Capítulo 46 - Verdade Vs Sangue
Bônus
A noite havia começado a cair, um Lycan de cabelos escuros se arrastava com todas as suas forças no chão do que parecia ser uma fortaleza abandonada, sua respiração estava ofegante e um enorme rastro de sangue era deixado por onde passava.
— Não, pelo amor dos deuses, não! Me deixe em paz, eu imploro! — Gritava o Lycan enquanto agonizava feito um animal ferido fugindo diante do inevitável — A morte.
— Ah, por favor, você pode fazer muito melhor que isso né? Não pensa que vai me convencer com essa auto piedade, pensa? — Indagou um dos caçadores sorrindo de lado.
Um vampiro de alta estatura perseguia o infeliz pela penumbra, seu rosto era indefinido, dada a falta de luz, mas seus olhos vermelhos e uma velocidade acima do normal para um vampiro, indicava que ele pertencia aos Originais ou pelo menos aos caçadores de elite do reino de Morlóvia, e isso era facilmente perceptíveis, de forma que não só os seus olhos pareciam brilhar em meio as trevas. Mas as lâminas de suas espadas também.
— Eu, eu... Eu te dou tudo o que você quiser! Dinheiro, propriedades, fêmeas, tudo! Apenas não me mate, por favor...
O Lycan renegado estava praticamente chorando, mas isso parecia alegrar aquele que o acompanhava, sua risada ao fundo deixava a situação ainda mais caótica para o pobre infeliz.
— Realmente, você é um ser que não vale a pena manter vivo.
Rapidamente, uma lâmina trespassou a cabeça do Lycan, entrando pela nuca e saindo pela mandíbula, fazendo com que não houvesse reação alguma.
— Finalmente parou de grunhir, maldito Lycan imundo. — Um ar de raiva fora percebido em suas palavras, porém sua personalidade plena logo voltou à tona. — Bem, pense pelo lado positivo, foi até melhor morrer aqui, pelo menos não terá de viver o verdadeiro terror que está por vir ao descobrir que todo o seu grupo será aniquilado.
A espada fora puxada tão rapidamente quanto o golpe desferido anteriormente, o vampiro a olhou com puro nojo, já que agora estava com o sangue sujo de um Lycan traidor. Ele começou a limpa-la com um pano branco e com muita cautela, quase que com medo de tocar num sangue que a poucos minutos tentou invadir e assassinar o verdadeiro herdeiro de Marlóvia.
— De fato, os reinos não estão prontos para o que está por vir.
— Devemos informar ao Rigard que Jack enviou assassinos para exterminá-lo?
— Melhor não, Eminens está com a cabeça cheia. Teremos o julgamento dentro de alguns dias pelos anciões e a nossa irmã continua bancando a teimosa.
— Scarlett não é fácil realmente. Até o Scott não conseguiu escapar de todo o seu charme e olha que o colocamos para protegê-la. Disse Dante dando pequenos chutes no corpo do Lycan. — O que devemos fazer queimar ou deixar os corvos comer a carne desse idiota?
— Queime tudo, não deixe nenhuma prova da existência desse ataque. Ordenou Devil a seus dois irmãos.
— Onde você vai por acaso? Perguntou Vergil guardando a sua espada.
— Tenho que informar esse ataque ao ancião Alastor. E vocês continuem a vigiar a vossa Eminens.
Os irmãos assentiram e logo foram obedecer as ordens de seu regente e irmão Devil.
Devil entrou no momento que os demais anciões estavam em volta de Rigard.
— Fique aonde está regente Devil Redfield. Avisou Zengar o líder doa anciões. — Estamos aqui para vasculhar as memórias genéticas daquele que se intitula o herdeiro de Vivica, a imperatriz de Marlóvia. Se der mais um passo sua vida correrá um grande risco.
— Que comece a inspeção. Disse Esme o segundo ancião.
Nisso Rigard ficou estático e seus olhos mudaram de cor, de negros para azuis e depois vermelhos. Seus pulsos foram cortados enquanto seu sangue era derramado em um estranho desenho a qual o mesmo estava no centro.
— Etenim, quid inveniam? Utinam omnia operari et praeterita deleta Nulla dolor in cicatrices? Non capitis dolores et in anima? Recitou Klaern em voz alta. — Afinal, o que eu achei ? Tudo daria certo e meu passado apagado? Sem dores em minhas cicatrizes? Sem dores de cabeça e em minha alma?
— Revelare quod absconditum per sanguinem! Ordenou Aegir. — Revele o que está oculto atraves do sangue!
— O que estão fazendo com ele afinal? Indagou Devil preocupado.
— Estamos apenas viajando pelas memórias que Rigard possua sobre o clã Dimitrescu, além disso o seu sangue é um arquivo vivo de seu clã. Explicou Raika a rainha das bruxas.
— Claro que se tudo que este vampiro alega for verdade. Pois se ele for um impostor sua morte será uma benção. Sorriu Klaern.
Em poucos segundos uma neblina escura surgiu e foi clareando aos poucos até que algumas imagens ficaram nítídas diante dos olhos de todos.
"Mais um belo dia se iniciava em Marlóvia, mesmo sendo do lado mais pobre e obscuro do reino, uma pequena vila no extremo leste era moradia de alguns caçadores renegados e até alguns mercenários. Marlóvia era um reino grandioso país focado na construção de guildas e de novos guerreiros.
Nesta pequena vila seus moradores levantavam timidamente para conduzirem seus afazeres diários enquanto se espreguiçavam e contemplavam a monótona, porém linda paisagem da natureza ao seu redor.
Em meio a todo esse povo, haviam três sobrenaturais à beira do lago central da vila, sendo um vampiro de alta estatura e cabelos negros, e duas crianças, uma um pouco maior que a outra. Se tratavam de dois meninos, que pareciam estar "brincando" com espadas e escudos de madeira, enquanto o vampiro os observava com um certo grau de impaciência.
— Não Dan, não é assim que se dá um golpe vertical.
— Mas eu estou fazendo como me disse. — Falou o pequeno vampiro, em tom manhoso.
Dan era um menino um pouco baixo, loiro e de cabelos cacheados, tinha olhos azuis, iguais aos daquele que o ensinava.
— Veja bem filho. — Dizia o vampiro enquanto se agachava, para ficar da altura do garoto. — A postura que deve ser utilizada no golpe vertical com uma espada curta é aquela em que a perna contrária ao braço da espada fica na frente, e o escudo deve sempre estar armado de maneira correta, para te proteger.
O vampiro ia ajustando a postura da criança, tentava ensina-lo o mais calmo e didaticamente possível. Após corrigi-lo, levantou-se e insistiu para que repetisse o golpe.
— Vamos lá, tente de novo.
— Hyaaah! — Dan desferiu um ataque vertical de cima para baixo, contra o escuto de seu atual protetor, que defendeu com facilidade.
— Você errou outra vez.
— Eu não tenho culpa! Essa coisa de postura é muito difícil, por que não posso atacar da maneira que eu já sei? — Dizia o garoto, fazendo birra e jogando a espada no chão.
— Porque a maneira que você aprendeu sozinho é errada, esse tipo de combate não ajuda em nada, sua postura fica aberta e você fica desprotegido para os ataques inimigos, o que pode lhe custara vida em batalha.
— O escudo apenas atrapalha, não consigo atacar com força total com ele, é desconfortável.
— Mesmo que ache desconfortável, tem que aprender a usá-lo. Quando era jovem também não gostava de escudos, e isso fez com que ganhasse minhas cicatrizes. Você deve aprender a atacar e se defender, veja seu primo Rigard, ele também não conseguia quando tinha sua idade, mas agora já está se saindo muito bem.
O vampiro apontou para aquele que parecia ser o mais velho dos dois, este praticava seus ataques contra uma árvore que ficava ao lado, sua postura era bem ajustada, embora não fosse a ideal, mas era milhares de vezes mais polida que a de Dan. O garoto tinha cabelo escuro e liso, como seu pai e sua mãe, e lindos olhos escuros que mudavam para o azul quando ficava com os seus sentimentos descontrolados, para em seguida se tornarem vermelhos.
— Mas o Rigard sempre foi melhor do que eu.
— Claro que sim, ele é mais velho, está dois anos em sua frente. Quando você ter a idade dele, também terá uma postura adequada, e caso se esforce bastante, pode até ser melhor que ele.
— Acho muito difícil ele ser melhor que eu. — Disse Rigard, rindo enquanto batia a espada na árvore e usava o escudo, simulando um combate.
— Você não deveria subestimar seu primo, quando eu era mais novo também não tinha aptidão ao combate, só fui aprender quando tive que entrar para a guarda real de Marlóvia, e bem, acabei me tornando um dos melhores caçador do reino.
— Todo mundo sabe que Lestat sempre foi melhor que você.
O vampiro olhou para seu filho com uma expressão surpresa e um pequeno sorriso no rosto, algo como "não acredito em sua audácia".
— Isso é simples, ele é mais velho, e bem, essa idade dele está custando caro, se me enfrentasse hoje com certeza perderia, o tempo teria reduzido bastante suas habilidades. Mas tenho que concordar com você seu avô era muito forte. O que quero dizer é que, as coisas podem mudar, você é melhor que Dan agora, mas no futuro tudo pode ser diferente, assim como foi comigo e com o seu pai Rigard.
— Isso mesmo, eu irei me esforçar para ser melhor que você. — Gritou Dan, apontando o dedo para seu primo.
— Pode até tentar, mas nunca vai conseguir. Eu serei o maior guerreiro de todos os tempos! E vou vingar o nosso clã!... — Afirmou o mais velho com um sorriso sarcástico.
— Se você quer ser o maior guerreiro, tudo bem, eu serei o grande herói que salvará o reino da ameaça do clã Nemesis. E eu me tornarei o imperador dos dois reinos.
— O imperador? E governarei como se deve a todas as raças!... — Rigard parecia incomodado com a afirmação de seu primo e pela primeira vez parou seu treinamento.
— Já disse milhões de vezes que o regente máximo não deve ser mau e nem egoísta, mas sim legal e incrível para todas as raças. — Falou Rigard, com uma expressão séria.
— Justamente por desejarem um soberano assim que irei derrotá-los, apenas o mais poderoso vampiro pode matar os mais fracos dentro de todas as raças inferiores.
Dan se dirigia até Rigard enquanto falava, segurando com força a espada de madeira que ajuntara do chão.
— Você nunca matará o desejo que queima dentro de todas as raças espalhadas pelos dois reinos se não consegue nem me vencer.
— Então venha me enfrentar, e veremos quem é o melhor.
O mais novo desafiava o mais velho com toda a sua garra, mostrando as presas enquanto caminhava e apontava a espada em direção ao seu "inimigo".
— Tudo bem então, se é isso que você quer... Só não vá chorar depois como você sempre faz após perder, seu bebê chorão!
— Cala boca, seu impostor!
Os dois começaram um combate com as armas de madeira, poderiam se machucar, mas já estavam acostumados com isso, nem mesmo seu instrutor tentava impedi-los, apenas assistia de braços cruzados apreciando o espetáculo.
A rivalidade entre os jovens vampiros era algo incrível, provavelmente se estenderia até que chegassem a uma idade mais madura. Porém enquanto na adolescência, poderia ajudar no desenvolvimento de ambos como guerreiros ou mesmo caçadores vampiros.
Dan e Rigard seguiram treinando por algum tempo, lutando um contra o outro, enquanto o vampiro dava dicas e ajudava principalmente o mais novo, que nunca havia ganho do primo.
No entanto, após alguns minutos, uma vampira chegou no local. Ela tinha cabelos castanhos amarrados em uma trança longa, era bela e possuía uma voz doce. Sua pele era mais escura do que dá maioria dos vampiros, dando a entender que passava muito tempo pegando sol, possuía lindos olhos cinza-amarelados e usava vestimentas simples.
Logo o vampiro percebeu a presença dela no local, e desviou sua atenção para elas.
— Raina & Reina? O que as trazem aqui tão cedo?
— Bom dia Lorde Dimitrescu. Vim até aqui chama-lo. Você precisa ir para casa urgentemente. — Falou as vampiras juntas, visivelmente nervosas.
— Aconteceu algo com a Sarla?
Brasa logo pensou em Sarla, sua companheira. O vampiro sentiu seu peito apertar no momento em que a jovem vampira assentiu com a cabeça, teve sua postura abalada por alguns segundos, mas logo se recompôs.
— Sim, ela está sentindo fortes dores e acha que de hoje não passa...
— Tudo bem, irei imediatamente para casa. Rigard, Dan! vão até a mestra Anzia! Mesmo antes do horário ela irá os deixar entrar! — O vampiro gritou para os dois que ainda estavam "brincando" e acabaram por não escutar a conversa.
— Tudo bem Brasa, já estamos indo, mas por que isso do nada? — Perguntou o mais velho.
— Não é nada importante Rigard. — Brasa deu um suspiro e tentou se conter, para não preocupar as crianças. — Eu apenas tenho que ir para casa resolver algumas coisas, só isso.
— Tem certeza que está tudo bem?
— Sim.
O vampiro se direcionou até Rigard, abaixou-se e deu um beijo em sua testa. Mesmo que fosse um guerreiro, ainda se importava muito com todos a sua volta, principalmente com sua família e os membros do seu clã, não saberia o que fazer se por ventura chegasse a perde-los.
— E você também pequenino vampiro, se comporte. — Disse Brasa enquanto beijava a testa do filho, que logo fora puxado pelo braço por seu primo.
— Vamos logo Lorde Brasa, temos de ir rápido. — Disse Raina & Reina, mexendo constantemente sua mão direita, gesticulando para que ele se apressasse.
— Vamos!
2240 Palavras
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