Capítulo 65 - Condenado Por Seus Crimes
Rigard se viu divagando em seus pensamentos por alguns segundos, mas logo deu uma resposta.
— Eu topo, mas não irei gastar um centavo nessa viagem, tem que ser tudo por sua conta, e você não deve falar merda ou ficar de gracinha por nenhum segundo, entendeu? E nem os seus irmãos, pois serão os três que viram comigo. E o segundo ponto, caso eu venha precisar dos três, ambos viram ao meu socorro imediatamente e sem fazer perguntas. É pegar ou largar...
Devil deu um sorriso enorme, não conseguia esconder sua felicidade ao ouvir as palavras de Rigard.
— Muito bem, iremos partir daqui cinco dias, passarei os detalhes a você em outra hora. Obrigado por me ajudar nisso, Rigard, você é um vampiro e tanto.
— É tudo por causa de sua irmã e mais nada. — Disse ele após tomar mais um gole de sua caneca.
— Mas seremos apenas nós dois, entendeu? Estou confiando em você, não me desaponte, e vê se não fala para mais ninguém o que você vai ver lá, as coisas podem ficar quentes. Sei que queria que meus irmãos fossem também, mas preciso que os dosi fiquem aqui nós dando apoio caso algo dê errado.
— Piadinha com meu poder de fogo?
— Depois sou eu quem fico de gracinha. Resmungou Dante inconformado.
— Sem problemas, não irei falar para ninguém.
— Dante só quero que você abaixe a bola um pouco. Disse Vergil se levantando de um salto. — Vou cuidar para que nossos pais não desconfiem de nada.
— Então te incomoda ver alguém se vangloriando tanto Rigard?...
— Agora você sabe como sempre me senti perto de nobres como vocês.
Os irmãos se olharam desconfiados até que ouviram Rigard falando.
— O que posso fazer se sempre fui um prodígio? Mas o que fará agora? Quer ficar e conversar um pouco? Treinar? Sabe, como fazíamos antigamente na academia real.
— A minha intenção era vir aqui, discutir os termos com você e ir embora, mas acabei mudando de planos. Vi alguém com quem preciso conversar. — Disse Rigard enquanto olhava para as escadas à sua esquerda.
— Ah, sim, quer falar com ela não é? Então percebeu a semelhança de minha noiva com a sua falecida mãe.
Rigard o olhou mais desconfiado ainda.
— Precisamos conversar seriamente sobre isso. Disse Devil indicando a saída para o jardim da mansão.
— Quem é ela afinal?
— Uma Lâmia, mas hoje ela foi purificada, Belle é minha noiva. Mas venha vou lhe explicar tudo lá fora.
Depois de duas horas Rigard descobriu os verdadeiros planos de Jack ao ressuscitar as Lâmias.
Os dois entram e se olharam em concordância.
— Você sabe que depois de sumir Scarlett ficou uma fera com você e com ela mesma? Acho que ela não vai aceitar suas palavras tão cedo.
— Eu imagino, ela subiu sem nem olhar para minha cara, achei que não tivesse me reconhecido, mas aparentemente o buraco é mais em baixo. Realmente, isso pode ser difícil.
— Pode não, vai ser difícil. Se quiser esperar até a reunião acabar, fique à vontade, mas não sei se ela vai querer conversar normalmente depois de tudo, você sabe, ela não é tão compreensiva quanto seus irmãos. E de toda forma, achei que não fosse querer falar com ela, já que estava a evitando, assim como ela também. Droga, Rigard voc\~es dois são dois cabeças duras.
— Não pretendia, mas depois de vê-la... Você sabe, meio que preciso conversar com ela agora, não quero que ela pense que a odeio nem nada do tipo por ter sumido, só tenho que esclarecer as coisas.
— Então é assim, com ela você quer esclarecer as coisas, e sobre o seu passado e sua origem você só resolveu deixar pra lá. Entendi, saquei, muito atencioso de sua parte. Sabe que podemos entrar em contato com os anciões e...
— Não enche Devil, minha intenção não é me tornar o imperador de Marlóvia, até porque não sei se Scarlett aceitaria tal coisa, só quero deixar tudo... bem? Talvez seja isso.
— Você não quer que a vampira por quem está apaixonado praticamente o odeie depois de tudo o que fez? Entendo, entendo, antes de vê-la achou que poderia viver com isso, mas após assisti-la subir as escadas em todo seu esplendor, teve uma recaída e agora precisa fazê-la entender seu ponto de vista, afinal só o sentimento dela o odiar já é o suficiente para fazê-lo repensar todo o motivo de sua existência.
— Não tem nada a ver com paixão, embora eu realmente tivesse uma queda por ela, não tira o fato de ser uma vampira especial, assim como o meu passado, e da mesma forma que permiti ele ficasse onde deveria ficar, no passado. Eu só preciso que Scarlett permita a minha reaproximação, quero me permitir ir atrás dela esclarecer as coisas.
— Relaxa, fico feliz que esteja tentando voltar a ser o que era. — Disse Devil, que ao contrário de Rigard, bebia sua taça de sangue apenas de vez em quando, como um nobre faria.
— Nunca vou conseguir voltar a ser como era, mas preciso reatar essas pontas soltas, diferente do que sentia sobre minha mãe e minha origem, eu gosto muito dela, então me sinto um pouco mal por vê-la simplesmente me ignorar.
— Tem sempre que ressaltar a parte de que não era tão apegado a imperatriz? Sabe que esse foi o principal problema? Rigard você já pensou se a sua mãe fez o que fez por que o amava demais.
— Sim, eu já me peguei pensando isso. É para você perceber que não estou de guarda baixa perto de vocês e nem do meu passado.
— E mesmo assim está se abrindo para mim, você até tenta ser um vampiro solitário Rigard, mas todos que tentaram esse caminho não conseguiram por muito tempo. Seres como nós precisamos socializar, e você não é exceção.
— Nunca quis ser um "vampiro solitário", apenas queria mudar as coisas, me desatar das amarras que me prendiam a tudo o que meus pais representavam, esse é o ponto. Nunca odiei sua irmã, vocês talvez. Só quero explicar para que estar aqui, estar perto dela, era algo que me lembrava meus pais tudo o que Jack me fez.
— Assim como Brasa e sua família, só que eles foram diferentes. Resumiu Devil conversando seriamente com Rigard.
— Tivemos laços além do que este lugar e Marlóvia representavam para mim.
— E mesmo assim você os evitou nestes últimos meses também. E quanto o soberano Drako, conseguiu o perdoar também?
— As coisas tinham ficado mais... Complicadas. Não os evitei pelo mesmo motivo, mas sim porque precisava resolver algumas pendências comigo mesmo, precisava ficar um tempo sozinho, mas ao fazer reencontrá-lo novamente, as mesmas feridas se abriram, percebi que não dá pra ficar o tempo todo assim, então quando vi a sua noiva hoje, pensei que deveria dar um basta nesse mal entendido também. Ela realmente é muito parecida com Vivica, e isso me trouxe de volta a realidade.
— Belas palavras, até me comoveu um pouco. Eu entendo como você se sente, pelo menos até certo ponto, e o apoio em tentar conversar com Scarlett, só escolha bem as palavras, você sabe como ela é. Enfim, o que pretende fazer até a reunião acabar? Não te anima a ideia de um treinamento leve?
— Vai ter que ser isso, melhor do que ficar conversando com vocês o tempo todo.
— Ok, irei pegar os equipamentos, pode me esperar na área de treinamento. Rigard eu vou lhe aconselhar, dê mais um tempo para minha irmã possa sentir a sua falta. Tente falar com ela outro dia.
Rigard levantou e se dirigiu até uma área aberta que ficava atrás da casa, era um grande espaço, com um piso de pedras polidas no centro e várias árvores em volta. Ver esta paisagem trouxe a ele algumas lembranças de sua infância, seu coração encobriu-se de nostalgia, quase era possível vê-lo ali treinando com seu clã, o medalhão que pertencia a sua mãe estranhamente lhe dava visões de fatos e acontecimentos do passado. Por isso, ele sabia que aquela mansão havia pertencido ao seu clã. Mas isso foi há muito tempo, agora as coisas eram diferentes.
Não demorou muito para que Devil voltasse com algumas espadas de treinamento, para que pudessem treinar sem se machucarem (em tese).
Algum tempo passou enquanto os dois trocavam golpes, já era quase meio-noite, Rigard estava escorado de braços cruzados com as costas na parede de fora da mansão, ao lado da porta da frente, esperando uma certa pessoa sair de lá. Pouco a pouco os conselheiros do rei foram indo embora, um por um, mas quem ele esperava ainda não havia aparecido.
"O que é que eu estou fazendo?" Pensou o vampiro, que estava prestes a desistir, mas quando ameaçou dar um passo afrente, a vampira pela qual estava esperando finalmente passou pela porta, novamente sem sequer olhar para a cara dele, mas dessa vez não ficaria por isso.
— Vai ficar fingindo não me conhecer até quando?
A vampira de cabelos escuros e agora com mechas prateadas parou, suspirou, e sem olhar para trás, deu sua resposta.
— E você? Por quanto tempo fez isso? Três meses? Acha que pode simplesmente aparecer novamente e vir me ver como se fosse normal? Os meus irmãos podem até ter o aceitado de novo, mas eu não sou assim. Sei que existe uma camaradagem e um código entre os caçadores da academia real de Marlóvia, mas eu me recuso a compactuar com essa filosofia.
Embora tivesse uma voz doce, era possível ver alguma precipitação nas falas de Scarlett, o que fez Rigard sentir uma estranha palpitação em seu peito, mas logo deixara tal sentimento de lado para continuar a conversa.
— Eles não me aceitaram, e nem eu os aceitei, apenas vim aqui para discutir negócios em comum. Como vocês mesma disse temos algumas coisas em comum como caçadores que se formaram pela academia real de Marlóvia.
— Se é só isso porque se deu o trabalho de tentar falar comigo?
— Porque sinto que a decepcionei, não só você como a todos, e talvez seja hora de tentar pelo menos amenizar as coisas, não sou tão presunçoso ao ponto de querer que nosso relacionamento volte ao que era, só quero que você saiba que só fiz o que fiz por um motivo.
— Qual motivo seria grande o bastante para você me usar em seus planos de vingança? — Disse Scarlett que agora pela primeira vez observou aquele atrás dela, mas apenas de canto, porém até assim era possível ver a raiva e a decepção exalando de seu olhar.
— Olha, eu não queria realmente fazer isso, mas tive que fazer, não foi algo legal sequer para mim, só que na vida as vezes devemos nos adaptar. Eu só quero que você me escute, que entenda meu ponto e...
— Tudo por causa da sua origem! — Interrompeu Scarlett. — Eu, você e o Jack Nemesis, depois apareceram os boatos também, mas aí de repente você sumiu, fiquei sem entender nada, meus irmãos em segredo ainda se deram o trabalho de ir atrás de você e se juntarem aos Caçadores para ficarem ao seu lado, mas eu não pode fazer isso, não depois de você ter feito tão pouco de meus sentimentos, e não me importam seus motivos, isso não muda o fato de que você simplesmente sumiu sem nem avisar!
— Foi você que me mandou embora!
Scarlett exalava raiva em suas palavras, era possível sentir aquilo que havia em seu coração só de ouvi-las, e Riagrd percebeu isso, o que o fez abaixar sua cabeça e soltar um "tsc". Após um tempo a voz da vampira a sua frente ficou trêmula, como se aquilo que fosse dizer estivesse entalado em sua garganta.
— Você me machucou muito Rigard Dimitrescu... Vai demorar um pouco mas eu vou superar isso, só que eu não, na verdade acho que jamais vou te perdoar... Espero que esteja indo bem na sua vida como o vingador do clã Dimitrescu, já que essa sua maldita vingança vale mais do que sentimos um pelo outro.
— Scarlett, espera!
Scarlett tornou a olhar para frente e continuou sua caminhada, enquanto Rigard estendia a mão em sua direção. Já era tarde demais para concertar as coisas, o perdão é uma dádiva, mas nem todos estão dispostos a concedê-lo para aqueles que outrora os machucaram.
"É isso que você recebe por ter sido um merda" Pensou o vampiro.
— Eu avisei. Escute-me dessa vez Rigard, volte a falar com ela novamente em outra oportunidade.
— Devil? — Rigard se surpreendeu ao ouvir a voz de seu "aliado", que acabara de sair pela porta. — O quanto disso você escutou?
— O suficiente para saber que tudo deu errado... Olha, ela é temperamental e não suporta o fato de ter sido enganada, talvez algum dia ela te perdoe, mesmo dizendo que não o faria, mas isso irá demorar um pouco. Tente se aproximar dela devagar, faça-a entender que não fez tudo por mal, eu mesmo me forcei a acreditar nisso. Confesso que no começo não queria olhar mais para a sua cara, mas depois de um tempo comecei a entender que o passado é passado, por isso fui atrás de você, pelo seu poder principalmente, mas também para reconstruirmos aquilo que perdemos com os desmandos do Jack Nemesis. Como eu e meus irmãos lhe dissemos, agora somos aliados...
— Você, Devil será um bom governante para Morlóvia, melhor do que eu jamais sonhei em ser para Marlóvia. Eu lhe agradeço por ter me trazido aqui, acho que precisava levar esse balde de água fria para me colocar um pouco no lugar de sua irmã...
— Sem problemas, como seria a vida se não fossem as segundas chances? Só não estrague tudo de novo, nem com minha irmã, seus amigos e o seu futuro clã ou até mesmo comigo e meus irmãos.
— Não me importo tanto com vocês ao ponto de me preocupar em estragar tudo de novo.
— Fazer pouco caso de mim e dos meus irmãos assim é seu jeito de demonstrar afeto não é? Eu sei, não precisa mais fingir nós odiar.
— Acredite naquilo que você quiser. Enfim, estou indo para a guilda. Nos vemos daqui cinco dias.
— Não quer mesmo um cavalo emprestado?
— Não, eu quero caminhar um pouco, hoje a lua está clara...
— Tudo bem, até mais ver.
— Até.
Rigard retornou a guilda a pé, o caminho era longo, mas talvez fosse o ideal, já que teria bastante tempo para pensar. O arrependimento consumia seu coração, mas ele tinha seus motivos para ter sumido, e ainda acreditava em seu ponto de vista, embora agora entendesse um pouco como Scarlett se sentiu com isso.
De toda forma, não poderia ficar se lamentando por aquilo que já passou deveria se focar naquilo que importava agora, a viagem até o norte para enfrentar os poderosos gigantes de gelo em cinco dias.
As coisas estavam prestes a ficarem intensas em Marlóvia e Morlóvia depois de todos esses eventos.
Os olhos de Devil ficaram vermelhos e seu corte cicatrizou em seguida. O mesmo ocorreu aos seus irmãos.
— Acredito que depois do que firam aqui, todos os envolvidos possam ter a certeza que este vampiro realmente é o herdeiro perdido da imperatriz Vivica e seu companheiro Kairus Dimitrescu. Finalizou Devil dizendo se curvando na direção de Rigard e sendo imitado por seus irmãos e outros líderes dentro do salão.
— ISSO É UM ABSURDO. UMA LOUCURA! SERÁ QUE TODOS E PRINCIPALMENTE OS ANCIÕES NÃO PERCEBEM QUE TUDO NÃO PASSA DE UM COMPLÔ CONTRA MIM E... Gritou Jack exaltado.
Nisso passos foram ouvidos adentrando o salão.
— O poder é sempre perigoso! Ele atrai o pior e corrompe os melhores. Mas no seu caso meu filho, ele só resaltou o pior que existe dentro de você. Afirmou o vampiro parando diante de todos.
Novamente ouve uma explosão de sussuros e palavras desconexas.
— Soberano Drako Nemesis, seja bem vindo. Disse um dos anciões se aproximando. — Pedimos mil perdões por tê-lo incomodado em seu sono. Mas o caso é de extrema gravidade. Estamos diante de um impostor e...
— Por isso, estou aqui. Para esclarecer os fatos. E prestar reverência ao verdadeiro imperador de Marlóvia. Disse Drako ficando de frente tanto de Rigard como de Jack. — Um rei ou um Imperador, para governar adequadamente, isto é, visando somente o benefício dos outros, precisa possuir quatro características principais: Sabedoria, Força, Riqueza e Honra. Como diz os nossos ancestrais e assim será... — O verdadeiro Imperador de Marlóvia precisa ser — e é preciso também garantir que ele possua todos esses traços. Por isso, eu estou aqui para reverência o filho de minha filha, Vivica a imperatriz de Marlóvia, o meu neto Rigard Dimitrescu.
— NÃO DEEM OUVIDOS AO MEU PAI, ELE ESTÁ LOUCO. TODOS SABEM QUE MINHA IRMÃ, VIVICA A IMPERATRIZ NÃO DEIXOU HERDEIROS.
Nisso todos ficaram espantados ao voltarem seus olhos e verem o soberano Drako de joelhos diante de Rigard.
— MALDITOS! EU VOU...
— SILÊNCIO JACK NENEMIS! Disse os anciões em coro, trazendo o silêncio de volta ao salão. — Vamos dar um dar recesso de vinte quatro horas. Prendam Jack Nemesis na ala norte da cidadela e o Rigard na ala sul. Ordenou os anciões saindo do salão.
2888 Palavras
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