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3.10|livro três | habitum

Notas do autor: Antes de mais nada, peço mil perdões por não conseguir atualizar ontem. Foi um dia muito corrido e só hoje de manhã me lembrei que ontem foi quarta. Enfim, boa leitura!

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Songkhla — Tailândia

Depois de dois minutos de espera, a mulher de cabelos grisalhos e vestido bege entra no consultório. Sua respiração está levemente desregulada, o que mostra que ela não esperou o elevador e resolveu subir pelas escadas. A chave do carro está na sua mão, mas ela só percebe isso quando senta na poltrona e precisa se levantar de novo, caminhar até a bolsa e guardar a chave. Ela checa se a porta está trancada, para então sentar novamente na poltrona, cruzar as pernas cobertas por uma meia calça lisa opaca, do tipo que serve apenas para estética, já que é fina demais para esquentar e grossa para parecer uma meia calça.

Odeio meias calças assim.

— Desculpe pelo atraso — ela diz, tentando recuperar o fôlego.

Ajeito-me no divã preto de frente a ela. Nunca deito, é amedrontador demais pensar que ela está sentada, olhando para mim, vendo o lado direito do meu rosto — que particularmente é o que eu menos gosto. Prefiro ficar frente a frente com a pessoa paga para tentar desvendar o meu cérebro. É desconcertante existirem profissões como essa, não? Pessoas das quais você, por livre e espontânea vontade, fala o que está pensando. Pensamentos é algo particular demais para compartilhar.

Balanço a cabeça, lembrando que preciso perguntar:

— Por que chegou atrasada? Teve que deixar os filhos na escola? — pergunto, mas ela não diz nada. — Marido? — tento outra vez. — Você tem cara que tem um homem... — Silêncio. — Mulher?

Ela esboça um sorriso suave, deve estar pensando muitas coisas sobre mim.

— Fico lisonjeada por supor tanto sobre minha vida — ela diz por fim, com o mesmo semblante de antes.

É impossível ela estampar sempre a mesma expressão. Será que já sentiu raiva? Será que pensa em como quer me matar? Porque eu penso a todo momento como poderia matá-la se quisesse.

— É mais forte que eu, doutora Suwan. — Cruzo as pernas para imitá-la. Quero ser irritante hoje. — Não consigo parar de supor coisas sobre as pessoas.

Ela pega um bloco de notas na mesinha ao lado e folheia por longos minutos. É o tempo o suficiente para eu me lembrar como odeio essa sala e sua neutralidade. Não há cor nenhuma aqui, as paredes são bejes, o divã e a poltrona pretos, os móveis também pretos. Já perguntei porque não decora o consultório e ela me disse que já está decorado. Bem, não parece.

Suwan lê os meus pensamentos e levanta os olhos do bloco de notas, analisando a minha roupa.

— Bonito o vestido.

Olho para baixo, brincando com a gola.

— É, eu sei.

Ele é vermelho de bolinhas brancas e tem tudo o que eu gostava quando era professora: a saia é rodada e a manga bufante, mas não muito, é recatado. Se ela não quer trazer vivacidade ao consultório, eu trago.

A doutora deixa o bloco de notas na mesa e volta sua atenção para mim.

— Ainda está tomando os remédios?

— O que acha? — retruco.

— O que te passei semana passada...

— Estou bem, doutora Suwan. — Sorrio forçado e, dessa vez, repouso a mão no joelho, como ela. — Fico feliz que a senhora perguntou, mostra que está engajada no tratamento.

Sua sobrancelha esquerda fica trêmula. Bingo! A deixei levemente irritada. Preciso dar os parabéns. Ela sabe esconder.

— Você não precisa fingir quando está aqui, Lalisa. — responde ela, menos calorosa que antes. — E eu sou psiquiatra aqui.

— Prefiro que me chame de Lisa — falo entredentes.

— Okay, Lisa. — Ela descruza as pernas. Eu descruzo também. — Como foi a sua semana?

— Normal. — Dou de ombros. — Você tem uma sobrancelha mais arqueada que a outra, já percebeu? Se tivesse uma franja...

— Ainda pensa em Jennie?

Engulo o resto da frase, tentando não pensar nessa conversa como uma competição, porque se fosse uma, ela teria ganhado.

— Não — respondo contrariada.

A doutora espera por alguns minutos, talvez me dando a oportunidade de mudar a resposta, mas eu não mudo. Ela respira fundo. Doutora Suwan faz isso muitas vezes, respirar fundo, como se fosse uma mãe decepcionada com a filha, como ela ousa me colocar no papel de filha? Está óbvio que os papéis estão trocados e...

— Lisa?

Pisco rápido, voltando a realidade.

— O que quer que eu diga? — pergunto.

— A verdade — ela declara, sem pestanejar.

É nessas horas que me pergunto o porque estou aqui, me sujeitando a ser revirada do avesso por uma mulher divorciada de meia idade, que usa meias-calças que não parecem meias-calças e se atrasa dois minutos para uma sessão que está sendo paga.

— Penso em Jennie desde o momento que acordo até quando vou dormir. E ainda sonho com ela. Às vezes são pesadelos, mas na maior parte do tempo são sonhos. Penso em como ela deve estar agora, se cortou ou não o cabelo, se continua vestindo as mesmas roupas ou se ainda tem o mau hábito de fumar... penso sobre...

— Sobre amar ou não amá-la? — A doutora Suwan sugere.

Encaro-a olho no olho com o meu melhor olhar de repulsa. Quero que ela se sinta culpada por perguntar isso, quer dizer, é esse o trabalho dela? Ser inconveniente o tempo inteiro? Porém, ela sustenta o olhar e não demonstra arrependimento nenhum.

— Sabe doutora... — Acomodo-me melhor no acolchoado enquanto encaro a janela à minha direita. O Sol amanheceu preguiçoso essa manhã, mas ainda sim, emana um calor forte. — Se a senhora soubesse o que penso em fazer com você toda vez que me sento nesse divã, me acharia um monstro.

Pela primeira vez desde que cheguei, vejo um lapso de curiosidade passar por suas pupilas. Ela se inclina na poltrona.

— Me diz.

Abro um sorriso suave, o mesmo que ela me lança quando quer parecer simpática.

— Me desculpe por dizer, mas a senhora não me parece alguém forte. Eu poderia... — Inclino-me no acolchoado para chegar mais perto. — Poderia te incapacitar com uma pancada na cabeça, talvez duas, usando a mesinha ao lado da sua poltrona, mas ainda acho que te estrangular seria mais rápido e faria menos bagunça.

Não há medo em seus olhos, na verdade, ela parece se esforçar para não anotar o que estou falando.

— E quanto ao meu corpo? — pergunta.

Dou de ombros.

— Esse é um prédio comercial, mas só abre às 9 horas, ainda são 8. Eu poderia enrolar o seu corpo no tapete e descer as escadas de serviço. Descobri recentemente que não há câmeras lá.

Nos encaramos pelo que parece horas, até que, aos poucos, um sorriso grande se abre no rosto envelhecido da senhora.

— Você gosta de mim.

Balanço a cabeça, incrédula.

— Eu acabei de detalhar como quero te matar e você diz que gosto de você?

— É claro! — retruca ela, com as mãos no ar. — Você mata todo mundo que gosta, Lalisa, porque não consegue lidar com o fato de se afeiçoar a outra pessoa, e de como isso te faz vulnerável.

— É Lisa — corrijo entredentes.

— É por isso que matou os seus alunos favoritos? — ela continua.

Solto uma gargalhada.

— Não há uma cláusula entre paciente e terapeuta que a obrigue a me denunciar pras autoridades ou alguma merda assim? Ou eu...

— É por isso que quase matou Jennie e a enterrou viva? — ela me interrompe.

— Eu não amo Jennie! — respondo impaciente.

— Eu não disse nada sobre amar, Lalisa — ela lembra.

Fecho os olhos com força e respiro fundo uma, duas, três vezes, antes de abrir os olhos e encarar a expressão triunfante no rosto da Doutora Suwan. Odeio como ela bagunça a minha mente e me faz falar coisas que não quero falar, lidar com situações que não quero nem pensar. Mordo os lábios, contando até dez.

— Lisa — corrijo.

Ela finge que não me ouve, como aparentemente fez todas as outras vezes, e se escora na poltrona.

— Por que decidiu fugir depois da experiência de quase morte?

De forma automática, levo a mão ao meio dos meus seios, sentindo nos dedos a cicatriz que começa na minha clavícula e termina no fim das minhas costelas.

— Eu não fugi, deixando claro.

Ela dá de ombros.

— Dizem que foi um milagre — continuo num sussurro. — Eu fiquei em coma por dois anos e... ainda disseram que foi um milagre. — Solto uma risada amarga. — Imagine só, tantas criancinhas morrendo de fome, pedindo a Deus ajuda, mas ele estava ocupado demais me dando uma segunda chance. A bala perfurou o meu coração, formou um coágulo e se alojou no músculo das minhas costas. Ninguém sabe porque não atingiu o esôfago e nem a traqueia e...

Sinto a minha garganta se fechar e o gosto ruim tomar a boca. Não posso chorar aqui, não aqui. Pisco rápido, afugentando as lágrimas.

— Não quero falar sobre isso. — Respiro fundo, reunindo coragem para continuar. — Não quero falar da minha "experiência de quase morte" e muito menos de Jennie. Não quero falar de quando a conheci, de como parecia uma menina. Não quero falar que odeio pensar assim, mas ela tinha 20 anos e parecia uma menina perdida, uma menina que se achava esperta em meio as saias e blusas de babados, cigarros e ódio. Não quero falar de como ela era petulante, obsessiva, irresponsável e irritante, e que sempre fazia o oposto do que eu mandava; mas tinha uma pintinha no supercílio que eu automaticamente esquecia o que estava falando se olhasse por muito tempo. Não quero falar de como ela nunca desistia de algo e às vezes parecia um gato de rua, outras vezes, uma dama, mas seus olhos... seus olhos eram como uma estrela. Emitiam luz, calor e radiação. Me matava aos poucos. Não quero falar do que eu faria por ela, de que quando eu a vi na minha sala, suja de terra e pronta para me matar, eu soube que faria tudo por ela, que mataria o mundo inteiro se ela pedisse. Eu preencheria o vazio que estava dentro dela desde que a mãe morreu — falo baixinho, perdida em pensamentos.

— E o que está vazio em você desde que sua mãe morreu? — ela pergunta.

Levanto a cabeça, me lembrando onde estou.

— Eu não tenho problemas maternos — falo rápido.

— Não? — retruca a doutora Suwan, com visível deboche.

Fecho o rosto, respondendo no mesmo tom.

— Não.

Ela parece não acreditar.

— Como era a sua mãe?

Que mulher... curiosa. Franzo as sobrancelhas, estranhando a pergunta, mas decido responder mesmo assim.

— Sempre fraca, submissa, pedinte... deixava os homens abusarem dela. Deixou que o próprio irmão fizesse um filho nela... e depois deixou que meu pai a usasse de saco de pancadas toda vez que algo não saía como o esperado. — Mordo os lábios, contendo a raiva. — Ela me enoja.

Suwan descansa o queixo na palma da mão.

— E seu irmão?

— Bambam não é meu irmão — falo.

— Ele também é filho da sua mãe, não é? — ela pergunta. — Como você.

— Não quero falar sobre Bambam — respondo ríspida.

— É normal se sentir assim, vulnerável, ao pensar nele. — ela lembra. — Ele matou a sua família e...

— Ele pode ter matado a nossa família, mas eu matei meu pai. — As lágrimas voltam a salpicar os olhos e, dessa vez, uma é rápida o suficiente para rolar pelas minhas bochechas. Passo a mão no rosto, rude, e evito olhar para a doutora. — Meu pai era um abusador, mas se você o visse não acreditaria nisso. Ele era o melhor advogado da província, as pessoas o pediam ajuda como se ele fosse um Deus... e ele ajudava, nunca pedia nada em troca. Não gostava de ternos, porque segundo ele o afastava das pessoas, então sempre andava com roupas coloridas, com um sorriso no rosto, abraçando e fingindo se importar com as pessoas. Diziam que ele era um bom homem, um homem que vestia uma carapuça sociável durante o dia e a noite fazia as coisas mais cruéis e horríveis com as pessoas que ele dizia amar.

Suwan fica alguns minutos em silêncio, esperando eu me recuperar para enfim encará-la, e então diz:

— Você matou o seu pai para no fim se tornar uma versão dele?

Cerro os dentes, sentindo as minhas mãos se fecharem em punhos.

— Terminamos por hoje.

>< >< ><

Suwan me acompanha até a saída e, assim que ela abre a porta, há duas pessoas na recepção. Passo por elas sem olhar para trás. Não quero que me vejam chorando, conjecturando fazer o que estou planejando fazer a noite: matar a velha psiquiatra que acha que sabe algo sobre mim. Eu não mato mais, mas ela está me obrigando a voltar. Não posso deixar que alguém saiba tanto sobre mim e meus atos. Respiro fundo, escorando-me na parede fria de mármore enquanto o elevador sobe devagar até o meu andar.

De repente, sinto um toque firme, mas não tenho tempo de descrevê-lo com mais detalhes, meu corpo age primeiro que minha cabeça. Giro o torso e agarro a mão que afunda o meu ombro, dobrando-a para trás.

O estalo do pulso se dobrando vem junto de um grito agudo.

— AAAH, QUE PORRA?

Solto o braço da garota e ela dá alguns passos para trás, atordoada. É a mesma garota que estava na sala de espera da doutora Suwan, mas passei tão depressa que não a observei muito. Tem mechas brancas nos cabelos escuros e um delineador forte demais para as 8h da manhã. Ela massageia os pulsos, me olhando com censura.

— Eu só ia falar que ela é casada!

Balanço a cabeça, confusa.

— O quê?

— A doutora Suwan — ela responde como se fosse óbvio. —  Ela é casada.

Olho para os lados sem saber o que fazer com essa informação.

— Bom pra ela — viro-me para entrar no elevador, mas assim que eu coloco o primeiro pé na caixa metálica, a garota entra primeiro.

Okay, é uma jovem. Eu lidava com vários deles. Impeço a porta do elevador de fechar.

— Você não deveria voltar para lá? — Aponto para o consultório atrás de nós. — Vai perder o atendimento.

Ela está ocupada demais retocando o batom no espelho do elevador, mas me responde.

— Eu só vim levar minha irmã. Ela é a doida, não eu.

Levanto uma sobrancelha e, um pouco contrariada, deixo a porta do elevador se fechar. Pelo canto do olho, observo a garota passar mais uma camada de gloss e, em seguida, bagunçar os cabelos. Ela veste um short jeans e uma blusa confusa, com alguns rasgos e tecidos diferentes, como se tivesse personalizado a peça no escuro. Seguro uma risada, é isso que os jovens fazem hoje em dia? Ela é o tipo de garota que eu evito contato, o tipo que me faz lembrar que ainda existem meninas como Jennie por aí, soltas e livres, sem a supervisão de qualquer responsável para ensiná-la o básico de sobrevivência, que aprendeu tudo sozinha e acabou aprendendo da forma mais errada possível. Ela tem tanta raiva do mundo que desconta em tudo, no cigarro ou na cabeça de uma desconhecida no banheiro de um bar. Ela fode bem e se acha esperta, mas é tão ingênua que dá pena.

Ela me pega olhando-a e dá uma piscadinha.

Desvio o olhar.

As portas do elevador se abrem; É libertador. Percebo que estou segurando a respiração como se estivesse com medo. Apresso o passo para sair do saguão, aliviada ao cruzar as portas do prédio. A movimentação do dia já é visível nas ruas tumultuadas e carros buzinando, disputando um espaço na rua apertada. Eu não dirijo mais e nem preciso, meu pequeno apartamento é a duas quadras.  Começo a caminhar, mas de soslaio vejo a garota do elevador se aproximar. Ela não usa nenhuma bolsa, carrega apenas o celular no quadril e não precisa se preocupar em pedir passagem no meio da multidão. Todos parecem desviar dela de bom grado, o que a faz me alcançar em segundos.

— Mas e quanto a você?

Temos a mesma altura, mas ela parece ser mais baixa.

— Qual o seu problema, menina? — pergunto impaciente.

Ela solta uma gargalhada.

— Homossexualidade, e o seu? — E para na minha frente, esticando a mão num comprimento ocidental. — Prazer, Minnie.

Olho para os lados, como se alguém pudesse ver o desespero nos meus olhos e me salvar dessa. Minnie provavelmente é a pessoa com quem mais troquei palavras desde que cheguei aqui, além da minha psiquiatra. Minha bateria social agora é baixa, eu não tenho paciência e nem tenho idade para isso.

Se isso fosse em outros tempos, eu teria respostas afiadas para retrucá-lá, teria analisado todo o seu passado e suposto o seu presente, catalogado o seu nome em um ranking de possíveis vítimas, imaginando como poderia matá-la baseando no ano da sua formatura, mas agora estou calejada e tentando me livrar dos velhos hábitos.

Minnie ainda continua parada na minha frente, como se tivesse decidido tirar o dia para me importunar. Já cruzei com alunos como ela, cansam pela insistência.

— Pranpriya — respondo.

Ela arqueia as sobrancelhas.

— Pranpriya. Bonito nome!

Dou a volta nela e continuo o caminho até o fim da rua, mas é claro que Minnie me segue.

— Pranpriya de quê? — pergunta, apressando o passo para me alcançar.

— Não te interessa — respondo.

— É virgem?

Paro de supetão, fitando-a de cima a baixo.

— O que o meu signo tem a ver com a pergunta?

Eu sei bem que ela não está perguntando do meu signo. Acho que ela também sabe. Minnie novamente estica a mão à frente.

— Quer ser minha nova melhor amiga?

Não aperto a mão dela, o que não faz baixá-la. Minnie gosta de ser teimosa.

— O que aconteceu com a antiga? — pergunto.

Ela recolhe a mão, colocando-a no bolso e, com naturalidade, responde:

— Morreu de overdose no semestre passado. — Ela olha para o horizonte, como se estivesse contracenando em uma peça. — Acontece com as melhores pessoas.

Eu definitivamente preciso me manter distante dessa garota.

Rolo os olhos, deixando-a para trás, e dessa vez apresso o passo na esperança dela desistir de me seguir. Depois de caminhar alguns passos largos, ouço atrás de mim:

— Sabe qual o meu hobby, Pranpriya?

Olho para trás, praguejando-a à medida que ela se aproxima.

— Prostituição, suponho — respondo.

Minnie gargalha.

— Isso é só nos fins de semana, bobinha!

Ela continua rindo, não é o tipo de sorriso que eu gosto, o sorriso dela, mas a minha mente já tratou de achar semelhanças. Algo bobo, como os dentes de Minnie também serem brancos e pequenos e... irritantes. Minnie me irrita, me irrita ao ponto de cada parte do meu ser quer fazê-a calar a porra da boca. Posso beijá-la ou quebrar os seus dentes com um soco. Acho que gosto dela.

Engulo um arfar e a deixo me alcançar.

— Então qual é o seu hobby?

Ela me olha de soslaio, no momento em que um vento forte faz seus cabelos virem de encontro ao meu rosto. Ela tem cheiro de cigarro. O maldito cheiro de cigarro.

— Gosto de transar com esquisitões.

Minnie consegue tirar o meu primeiro riso verdadeiro em anos.

— Acho que hoje é o seu dia de sorte.

>< >< ><

Minnie morde o meu lábio inferior com tanta força que sinto o gosto metálico preencher a boca. O sangue escorre pelo canto dos meus lábios, manchando os seus de vermelho.

— Foi mal, é mais gostoso assim — ela sussurra, lambendo.

O gosto é tão familiar que me assusta. Abro a porta do apartamento e empurro Minnie para dentro. Ela tatea as paredes à procura do interruptor de luz, mas eu a jogo na cama. Minnie abre as pernas num convite, e eu me encaixo.

Enquanto ela desce os beijos pelo meu pescoço eu jogo a cabeça para trás, dando-lhe passagem, mas um pensamento se acende em minha mente como em um desenho animado. Não consigo mais prestar atenção em outra coisa.

— Espera... — peço, tentando me levantar, mas as pernas dela me prendem. — Tenho uma coisa.

Minnie me solta e seus olhos curiosos me acompanham no escuro. Eu abro a primeira gaveta do armário e apalpo a roupa até encontrar algo sólido entre as calcinhas. Com cuidado, retiro o pingente do pano que o envolve. O pêndulo em formato de cruz balança suavemente.

Atrás de mim, Minnie pergunta:

— O que é isso?

Não respondo de primeira, estou inundada de lembranças que sempre vem quando vejo esse pingente. Não é o mesmo, não tem como ser o mesmo, mas é o mais parecido que consegui encontrar. Vou até Minnie, levando o pingente de cruz.

— Quero que use isto. — Mostro para ela.

Minnie olha para mim e para o colar com os olhos semicerrados.

— Que tipo de fetiche é ess...

— Só coloca — falo com mais doçura: — Por favor.

Ela revira os olhos, mas puxa o colar da minha mão. Preciso engolir um aviso para ser mais gentil, se ela estragá-lo não sei onde posso encontrar um parecido. Minnie coloca o cordão e eu o ajusto para que fique bem no meio dos seios. Perfeito. Voltamos a nos beijar como antes e, enquanto levo uma das mãos para dentro da sua saia, ela geme no meu ouvido. Aperto a parte interna da sua coxa até chegar onde eu quero, arrastando a calcinha para o lado. Ela está quente em todas as partes.

— Posso te chamar de Jennie? — pergunto em seu ouvido.

O corpo de Minnie fica tenso.

— O quê?

Ignoro isso, começando o movimento com os dedos. O calor chega as minhas falanges em ondas, junto a respiração arfante dela em meu ombro.

— De Jennie — repito.

Minnie geme quando afundo o anelar.

— Tá, tá... pode ser.

Balanço a cabeça em concordância, satisfeita.

— Okay, Jennie.

Se eu ignorar as mechas brancas do cabelo e o rosto, talvez o formato dos seios... e se eu fechar os olhos? Cerro as pálpebras, tentando não pensar muito. Enquanto o anelar e meu dedo médio vai e vem, Minnie solta lufadas de ar que vão de encontro a minha boca.

— Rápido — pede. — Mais rápido.

E eu vou mais rápido, mas ainda tem algo que me incomoda.

— Você me odeia? — pergunto entre arfares.

Minnie me cala com um beijo. Os selares são intensos, rápidos.

— Você... — Me esforço para falar, mas ela beija meu queixo, nariz, bochecha, tudo menos a boca. — Você não respondeu a minha...

Empurro-a delicadamente, buscando ar para respirar.

— Você não respondeu a minha pergunta — consigo dizer.

Minnie não liga para o que eu falo, seu corpo segue o comando dos meus dedos, para frente e para trás, rebolando neles.

— Não... não te odeio, Pranpiya — ela geme no fim da sentença.

Continuo os movimentos, mas um pouco brava por ela não prestar atenção no que importa.

— Eu quero que você me odeie — retruco.

Minnie aperta as pernas em volta do meu quadril e, devo admitir, a visão do seu rosto em estase é maravilhosa, mas é como um quadro no museu, distante demais para que eu toque. Ela me empurra para baixo, mas eu me recuso a ir sem que ela diga.

— Eu te odeio, Pranpiya — e ela diz.

— É Lisa — corrijo.

Minnie pensa em contestar, mas já estou com a boca no meio das suas coxas. Ela puxa os meus cabelos e dita os movimentos, e está molhada enquanto eu ainda estou seca, esperando o momento que meu corpo ficará em chamas, que o êxtase vai chegar. Levo a mão debaixo do meu vestido, me tocando ao mesmo tempo que a fodo com a boca, mas não funciona.

Levanto a cabeça, fitando-a.

— Você pode... — Engulo o seco. — Pode dizer que quer me matar?

Minnie olha para baixo, para mim, e por um segundo acho que ela vai sair correndo.

— Você quer que eu te mate? — ela pergunta.

— Não, não, eu só... — Limpo a boca com o dorso da mão. — Só quero que diga que vai me matar.

Os olhos dela me encaram com uma intensidade poderosa, famintos. Minnie sorri ao passar os dedos lentamente pelos meus lábios.

— Eu te odeio tanto, Lisa, que quero te ver morta. — Ela ronrona e se inclina sobre mim, beijando o meu pescoço e subindo até o lóbulo da minha orelha, onde morde devagar. — É disso que você gosta, hm?

Fecho os olhos e, pela primeira vez, sinto que até a voz dela mudou.

— Uhum... — consigo responder.

Ela inverte as posições, sentando em cima do seu quadril.

— Você é uma vadia egoísta... — Ela aperta o meu pescoço. — É isso que queria ouvir, Lisa?

Dessa vez, não consigo mais responder. Ela desamarra a gola do meu vestido, abrindo-o, e desliza o dedo de um mamilo ao outro. Eles estão completamente enrijecidos. Minnie não pergunta sobre a cicatriz no meio deles, o relevo que divide o meu peito. Na verdade, ela lambe.

Faço uma careta, achando a situação um pouco incômoda, mas ela volta a tomar os meus lábios com avidez, rebolando o quadril em cima do meu. A fricção me tira de órbita e Minnie só para os movimentos para descer com a boca até o meu mamilo.

— Você está com raiva de mim? — pergunto entre arfares, agarrando o cabelo dela.

Minnie não responde, está ocupada com a boca em meus seios, mas sinto sua cabeça mexer em um "não."

— Está com raiva... — continuo, mas ela faz cócegas enquanto desce a boca pelo meu abdômen, passeando a língua pela região. Minnie chega até a barra da minha calcinha, mas eu a faço parar.

— Está com raiva por eu ter fugido?

Minnie sorri para mim, complacente, e acaricia o meu rosto.

— Eu não estou com raiva de você, meu bem. Eu nunca ficaria com raiva de você.

É como se ela tivesse me dado um soco.

É claro que aquela desconhecida não está com raiva de mim, ela não é a Jennie.

Empurro-a com força, afastando-me até a outra ponta da cama. O ar entra rápido pelas minhas narinas, me deixa tonta.

— O que... — Minnie tenta se aproximar, mas eu me afasto ainda mais, batendo as costas na cabeceira da cama. —  Eu falei alguma coisa de errado?

Fito a garota na escuridão, os olhos angustiados procurando resposta pelo meu comportamento, e tenho vontade de rir. Rir de como sou ridícula, do que me sujeito a passar por não tirar Jennie da cabeça. Ela é como um vírus no meu cérebro, corroendo os meus neurônios. Quando menos percebo, estou gargalhando. Meus olhos enchem d'água enquanto o som esganiçado sai da minha garganta.

Minnie fica com medo, pega suas coisas e sai do apartamento sem dizer nada. Bom para ela, talvez troque de hobby a partir de agora. Continuo rindo até meu maxilar doer, até o riso virar um choro compulsivo.

Encolho-me na cama, sentindo as lágrimas espessas escorrendo pelas bochechas e molhando o meu travesseiro. Talvez eu devesse ter matado Jennie quando tive a chance. Enterrado-a de verdade naquele cemitério. Talvez nem devesse tê-la convidado para tomar café quando nos encontrarmos no jardim. Se eu soubesse como estou agora, teria evitado ao máximo qualquer mínima atração por meninas como ela.

Rio anasalado. Jennie não é mais uma menina há algum tempo.

Estico-me na cama, olhando para o teto, e fico na mesma posição pelo que parecem horas. Gosto de ficar assim, no completo silêncio, sem me mover, me faz esquecer que tenho um corpo físico. E, quando a noite desce — percebo isso porque a luz para de entrar pelas persianas — eu me sento na cama.

— Preciso de um banho — sussurro.

Se eu não fizer algo agora, vou ficar à mercê dos meus pensamentos à medida que a madrugada chega. É nesse momento que meu pai toma conta de mim, que tenho a impressão que Bambam está na surdina, me observando. As paranoias tomam conta. Mas, assim que me levanto da cama, vejo algo que não estava ali antes, no chão, perto da porta.

Uma carta.

Semicerro os olhos, me aproximando devagar, como se o pedaço de papel fosse uma bomba. Alguém enfiou aquilo pela fresta da porta sem que eu visse? Ajoelho-me, tombando a cabeça para ler a carta de cabeça para baixo.

"Para Lalisa Manoban"

Meu corpo enrijece.

A única pessoa aqui que sabe que sou Lalisa Manoban é a minha psiquiatra. Mas não pode ser ela, eu reconheço a letra.

Abro o envelope com as mãos trêmulas. Não tem nada além de uma foto.

Pisco algumas vezes, não acreditando no que estou vendo. Preciso acender a luz para enxergar os detalhes: o rosto preocupado de Jennie dentro do carro, com as sobrancelhas unidas para a catedral daquela pequena cidade do interior que conheço muito bem, mas é a pessoa no banco do motorista que me impressiona.

— Rosé...? — murmuro confusa.

Viro a foto, lendo devagar o recado rabiscado no verso.

"Sua menina está em perigo, hora de voltar para os velhos hábitos."

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