AMAR É UM VERBO
Reginaldo Pedrosa olhava para a frase pintada de vermelho na parede branca, com seus olhos cheios de lágrimas. A saudade de Veronica bateu forte na sua cabeça igual uma pedrada, lembrando de cada momento lindo vivido pelos dois.
Sim, amar é um verbo. Pensa ele sem tirar os olhos da frase pintada na parede branca. Reginaldo amava Veronica. A amou desde o primeiro momento que a viu, a cerca de uma semana atrás, servindo café na padaria da esquina.
Veronica tinha aquele sorriso limpo, inocente e inconfundível. Sabe aquele sorriso que traz paz e alegria ao mesmo tempo? Era isso que Reginaldo sentia quando escutava dela um "Bom dia". O homem de olhos azuis e cabelos ralos, descasca a laranja com uma faca tão afiada, que nem precisa fazer esforço para que a casca sai igual uma escada caracol. As lágrimas da saudade banham a fruta vestida da cor amarela, igual ao cabelo de Reginaldo.
Como dói amar uma pessoa. Como dói sentir seu cheiro entranhado no corpo e não a abraçar naquele momento. Saudade é foda! Fala Reginaldo baixinho, olhando para a cama desforrada depois de lutar a noite toda com seu anjo.
Da mesma forma como Jacó lutou e venceu seu anjo, o mesmo aconteceu com Reginaldo... mais uma vitória naquela noite.
Reginaldo coloca um bago de laranja na boca e sente os sabores doce e cítrico misturarem-se ao seu paladar. Veronica e ele também fora assim. Sim! Amar é um verbo! Reginaldo ler a frase mais uma vez.
Nós choramos por amor. Mentimos por amor. Vivemos pelo amor. E todo verbo é uma ação. Todas as ações giram em volta do amor. Reginaldo fecha seus olhos chorosos e levantando sua cabeça na direção do teto branco com o ventilador movendo-se lentamente, come mais um bago da laranja.
Momentos felizes precisam ser eternizados em cada cantinho da memória.
Como se fora despertado de um sonho lindo, Reginaldo escuta vozes falando atrás dele. Gritos na sua direção! Solte a faca! Levante-se! Você é surdo? SOLTE A FACA! Reginaldo não se vira na direção das vozes imperativas e raivosas. Passa a faca na sua língua, limpando-a por duas vezes e vira-se para a frase pintada de vermelho na parede e faz um gesto obsceno com sua mão. Pólvora! Pólvora! Pólvora! A fumaça da pólvora nuveia o quarto.
Reginaldo cai de bruços na cama e puxa o corpo ensanguentado de Veronica, que levou mais de 40 facadas dadas por ele. Reginaldo morre lendo a frase pintada com o sangue de Veronica.
José Inácio
05/08/22
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