Daniela Oliveira da Silva caminha apressadamente pelas ruas do centro do Recife. O ano é 1975. A madrugada abarca a noite como se fossem dois amigos se abraçando. É noite de lua cheia.

A mulher alta, magra, com seus cabelos encaracolados presos para cima, sente os olhares opressores vindos de todos os lados. A única certeza que Daniela tem é que eles estão plantados nela. Será que Biu estava ali? Perto dela? Sim! Biu dos Olhos verdes!

Poderia o infame torturador de mulheres estar protegido pelas sombras dos altos prédios antigos que cercam a Rua da Aurora? As sombras pareciam verdes, iguais aos olhos de Biu.

Daniela se benze. Prende com força sua bolsa embaixo do seu braço direito e dispara na direção da parada de ônibus, igual uma pedra que é atirada por um estilingue.

A lua que banha com sua luz o Rio Capibaribe, parece segui-la mancomunada com aquele demônio de olhos verdes cintilantes. "Um tiro ou um beliscão? "...essa é a pergunta feita por ele antes de torturar uma vítima.

O ônibus não demora a passar e rapidamente Daniela pula para dentro dele. A mulher de pele acastanhada saúda o cobrador com um inaudível boa noite, travado na goela por causa do medo misturado com o cansaço.

Passada mais de uma hora, Daniela desce no bairro Alto Santa Terezinha e caminha subindo vagarosamente pela rua enladeirada. A lua linda e majestosa, parecendo uma pérola, a faz pensar em Maria Laura ou Laurinha... A sua filha de dois anos, que todos os dias a recebe acordada com um lindo sorriso banguelo.

Sem esperar Daniela é arrastada para dentro do beco escuro. Uma mão grande e forte a prende arrastando-a para o meio da viela apertada.

— Um tiro ou um beliscão? — Pergunta Biu dos olhos verdes. Daniela sem saber o que fazer, fecha os olhos rezando e pensando na sua filha.

— Um olho ou um dente? — Daniela ainda com os olhos fechados, escuta outra voz fazendo uma segunda pergunta.

Como a água que desce pelo ralo a baixo, assim é Biu tragado pela escuridão. Daniela abre seus olhos e sem entender nada que acontece, sai correndo dali o mais rápido possível.

— Um olho ou um dente? — Pergunta a voz vinda da escuridão.

— Quem é você? Pergunta Biu dos olhos verdes aterrorizado com os olhos malignos e escuro como a noite, emoldurando aquele rosto sádico percebidos dentro da escuridão.

— Drake, Viktor Drake.

— D-dente. — Biu dos olhos verdes sente a lâmina fria rasga-lhe a barriga e suas tripas sendo puxadas para fora do seu corpo.

— Só não disse ponde começaria a tirar seu dente. — Drake responde com seus olhos vermelhos esbanjando felicidade, a suposta pergunta que Biu poderia ter feito.

José Inácio

Santo Serafim

06/08/2022