Capítulo 04
ERIK
Eu estava em meu escritório, lendo uma pilha de documentos enviados a mim pelos outros bandos, pelo meu Conselho de Anciãos, pelos membros do meu bando... Minha cabeça estava doendo muito. Não consegui voltar a dormir na outra noite, e nem na noite seguinte. Então, agora, eu realmente não estava conseguindo ler toda aquela porcaria.
Alguém bateu na porta e, por mais que eu não estivesse a fim de falar com ninguém, ter a chance de dar um tempo naqueles papéis meticulosos foi muito bem-vindo.
— Entre! — Pelo cheiro, eu sabia que era Aaron.
— Ei. Ah... podemos conversar? — Meu Beta perguntou, olhando para os documentos na mesa e olhando para mim — É sobre a nossa prisioneira.
"— Ela é nossa, não dele!", Xanto interviu e eu o mandei se calar. Aquela garotinha não era nada nossa.
Prisioneira. Pronto, era isso o que ela era. Apenas isso.
Maldição! Eu queria a porra de uma pausa. Só isso. Ela era a principal razão pela qual eu não conseguia voltar a dormir e a razão pela qual eu estava tendo que suportar o trabalho com essa dor de cabeça infernal!
Eu não sabia o que fazer, na verdade. A garota era uma rogue. Provavelmente menor de idade, pelo tamanho dela. Não senti cheiro de lobo nela, então, sim, menor de idade. Ainda que o meu lobo e o meu corpo não parecessem entender isso. O que era mais do que esquisito. Continuei sonhando com aqueles olhos lilás dela. E toda vez que o cheiro de rosas vinha até mim. Milk-shake de baunilha e rosas. Talvez ela fosse uma bruxa...
— Então e ela? — Perguntei, limpando a garganta e me recostando na cadeira, para olhar melhor meu Beta — Ela disse alguma coisa?
— Não. Quer dizer, ela falou — Aaron respondeu e deu um passo à frente, entrando no escritório e fechando a porta — Mas nada útil. Ela disse que aqueles rogues vieram aqui para falar com você.
Oh, sério? Ah, por favor... Ela deve nos tomar por idiotas!
— Falar comigo? — Eu debochei — Sim, provavelmente eles queriam falar com a minha jugular!
— Ela parecia sincera. E... — Aaron tinha uma cara lamentável.
Revirei os olhos. Aquele coração de manteiga já estava derretido pela rogue.
"— Pois não deveria!"
"— Calado, Xanto!"
Ele estava rosnando.
"— Como você pode deixar ele ficar zanzando perto dela? Não viu como ela é especial?".
"— Já deu!". O tranquei. Sem condições de lidar com Xanto quando ele parecia estar pensando com a outra cabeça!
— Só... Desembucha logo o que aquela coisinha falou. Estou sem um pingo de paciência hoje, Aaron.
— Acho que ela foi muito maltratada por aqueles rogues. Ela parece assustada. Você viu os caras? Eles não eram todos sujos ou magros. Mas ela, sim. E mais: ela tem dezenove anos.
Olhei para Aaron, incrédulo. Dezenove? Ela era uma jovem adulta, não uma adolescente, como eu pensava! Isso só poderia significar que ela não tinha lobo.
— E...? — Eu disse, pedindo para ele continuar falando.
— Sem lobo. Ela mesma confirmou. É por isso que ela estava se escondendo. Provavelmente pensou que poderia evitar o conflito não lutando. Ela seria morta se tentasse ajudar seus amigos ou a si mesma em um confronto contra qualquer um de nós.
— Ela é muito magra e pequena. — Eu disse. Normalmente, as lobas não eram tão pequenas quanto as pessoas pensam, só porque eram meninas. Os ômegas eram menores, pois não foram feitos para lutar. As que caçavam e lutavam eram mais brutos e, mesmo que não fossem tão grandes quanto os rangers masculinos, ainda eram grandes. E as feitas para serem Lunas, Betas, eram delicadas, mas não pequenas como um ômega. Elas eram razoavelmente mais altas, fortes, mas não robustas — Ela é um ômega, então.
— Um ômega com olhos muito raros. Sabe, se não me engano, apenas lobisomens especiais ou talentosos têm esses olhos. E, claro... — O olhar de Aaron ficou mais grave — Lycans.
— Eu sei. Mas o que alguém dentro de uma dessas categorias estaria fazendo com um bando de rogues? E não só isso, mas aparentemente um pau mandado deles. E, com certeza, ela não é uma Lycan. Um Lycan sem um lobo? Isso seria a primeira vez, pelo que sei.
— Bom, isso é — Aaron coçou atrás do pescoço — Mas então, o que vamos fazer com ela?
Ele cruzou os braços cruzados na frente do peito, olhando para mim, com expectativa.
— Nós a mataremos. Ela não nos é útil, já que não tem informações — Eu disse, encolhendo os ombros. Isso fez Aaron franzir a testa — O que?
— Ela fez isso. Com os ombros. Você tinha que ver o terror naqueles olhos lilás quando ela se deu conta de que poderia ter suas ações vista como ofensivas.
Pisquei para Aaron algumas vezes.
— Mais um motivo para matá-la e acabar com sua existência miserável — Olhei para baixo, pegando minha caneta e voltando ao trabalho. Eu não queria mais falar sobre ela. Estava me dando uma sensação ruim. E Xanto estava lutando para sair da prisão mental dele.
— Espere um segundo. Você não está curioso sobre as origens dela? Os olhos dela... — Aaron fez um beicinho — Ela pode ser útil, sabe? Ela pode não ser Lycan, mas pode ter algum poder oculto.
A verdade era que Aaron era um lobisomem muito bonzinho. Ele odiava ver os outros sofrendo, principalmente quando, em sua opinião, era muito injusto. '
"Ninguém escolhe ser um rogue", ele costumava dizer.
— Ela parece boazinha, Erik. Coitada, acho que já passou um inferno. Não seria digno dar a ela a chance de viver um pouco? — Eu sabia... Eu simplesmente sabia! Como eu poderia ter um Beta como aquele? Ok, ele era duro quando precisava, mas ele realmente tinha pena dos outros como ninguém!
— Ah, lá vem você!
— Talvez ela tenha um lobo! — Os olhos de Aaron brilharam, como se ele tivesse pensado em algo brilhante — Ela... Se ela foi maltratada demais, ela apenas precisa de bons cuidados e o lobo dela vai despertar! Aí saberemos se ela tem algum poder ou não! —
Respirei fundo e continuei trabalhando. Talvez se eu o ignorasse, ele simplesmente me deixaria em paz. Eu sei que ele estava lá, esperando que eu dissesse alguma coisa. Inferno!
— Não estamos aqui para fazer caridade, Aaron. Já ajudamos órfãos e isso é tudo. Não precisamos de uma rogue dentro de nosso território — Larguei a caneta e encarei Aaron por alguns segundos, antes de concluir o que queria dizer — Ela pode estar mentindo. Ela pode apenas querer coletar informações e passá-las para seus amigos lá fora. Mais daquele que furaram a nossa segurança e provavelmente tentariam me matar. E eu não acredito que ela seja ignorante quanto ao objetivo deles.
— Ela pode apenas precisar de ajuda! Olha, você tinha visto ela, você iria...
— Eu a vi! Eu a vi antes de você, lembra? — Bati a mão na mesa — Chega, Aaron! Livre-se dela!
Eu tive que usar minha aura Alpha, para garantir que Aaron não continuaria a perseguir o assunto por mais tempo. Então, Aaron se curvou e saiu, com clara indignação. Dane-se. Ele ia obedecer. Eu não iria colocar em risco a segurança dos outros membros para fazer caridade para alguém que veio até o nosso bando de má fé!
Assim que a porta foi fechada, soltei uma respiração profunda. Eu balancei a cabeça, em aborrecimento. Aaron poderia ser um saco, às vezes.
"— Ela deve ter alguma habilidade. Os rogues não manteriam alguém fraco, sem lobo, como ela, se não tirassem algum proveito!" — Xanto apareceu.
Ele... Não estava errado. Num grupo de rogues, apenas membros úteis se mantém. Se não, são ou mortos ou expulsos.
Além disso, ela era muito diferente de qualquer rogue que veio com ela. Enquanto todos tinham cabelos escuros e olhos igualmente escuros, a garota tinha cabelos claros — dava pra ver, mesmo ela imunda de lama — e aqueles olhos.
"—Aaron?" — chamei por mind link.
"— Sim, Alfa?" — A voz dele era de má vontade. E Arron odiava quando eu usava a aura Alfa nele.
"— Peça a Cassandra para cuidar dela," — e a conexão foi encerrada por mim. Eu não queria ouvir Aaron borbulhando como eu era um lobisomem de bom coração e blah, blah, blah. Em vez disso, voltei ao meu trabalho.
Era importante. Chato, uma droga, mas importante e, como Alfa, era minha responsabilidade lidar com aquilo.
RAE
Mais uma semana se passou, e outra, e mais outra. Eu já estava bem acomodada e acostumada com meus afazeres. A vida era muito melhor. Sim, eu ainda sofria bullying, mas ainda não tinha sido espancada. Cassandra e até mesmo Aaron, sempre que ele estava por perto, eram bons para mim.
Cassandra era mais como uma mãe. Ela se importava e era tão paciente comigo! Ela nunca fez nenhum comentário ruim sobre eu não falar muito. Ela estava, de fato, me ensinando a ler.
Tudo começou quando ela me pediu para ler uma receita e eu não consegui. Quando ela percebeu isso, ao invés de gritar ou berrar, ela sorriu para mim e até pediu desculpas.
— Eu deveria ter perguntado antes, querida. Lamento colocá-la nesta situação — Ela disse Isso foi há semanas e agora, eu até sabia escrever meu nome, o nome dela e ler uma ou outra palavra. Toda vez que eu lia algo novo, ela me olhava como uma mãe orgulhosa. Ou como pensei que uma mãe orgulhosa olharia para seu filho que realizou algo grandioso.
Infelizmente, tínhamos pouco tempo para que ela me ensinasse muita coisa.
Eu estava na cozinha, como sempre, quando ouvi alguém ganir e chorar. Olhei para cima para ver uma das garotas Ômega, Patricia, segurando sua mão e indo até a pia, despejando água em seu ferimento. Eu vi vermelho. Era sangue. Eu poderia não ter nenhum lobo, mas, ainda assim, meu olfato era muito bom e aguçado. É por isso que eu era uma rastreadora. Talvez Aaron tenha deixado escapar esse detalhe, pois nunca falou comigo sobre isso.
— Oh, não! — Cassandra disse à garota. Então, ela olhou para mim — Rae, meu bem, você poderia nos dar uma mão aqui, por favor?
Eu anui com a cabeça e me aproximei delas.
— Eu preciso que você leve isso para a mesa do grande salão. É hora do jantar e Patricia aqui não vai carregar isso agora.
— Eu posso levar! — Patrícia gritou, olhando para mim com olhos cheios de ódio.
Uma coisa que precisa ser esclarecida: toda garota que não está acasalada terá seus olhos para o Alfa da matilha. Lobos gostam de poder. Somos atraídos pelo poder, então, por mais que nenhuma Ômega tivesse a esperança de ser uma Luna, elas definitivamente procurariam a companhia e o interesse do Alfa.
Cassandra olhou para Patrícia e fez uma careta. Ficou claro que ela não gostou da atitude da garota.
—Você não vai fazer isso, Patrícia! Se você manchar a comida dele com sangue, o prato dele ou pior ainda, deixar essa travessa cair no chão, Alfa Erik não vai ficar feliz. Você sabe disso — Ela disse, as sobrancelhas franzidas — Ele pode ser complacente com muitas coisas, mas não mexa na comida dele.
Eu tive que rir internamente pela forma como Cassandra disse aquilo. Eu o imaginei gritando porque sua comida foi desperdiçada.
Eu mal me lembrava do rosto dele, na verdade. Só que ele tinha olhos verdes. Ele me assustou naquela primeira noite. Sonhei, às vezes, com seus olhos, seguidos de seu cheiro. Eu sabia quando algo era dele, como as roupas.
Era difícil não ficar lembrando do cheiro delicioso do Alfa e querer sentir novamente. Apesar de me sentir meio suja com isso, quando as blusas dele caiam nas minhas mãos, sempre que podia, eu as cheirava.
— Querida? — Voltei à realidade. Cassandra estava na minha frente, segurando a travessa e olhando para mim com expectativa.
Eu acenei de leve com a cabeça. Entendi que era hora de levar a comida até a mesa.
Eu não queria vê-lo. Não, a verdade é que eu não queria que ele me visse. Talvez ele tivesse esquecido da minha existência e era por isso que eu ainda estava por ali, inteira. E se ele me visse e lembrasse que me queria morta, banida, castigada?
Uma mão quente em meu ombro, enquanto eu olhava para a porta da cozinha, segurando a travessa, me deu coragem. Eu precisava fazer o que tinha que ser feito!. Cassandra estava lá para mim. Ela nunca me machucaria. Sei que ela não lutaria contra o Alfa por mim, mas tenho certeza de que me desejaria boa sorte. E se eu sobrevivesse, ela cuidaria dos meus ferimentos.
Respirei fundo e saí. Essa foi a minha primeira vez fora do confinamento da cozinha, para dentro da packhouse. Foi um gostinho de liberdade. Eu sorri. Cassandra confiava que eu poderia fazer o trabalho. Então, eu podia!
— Mova-se! — Alguém gritou atrás de mim. Dalila. Outra que me odiava. Dei um passo para o lado e ela passou por mim. Eu não sabia onde era a sala de jantar, portanto, apenas segui a outra ômega.
Eu vi como o packhouse era grande. Quero dizer, eu vi o prédio por fora, por trás dele. Eu poderia dizer que era grande. Mas olhando como realmente era por dentro. Uau! Não tinha referência para comparar, mas o que vi me fez sorrir. Uma casa tão bonita!
A maior parte era de madeira, dourada e vermelha. As escadas que levavam ao segundo andar eram muito bem esculpidas e tinham um tapete vermelho nos degraus.
A sala de jantar era bonita. A mesa era enorme. Mas, claro, todo o bando tinha que comer ali. Ou, pelo menos, os de alto escalão e, claro, seus visitantes, sempre que os tivessem.
Não havia ninguém na mesa. Ainda estava sendo preparada. Um alívio! O Alfa não estava por perto. Quando me aproximei da mesa, senti cheiro de menta. Solo após a chuva... Sim, era ele! Eu entrei em pânico. Eu sei que sim, porque não conseguia sentir meus pés. Minhas pernas estavam paralisadas.
"Vamos, Rae!", eu disse a mim mesma. Elas finalmente se moveram, mas então tropecei em alguém que saiu pela outra porta. Uma porta que eu não fazia ideia que existia!
— Ai!
Eu estava no chão. A comida, toda espalhada pelo chão. a comida do Alfa. ESPALHADA NO CHÃO!
Eu não sabia o que fazer. Eu seria punida! Eu tinha trabalhado tanto para mostrar que eu poderia ser útil! Agora, eu ia perder tudo. Eu não percebi que estava chorando, até que Aaron segurou meu braço e me colocou de pé.
— Ei, tudo bem. Não precisa chorar — Ele disse. Eu finalmente olhei da comida no chão para ele. Mas meus olhos não ficaram lá por muito tempo. Perto dele estava ELE. Senti todo o ar sendo retirado dos meus pulmões. Os olhos dele. Ele estava olhando para mim.
Eu estava morta!
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