não tenho nenhuma. O silêncio é a resposta: não vai acabar depois disso, não podemos ficar juntas e eu não posso fugir da minha promessa. Prometi a Jisoo que resolveria as coisas e voltaria para buscá-la.

— Nós não somos iguais, Lalisa — cochicho, em meio ao choro e aos soluços. A faca só não cai porque a mão dela ainda está apertando minha.

— Ah, não? — Sinto a lâmina afundar lentamente na pele do garoto, no meio do peito. — Por que não? — A respiração dela está pesada na minha nuca. O suor é tão denso que parece unir nós duas, estamos suando, estamos arfando e eu estou sendo pressionada. Mal consigo parar de chorar para dizer algo entendível.

— Lalisa, por favor, eu não quero fazer, por favor... por favor...

Eu e o garoto estamos chorando alto.

— Mas que droga, Jennie! — A faca cai no chão, Lalisa me pega e me puxa pelo braço, me sacudindo. — Qual a porra do seu problema? Eu fiz tudo! Eu planejei esse momento... Eu fiz tudo por você!

— Eu não te pedi nada!

— É claro que pediu, sua cadela hipócrita! — Lalisa grita na minha cara. — Era isso que você queria! Eu cansei de joguinhos! Vamos fazer assim... Eu já me arrisquei por você hoje, quando te fiz um favor lá no hospital, agora, você vai fazer o que eu quero, sim? É assim que relacionamentos funcionam, amor.

Passo o dorso da mão nas bochechas molhadas.

— O que... que favor...?

Silêncio.

— Lalisa, que favor você fez para mim no hospital?

Lalisa coloca a mão na boca, teatralmente.

— Ops...

Minhas pernas se tornam fracas, não aguentam o peso do meu corpo. Tudo começa a girar, preciso de apoio para não cair. O vômito ameaça romper pela minha garganta. Suor. Estou suando tanto que as gotas se acumulam na gola da minha blusa. Os fios dos cabelos grudam no meu rosto e parecem pequenas mãozinhas apertando e me marcando. Passo a mão pelo rosto. Tudo roda. Lalisa continua parada.

— Você... matou a... Jisoo?

— Ué, não era para fazer? — Ela mexe a faca casualmente, como se, sem querer, tivesse misturado roupas brancas com coloridas. — Você disse "cuide dela por mim, Lalisa" e você empurrou a garota da escada mais cedo, achei que fosse um pedido óbvio. Foi mal.

Um urro animalesco sai dos meus lábios minutos antes dos meus pés ganham vida própria e acabar com o espaço que me distancia de Lalisa. Nós caímos no chão. Agarro o pulso dela e bato no chão, para que solte a faca, mas Lalisa se desvencilha com facilidade e me joga para o lado. Ela toma o controle e sobe em cima de mim, alcançando o sucesso que eu não tive em imobiliza-lá.

— Gosto de você assim. — Ela sorri, eu cuspo na cara dela. — Ah, se eu soubesse que você ficaria desse jeito eu teria matado ela a mais tempo. — Lalisa passa o ombro na bochecha atingida, limpando o cuspe.

— Eu vou te matar, porra!

— Essa não é a hora de me deixar excitada, Jennie. — Ela me lança uma piscadinha. — Sabe, eu estou um pouco chateada, eu até fiz parecer ser um acidente, como você gosta de fazer... Nenhum "obrigada"?

Começo a me debater, mas Lalisa é tão forte que me faz parecer um gatinho arrumando briga.

— Ela não sofreu, Jennie. Foi rápido. Empurrei um esparadrapo na boca e tapei o nariz dela. Você já...

Jisoo. Minha Jisoo. Lalisa matou Jisoo. Só de pensar que não vou vê-la nunca mais, só de pensar que ela não está mais viva para me odiar, me vejo furiosa. Lalisa matou Jisoo. Fecho a mão e acerto o rosto dela com um murro, com toda a força que me resta. Lalisa cambaleia para trás, o nariz sangrando.

Ela toca o nariz jorrando sangue.

— Vai ser assim agora? — E parte para cima de mim.

Começo a chutar o ar loucamente, mas ela agarra as minhas pernas e as abre, monta em cima de mim e acerta meu rosto com um soco. Mordo a gengiva com o baque dos punhos dela na minha bochecha, mas consigo tê-la perto o suficiente para ter acesso aos seus cabelos. Agarro duas mechas de Lalisa e puxo, sinto os fios cederem nas minhas mãos. Lalisa grunhe, mas ainda está sorrindo.

— É só isso que você consegue fazer?

— Vai a merda! Eu nunca vou ser como você! — grito.

Lalisa me dá um tapa, solto seus cabelos com as mechas inteiras nas mãos.

Ela estende a mão para pegar a faca no chão, eu também, e começamos a disputá-la. Me arrasto debaixo dela, sentindo seu corpo em cima do meu, os braços mais próximos da faca do que os meus... Meus dedos estão machucados, meu corpo dói, mas me estico o máximo que posso. Dentre todos os esforços que já fiz na vida, nunca pensei que "não morrer" fosse ser um deles.

Lalisa tem uma mínima vantagem, aproveita dela e consegue pegar a faca. Meu coração desacelera.

Todo o momento que se segue parece passar em câmera lenta. Ela joga todo o peso do corpo em cima de mim, para que eu não tenha nenhuma opção de sair. Recomeço a me debater, bater em suas costas, puxar seus cabelos. Estou lutando como nunca lutei antes, mas estou cansada. Matei um homem mais cedo e estou sem dormir há quase dois dias, minha boca está com gosto de ferrugem e sal e o sangue se mistura à saliva.

— Acabou a brincadeira, Jennie, foi bom enquanto durou... — Lalisa afunda a lâmina na minha barriga.

Meus músculos se enrijecem e a dor chega, avassaladora e profunda, irreversível e dolorosamente constante. Dor. Acho que eu nunca soube o que significa até aquele momento. Eu nunca senti tanta dor. Aquilo era dor. Lalisa tira a lâmina da minha barriga e acerta de novo no meio do meu peito. Sinto o líquido queimar meus pulmões, sangue. Sobe pela minha garganta e sai pela minha boca, começo a me engasgar com o sangue e espirra nas bochechas de Lalisa.

— Está tudo bem, Jennie, está tudo bem... — ela sussurra no meu ouvido e me beija. Seus lábios se misturam ao meu sangue, a suor e lágrimas. — Vai ser mais rápido se você não lutar. Está tudo bem.

Maneio a cabeça, concordando. Não quero lutar. Não quero ter últimas palavras. Estou sendo levada pela pulsão de morte que me arrastou até Lalisa. Minha professora de Introdução à Teoria Musical, meu universo inteiro, a garota que eu sempre procurei em outras garotas, a peça defeituosa do meu quebra cabeças, Lalisa, a garota que me faz ter certeza que a morte não vai ser de todo ruim. Ela tinha razão, agora me vejo no reflexo dos seus olhos, morta.

Me afundo na escuridão deles para nunca mais acordar.

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