PRESUNTO MÓVEL
A pequena cidade de Machados, localizada no interior pernambucano, é cortada ao meio por uma extensa BR. A cidade também é conhecida como: Resta 1.
Não se sabe o porquê, mas do lado esquerdo de quem vem para Recife, se estabeleceram a padaria, a farmácia, a igreja católica.
Do lado direito, o açougue que só abre nas quartas-feiras. O lava-jato abre diariamente e fica a pouco metros da delegacia e do cemitério, que estão localizados na rua de trás.
O dono do lava-jato chama-se Pereira Ramos, um homem trabalhador e ao mesmo tempo um divulgador das notícias (para não chama-lo de fofoqueiro).
O delegado da cidade chama-se Esdras Alencar, um homem correto e que faz mais do que sua profissão pede. Como a cidade de Machados não tem carro funerário, o delegado Esdras usa seu Palio Weekend para transitar com os mortos até à mortuária, que fica atrás da delegacia.
Pereira está casado pela terceira vez. Tem 2 filhos da atual mulher e uma menina do primeiro casamento, que mora fora do Estado.
A temperatura marca 41 graus.
— O calor hoje está sufocante.
— Delegado! Boa tarde! Vai lavar o Presunto móvel?
— Pereira, é cada nome que você coloca no meu carro. Tens água?
— Eita gota! Saindo água gelada agorinha!
— Obrigado, amigo. — Esdras agradece a água bebendo igual um radiador seco.
— E o que foi dessa vez? Sei que tem um defunto lá dentro.
— Meu amigo, o acidente foi feio. Deixou um saldo de dez mortos.
— E como foi esse?
— Um carro pequeno bateu de frente com um ônibus, que se chocou com um caminhão de cana-de-açúcar.
— Meu Jesus!
— Já levei oito corpos para o necrotério e pedi para Alfredo entrar em contato com s parentes das vítimas.
— Posso olhar o defunto?
— Pereira... Cê sempre com essa vontade mórbida.
— Delegado, um dia serei eu o presunto que desejarão ver.
— Entendi. Vamos lá dá uma olhada.
— Meu Deus! O crânio dele está estourado! Quando for lavar o carro, vai ser miolo até umas horas! Jesus! Que desgraça! A boca foi esmagada!
— E esse está bonito. Os outros estavam piores! Meu amigo, muito obrigado pela água, preciso ir. Amanhã trago o carro para lavar.
O delegado vai embora deixando Pereira sozinho. Em seu íntimo roga ao Padre Cícero pelas vidas dos moradores da Resta 1, que morreram.
— Alfredo? — Assusta-se Pereira com a presença do policial.
Alfredo nada diz. Pereira engole seco ao receber o olhar piedoso e sofrido do rapaz que lhe entrega uma folha mortuária com os nomes: Marcos dos Ramos e Ama Elisa Ramos.
— Por favor Deus, meus filhos não! — Pereira não sabia que Marcos foi busca Ana na rodoviária, era surpresa.
NOTA: Ofereço esse conto ao grande amigo Esdras Alencar.
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