Convivendo com o inimigo
Eu não podia acreditar. Não dava pra acreditar. Quem iria acreditar? Era verdade mesmo? Eu estava de frente com o meu pior inimigo. Com a pessoa que mais havia me feito mal no mundo. O ser que eu considerava ser o mais desprezível e repugnante. A criatura mais sem coração da face da terra. Não. Existiam centenas de pessoas no mundo com aquele nome. Por que seria logo ele? Seria coincidência demais.
- O seu nome é Roberto?
- Sim. Por que?
- Não, nada. Acho que eu já conheci alguém com esse nome.
- É, eu acho que não sou o único Roberto do mundo, não é?
Dei uma risada forçada. Claro, ele não era o único Roberto do mundo. Não era possível ser ele. Mas, pensando bem, como eu iria descobrir que era ele? E os outros? Eu não sabia os seus sobrenomes. Mas eu sabia os nomes. Quer dizer, sabia o nome de dois. Roberto - não tinha como esquecer, infelizmente- e Guilherme. O terceiro... Eu não conseguia lembrar.
- Foi um prazer conhecê-lo, Eduardo. - Alessandra disse, sorrindo como uma princesa de contos de fadas.
- O prazer foi todo meu. - falei, me referindo à ela, não ao tal garoto. Ele podia até não ser quem eu estava pensando, mas, de qualquer jeito, eu o meu santo não havia batido com o dele. Dava pra ver que aquele garoto não queria falar comigo. E eu não tinha nenhum interesse em conhecê-lo. Já não havia gostado dele só pelo nome.
Roberto e Alessandra se afastaram de mim e voltaram a jogar basquete na quadra.
Depois que eles se afastaram, fiquei pensativo. Não só sobre o tal Roberto, mas também fiquei com a imagem daquela garota na minha cabeça. Alessandra. Eu gostava daquele nome, o achava bonito. Mas não tanto quanto aquela garota era. Era o meu tipo de garota. Loira. Eu adorava loiras. E alta, eu gostava de meninas altas, desde que não fosse mais alta que eu. E ela era de acordo com a minha medida. Literalmente.
Fiquei olhando ela jogando basquete ao longe e, de repente, despertei dos meus pensamentos ao ouvir o meu celular tocando no bolso. O peguei e abri a tela: estavam me ligando. Atendi.
- Alô? Eu não disse que pra não me ligar hoje? Tá, tá bom. Eu já sei. Vou aí buscar o... - eu abaixei mais a voz, pois vi pessoas passando perto se mim - o negócio à noite. Tá bom. Até mais. - desliguei.
Quando me virei pra trás pra continuar andando, de repente, senti uma forte batida no meu ombro. Meu celular pulou da minha mão e caiu direto no chão, a tela pra baixo. Um garoto baixo e meio gordinho havia tombado comigo.
- Ah, desculpe! - ele falou olhando rápido pra mim e, logo depois, indo pegar o meu celular do chão.
Eu o peguei da mão dele e o examinei.
- Ele quebrou?
- Não. - respondi, irritado. Será que aquele garoto não tinha olhos?
- Que bom.
Coloquei o celular no bolso e me afastei do tal garoto, indo em direção à outro lugar.
- Espera! - ele disse. Eu parei e fiquei o olhando fixamente. - Qual é o seu nome?
- Eduardo.
- Ah! Eu sou Henrique.
- Legal.
- Você é novo aqui, não é?
- Você é muito observador.
Ele riu. Parecia empenhado em me conhecer.
- E você é engraçado. Eu te vi conversando com o Roberto e a Alessandra.
- Não é observador, você é fofoqueiro.
Ele riu novamente. Foi aí que me toquei. Aquele garoto podia me ajudar a conhecer as pessoas daquela escola.
- Me diz uma coisa: você estuda aqui há muito tempo?
- Sim. Desde a primeira série.
Era daquilo, ou melhor, daquela pessoa que eu precisava.
- Acho que seremos bons amigos.
- Sério? - ele perguntou, sorrindo como uma criança ao ganhar um brinquedo novo.
- Sério. Que tal se fôssemos tomar um sorvete depois da aula?
- Ótimo.
Meu plano estava dando os seus primeiros passos. A minha vingança estava nascendo. Era só um embrião, por enquanto. Mas logo, se tornaria um grande adulto.
O sinal tocou. Me encontrei com Henrique e fomos até uma sorveteria próxima à escola. Nos sentamos e uma mesa. E eu decidi: estava na hora de revelar toda a verdade. Eu corria riscos, é verdade. Mas tina que confiar naquele estranho. Afinal, ele podia ser útil pra me dar informações sobre aquelas pessoas da escola, mas não parecia ser muito inteligente.
- É o seguinte, Henrique: Eu vou te contar um segredo. O segredo da minha vida. Mas você vai ter que me prometer que eu vou poder confiar em você.
Ele levantou a mão.
- Eu prometo, eu juro.
Parecia sincero.
- Está bem, então. O que eu quero, realmente, é que você me ajude em um plano. Um grande plano de vingança.
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