666
— O mundo nunca mais será o mesmo.
— Por que você diz isso?
— Ana, eu não sei. Apenas sinto isso.
— Aonde você mora, Paulo?
— Na Rua da Travessa, número 666.
— Ave Maria! Naquela casa?
— Sim. A casa dos assassinatos. Me mudei tem pouco tempo. Faz uma semana.
— E como ficou sabendo dos assassinatos?
— O corretor de imóveis contou tudo.
— Caramba, que cara honesto.
— Sim! Eu apreciei muito a atitude dele!
— E mesmo assim, topou morar lá? É casado?
— Sou solteiro. Não está achando a cerveja quente?
— Sinceramente, não.
— Então é meu paladar. Sempre morou pela redondeza?
— Paulo, moro neste bairro desde criança. Conheço tudo por aqui.
— Trabalha com quê?
— Telemarketing.
— Também?
— Você trabalha com telemarketing?
— Não! Sou professor de Filosofia.
— E por que você disse "também"?
— Por que duas das três moradoras que moraram na casa antes de mim, trabalhavam num Call Center.
— Sim... elas foram assassinadas pelo padrasto.
— Exatamente! Conhecia as meninas?
— Não! Mas estava no enterro... foi deprimente.
—Você pinta o cabelo?
— Eu? Claro que não! Sou ruiva por natureza!
— Seu sorriso é lindo!
— Assim fico sem graça. Muito obrigada por esta noite. Tem sido mágica.
— Agora quem ficou sem graça fui eu. Até parece que te fiz um favor te chamando para sentar aqui comigo.
— Você irá entender quando te explicar. Está com calor?
— A cerveja não ajuda. Mas explica ai, sou todo ouvidos.
— Você não é igual aos outros caras. Eles só pensam em sexo e tudo tem que acabar na cama. Só falam lorotas e mentem a cada palavra.
— Como você sabe que não sou igual?
— A forma como me olha, o jeito como fala... é de uma pessoa que de fato está interessada no que a outra pessoa pensa. Paulo, você é um cara descente. A cerveja está quente.
— Eu já havia dito isso. Tudo bem?
— Não me sinto... bem.
— Ops! Assim você vai cair da cadeira. Garçom! Aqui! Quanto deu a conta?
— Ela está bem?
— Bebeu muito. A conta, quanto deu?
— Deixa eu verificar aqui...
— Logo bicho, ela não está bem.
— Paulo, não consigo nem levantar a cabeça... tá, muito pesada.
— Deu 59 reais.
— Toma! Fica com o troco.
— Para onde está me levando?
— Ana, onde você mora?
— Rua...na rua, preciso VOMITAR!
O casal entra numa viela escura e o primeiro golpe é desferido. Ana cai no chão. Paulo, recua e sua visão embaça. A facada foi certeira. A cor amarela da camisa de Paulo, vai se misturando com a cor vermelha que mina do seu peito esquerdo.
Ana levanta-se ao mesmo tempo que Paulo cai no chão, igual uma gangorra. Cuspindo parte do sague que sai da boca e morrendo asfixiado pelo pulmão sufocado, Paulo pergunta o porquê daquilo.
— Por que você me pareceu apetitoso... carne sufocada é uma delícia, não sabia?
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