Capítulo 55 - Perdas Reveladas
O relógio marcava 18:00 quando eles se encontraram na entrada norte da cidade.
Rigard estava com seu uniforme de sempre, Brida usava algo parecido, uma cota de malha resistente com uma camiseta bordô por cima, realçando as curvas de seu corpo. Usava uma calça justa preta, porém maleável, que não influenciava no combate, e botas de couro marrom. Davis estava trajado com uma armadura de grafeno prateado, (uma liga de carbono com um metal chamado Liga dos deuses, altamente resistente), que era belíssima, sua cor era dourada e reluzia com a luz do entardecer, atrás de suas costas ia a grande espada de duas mãos, que usava para fatiar seus inimigos. Brida, assim como Rigard, usava espadas de uma mão.
— Vejam bem. — Rigard puxou um mapa de seu bolso e o abriu para os dois que chegaram mais perto dele, com a intuição de observar o material. — O acampamento deles fica aqui, próximo a grande floresta norte, dentro de um pequeno pântano no meio das duas maiores fazendas da região, os donos delas são nobres esnobes, clientes em potencial para próximas missões, mesmo que eu não goste de suas atitudes, eles pagam bem, se evitarmos danos em suas fazendas, talvez nos paguem mais. Tendo isso em vista, a primeira parte do plano é a seguinte: Começaremos um ataque surpresa ao acampamento, Brida irá pela frente, atacando os guardas que ficam na entrada da canerna deles e atraindo a atenção para si, levando-os para o centro do local. Eu e Davis atacaremos pelos flancos, eu pela direita e ele pela esquerda. Será um ataque poderoso, aproveitaremos da sua espada pesada e da minha velocidade para levarmos o máximo deles para a vala de uma vez só. Vamos acabar com tudo lá mesmo, não deixem que nenhum deles fuja, entendido?
— Você pensou em tudo Rigard, como sempre. Pelo que vejo Leona o treino muito bem mesmo. — Disse Davis.
— Eu fui até lá já faz quase uma hora, observei o local e criei este plano. Ele tem tudo para dar certo, apenas depende da nossa execução correta.
— Alguma vez falhei em uma missão? — Perguntou Brida.
— Jamais, por isso confio em você para atrair todos eles, pode gastar magia a vontade, quanto mais deles você matar melhor. Só te peço uma coisa, não morra, tudo bem? Digo o mesmo para você Davis. Não estou a fim que ir ao enterro de nenhum dos dois.
— Nunca me deixaria ser morto em uma missão dessas.
— Eu sei bem disso mago encrenqueiro. Enfim, trouxeram o que eu pedi?
— Sim, algumas poções de cura, força e vigor. — Disse Davis. — Vamos dividir igualmente?
— Em tese sim. São quantas de cada?
— Três, o que daria uma de cada tipo para cada um de nós. As bruxas verdes as fazem sobre encomenda e foi bem difícil consegui-las assim em cima da hora.
— Perfeito, isso deve servir. E você Brida?
— Consegui o elemento inflamável que você pediu, para que usará isso?
— Mesmo que sejamos fortes, eles são muitos, então a desvantagem é clara, e é aí que entra a segunda parte da estratégia. Nós iremos espalhar esse líquido pelo acampamento enquanto atacamos, e quando já houver líquido por todo o local, irei criar uma fagulha, que iniciará a combustão, colocando fogo pelo acampamento inteiro e matando o maior número deles, mas não farei isso antes de dar um sinal brilhante, para a retirada de vocês.
— Isso parece um pouco cruel, não? — Perguntou a Lycan.
— Sim, mas é o método mais eficaz e rápido. Se não acabarmos com todos eles hoje, eles voltarão em maior número, mas se fizermos um massacre desse tamanho, duvido que tenham coragem de incomodar os humanos novamente ou qualquer outra raça por um bom tempo. Estes seres são muito imbecis, se perceberem que apenas três caçadores fizeram tamanho estrago, ficarão em suas tocas por mais alguns anos. Eles são monstros menores, então não voltaram a incomodar ninguém.
— Esse plano parece realmente bom, mas como provaremos a quantidade que matamos para os mandantes do serviço? — Perguntou Davis.
— Daremos um jeito, dá pra pegar as mãos direitas, o que é o normal, mas caso não seja possível sei que ainda daremos um jeito, mas no final, as cinzas falarão por si. Teremos o cuidado, pois podemos retirar os cristais depois.
— Você é muito frio sabia?
— Esse é meu charme Brida, um vampiro que se leva pelas emoções é facilmente suscetível ao erro. Por isso já lhes peço, pensem com a cabeça, e não com o coração. Se virem bebês, crianças, idosos, não hesitem, eles são goblins, eles matam por diversão, caçam por diversão, estupram por diversão... parando para pensar são bem parecidos com humanos, não? De toda forma, são coisas "do mal", então não há por que ter pena deles. Vocês sabem que eles não tem piedade de nenhuma raça, então por que teríamos por eles.
— Como você pode ter tanta certeza de que não há ao menos um goblin bom? — Perguntou a Lycan.
— É simples, nunca existiu um único goblin bom visto por aí, o cérebro deles é atrofiado, eles são idiotas e agem por instinto. Não importa o que, se você deixar um goblin crescer, mesmo que ele seja pequeno e fofo, e que você o crie da melhor forma possível, ele irá se tornar um ser desprezível, pois ele não é capaz de compreender e absorver ensinamentos sobre o que é certo ou errado. E também, para eles procriarem precisam transar com outras espécies, haja vista que não existem goblins fêmeas, o que já os obriga a estuprarem para manter a raça viva. Ou se esqueceu o que eles fazem quando invadem uma província, sua raça mesmo tem sofrido com eles.
— Falando por esse ponto, realmente eles parecem desprezíveis. Mas e se uma humana ou mesmo uma fêmea de outra raça acabasse se apaixonando por um deles e...
— Nem começa Brida, isso é nojento. — Exclamou Davis, interrompendo o raciocínio da Lycan.
— Não esquenta com isso Davis, você sabe como ela se esforça para ver o lado bom de todas as coisas, até mesmo desses monstros. Essa Lycan fica lendo os antigos manuscritos dos humanos acabou dando nisso.
— Você que vê apenas o lado ruim de tudo Rigard. — Retrucou a Lycan.
— Eu vejo a realidade, é diferente. Todos possuem seu lado obscuro, outros são apenas a própria treva e ponto final.
O líder da missão suspirou, dando a entender que queria dar um fim a conversa, e logo continuou.
— De toda forma, vamos logo com isso, já está anoitecendo.
— Tudo bem. — Disse Brida.
— Vamos lá! — Exclamou Davis.
Os três se aproximaram do local a cavalo, deixando os animais um pouco longe perto da floresta para que os inimigos não suspeitassem. Quando desse o sinal a missão seria iniciada.
Rigard olhava atentamente os movimentos a seu redor e mantinha sua atenção a mudança dos raios solares. Seu medalham que funcionava com magia ancestral brilhou de modo estranho e ele sabia que a hora havia chegado, esperando o momento certo de atacar deixou ser guiado por seus instintos de vampiro. Rigard estava escondido atrás de uma árvore, ao lado do local, uma clareira no meio da mata que ficava entre duas grandes fazendas, cheia de barracas feitas com peles de animais. Haviam algumas fogueiras, rodeadas de goblins que dançavam e festejavam sob o banquete de vários animais que provavelmente foram roubadas.
Finalmente era chegada a hora, assim que os primeiros raios solares solares tocaram as folhas da floresta Negra ele se concentrou e avisou seus companheiros. Abriu o frasco de líquido inflamável e foi o despejando lentamente até dentro do acampamento, fazendo uma "linha" com a substância incolor. O bico era extremamente pequeno, fazendo sair pouco, para aumentar o aproveitamento dos litros do elemento que ele possuía. Realmente as bruxas verdes eram exímias fabricantes de poções magicas e itens necessários para as caçadas.
O ataque se iniciou, a comoção dentro do local era grande, vários goblins estavam correndo para a entrada, provavelmente indo interceptar Brida, que adentrava em alta velocidade, utilizando sua espada para executar o máximo de inimigos que pudesse. Após a Lycan atrair grande parte dos inimigos, Davis entrou com força total, cortando vários goblins no meio, seja na vertical ou na horizontal. Um massacre sem precedentes havia se iniciado, o chão ia se manchando de sangue.
Rigard foi correndo até o centro do acampamento, degolando e estripando seus oponentes com exímia maestria e velocidade. O vampiro girava sua espada, fazia pose e demonstrava o aperfeiçoamento de suas técnicas, enquanto espalhava o líquido com a mão esquerda.
— Vamos fazer isso rápido! — Gritou para seus companheiros.
Após gritar para seus companheiros, seus olhos fitaram o ataque de um goblin utilizando uma lança, que vinha de sua direita. Rapidamente se virou e defendeu-se com sua nova espada.
— Que golpe poderoso, você é diferente dos outros aqui.
— Eu sou o líder deste acampamento, não posso deixar que destruam meu povo!
— Você fala como se tivesse alguma noção de pensamento.
Rigard empurrou sua espada, fazendo o oponente recuar. Mais sete goblins se reuniram em torno do vampiro, que se viu cercado.
— Parece que estou em desvantagem, por acaso começaram a pensar racionalmente de uns anos para cá foi?
— Vocês vampiros e as demais raças sempre nos desmerecem, vocês sentirão o temor quando entrarmos nessa cidade e acabarmos com todos lá dentro.
— Me desculpe, mas eu não sou um vampiro normal.
Rigard ia girando sua espada enquanto observava a situação. Era o momento de demonstrar suas habilidades, aquelas que fizeram com que o líder dos caçadores o permitisse entrar no grupo ainda com 15 anos. Rigard Dimitrescu era um vampiro talentoso, mesmo sendo novo fazia páreo com vários espadachins lendários entre os dois reinos.
— Muito bem, vai ser um por vez ou querem vir todos juntos?
— Estou louco para tirar esse sorriso arrogante da sua boca, vampiro imprestável.
— Então venha, mas venha com tudo, não irei pegar leve apenas por ser uma criatura de cérebro reduzido.
Enquanto Rigard conversava, Brida e Davis transformavam o acampamento em um caos total, Rigard puxava papo para ganhar tempo enquanto seus companheiros espalhavam o restante do elemento inflamável e acabavam com grande parte dos inimigos.
Brida estava correndo e abatendo um número considerável de oponentes, suas habilidades, assim como as de Rigard, eram surpreendentes. A Lycan fazia poucas investidas, mas desferia golpes cirúrgicos que matavam rápido, decapitava, degolava, desmembrava, arrancava as tripas para fora, enfim, matava-os rapidamente, de forma extremamente eficiente.
A Lycan continuou sua investida com tudo, até que chegou a frente de uma barraca e viu um goblin idoso, protegendo os bebês e crianças do ataque.
Nesse momento, Brida parou e viu o temor nos olhos do pobre coitado. Mesmo sendo um goblin, era evidente o medo da morte e a vontade de manter a prole viva.
— Por favor, poupe ao menos os pequenos. — Disse o velho.
Brida respirou fundo, olhou para trás e viu os corpos de duas jovens humanas cravados em estacas enormes, entrando no ânus e saindo pela boca, provavelmente violentadas pelos inimigos e mortas depois, o que lhe causou repúdio, mas mesmo assim era difícil para ela matar crianças, em tese inocentes.
— Mas que droga...
Reprimindo seus sentimentos, a Lycan cravou sua linda espada no chão, conduzindo magia por ela e fazendo com que um gelo fino e brilhante se deslocasse rapidamente pelo solo até ir de encontro aos infelizes, que congelaram quase instantaneamente no local.
— Uma morte rápida e indolor é o máximo que posso dar a você e sua prole.
No mesmo momento, um goblin alto tentou atacá-la pelas costas. Ela pressentiu o ataque e desviou por pouco, abaixado sua cabeça, que seria decepada pelo ataque horizontal do grande machado.
— Parece que a maioria de vocês realmente são monstros...
A Lycan bebeu uma das poções de vigor enquanto o grande inimigo se recompunha após o feroz ataque.
"Uma arma grande como essa pode causar um grande estrago, mas em contrapartida é lenta e difícil de manusear"
Brida foi para cima do grande goblin, que tentou atacá-la novamente, dessa vez com um golpe vertical, mas a Lycan era rápida, e desviou facilmente. O machado ficou cravado no chão, o que custou a vida do grande oponente. Brida foi ao ataque e espetou sua espada na garganta do inimigo, matando-o rapidamente. Logo após, espalhou mais um pouco do líquido inflamável pelo local e saiu em disparada contra mais uma horda de seres verdes que pareciam até que brotavam do solo.
"Ainda há trabalho para fazer"
Enquanto isso Davis fatiava e picava grande parte dos inimigos, sua enorme espada estava banhada em sangue e já havia cortado várias tripas em pedaços. Nenhum oponente poderia enfrentá-lo, sua força era extraordinária, ainda mais após ter tomado uma das poções que amplificava este atributo. O aprendiz de ferreiro já havia recebido vários ataques, mas sua constituição era tamanha que isso não fazia diferença alguma, então apenas continuou matando todos em sua frente, dando uma pausa de vez em quando para espalhar o líquido inflamável.
Próximo dali, estava seu amigo no meio de um grupo de goblins, apenas esperando o momento certo para atacar, mas antes mesmo de tomar a iniciativa, o líder dos monstros gritou para começar o ataque, e os sete que estavam lá foram para cima de Rigard, que ao perceber sua situação pendurou a garrafa em sua cintura e se preparou completamente para o combate.
A incrível batalha havia começado, um vampiro contra oito monstros, um vampiro jovem ainda versus um grupo de aberrações. O primeiro ataque foi de um goblin menor, que pulou para cima dele, este que o jogou para longe com um soco. Rigard acertou outro que havia disparado a seu encontro com um chute horizontal de perna direita, jogando-o contra outro que estava parado. Um goblin maior tentou acertá-lo com um golpe vertical, de cima para baixo, usando um enorme cutelo feito de pura prata, mas Rigard desviou caminhando para a esquerda. O ataque acertou o chão com uma força estrondosa.
Em seguida, agilmente utilizou sua espada para cortar o lado esquerdo da grande barriga de seu inimigo, que caiu no chão, perdendo uma quantidade enorme de sangue por segundo, e desfalecendo ao solo enquanto se debatia em agonia.
Outro goblin menor vinha em sua direção. O combatente apenas o pegou pelo pescoço e o levantou, ao mesmo tempo que usou sua espada para trespassar o abdômen de um outro que tentava atacá-lo pela direita. O vampiro utilizou aquele cujo estava enforcando como escudo, colocando-o a frente de si e protegendo-se do ataque do sétimo, que tentou dar uma estocada em seu peito. Com a arma cravada em seu aliado, o pobre coitado ficou sem reação, o que facilitou para que Rigard retirasse sua espada do corpo do outro e acertasse o assustado no pescoço, atravessando-o da esquerda para a direita.
Com isso haviam sobrado quatro, sendo o líder e os outros três que se feriram antes.
A roupa de Rigard estava cheia de sangue, mas ele sequer ligava para isso, seu próprio sangue estava correndo mais rápido por suas veias, seu coração palpitava fortemente no momento, ele observava as feições de pavor de seus inimigos enquanto sorria e apertava com ainda mais força o pescoço do desfalecido que segurava, só para depois largá-lo como um saco de ossos quebrados ao seu lado.
"Como eu amo essa sensação, a sensação de matar!...".
Girando sua espada, Rigard projetou-se para frente, decapitando um dos quatro, cujo corpo caiu logo após a cabeça no chão. Os outros dois pensaram em fugir, mas o caçador vampiro correu para a frente deles, assustando-os. Em seguida, pegou sua espada e empalou o da direita na barriga, rapidamente tirou-a de seu corpo e degolou o segundo que estava bem próximo.
Após a intensa e inacreditável cena, Rigard apenas balançou sua espada para a direita, jogando o sangue em excesso que se encontrava na lâmina para longe, e olhou para o líder do acampamento.
— E aí, ainda quer me enfrentar?
— Você é um monstro, você não é vampiro comum, o que você é afinal de contas? Um original?... — Gritava o líder do acampamento em desespero, assombrado com o que havia acabado de presenciar.
— Eu te disse, não sou um vampiro qualquer.
Rapidamente em uma tentativa desesperada, o grande goblin atacou com um golpe vertical de cima para baixo, mas o exímio caçador defendeu-se com sua espada, segurando o cabo com a mão direita e o lado da lâmina com a esquerda. Em seguida, usou toda sua força para empurrar o goblin, que forçava sua arma para baixo.
Sem suportar a pressão de Rigard, o monstro acabou cedendo e indo para trás, perdendo a postura de batalha, o que foi suficiente para que Rigard utilizasse essa brecha para passar a lâmina na barriga do infeliz, colocando suas tripas para fora. Um ataque visceral, seco e mortal.
Brida e Davis já haviam jogado líquido inflamável pelo local inteiro. Rigard apenas pegou uma das poções de força, tirou a rolha e a bebeu. Logo após, acendeu um pequeno fogo de artifício que tinha consigo e o lançou para cima, dando o sinal de luz no céu.
Seus dois companheiros caçadores entenderam o recado e foram correndo para fora. Alguns goblins tentaram segui-los, mas não foram capazes já que eram muito lentos. Quando os dois caçadores já estavam longe, Rigard foi até o local aonde havia deixado a "faixa" do elemento inflamável, pegou sua espada e fez com que chamas negras emanassem dela. Era a magia do jovem vampiro, que lentamente encostou sua arma aonde a listra do líquido começava, fora do acampamento, fazendo uma carreira de fogo se espalhar até chegar ao centro do local, que ardeu em labaredas quase que instantaneamente.
Depois de alguns minutos, Rigard foi caminhando até seus companheiros, que o esperavam assistindo ao caos e destruição feito no acampamento. Os dois estavam com olhares sérios, observando seu amigo chegar, pois Rigard caminhava sobre as chamas negras sem sofrer nem tipo de ferimento. Enquanto ouviam os gritos dos goblins que estavam sendo instantaneamente incinerados.
— Parece que a janta hoje será goblin assado. — Disse Rigard, com um sorriso no rosto, enquanto caminhava ao encontro deles e abria uma poção de vigor para tomar.
— Como você consegue brincar com isso? Mesmo que fossem malignos, ainda foram vidas perdidas. — Falou Brida.
— Nós precisávamos fazer isso pela sobrevivência da cidade, e pelo recompensa, você sabe disso. — Após falar, o vampiro bebeu todo o conteúdo da garrafa que segurava.
— Eu sei que os goblins são maus, sei que fazem coisas horríveis por instinto, mas até que ponto somos diferentes dos monstros que nos atacam, Rigard?
— Nós não somos. — Falou o vampiro enquanto jogava o recipiente longe.
Um silêncio dominou o local enquanto o acampamento ardia em chamas, silêncio esse que só fora quebrado após o som emitido pela garrafa que se espatifou e quebrou no chão.
— Eu também não concordo com certas coisas. — Davis que apenas escutava resolveu abrir a boca. — Mas como Rigard disse, é a nossa sobrevivência que está em jogo, se esses goblins destruíssem as fazendas muitos humanos e sobrenaturais morreriam de fome, e outros seriam assassinados por eles até que isso se tornasse problema dos dosi reinos. O trabalho dos caçadores é esse, acabar com os problemas antes que eles cresçam e incomodem o rei Sparda e o imperador Nemesis.
— Davis está certo, e você não deveria reclamar Brida, a ideia de pegar essa missão foi sua. Você é muito bondosa, pode acabar morrendo algum dia por causa disso. Avisou Rigard ficando irritado com a teimosia da Lycan.
— Eu não ficaria triste se morresse para salvar alguém.
— Aqui você estava salvando milhares de criaturas, tanto humanos como diversas raças diferentes, inclusive o seu próprio clã.
— Eu sei, apenas não concordo com seus métodos as vezes.
— Por essas e outras que deixei de fazer missões com vocês e os demais caçadores.
— Vai levar isso para o pessoal agora é?
Enquanto os dois discutiam, Davis que assistia de braços cruzados teve que falar.
— O casalzinho vai parar com a briguinha logo ou vou ter que intervir?
— Você já interviu, cabeção. — Respondeu Rigard.
O aprendiz de mago soltou uma leve risada e continuou falando o que pensava sobre o assunto.
— A questão é que, mesmo que não concorde com isso, era o melhor a ser feito Brida. Você sempre soube que a vida de caçadora seria assim.
— Sim eu sabia, mas mesmo assim, é complicado...
Novamente o silêncio tomou conta do local, e continuaria assim se não fosse por Rigard.
— Enfim, eu vou para casa agora. Pela manhã passarei para pegar aminha recompensa e realizar a contagem desses monstros, recomendo que saiam logo da mata, o fogo provavelmente vai se espalhar e eu não quero que fiquem como aqueles infelizes ali. De toda forma: Davis, nos vemos por aí, quem sabe não batalharemos juntos de novo? Já você Brida, seu jeito de ser me encanta, mas as vezes irrita, tente pensar com a cabeça de vez em quando. Ah, e nunca se esqueça, mesmo que me irrite, eu ainda te amo. É isso, boa noite a vocês dois, espero que sonhem com qualquer coisa bonitinha e pomposa depois do que acabamos de fazer, até mais ver.
Rigard deu as costas para os dois, e logo começou a caminhar com as mãos nos bolsos, mas antes de sumir da sua vista, Brida gritou.
— Mesmo que não goste de certas atitudes e decisões suas, eu também te amo, vê se fica bem!
O vampiro apenas respondeu com um aceno de mão, enquanto continuava seu caminho até seu cavalo amarrado ali perto.
— Pois é, ele realmente se foi outra vez.
— Ele é idiota Davis, mas no fundo eu sei que ele é um gentil vampiro, e que ele mesmo não concorda com as coisas que diz. O maior sonho dele é mudar a situação entre os dois reinos, e foi isso que me fez continuar a segui-lo, mesmo depois de tudo o que ele fez ou disse. O Rigard é bom, apenas recorre aos meios mais rápidos e eficazes, mesmo que não sejam os mais adequados.
— Ele é um caçador, é normal que tenha seus sentimentos suprimidos, o trabalho entregue no fim de tudo sempre é o que mais importa. E falando nisso, teremos que voltar amanhã aqui para contar os corpos...
— Não tenho certeza se quero aparecer neste evento.
— Você não precisa Brida, eu e o Rigard resolveremos isso, apenas precisa falar com os contratantes para pegar a sua parte.
— Tudo bem, de qualquer forma, estou indo para casa também, essa fumaça está começando a se espalhar, então acho que seja melhor me rertirar. Até mais Davis, se cuida.
Brida fechou o punho, que foi de encontro com o de Davis.
— Você também!
Os dois se despediram, a Lycan também foi em direção a seu cavalo, enquanto Davis continuava a observar o acampamento em chamas. Por fim, abriu uma poção de cura e a bebeu de uma vez para reparar os pequenos ferimentos que havia recebido na batalha. Assim terminava mais uma noite entre os dois reinos, com um céu negro sobre a luz de uma " pequena cidade" em chamas, assim como naquele fatídico dia onde ele e os outros escaparam da morte.
Davis sabia que o destino de Rigard não poderia ser mudado, assim como o vampiro também sabia que deveria seguir sozinho para que ninguém mais morresse.
Nisso Davis terminou de falar com os anciões e saiu em seguida. Anos atrás ele e o pai fizeram parte daqueles que juraram lealdade ao verdadeiro herdeiro de Marlóvia. Foram diversas batalhas e muitos segredos até chegar a esse momento. Os anciões agora estavam com todas as provas em suas mãos e Davis sabia que o fim do reinado do clã Nemesis havia chegado, Jack nem imaginava que por trás do inquérito e do julgamento de Rigard a verdade viria à tona.
3970 Palavras
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