Capítulo 10 - Irresistivelmente Desejado
"É uma paixão incontida, Clandestina, proibida, Difícil de disfarçar..."
Scarlett jogou o lápis sobre a mesa e apoiou o queixo nas mãos. Acabara de borrar sua terceira tentativa de um desenho conservador para o projeto da nova mansão da Duquesa Lacey. Cinco dias atrás, antes de partir para o fim-de-semana no Castelo Red, vencer a concorrência entre as jovens vampiras era a coisa mais importante em sua vida. Agora, não estava nem conseguindo se concentrar no primeiro esboço. Seus projetos apesar de serem vistos pela maioria como apenas um simples robin, somente elas e as Duquesas de Sangue sabia o real motivo.
Suspirando pesadamente, ela desceu da banqueta e caminhou até a enorme janela da mansão Redfield.
Geralmente, uma simples olhada nos arranha-céus escuros do palácio de seus ancestrais que estavam sendo reconstruídos por todo clã bastava para estimular sua capacidade de trabalho. Mas não naquele dia. Nem mesmo seu intenso desejo de ver seu nome inscrito nos manuscritos históricos como a melhor caçadora dentro as duas nações irmãs;, num dos documentos sagrados de ouro que adornavam a famosa biblioteca de Marlóvia e da cidade Morlóvia, estava conseguindo devolver-lhe a vontade de se dedicar aos seus projetos secretos.
Indira e Cantara ainda não haviam conseguido encontrar as pistas sobre um possível diário ou mesmo testamento de Vivica Nemesis, os últimos boatos que rodeavam as duas nações vampiras era que Vivica havia tido um descendente com um nobre de Morlóvia e ela sendo da cidade real Marlóvia, então significava que esse herdeiro poderia juntar as duas nações novamente. Tirando assim o poder de Jack que desejava manter tudo como estava, duas nações irmãs dividias e lutando entre sim.
Scarlett fazia parte da organização secreta de vampiras que vasculhavam os antigos manuscritos em busca de alguma pista sobre a verdadeira história de Vivica Nemesis. a rainha que morreu de tristeza por um segredo obscuro ou por simples imposição de Jack o seu irmão gêmeo.
A revelação desse segredo era um dos seus sonhos que nunca contara a ninguém, pois não saberia explicar o verdadeiro motivo dessa ambição. Não era por querer fama, pois ninguém mais prestava atenção aos segredos dos nobres vampiros originais, devolvendo o poder a quem lhe de direito pertenciam. Para ela, essa revelação seria como uma assinatura num novo quadro. Um quadro criado mais para dar prazer a nova geração de vampiros que anseiavam por grandes mudanças dentro dos clãs de vampiros e que para trazeria glória a quem descobrissem a verdade. Uma obra sua, que continuaria a ser aproveitada pelas gerações do futuro, muito além de sua morte, talvez. Uma nova vida, um novo conceito para vampiros e vampiras, mas e se caso, esse herdeiro realmente existisse, será que ele ou ela não seria como os antigos Nobless.
Seria um risco que valia a pena correr!...
Scarlett sacrificara muita coisa para trabalhar na realização de seus sonhos. Chegara mesma a sacrificar sua feminilidade vampiresca com treinamentos que antes eram dados apenas a guarda real de cada clã, ela se especializará na arte da espionagem, mas nem assim foi suficiente por ela mesma ter vindo de um ramo inferior, pois somente os vampiros originais obtinham os seus poderes na integra e sem contar a sua vida particular pelo bem desse sonho. Quantas vezes não se sentira a mais solitária das vampiras, ao ver os casais que passavam abraçados pelas ruas, rindo, cheios de felicidade. Ultimamente, pensara que esses momentos de angústia tinham chegado ao fim, que aprendera a viver com sua decisão, que sua meta na vida era mais importante que qualquer relacionamento pessoal. Até que...
Droga! Que feitiço Rigard Dimitrescu tinha usado para prendê-la?
As malhas da rede que ele tecera em torno de sua mente eram tão finas que nem podiam ser vistas, mas pesavam como se fossem correntes de prata pura em cada um de seus pensamentos. A queimando sem nenhuma piedade e a fazendo desejar muito mais ainda.
Apoiando-se no vidro frio da janela, Scarlett pôs-se a observar o tráfego ao longo da via principal que dava em frente ao castelo de sua família e a mansão onde morava agora, a mente e as emoções num quarto do castelo a quase mil e quinhentos quilômetros de distância, focalizadas num vampiro que pedira para vê-la de novo... mas que até agora não se manifestara.
Percebendo a facilidade com que se perdera, de novo, em pensamentos, ela sacudiu a cabeça, irritada, e olhou para o pêndulo de rubi que balançava sem pressa alguma sobre formas antigas e misteriosas do chamado tempo.
— Onze e meia! — Exclamou. — Não pode ser.
Mas uma rápida checada mostrou que o Pêndulo estava correto afinal, e que deixara mesmo a manhã passar, sem ter uma ideia aproveitável. Decidida, lançou mais um olhar para o cenário lá fora e voltou para a sua mesa. Tinha trabalhado muito para ter o direito de olhar daquela janela, e não pretendia perder esse direito por causa de um vampiro que mal conhecia.
As janelas e o local para onde davam eram um símbolo de sucesso, na cidade de Morlóvia,
graças ao seu pai o Soberano Sparda Lance Redfield e sua companheira Lady Adeline. Já a sua nova morada ocupava o andar superior do mansão que foi o local onde sua mãe se preparou por quase três anos para ser a companheira de Sparda Lance Redfield, um dos endereços de mais prestígio da cidade. Além de uma luxuosa área de recepção, o local continha várias quartos que, de acordo com a localização, davam uma indicação sutil da posição dos guerreiros que faziam a sua segurança depois que Jack demonstrou um certo interesse em sua figura. As que tinham janelas dando para as planícies do grandioso jardim de rosas vermelhos e negras pertenciam aos Redfield, Melendor, Agudang e Smart recentemente contratados dos demais clãs menores de toda Marlóvia. Lycans e bruxas conviviam juntos sem muitos problemas graças ao antigo tratado imposto pelo primeiro clã de originais, os Alucard.
E ter um dos quartos com janelas para as colinas avermelhadas que rodeavam a Academia Real de Morlóvia significava que você era uma das pessoas consideradas em ascensão. O máximo era ter um quarto com janelas de madeira das ruas inferiores que ainda assim dava para o cenário espetacular do castelo Redfield.
Scarlett havia se tornado uma das Duquesas de Sangue em ascensão da Academia Real, depois de trabalhar dois anos caçando pelas planícies de Marlóvia. Ela se esforçara muito para chegar onde estava e tinha esperanças de chegar mais longe ainda. Mas tudo mudou com o convite do futuro rei, Jack Nemesis. Suspirou frustrada.
— Nossa! Espero que não esteja pensando em mim.
Scarlett assustou-se como se alguém tivesse estourado uma veia de alguma artéria principal ao seu lado, propagando e jorrando o liquido avermelhado que mais amava... quando a voz masculina ressoou pelo ambiente, interrompendo seus pensamentos.
Virando-se para a porta, não pôde conter um suspiro de alívio ao ver Billie Aguardando, em vez de Prisco, Frank ou mesmo um dos anciões.
— Você me fez envelhecer mil anos agora. — Ela comentou.
Billie apoiou o ombro no batente da porta, os olhos avermelhados e escuros brilhando maliciosamente.
— Humm... Como seria bom se todos tivessem a sua aparência, aos trezentos e nove anos. — Em seguida, ele fechou a porta atrás de si depois da piada feita. — Estive fazendo um trabalhinho de espionagem por aí. Se a pesquisa que está fazendo for do mesmo nível dos que vem apresentando até agora, Abba e Siena não têm a menor chance de vencer a competição real daqui a poucos dias.
Abba e Siena eram os outros caçadores da família real que estavam trabalhando do outro lado da fronteira, e Scarlett sabia que Billie só viera a seu reduto secreto para lhe dar uma injeção de ânimo. Como seu melhor amigo, ele mostrava um interesse especial por todos seus projetos por mais estranhos e malucos que poderiam parecer, e provavelmente teria um ataque quando visse o pouco que havia produzido e descobrindo.
— Mas o que é isso? — Ele quase gritou, pegando a folha de papel antes que ela tivesse tempo de escondê-la.
Embora tivesse duzentos anos menos que Scarlett, Billie costumava tratá-la como se fosse uma mistura de pai e irmão mais velho. Desde o início ele se intrometera na vida dela com uma incrível à vontade, vencendo-lhe a timidez habitual com muito bom humor e a insistência de que, já que haviam nascido para serem amigos, por que lutar contra o destino?
Scarlett aceitava dele coisas que não tolerava de ninguém mais. A personalidade de Billie era exatamente o oposto da sua, mas ele entendia, como ninguém, seu desejo de sucesso apesar de tudo. Ele mesmo era muito talentoso e, aos cento e sete anos, apesar de ainda permanecer na ala das planícies inferiores caçando para se aprimorar, estava a caminho de ser reconhecido individualmente como o melhor aniquilador de zumbis.
— Onde estão as pesquisas em que você estava trabalhando a semana passada? — Billie continuou acaloradamente.
Com um gesto de cabeça, Scarlett indicou o cesto de lixo.
— Quer dizer que você ainda não tem nada? Nem um misero contra feitiço.
— Nem mesmo uma ideia decente para desenvolver.
Billie desabotoou o sobretudo vermelho e enfiou as mãos nos bolsos da calça. Seu olhar permaneceu fixo no rosto de Scarlett por tanto tempo, que ela quase lhe pediu para parar com aquilo. Afinal, ele disse.
— Quer me contar o que há de errado?
— Não!... — Sarlett respondeu simplesmente, sem tentar enganá-lo, negando a existência de um problema.
— Está bem. — Estendendo a mão e fazendo um estalo com as pontas de seus dedos, ele apagou a luz da sala. As velas uma a uma se apagaram rapidamente. — Já que não quer falar, acho melhor irmos almoçar. Pelo que ouvi acabou de chegar uma nova safra de sangue brasileiro vindo diretamente do mundo humano, sabe que dizem que esse sangue dá, como posso lhe dizer, experiências únicas. Sorriu de lado com entusiasmo.
Scarlett sorriu, certa de que, antes do almoço terminar, teria contado a Billie tudo a respeito de Rigard Dimitrescu. Ele não a pressionaria, mas estava precisando partilhar os detalhes de seu estranho fim-de-semana com alguém, e Billie era o vampiro perfeita para isso.
— Aonde vamos? — Perguntou, vestindo o sobretudo roxo que deixara sobre uma cadeira.
— Encomendei uns sanduíches. Está um dia tão bonito, que pensei que poderíamos comer no terraço da Mason Elke.
Scarlett e Billie tinham descoberto sua sala de refeições particular no ano anterior, que outrora havia pertencido a uma vampira bastante exótica vindo do mundo humano, uma francesa assim contavam... E durante um mês particularmente ocupado, em que sentiam vontade de sair dos treinos mas não podiam ir longe demais pr causa das imposições reais. Desde então, sempre que o tempo permitia, iam ao terraço do último andar tomar sangue ou mesmo almoçar. O encarregado da limpeza tinha lhes dado um canto na área de armazenamento de material de caça, onde podiam guardar duas poltronas de veludo confortáveis, um guarda-sol e uma mesa dobrável, compradas na feira de Morlóvia de um clã vizinho. A princípio, os dois haviam sentido medo de que o resto dos caçadores descobrissem seu refúgio e quisesse partilhá-lo, mas logo descobriram que todos os consideravam loucos e não tinham a menor intenção de juntar-se a eles.
Assim que se acomodaram, Billie voltou a falar sobre o projeto das Duquesas de Sangue.
— Detesto pensar na possibilidade de que você possa perder a permissão dada pela Duquesa Jade, Scarlett. Você sabe que é isso mesmo que todos estão esperando: que você perca a aliança feita com ela. Eles adorariam ver a sua queda. Mesmo sendo de sangue real, muitos almejam a sua ruína.
Scarlett comeu um pedaço do sanduíche, antes de responder.
— Acho que você é mais paranóico do que eu. Não é possível que todo mundo esteja esperando para me ver perder essa aliança.
— Não seja ingênua. Uma falha sua daria à metade deles a chance de dizer; Eu não lhe disse? — A princesinha vampira não passa de uma grande farsa! Enquanto a outra metade pensaria em como calçar as suas botas reais e substituí-la.
Ela olhou para as botas de verniz preto, os olhos brilhando, cheios de malícia.
— Não creio que um deles fique bem com as minhas botas.
— Muito engraçado! É isso que vai dizer, quando Abba vai vencer a competição real?
A simples ideia de outra vampira vencendo a competição real deixou-a doente.
Colocando o sanduíche meio comido sobre a mesa, Scarlett comentou.
— Você não tem piedade, não é? Quer ver sangue de qualquer jeito.
— O que quer que eu faça? Que finja que um milagre vai acontecer e acabar com o que a está preocupando? Que vai conseguir fazer, em alguns dias, o trabalho de duas semanas? — Billie jogou o sanduíche sobre a mesa, ao lado do de Scarlett. — Desculpe, mas fico louco da vida quando vejo... Bem, não tem importância.
— Quando o quê? Quando ouve o pessoal da Academia Real falando? — Inclinando-se para a frente, Scarlett segurou uma das mãos de Billie entre as suas. — Eu adoro ter você como meu defensor, Billie, mas não quero que arranje uma briga mortal por causa disso.
Já impaciente com o que Scarlett diria em seguida, Billie começou a interrompê-la.
Mas ela o impediu.
— Goste ou não, Billie, você vai ouvir o que tenho a dizer... Mesmo que já saiba o que é. Por mais que você e eu façamos, não vamos mudar a mentalidade dos que acham que estou aqui porque sou a vampira que daqui poucos anos vai se tornar a soberana dessa cidade ou mesma de Marlóvia e uso de meios que eles não podem usar. Quando o seu instinto protetor se manifesta, você sempre se esquece de que o número de vampiros e vampiras que gostaria de me ver cair não é maior que o número de vampiros que o temem e gostariam de vê-lo pelas costas, por causa do seu talento especial.
Billie sorriu, meio embaraçado.
— Dito em voz alta, isto soa tão estúpido, não é?
— Graças aos Deuses, ninguém pode nos ouvir. — Scarlett replicou, sorrindo. E, levantando a cabeça, deu com Rigard Dimitrescu parado na porta que dava acesso às escadas da mansão Redfield.
— Sua escrava de sangue me disse que eu a encontraria aqui.
Scarlett forçou-se a fechar a boca e a dominar a súbita vontade que a invadiu de se levantar e fugir. Soltando a mão de Billie, começou a se levantar, apenas para dar um encontrão nele, que também estava fazendo o mesmo. O encontrão forçou-a a se sentar de novo, enquanto Billie lutava para recuperar o equilíbrio, derrubando a cadeira dobrável de bronze, na tentativa.
Scarlett quase gemeu alto. Ela e Billie estavam se comportando como um casal de adolescentes humanos, pegos durante uma travessura. Lançou um olhar para Rigard que agora estava com um dos ombros apoiados no batente da porta e os braços cruzados sobre o peito, observando-a com um olhar interrogativo. Desejando desesperadamente que pudesse sumir dali, indicou Billie e disse tentando manter a sua tranquilidade.
— Rigard, este é Billie Agudang, um colega de caça e pesquisa. — E virando-se para Billie. — Billie, este é Rigard Dimitrescu, um amigo.
Os dois vampiros apertaram-se as mãos, e Billie olhou para ela, à espera de uma pista sobre que atitude tomar. Não conseguindo nenhuma, optou pela discrição.
— Bem, é melhor eu ir andando. Tenho muita coisa a fazer. — Olhou de modo casual para Rigard, avaliando-o rapidamente. — Foi um prazer conhecê-lo.
Rigard afastou-se da porta, para deixá-lo passar. Caminhando, depois, até onde Scarlett estava, endireitou a cadeira de Billie e sentou-se ao lado dela.
— Espero ter passado no exame. É muito raro encontrar vampiros com a habilidade dele.
— Ele não teria saído, se você não tivesse passado. Explicou ela com curiosidade. — Então já havia visto vampiros como Billie antes?
— Claro, os olhos dele são mais claros que os da maioria dos vampiros, indicando que ele consegui visualizar a quantidade de poderes de seus adversários. Em meu primeiro esquadrão de caçadores eu tive uma caçadora assim, Tamara Wesker.
— Não sabia que dentro dos Tiburtus podiam existir vampiros raros também.
Rigard sorriu.
— Só por que alguns vampiros possuem mistura sanguinêa, isso não significa que são completamente inferiores. E não há dúvida de que você é bem capaz de tomar conta de si mesma, mas ainda assim atrai vampiros que querem protegê-la com uma facilidade incrível.
Como ele pode saber que tipo de vampiro eu atraio? Scarlett pensou.
— É sem a menor intenção, eu lhe garanto. Sei me cuidar muito bem.
— Não duvido nada disso. — Rigard inclinou-se para a frente e segurou a mão dela, dizendo
com súbita seriedade. — Não vim até aqui para uma visita casual, Scarlett. Desde que nos separamos, você tem me acompanhado por toda parte. Afinal, desisti de tentar fazer qualquer coisa e vim para cá, ver se você corresponde à imagem que ficou na minha mente realmente.
— E...? — Ela sorriu, um meio sorriso que refletia sua descrença no que ele dissera.
— Se a minha memória fosse melhor, eu não teria demorado tanto tempo para vir.
2833 Palavras
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro