O Segredo de Richard
O SEGREDO DE RICHARD
Richard dá uma saidinha de casa, vai andando de leve com uma chave na mãe, e tenta abrir seu salão tão misterioso. Mirelli, sua paquera, segue-o, querendo descobre de qualquer forma seu segredo. Esperto, Richard olha para trás e vê a garota.
RICHARD: O que você quer de mim?
MIRELLI: Quero saber que segredo guarda no salão, cuja chave está na sua mão!
RICHARD: Nenhum! E não estou com chave alguma!
MIRELLI: Me mostra a chave!
RICHARD: Não!
MIRELLI: Me mostra, me mostra!
RICHARD: Não!
Mirelli pega a chave. Richard tenta tomá-la. Um corre atrás do outro, guerreando pela chave. Nisso, vão parar em uma feira de artesanato. Nesse chove e não molha, perdem a chave. Cansado, Richard decide entregar o jogo.
RICHARD: Cadê a chave? Vou dizer a verdade. Mas temos que abrir o salão juntos. Não contarei nada antes disso.
MIRELLI: Deixa eu procurar... Não achei.
RICHARD: Não achou? Você não está mentindo para mim?
MIRELLI: Juro Richard. Perdemos a chave na feira de artesanato.
RICHARD: Temos que procurar por lá. Para isso temos que fingir que estamos comprando alguma coisa. Façamos assim: Você distrai e eu procuro.
Preocupados, correm para a feira. Encontram de cara um velhinho, que era vendedor de colchas.
MIRELLI: Bom dia senhor! Gostaria de olhar suas colchas. Elas são lindas! Você mesmo é quem faz?
VELHINHO: Não, quem faz é a minha esposa.
MIRELLI: Ela aprendeu com quem?
VELHINHO: Com minha sogra que já partiu a muito tempo. Minha filha também observa minha esposa e já sabe fazer bem. As colchas são a tradição da família.
Enquanto isso, Richard vai em busca da chave. Porém o velhinho percebe o jovem mexendo na arte e, para sua infelicidade, chama a delegada Heloísa.
VELHINHO: Dona delegada, esse rapazinho tá querendo roubar a arte da minha mulher. Arte essa que vai para São Paulo e algumas cidades vizinhas como Limoeiro e Taquarana. É o nosso ganha-pão! Elas são tão boas, que até na casa da vizinha as colchas da mulher está. Colchas tão famosas que já foi até pra "capitá".
HELOÍSA: Então o pivete tá roubando esse velhinho, pobre coitadinho que vende tão bela arte. Me explique que coisa é essa, pois minha irmã faz bonecas, para ganhar um trocadinho, e eu não vou deixar o rapazinho roubar esse artesanato, porque um dia também pode roubar minha irmã, levando seu trabalho tão suado.
RICHARD: Dona delegada só procuro uma chave!
HELOÍSA: Deve ser a chave da cadeia. Essa senhorita é sua cúmplice?
MIRELLI: Cúmplice e namorada. Prazer em conhecer, Mirelli. A gente só quer uma chave.
HELOÍSA: Venham seus dois pilantras. Vão encontrar agorinha mesmo a chave da cadeia!
A delegada leva o casal para o xadrez e depois fala com ar de riso:
HELOÍSA: Olhem a chave! Trancafiou vocês!
MIRELLI: A culpa é toda sua, Richard. Você não sabe disfarçar nada.
ANA: Fizeram o quê?
MIRELLI: Estávamos procurando uma chave na feira de artesanato e pensaram que estávamos roubando. E a senhora porque está aqui?
ANA: Estou aqui por roubo. Sou artesã. Faço crochê, bordado e algumas costuras, como cortinas, tapetes, jogos de banheiro e de almofada. Às vezes eu fazia essas coisas para pessoas que me trapacearam. Fiquei sem lucro. Roubei, então, alguns materiais necessários para o meu trabalho: linha norma, crea e princesinha, bico de casso, acrilon e bastidor. Mas, enfim, me pegaram e eu estou aqui. Por que essa chave é tão importante assim?
MIRELLI: Porque ela me revelará o que tem no salão onde é guardado a segunda identidade do meu namorado, né Richard?
RICHARD: Não vem não, que não sou nada disso do que está pensando.
MIRELLI: Vai dizer que não se veste de mulher? Já te viram!
ANA: Quer dizer que você é "mulherzinha" do bairro?
RICHARD: Não, eu não sou travesti. Tudo é mentira!
MIRELLI: Meu amor gosta das duas frutas, sabe?
RICHARD: Não!
As horas vão passando e protagonista sempre esconder seu segredo.
MIRELLI: Richard, não vai custar nada você me adiantar o segredo!
Nesse momento, a delegada chega com uma chave na mão.
HELOÍSA: Achei essa chave na feira. Antes de entregar ao casal pesquisei sobre suas vidas. A moça se chama Mirelli e é apaixonada por Richard, que tem um tal misterioso segredo a ser desvendado. Dizem que o mistério de Richard está no salão de seu tio e só uma chave abre o salão. Só darei então, a chave se abrirem o salão na minha presença.
RICHARD: Não aceitarei tal proposta! Minha intimidade só pertence a mim e a quem eu revelar.
MIRELLI: Pois eu aceito dona delegada!
HELOÍSA: Que bom, já chamei até os pais do garoto! Agora iremos ver seu guarda-roupa feminino...
A delegada tira os dois do presídio. O protagonista faz cara feia. Uma multidão os acompanha. A tão querida chave é dada ao enigmático moço. A porta do salão é aberta. Em cima da mesa havia croquis, peças desconhecidas pela multidão. Ao redor deles havia alguns manequins vestidos maravilhosamente. Os pais dos jovens sentam-se. Seu pai, Carlos, pergunta ao filho:
CARLOS: Eram essas roupas que você vestia? Você é homossexual?
O garoto, nervosíssimo, responde:
RICHARD: Eu vestia essas roupas sim, mas não sou gay. Eu gosto de moças, eu gosto de Mirelli.
ISABELLY: Então se você não é gay, porque vestia essas roupas?
RICHARD: Elas são minhas. Eu que as fiz. Não vou mentir: usava-as em shows, em casas noturnas, para conseguir dinheiro para fazer meus modelos. Eu era travesti, mas não gay. Tinha medo do preconceito por isso nada contei antes. Eu morria de medo de todos vocês me olharem como olham agora.
O jovem começou a chorar.
CARLOS: Filho, não acredito!
ISADORA: Não chore, artista! Suas obras são lindas. E, eu, como empresária de peças artesanais e de modelos inovadores, como este, te contrato. Ao vir aqui para comprar na feira artesanal, nunca pensei em encontrar tamanho talento! Gostaria de pedir aos pais do rapaz a autorização para produzirmos a carreira do jovem!
CARLOS: Eu não posso aceitar. Isso me dá vergonha...
MIRELLI: Aceita, seu Carlos! Estou muito orgulhosa de namorar um jovem tão especial. Aliás, o senhor não pode ter vergonha de um filho que vestirá as multidões. Igualmente não dá para ter vergonha dos artesões que embelezam nossas casas com sua arte manual. Seu filho irá construir um futuro para vocês e tenho certeza que me fará muito feliz.
ISADORA: E aí?
CARLOS: Só por causa da Mirelli, que é uma boa menina ... Concordo!
ISABELLY: Meu filho está em suas mãos!
RICHARD: Obrigado, pais! Obrigado Mirelli!
A multidão ali presente aplaudiu o jovem, que mais tarde se tornou uma grande estilista. A empresária Isadora, juntamente a Mirelli, fizeram muito bem a publicidade do rapaz e conseguiram vender as roupas como pipoca. Ana, a presidiária, foi solta pois Richard pagou a fiança. A jovem senhora passou a trabalhar com ele e sua equipe. Os pais deles se mudaram para Maceió e foram morar no belo apartamento que compraram, em frente a praia. Enquanto isso, o artesanato local ganhou destaque, pois nosso herói fez várias lojas patrocinando a cultura. Seu município conheceu então a prosperidade.
****
OBS: Mudei algumas palavras e colocações de vírgulas em relação à peça de 2013.
Richard, cristalzinho não-binárie.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro