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Pânico na floresta

Ainda do lado de Henrique, observei Roberto, que ainda estava de mãos dadas com Alessandra, um pouco longe de nós. Eu dei um largo sorriso e acenei pra ele. Roberto não fez o mesmo e voltou o olhar para Alessandra. Ela, sim, retribuiu o meu sorriso. Ela, sim, era um amor de pessoa. E ela, sim, era diferente. Eu via algo especial nela. Uma coisa que eu não sabia direito o que era, mas que eu não havia visto antes em ninguém. Acabei me perdendo em meus pensamentos e fiquei hipnotizado por um momento olhando pro nada.
Henrique me cutucou.
- Eduardo?
- Hã? - voltei o meu olhar para Henrique.
- Vamos?
- Vamos aonde?
- Como aonde? Vamos começar a... - ele parecia não querer dizer as palavras por alto.
- Ah! - eu me toquei. O que havia acontecido comigo? Por um momento, esqueci algo tão importante quanto meus planos. Algo naquela garota havia tido o poder de me hipnotizar por uns segundos. - Ah, sim. - eu abaixei a voz para as outras pessoas não me ouvirem. - E a vingança de Eduardo Santos começa, realmente, agora!
Me afastei de Henrique e me aproximei de Roberto e Alessandra, que ainda estavam conversando.
- E aí? Vamos começar a trilha, parceiro! - dei um leve toque no braço de Roberto. Ele continuava apático.
- Que bom que vocês estão fazendo amizade. - disse Alessandra, parecendo uma mãe contente em ver seus filhos socializando com os outros.
- Vamos? - eu disse, sorrindo como um palhaço diante de uma criança mal-humorada.
- Vai, Roberto. Não seja arrogante. - Alessandra devia ter cuidado pra não ter diabetes, de tanta doçura que tinha na alma.
- Tá bom. Eu vou por você.
Ela sorriu e os dois deram um beijo. Aquilo era tão desagradável pra mim quanto ver um filme erótico acompanhado de seus pais.
- Até mais.
- Até. - Respondeu Alessandra, parecendo uma princesa ao sorrir e olhar pra ele, para mim e para Henrique.
Roberto se aproximou de mim e nós nos afastamos de Henrique e Alessandra. Caminhamos em direção à mata fechada e fomos nos afastando dos outros alunos que também iam seguindo com suas suas duplas.
- Vamos nos divertir muito. - Coloquei a mão no ombro de Roberto. Ele rapidamente me olhou com cara de quem havia ouvido a mesma piada pela milésima vez. Ele tirou a minha mão de seu ombro e se preparou pra falar alguma coisa.
- Eu não quero brigar com você. Mas, não me leve a mal, existe alguma coisa em você que eu não gostei. Não é nada pessoal e eu nem acredito nessas coisas, mas sabe quando acontece aquele negócio de o santo não bater com o de alguém? Então, eu sinto mesmo em relação à você.
- Ui! Nossa, não vou nem dormir à noite. Tudo bem, se você não quer ser meu amigo... Eu só espero que se aparecer um leão ou um urso nessa floresta, você não fuja e deixe eu ser devorado.
- Não existem ursos e nem leões na floresta Amazônica.
- Sei lá, só sei que eu quero eles em qualquer lugar, menos perto de mim.
- Você é muito medroso, cara.
- E você? Não tem medo de nada?
- Claro que eu tenho.
- De...
- Não gosto de cobras.
- Ah... Só?
- Tá bom, também tenho nojo de aranhas grandes e de ratos.
- Nossa... Pra quem estava me zoando por causa de leões e ursos, você até que é bem grandinho pra ter medo desses bichinhos, hein?
- Bichinhos? Você sabe o que uma cobra pode fazer com você além de te matar com uma picada em poucos minutos? E tem cobras que se enrolam no seu corpo e... Você sabe.
- Pode ser. Mas tem outras que não fazem nada.
- Mas a maioria...
- E quanto às aranhas e ratos?
- Você nunca estudou biologia ou nada de ciências?

Eu estava começando a gostar do rumo que aquela conversa estava tomando. Ela estava sendo muito produtiva pra mim.
- Não sabe o que o veneno de uma aranha, daquelas enormes, pode fazer? E quanto aos ratos, qualquer um sabe que eles transmitem leptospirose.
- Ah, é?
- É.
- Vou perguntar se é verdade.
- Vai perguntar pra quem?
- Pra aquele ratinho ali!
- O quê? - Roberto se virou, deu um grito bem agudo e pulou de susto.
Eu comecei a rir sem conseguir me controlar.
- Você caiu como um patinho. - eu mal conseguia falar de tanto rir.
- Cara, quantos anos você tem?
- Isso é o que eu pergunto pra você. Você parecia um Bebezinho assustado.
- E você é tão engraçado quanto o zorra total.
Eu continuava rindo.
- Vou ali ver se encontro algum animal pra gente estudar.
- Cuidado com os ratos e as cobras, hein?
- Muito engraçado.
Roberto se afastou de mim e se aproximou de um barranco. Ele parou na frente de uma flor e começou a observá-lá. Eu cheguei até a chorar de tanto rir. Limpei meus olhos e me recompus. Observei a cena.
Roberto estava parado no topo de um barranco, distraído, parecendo estar vendo um show de mágica. Era a oportunidade perfeita. Mais uma vez, o destino estava me ajudando.
Olhei pro chão e encontrei uma pedra bem grande. A segurei, quase não a aguentando, eu não era muito forte. Roberti estava de costas pra mm. O perigo estava atrás dele e ele nem imaginava.
Era como naqueles filmes de suspense em que o vilão está atrás de um personagem com uma faca na mão. E a plateia ou quem quer que seja fica gritando pro cara perceber que vai morrer, mas é inútil.
Aquilo não era um filme, mas era inútil do mesmo jeito. Aquele jeito foi o momento que eu tanto esperei na minha vida. Eu tinha o Roberto nas minhas mãos e ele nem desconfiava. Era tudo o que eu queria.
Me aproximei de Roberto, ainda de costas, impressionado com a flor, e lhe dei uma pedrada na cabeça de uma vez só. Ele revirou os olhos rapidamente e caiu no chão, já desacordado. Roberto rolou barraco abaixou como se fosse um simples boneco de pano e ao longo da queda, seu corpo ia sendo machucado e sujo pelas pedrinhas do chão e a terra imunda. Ele parou no final do barranco, duro como uma rocha. Parecia estar morto. Será que estava?
Eu fiquei observando Roberto desacordado, com a minha típica cara de psicopata. E eu estava me tornando um.

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