Depois da notícia
Não dá pra descrever exatamente o que senti na hora que ouvi as palavras "seus pais", "acidente", e o pior de tudo, "faleceram", na mesma frase. Na verdade, "faleceram", era uma palavra mais confortodora que "morreram", mas não mudava em absolutamente nada o que eu estava sentindo. Senti vontade de morrer junto com os meus pais naquele momento. Senti como se alguém estivesse apertando a minha garganta, fazendo de tudo pra me sufocar e estava conseguindo. Senti um enorme enjôo, meu estômago ser revirado. Senti minhas pernas ficarem bambas. De repente, eu não estava mais naquele cenário. Eu havia sido transportado pra minha própria mente, onde eu só conseguia ouvir a voz daquele homem falando que
meus pais haviam morrido e que agora seus corpos estavam vazios. Suas almas estavam em outro lugar, bem distante de mim. Eles não eram mais pessoas normais. Eram apenas corpos. Corpos. Nunca mais eu iria vê-los.
Vi tudo completamente preto.
A imagem do policial, que estava na minha frente, assim como a imagem da porta ou de qualquer outra coisa que estava perto de mim na hora, foi desaparecendo. Não consegui me aguentar em pé e acabei desmaiando de uma vez só. A empregada, que estava atrás de mim, me segurou e o policial também foi me ajudar.
Quando acordei, estava deitado na minha cama. A empregada estava sentada na cama, ao meu lado, com um algodão cheirando a álcool perto do meu nariz.
- O que... - eu estava muito zonzo ainda. Ainda nem enxergava direito. - o que aconteceu?- perguntei, revirando os olhos e provavelmente com uma aparência horrível, totalmente abatido. Coloquei a mão na minha cabeça, pois a senti latejar mais forte do que nunca.
- Você desmaiou, querido.-a empregada respondeu, com a voz bem calma- Que bom que acordou.
- Eu desmaei? Desmaei por que?
A empregada abriu a boca levemente, parecendo estar com a minha pergunta. Ela não sabia o que responder. Foi aí que me toque. Foi aí que percebi tudo, que entendeu, que lembrei de tudo o que estava acontecendo, que voltei ao mundo real.
Lembrei daquelas palavras. Daquela frase. De tudo. "Seus pais", "Acidente", "faleceram". Que "faleceram", que nada. ""Morreram". Eles estavam mortos. Não importava a palavra usada e, sim, o que estava acontecendo, que era um enorme pesadelo.
-Espera!- pensei na hora.- Pesadelo? Pesadelo? É isso! Eu estava desacordado, estava dormindo, estava sonhando. Não estava no mundo real. Nada daquelas imagens eram reais. Eu tentava a todo custo me convencer daquilo. Eu tentava repetir na minha mente a ideia de que tudo não passou de um sonho, uma mentira, e que eu não estava vivendo aquilo. Foi apenas um sonho. Um pesadelo, aliás. Mas não havia mais perigo, afinal, eu estava acordado agora. Aquele terrível pesadelo haviam acabado. Isso mesmo! Foi só mais uma loucura da minha mente. Claro. Claro. Mas estava tudo bem. Meus pais estavam vivos. E assim iam continuar. Eles não iriam me desamparar numa hora daquelas, assim, tão de repente. Não. O destino não iria fazer aquilo comigo. O destino não faria com ninguém. Ninguém merecia aquilo. Nem o meu pior inimigo. Nem para o meu pior inimigo eu desejava uma coisa dessas. Foi tudo mentira. Foi tudo apenas um pesadelo. Um pesadelo que acabou naquele exato momento que eu abri os olhos e acordei para a realidade. E a realidade não era tão dura. Não podia ser. Eu me recusava a acreditar que meus pais haviam morrido. "Não", "mentira", "pesadelo", "vivos", foi tudo que eu insistia em dizer pra mim mesmo.
-Eduardo...- a empregada disse, interrompendo os meus pensamentos.
A minha mente havia sido invadida por tantos pensamentos ao mesmo tempo, em poucos momentos, que eu havia saído mesmo da realidade, que só ouvi as palavras da empregada sendo pronunciadas naquela hora.
-O que aconteceu foi que...-a empregada respirou bem fundo-seus pais sofreram um acidente de avião- o pânico tomou conta de mim novamente- E... Eles não resistiram. Eles faleceram.
Não. Não foi um pesadelo. Quer dizer, estava sendo, só que não um pesadelo da minha cabeça e, sim, um pesadelo verdadeiro. Minha ideia de que tudo aquilo não passava de imaginação da minha cabeça, foi completamente aniquilada. Eu tinha que admitir que tudo aquilo era verdade. Mas eu, simplesmente, não queria. Simplesmente me recusava. Não tinha como eu ter perdido os meus pais daquele jeito. Assim, tão de repente. Como num piscar de olhos. Como num passe de mágica. Mas aquele era o truque de desaparecimento que eu mais estava odiando em toda a minha vida. Parecia mentira. Como?
- O avião teve problemas - a empregada explicou - sofreu uma forte turbulência e acabou caindo. Centenas de outras pessoas também morreram. Foi uma tragédia. Sinto muito mesmo, Eduardo.
A empregada me abraçou
Era tudo o que ela podia fazer. Dizer que sentia muito e me abraçar. Era tudo o que qualquer um podia fazer naquele momento. Mas não era o que eu queria. Eu não queria nada. Só queria os meus pais de volta.
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