Capítulo 14 - A Verdade dos Olhos
"A vida é um porre, sendo vampiro ou não."
Scarlett lutou contra a atração que a estava puxando para Rigard, reavivando a raiva e as dúvidas que sentira momentos atrás. Com a confiança restaurada, entrou na suíte e caminhou até a lareira de pedra vulcânica, onde apoiou as costas.
— Por que não me disse que era o novo comandante geral dos caçadores? — Perguntou, com uma calma enganadora.
Rigard fechou a porta devagar. Estava vendo, pela postura agressiva de Scarlett, que havia mais coisa por trás daquela pergunta do que ela gostaria de revelar. Por um instante, sentiu vontade de lhe perguntar como descobrira que ele era o novo comandante dos Caçadores, mas abandonou a ideia por ser pouco importante. Notou que ela ainda não sabia dos seus reais planos e muito menos suas verdadeiras intenções ao estar lhe escondendo tantas informações. Fechando os punhos da camisa com abotoaduras de ouro e rubi, aproximou-se dela, parando a poucos centímetros de distância.
— E isso tem alguma importância para os descendentes do terceiro clã dos vampiros originais? — Perguntou, inalando o perfume suave que se desprendia do corpo feminino.
— Responda à minha pergunta, primeiro. Depois, cuidaremos da sua.
Rigard estendeu a mão para acariciar o tecido sedoso do vestido de Scarlett, junto ao pescoço dela.
Zangada, ela deu um passo para o lado.
— Não me toque! Não vim aqui atrás disso. Vim atrás de respostas.
— Não acha que seria muita ostentação de minha parte anunciar que sou o comandante e proprietário do clã dos caçadores agora?
Scarlett lançou-lhe um olhar mais zangado ainda.
— Está bem, droga! — Exclamou ele. — Um encontro casual, na sala de música de uma academia do reino no significa muita coisa ou eu estou enganado?..., Além disso, nossos pequenos encontros não lhe dá o direito de ouvir a história da minha vida.
A frieza estampada em seus gestos e palavras poderia destruir qualquer argumento de outro vampiro, mas não de Scarlett, que sabia ser mais racional que qualquer ser dos dosi reinos.
— Se o nosso relacionamento tivesse parado por aí, eu lhe daria razão, mas não foi o que aconteceu. Quando me procurou de novo, você me deu o direito de saber mais a seu respeito, principalmente uma coisa tão básica quanto a sua ocupação. — Sem perceber o que estava fazendo, Scarlett levou a mão ao pescoço, friccionando a pele que Rigard tocara. O que aquelel vampiro tinha que fazia a sua pele queimar com apenas um simples toque?... — Quanto mais penso nisso, mais difícil acho acreditar que Rigard Dimitrescu descrito pela rede de informações de Marlóvia, um vampiro frio, calculista, enigmático, seja o mesmo que... Bem, o que eu não consigo aceitar é que esse tipo de vampiro tenha tempo ou vontade de andar atrás de vampiras relutantes. E por que eu? O que está acontecendo? Qual são as suas reais intenções? — Ela estava tão zangada, que nem esperou que ele respondesse.
— Não só o dinheiro e o poder são incríveis afrodisíacos para muitas vampiras, como qualquer vampiro, com a sua aparência, seria perseguido pelo sexo feminino, ainda que trabalhasse na classe mais baixa de nossos reinos. — Um riso sem alegria reforçou essa declaração.
— Você não pode querer que eu acredite que, depois de um único encontro casual, consegui passar à frente de todas essas vampiras.
Rigard não pôde deixar de imaginar se ela havia, de algum modo, desconfiado da verdade, ou se estava apenas se sentindo inconfortável com a intensidade dos sentimentos que já haviam partilhado e tentando diminuí-los por meio da lógica.
— Não sei, não, mas acho que, de certa forma, acabo de receber um elogio.
— Não recebeu, não. Eu só estava citando o óbvio. Vai responder às minhas perguntas ou não?
Esfregando a nuca, Rigard foi até o sofá cor de vinho e sentou-se, apoiando os pés sobre a mesinha diante dele. Scarlett não iria embora, enquanto não se desse por satisfeita com suas respostas. Dizer-lhe o que estava querendo ouvir seria tão fácil quanto encontrar as provas que necessitava ou simplismente matar a todos que lhe haviam feito mal durante todos esses anos. Mas, por alguma razão obscura, as mentiras não lhe vieram aos lábios, e ele se viu contando o que podia, sem fugir muito da verdade.
— Ao contrário do que você pensa, levo uma vida social muito modesta. Faço o possível para evitar situações em que possa me encontrar com vampiras do tipo que você mencionou e tenho muito pouco tempo para os outros tipos. Quanto a não ter dito que sou o comandante e dono do clã dos caçadores agora, foi por pura falta de oportunidade mesmo. — Fez uma pequena pausa e acrescentou sem desviar seus olhos dela. — Agora é a minha vez de fazer uma pergunta: Por que isso é tão importante para você?
— Eu... eu não sei. — Scarlett deixou-se cair na poltrona mais próxima. — Não acredito em histórias de fadas e nem de monstros, e tudo que tem acontecido, ultimamente, parece ter saído de um livro dos humanos conhecidos pelo nome de Grimm.
— Você é sempre tão rígida no seu modo de pensar?
— Você não sabe nada a meu respeito e no entanto quer me fazer acreditar que me tornei vitalmente importante na sua vida.
As palavras de Scarlett revelaram a Rigard um sentimento do qual ele duvidava que ela mesma soubesse.
— Você está com medo de mim, não está? — Perguntou, incrédulo. E, por um instante, antes que Scarlett conseguisse esconder esse medo por trás de um riso de desprezo, viu sua acusação confirmada na expressão dos olhos dela. Naquele momento, ela fez com que se lembrasse de uma fera do deserto que caçara uma vez e que, ao ser acuada, enfrentara-o com uma mistura de raiva, desafio e medo.
Levantando-se, Scarlett foi até a lareira e pegou a bolsa que lá deixara.
— Na verdade, eu vim até aqui para lhe dizer que não poderei manter o compromisso desta noite. Esqueci de lhe dizer, mas já tinha um encontro e não consegui desmarcá-lo.
Rigard ergueu-se, como se fosse acompanhá-la até a porta. Em vez disso, interceptou-a no meio da sala, segurando-a pelos ombros.
— Não acha que vou acreditar nisso, acha? Não mudei os meus compromissos da semana inteira para vir atrás de você e agora deixar que me dispense com uma desculpa esfarrapada. Por menos que queira, algo está acontecendo entre nós, e não vou deixar que se vá, antes de descobrir o que é. — Levantou-lhe o queixo com uma das mãos, forçando-a a fitá-lo. — Só a deixarei em paz se tiver coragem de me dizer que não sente o que sinto.
Rigard viu a resposta nos olhos dela e, por um momento, o que ainda restava em sua mente do vampiro puro que fora um dia doeu de vontade que a experiência que haviam partilhado fosse verdadeira. As mentiras que contara tinham um gosto amargo em sua boca e quase fizeram com que se afastasse dela. Em vez disso, no entanto, puxou-a para junto de si e, gentilmente, beijou-lhe os lábios. Mas o beijo logo se aprofundou, enquanto tentava afastar da mente o que estava fazendo com aquela vampira, que só lhe pedira que houvesse confiança entre eles.
Ele a teria deixado ir, se Scarlett não tivesse soltado uma exclamação abafada e abraçado seu pescoço. Ela o trouxe para perto e, tocando-o, fez com que desejasse um contato maior. Quando sua língua saboreou o gosto dos lábios dela, uma vontade intensa de sentir-lhe o interior da boca invadiu-o, e ele quis, desesperadamente, que ela correspondesse a seus carinhos, procurando sua boca com a língua e arqueando o corpo de encontro ao seu, no velho e conhecido sinal de desejo. No entanto, mais forte que o desejo foi a consciência de que precisava que aquela vampira se tornasse uma parte de si mesmo.
De repente, Rigard sentiu uma vontade incrível de partilhar um crepúsculo antes da lua de sangue surgir no horizonte com Scarlett. Sentiu vontade de sentar-se na encosta de uma montanha com ela, o peito apoiando-lhe as costas, enquanto observavam a lua de sangue começar a iluminar o céu com um brilho avermelhado. Sentiu vontade de inalar o perfume dos cabelos dela, misturado ao cheiro dos pinheiros e cedros de fogo em torno. Em sua imaginação, viu-a caminhando para ele, delineada contra as montanhas pela brilhante lua de sangue do ano. Até aquele momento, nunca percebera o quanto lhe fazia falta a paz que costumava experimentar, vagando pelas montanhas entre Marlóvia e Morlóvia. Agora, desvendando esse recanto secreto de seu coração, Scarlett se tornara uma parte dele.
Rigard interrompeu o beijo para fitá-la. Suas mãos traçaram o contorno do rosto feminino, antes de procurarem os lábios dela, macios e receptivos.
— Eu mentiria se lhe dissesse que entendo o que estou sentindo, mas posso lhe garantir que nunca me senti deste modo com outra vampira. Não sei o que significa nem a que levará. Só sei que não posso deixar que você saia da minha vida.
Scarlett sentiu-se como se estivesse nadando na beira de um redemoinho, tentando desesperadamente manter-se à tona e não ser puxada para o centro. Devagar, enquanto as mãos dele acariciavam seus braços e depois suas costas, parou de lutar e deixou-se levar pelas sensações. E, em resposta ao pedido silencioso de Rigard, para que não o abandonasse, beijou o dedo que estava lhe acariciando os lábios.
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