Capítulo 58 - Antigo Soberano, Não está Morto!
BÔNUS
O Segredo de Marlóvia
Da sacada da torre mais alta de um belíssimo palácio, um vampiro original de longos cabelos negros, barbudo e muito bem vestido, de pele extremamente branca e olhos escuros, observava uma grande cidade envolta de uma planície quase sem fim que a circundava, enquanto refletia. Ao mesmo tempo, fora possível escutar batidas na porta do quarto que dava acesso a sacada.
— Pode entrar.
A grande porta dupla de madeira se abriu e uma figura masculina apareceu no local.
— Soberano Lionel! — Disse o recém chegado.
— O que o traz até aqui, Scott? — Indagou o observador, enquanto voltava sua atenção para aquele que havia entrado.
— Os espiões enviados a Marlóvia trouxeram informações frescas, creio que seja de seu interesse, vossa majestade.
Scott era alto, estava com cabelos um pouco mais curtos, pele pálida e olhos castanhos, em suas costas estavam o arco pertencente ao clã Lycan. Logo, o informante continuou falando.
— Muito provavelmente, seu filho Jack tentará anunciar guerra contra Morlóvia, e creio que isso não irá demorar muito.
O velho vampiro se espantou um pouco, seus olhos arregalaram-se, mas logo retomou seu semblante calmo e sereno, haja vista que já tinha ideia do motivo qual gerou tal situação.
— Ele está atrás do filho Vivica, não é?
— Isso mesmo. Pelo o que os espiões falaram, seu filho ainda não acredita que Rigard, o caçador renegado possa ser o herdeiro desaparecido. O mesmo nunca desconfiou que por sua ordem a fada Negra Névoa levou o herdeiro até o clã Dimitrescu. Ele apenas não sabe o motivo que os fatos não ocorreram como ele havia planejado.
— E sobre os outros que nos ajudaram a proteger meu neto, ele tem conhecimento sobre eles?...
— Nenhum majestade, pois a maioria foi muito bem escondida por nossos aliados no reino de Morlóvia.
Drako ficou inquieto com tal notícia, mesmo esperando que isso fosse acontecer, não imaginava que seria tão cedo. Jack novamente havia perdido o controle e a culpa era inteiramente dele que não botou fim nos desmandos do próprio filho.
— Por que os anciões estão interessados na verdade justo agora? Tantos anos se passaram desde que os boatos foram propagados entre os dois reinos. A maioria nem acreditava que o legítimo herdeiro existisse de verdade. Além disso, Jack fez tantas crueldades e os anciões nunca se manifestaram antes. Pelo que me lembro a última vez que eles se envolveram foi quando o pai de Rigard foi condenado e executado, Karius era inocente. Os anciões nunca tentaram trazer a verdade a tona. — Refletia o vampiro sem se voltar para o Lycan no fundo do salão. — Era nítido que em algum momento tal coisa aconteceria, mas não há motivos grandes o suficiente para iniciar uma guerra neste momento, então por quê?
O glorioso imperador vampiro coçava seu queixo com os dedos da mão direita, enquanto olhava para o nada e tentava compreender a situação.
— Especula-se que eles queiram que o verdadeiro herdeiro assuma o seu lugar de direito agora, talvez para conseguir um poderio ainda maior contra uma possível revolta contra eles próprios. Qualquer ancião temeria se os dois reinos e as demais províncias descobrissem que eles falharam em seu propósito.
— Sim, porém isso é algo fora do comum, nenhum dos dois reinos ou província sequer ameaçou tal ato nos últimos três séculos, conheço a sede de poder dos dos anciões, mas eles jamais fariam algo assim sem um bom motivo, ainda mais sabendo das consequências.
— Exatamente meu soberano, se o objetivo deles realmente for ter em posse o poder do legítimo herdeiro de Marlóvia apenas para benefícios próprios, nós poderíamos acionar a União dos Raças em prol de manter a integridade do Pacto de sangue e... Em todos estes 300 anos, nunca um reino sequer cogitou ir contra este pacto.
— Pois é, nunca passou pela minha cabeça ou pela de Vivica entrar em guerra por causa disso... Acreditei que depois de sua partida, Jack até conseguiria ser um bom soberano, mas ele nem ao menos me ouviu. Será que meu filho não pensa que uma guerra dessas só causaria mortes sem sentido? Ele tentou até mesmo trazer de volta as temiveís Lâmias. Algo que os nossos criadores baniram séculos atrás, e isso é imperdoável. — Falou Drako desanimado.
— Essa mudança repentina na forma de pensar, fazendo-o ir de um soberano elogiado pelo povo a alguém de cargo contestável não é algo normal, alguma coisa deve ter afetado sua forma de pensar, haja vista que nossa relação entre o reino de Morlóvia esteve ótima nesses últimos 600 anos. Creio meu soberano, que devamos tentar entrar em um acordo com eles, antes que seja tarde demais.
— Claro, claro. Evitar mortes e manter os reinos unidos da forma que está é meu maior objetivo, então peço por favor que dê um jeito de arrumar uma audiência com os anciões, precisamos entrar num consenso para que não ajam mortes desnecessárias. De toda forma, Jack está na cidadela negra!
— E quanto ao irmãos Redfield?
— Fiz como me ordenaste, os levei até os aliados de Jack e os príncipes fizeram o que imaginou soberano. Hoje Devil chegará aqui para revê-lo, juntamente do rei Sparda, para acertarmos os termos do casamento entre a linhagem de originais. Isso é de extrema importância, já que precisamos manter nossas relações amistosas entre os dois reinos também.
— Por sorte eles acabaram se apaixonando, assim não precisaremos força-los a um acordo de sangue. Onde meu neto está agora?
— Rigard neste momento está na casa de Scarlett, em seu quarto, terminando de... Bem, o soberano já imagina.
— Muito bem, assim que estiverem saciados e Rigard voltar a cidadela negra avise-me, e por favor, faça com que ele passe o maior tempo possível com ela, faz muitos meses que eles não se veem, ela deve estar com saudades. Rigard precisa agradá-la o máximo possível, caso contrário Sparda irá afastar nossas relações, o que seria terrível. Mas o que desejo na verdade, é que essa relação frutifique rapidamente, um herdeiro nascido dos dois poderia concertar os erros do passado e trazer a tão sonhada paz a todos.
— Sim meu soberano, farei o máximo para cumprir com seus objetivos. Ademais, era apenas isso que desejava lhe informar. Tenha um ótimo dia, vossa majestade.
— Você também, Scott, muito obrigado por tudo, é muito bom ter alguém de confiança como você por perto. Dê as minhas lembranças ao Billie, sei que ele foi de grande ajuda a nossa causa.
— De nada, meu soberano. Irei me retirar agora.
— Tudo bem, me avise caso obtenha mais informações.
— Com sua licença.
Scott abaixou sua cabeça, em forma de reverência, e se retirou do recinto.
Imediatamente, Drako tornou a observar as planícies de seu amado reino, Marlóvia voltaria a ficar em paz assim que Rigard assumisse o reino e as responsabilidades que um dia pertenceu a seus pais. Drako em seu exílio, havia feio o possível e impossível para proteger o clã Dimitrescu. O que pesava em sua via imortal era saber que havia sido fraco o suficiente para não acabar com o seu próprio filho a tempo de evitar tantos males. Enquanto processava as informações recebidas de seu espião Lycan. Sua mente estava uma bagunça, Jack prestes a atacar, o casamento de seu neto Rigard, e também a própria gerência interna entre os dois reinos estava sendo ameaçada pelas loucuras de Jack. "Ser um imperador não é uma tarefa fácil", pensou o velho vampiro, que continuou assim por um tempo.
Não muito longe do local, uma jovem de lindos cabelos prateados puxava a corda de um arco, enquanto visava um cervo a uns 100 metros de distância. Seus olhos cor de rubi estavam estáticos, enquanto ajustava sua mira perante a flecha.
A vampira, vestida com uma roupa de guerreira, composta por uma armadura leve de couro e uma cota de malha escura, concentrava-se o máximo. Após prender a respiração, soltou a corda e viu a flecha viajar rapidamente até acertar o peito do animal, que saiu correndo, deixando um rastro de sangue.
— Droga, achei que tivesse sido certeiro...
Sem perder muito tempo, a linda vampira usou sua agilidade e velocidade para começar a perseguir os rastros de sua presa, andando abaixada pela mata, sem deixar sua presença ser percebida, até que finalmente visualizou o animal, que havia caído e agonizava ao solo.
— Bem, demorou um pouco mas você não conseguiu durar muito tempo não é?
Enquanto a jovem vampira de pele branca preparava sua faca para dar o golpe final no animal, um lycan alto de cabelo preto e curto, vestido com uma armadura de metal escuro que ficavam evidentes, se dirigiu até ela.
— Muito bem senhorita Lyra Dimitrescu, você está melhorando com o tempo.
A vampira se assustou por um breve momento e voltou seus olhos para trás, enquanto seu semblante mudava para o de uma vampira furiosa.
— Mas que droga Scott, você estragou todo o clima!
— Desculpe senhorita Lyra Dimitrescu, apenas queria elogiá-la pelo ótimo trabalho.
Após ver que o vampiro apenas estava querendo elogia-la genuinamente, Lyra acabou cedendo e sua raiva se dissipou.
— Ah, tudo bem, é que eu queria me sentir pelo menos uma vez como uma caçadora de verdade, sem ser perseguida por um segurança como você. Meu pai e meu irmão, junto do idiota do Rigard continuam ordenando que você me vigie?
— Me desculpe senhorita, mas estas foram ordem diretas de vossa majestade Drako, não posso contrariá-las mesmo que me implore.
— Ele nunca vai largar do meu pé né? Será que ele ainda não percebeu que já tenho 70 anos e posso me virar muito bem sozinha? Sei que ele se sente culpado pelo que houve como nosso clã, mas isso é demais!
— A questão, senhorita, é que podem haver inimigos que queiram fazer mal a você, e sua família, então sua proteção acaba sendo necessária.
— Eu posso muito bem me proteger sozinha, sabia? Não preciso de você, nem dele, nem do meu pai, nem de ninguém para fazer o que quero.
— Infelizmente não posso realizar seu desejo, senhorita, afinal, ordens são ordens. De toda forma, a senhorita não irá acabar com a dor do pobre animal?
— Vocês realmente não têm jeito...
A jovem vampira tornou a olhar para o Cervo, que respirava profundamente no chão, e então foi caminhando lentamente até ele, para enfim perfurar sua jugular e mata-lo de uma vez sorvendo quase todo o sangue de uma vez.
Lyra começou a retirar a pele do animal com a faca, suas mãos ficaram cheias de sangue, mas não havia nada que ela pudesse fazer a respeito.
— Perdoe-me por não poder ajudá-la senhorita, infelizmente sou apenas um servo, nada posso fazer para mudar sua situação.
— Eu sei Scott, a culpa não é sua, e sim dos meus pais por não confiarem em meu potencial como guerreira, então não se desculpe por algo que tecnicamente não é sua culpa. Enfim, logo irei terminar isso, então passarei na cachoeira para me lavar, e pelo o que vejo, está segurando uma muda de roupas limpas, não é? Você é realmente competente no que faz.
— Trabalho há muitos anos para a senhorita, não deixaria que continuasse usando suas roupas sujas de sangue após um banho, uma princesa jamais deveria se sujeitar a tal.
— Obrigado Scott, mesmo que seja seu trabalho, é muito gentil de sua parte que se preocupe comigo. Ser a segunda herdeira de um clã banido é muito estranho e ser chamada de princesa mais estranho ainda.
— De nada, senhorita.
Lyra terminou o trabalho "sujo" em alguns minutos e logo se dirigiu até a cachoeira que ficava perto dali. O lugar era maravilhoso, as águas do rio entre os dois reinos caíam de uma grande altura até atingirem o enorme poço que dava continuidade a seu leito. A vampira tirou suas roupas lentamente e as colocou em baixo de uma árvore, cujo do outro lado estavam a pele e a carcaça do servo, juntamente de seu arco-e-flecha.
Scott olhava fixamente para o lado oposto, um mero servo como ele jamais teria o direito de ver o corpo desnudo de sua protegida. Por anos ele fez a segurança da família Dimitrescu, ele seguiu as ordens do antigo imperador Drago. Por isso, ele deu sua vida e por fim acabou perdendo a sua Luna. Eram muitos segredos, e ele sendo um espião jamais poderia lhe revelar a verdade que deveria ser guardada a sete chaves.
Olhou para o chão úmido, notando as minúsculas flores silvestres. Outro ponto é que ele viu a filha do último herdeiro do clã Dimitrescu crescer, Brasa aceitou anos atrás a proteção de Draco Nemesis. Que todos acreditam estar morto. Jack nem se importou quando esse boato circulou por todo o reino de Marlóvia. Acho que ele até sentiu um grande alívio por não ter que lidar com o seu velho pai novamente.
Scott ficou pensativo, mas o que mais desejava era poder admirar a jovem vampira que se banhava nas águas límpidas da cachoeira. Embora tivesse uma certa curiosidade, ou talvez até mesmo vivesse um amor platônico com aquela cujo protegera a vida toda, seria uma grande ofensa sequer visá-la, mesmo que com o canto dos olhos. Pelo menos era assim que ele pensava, até que...
— Ei, Scott, está muito calor hoje, por que não vem até aqui também? A água está ótima.
O servo lycan se surpreendeu, seus olhos arregalaram-se e seu coração palpitou por um segundo, mas o dever era muito mais importante que seus próprios desejos, e qualquer tipo de afeição entre um servo e sua protegida era estritamente proibida dentro do código de sangue.
— Muito obrigado pelo convite, senhorita Lyra, mas receio que não poderei aceitá-lo, sou apenas um servo, e você, uma princesa do clã Dimitrescu, seria extremamente ultrajante ter um mero servo Lycan como eu se banhando na mesma água que alguém como a senhorita.
— Ah, para de besteira, quem é que se importa com esse tipo de coisa no meio da mata? E também, esse convite é uma forma de agradecer o seu trabalho por todos esses anos, mesmo que eu não precisasse disso. Trate isto como um presente, e mesmo que não queira, você não tem a opção de recusar.
O servo relutou muito, refletiu e pensou no quão humilhante seria para sua senhorita ter seu corpo visto por um mero serviçal, mas ao mesmo tempo, era um convite ou melhor, uma ordem da própria.
Desta forma, Scott acabou cedendo ao convite da princesa vampira. Sua cabeça virou lentamente, junto do corpo, até que por fim vislumbrasse a mais bela obra de arte que jamais vira em todos seus 250 anos de vida.
O corpo desnudo da princesa Dimitrescu. Aquela cujo sempre cuidou, agora estava da maneira como veio ao mundo. A luz do sol reluzia em sua linda pele branca, era quase como se ele pudesse vê-la brilhar.
"Uma deusa vampiresca com certeza", foi o que o humilde servo Lycan pensou. O corpo da jovem era extremamente treinado, seu abdômen era bem definido e suas coxas fortes. Seus lindos seios apenas realçavam a beleza daquela considerada a mais bela de todo o reino vampiro.
— E aí, vai entrar ou não?
Scott tirou sua bela armadura e a colocou abaixo de uma outra árvore, logo após foram suas roupas que estavam por baixo. Seu corpo era tão escultural quanto o da princesa, todos seus músculos eram bem definidos, haviam algumas cicatrizes na região do peito e das costas, muito provavelmente em decorrência das antigas batalhas que cruzara. As maiores cicatrizes foram cobertas por tatuagens do seu clã de Lobisomens.
— Senhorita, eu...
— Não, nesse momento estamos completamente vulneráveis a tudo, como se estivéssemos em nossa forma natural. Do jeito em que estamos, posições sociais são irrelevantes, então me chame apenas de Lyra.
— Tudo bem então... Lyra. Só queria agradecer por ter sido uma ótima senhorita comigo por todos estes anos.
— De nada, Scott, mas quem está te agradecendo agora sou eu. Vamos, entre.
O Lycan sorriu como nunca havia sorrido antes, e finalmente entrou na água. Os dois relaxaram, conversaram como iguais e conheceram partes da história um do outro que jamais sonhariam em conhecer.
Scott estava feliz, mas sabia que esse era um momento ímpar, que jamais tornaria a acontecer, e que deveria suprimir seus sentimentos. Porém, neste momento, queria ser ele mesmo, aproveitar ao máximo este breve vislumbre de como era estar no paraíso.
Ninguém jamais saberia sobre o que ocorreu neste dia, a não ser os dois, e isso para ele já era o bastante.
Para Lyra, esse era apenas mais um dia comum de sua vida. Para o simples servo Lycan, este dia jamais seria esquecido.
— Scott quando poderemos voltar a Morlóvia? Indagou ela pensativa.
— Assim que eu receber a ordem de seu pai e do velho mago, Davos e ele estão na cidadela negra. Seu primo, Rigard está quase conseguindo a justiça que tanto buscou. Explicou ele.
— Justiça ou vingança?
— Justiça! Afirmou ele a olhando desconfiado.
— Eu preferia se o Rigard simplesmente destruísse todos que fizeram mal ao nosso clã e quanto aquele maldito, jack Nemesis adoraria ver a cabeça dele rolando pelas escadarias da cidadela negra. Sorriu de modo cruel.
— Sabe que seu primo jamais faria isso, por causa dos milhares de inocentes que sofreriam com as escolhas erradas dele.
— Danos colaterais sempre existiram!
2875 Palavras
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