CAPÍTULO VINTE E OITO
Minha respiração estava desregulada, não conseguia me controlar. Meu corpo transpirava adrenalina, medo.
Olho para o meu lado direito e lá estava ela, dormindo no banco sem entender nada. Tão calma, tão serena, tão minha, minha filha. Meu maior amor, aquela que tenho que proteger de tudo e de todos. Mais uma lágrima solitária escorre em minha face, não posso perde-la.
— Esse imbecil jamais vai encostar um dedo em você, Lua. Eu nunca vou deixar!
Retorno a atenção ao que estava acontecendo. Alguém me perseguia dentro de um carro, não tinha visto quem, porém tenho absoluta certeza. Apenas uma pessoa neste momento seria capaz de me seguir dessa maneira. Alguém que quer fazer mal ao meu bebê e a mim.
Olho para o retrovisor e o carro está cada vez mais próximo. Não tive como avisar Ricardo do que está se passando, perder o foco da pista só irá fazer com que ele consiga nos alcançar. Isso não pode acontecer.
Piso no acelerador. Sorte que estamos em um local aberto. Olho para o retrovisor novamente e meu corpo gela. O carro está ainda mais próximo agora. Ele não pode me alcançar, não pode.
O choro fino da minha filha ecoa dentro do carro.
— Mamãe não pode te pegar agora, meu amor. Calma que vai ficar tudo bem, vou te levar até o papai.
Meus olhos encheram de lágrimas. Tentei me manter positiva, mas ele se aproximava me deixando cada vez mais aterrorizada.
Entrei em uma rua conhecida por mim. No final da rua adjacente tem o apartamento onde eu morava na época da faculdade. Espero conseguir despistar Miguel e me esconder até pedir ajuda ao Ricardo, ele vai saber o que fazer e chamar os seguranças.
— Isso, Olívia, você consegue. Só mantenha a calma!
Respirei fundo e virei a esquerda na tentativa de me distanciar. Até pensei por alguns segundos que havia conseguindo, porém não. Esse desgraçado agora está mais perto de alcançar meu carro.
Eu precisava agir rápido, se ele me ultrapassar pode me fazer parar e me deixar sem saída. A única chance que me veio em mente foi correr até meu apartamento e ligar para meu marido. Arriscado, mas, não tenho escolha. Tentarei por minha criança. Ele não pode encostar nela com todo esse ódio e mágoa dentro do coração.
Olhando a estrada percebo que já estou quase chegando. Procuro com a mão direita minhas chaves dentro da bolsa.
— Droga!
Ou não estão aqui, ou o meu nervosismo não me deixou encontrar. Jogo a bolsa no banco de trás e solto um palavrão.
Paro de dirigir e desço rapidamente do carro. Olho para trás e o vejo parando seu veículo próximo ao meu. Dou meia volta e abro uma porta com a intenção de pegar minha filha.
Tudo aconteceu muito rápido. Em um momento eu estava me ajeitando para segurar a criança e em outro sinto algo puxar meu cabelo.
— Você não pensou que fugiria de mim, não é? — Sua horrível risada ecoou em meus ouvidos. — Agora você e eu teremos uma conversinha em particular.
Me arrastou em direção ao seu automóvel.
Usando uma técnica de defesa que conhecia consegui me soltar e agredir Miguel em sua parte íntima.
Corro até meu carro e seguro Lua Beatriz em meu colo. Continuo correndo em direção a entrada do prédio.
Ouço o barulho dos passos dele atrás de mim. Acelerei meus movimentos e minha neném começa a chorar. Sinto ela muito assustada, mas não posso parar. Quando atravesso as portas vou direto para o elevador. Aperto os botões rapidamente tentando fazer subir.
— Vamos lá, droga!
Miguel acaba de entrar no prédio. Me procura com o olhar até que me vê. Ele corre em minha direção, porém minha sorte é maior, o elevador fechou e começou a subir.
Soltei o ar que estava prendendo de tanto nervosismo. Balancei minha filha e consegui acalma-la.
— Isso já vai terminar, meu amor. É só o tempo da mamãe conseguir o telefone.
Olhei para o teto e refleti por alguns segundos. Tinha que ser muito rápida. Ele deve estar subindo as escadas, logo me alcançará.
O elevador parou e corri em direção ao apartamento.
— Meu Deus! Sem as chaves. Pensa, pensa, pensa.
O meu primeiro golpe foi um chute com a perna direita. Fez nem cócegas.
— O que eu faço? O que eu faço? — Repeti algumas vezes tentando evitar chorar.
Me concentrei e depois de segundos me joguei com tudo em direção a porta. Repeti o movimento mais 4 vezes. Não sei se foi pela insistência ou se a porta era antiga. Sei que o trinque da chave se desfez e a porta cedeu.
Entrei rápido e encostei a porta já que não iria fechar. Peguei uma cadeira próxima dali e coloquei atrás para pelo menos parecer trancada.
Corri até o quarto e pensei.
— Mamãe vai te por aqui, mas, é só por precaução, está bem? — Dei um beijo em sua testa. E a deitei embaixo da cama. Como ela tinha acabado de acordar não estava totalmente ativa. — Fica quietinha tá, meu anjo? Vou ligar para o papai.
Corri em direção a sala, me arrependi. Lá estava ele. Me apressei em voltar para o quarto. Tento empurrar a porta para fecha-la, mas ele estava me impedindo.
— Você não vai fugir de mim agora, Olivia. Desista de uma vez. Eu só quero conversar com você!
— Nunca! Eu posso morrer, mas farei isso lutando até o fim.
E com minhas palavras se foram também as minhas forças. Ele deu um impulso na porta que me fez ir ao chão.
Miguel riu alto.
— Meu amor, finalmente. Sozinhos, e aqui. — Engatinhei até ficar próximo da cama. Ele não pode ver minha filha. Não sei o que esse louco poderá fazer com todo esse ódio. — É uma pena eu já ter dado todas as chances para você se arrepender das escolhas que fez. Por que não escolheu o certo, Olivia? Tudo poderia ser tão diferente agora. Estaríamos juntos, teríamos filhos, mas não. Você sempre tem que escolher aquele desgraçado.
— Eu jamais escolheria você de novo. Antes eu tinha pena, agora só sinto nojo! — Falei com toda raiva estampada em minha voz.
— Ah, então você sente nojo de mim? Eu que amei você desde o primeiro instante. Sabe, estou perdendo tempo demais com você.
Veio em minha direção. Levantei rápido e corri para o outro lado do quarto.
— Fica. Longe. De. Mim.
Olhei rápido ao meu redor e não tinha nada que pudesse me livrar dele.
— Procurando algo, princesa? Em? Sinto muito te desapontar, mas você não vai se livrar de mim.
Veio em minuta direção novamente. Me desesperei, definitivamente é o meu fim. Tinha um relógio sobre uma mesinha do meu lado esquerdo. Peguei e joguei nele. Não deu muito certo. Miguel me segurou nos dois braços e apertou.
— Você achou mesmo que um relógio de plástico pudesse me parar? Não estou entendendo todo esse seu pânico, Liv, achei que se sentisse segura comigo...
Cuspo em seu rosto.
— Eu nunca me arrependi tanto de dar chances a alguém.
Uma lágrima de dor caiu do meu olho. Minha filha. Não estou resistindo pra não assusta-la e ele notar a presença dela aqui.
— Agora que conseguiu o que queria, o que vai fazer comigo?
— Ué, não estou te reconhecendo. Assim tão fácil? Não vai lutar comigo? Sei que você treinou muito bem e sabe se defender. — Se aproximou do meu pescoço e inalou meu cheiro. — Você sempre foi tão cheirosa, Liv. E esse seu rostinho perfeito? — Alisou o meu rosto com sua mão suja. — É uma pena, que desperdício. Poderíamos ter sido muito felizes juntos.
Soltou meu braço esquerdo e mexeu atrás de sua calça. Me mostrou a arma.
— Como você prefere morrer? Assim, tão rápido e simples? Ou lento e doloroso? — Sorriu. Lágrimas agora escorriam em minha face sem controle.
— Doente! Como pode falar isso? Como tem coragem? Quando se tornou esse monstro? Eu te amava, Miguel. Não deixe que sentimentos ruins faça isso com você. Por favor, você é meu amigo.
Olhei no fundo dos olhos dele na esperança de encontrar algum vestígio do menino que conhecia. Não encontrei.
— Você acha que eu sou idiota? Agora me vem com esse papinho? Não adianta mais. Você e aquele seu maridinho desgraçado, vão morrer os dois. Você vai primeiro porque quero ver aquele babaca sofrer até chegar a hora dele.
E mais lágrimas. Era o fim. Eu só queria sair daqui, o medo da Lua chorar ou resmungar era maior que o medo da morte. Proteger minha filha antes de tudo.
— O que é isso?
Barulhos de helicóptero soaram ao redor do prédio. Ricardo, meu amor.
— Como é possível? O que você fez sua vagabunda?
— Burro é você que pensou que Ricardo não nos acharia. — Forcei um riso em meio as lágrimas e ele apertou ainda mais meu braço. — Provavelmente o prédio já está todo cercado. É apenas questão de segundos até que cheguem até o meu apartamento.
Na verdade eu não sabia, mas Miguel não fazia ideia disso.
— Não, eu posso até não conseguir te levar comigo daqui, mas você não volta pra ele viva.
Arregalei meus olhos. Miguel colocou a arma sobre minha barriga.
— Pelo amor que um dia eu quis dar a você, vou te deixar esperando ele chegar e ver você morrendo sem poder te salvar. — Sorriu. — Vão poder se despedir, olha que legal. Eu sou um cara bom no fim das contas.
Respirei fundo, não sei como e fechei os olhos.
Um disparo. Não sei descrever a sensação exata. O zumbido em meus ouvidos. O pulsar acelerado do coração. Os olhos abrirem e sem piscar. Dor, muita dor.
Senti algo gelado em minha testa. Um beijo desse desgraçado assassino.
— Adeus, Liv, saiba que te amei mais que tudo. — E se foi por uma das janelas.
Coloquei as mãos sobre o local atingido. Sangue e mais sangue. Não conseguia chorar e nem me mexer. Só sentia tudo e nada ao mesmo tempo. A morte era isso então?
De repente, não sentia forças em minhas pernas. Caio de joelho. Agora sim, lágrimas voltam a jorrar em meu rosto. Caio mais uma vez e acabo deitada sobre o chão do meu apartamento.
Lá estava ela, sonolenta, embaixo da cama.
Boa menina, obrigada por ter sido forte e não ter feito nenhum barulho para chamar atenção daquele homem. Gostaria de te falar isso, porém minha voz não sai e não consigo me mexer para ir até você. Sinto muito, meu amor. Por tudo. Por não poder ver você crescer e nem te proteger dos perigos do mundo. Seu pai irá te achar, não se preocupe. Agradeço pela oportunidade de ter esse último momento, aqui, deitada nesse chão sangrando, mas olhando para você. Agora não existe mais dor. É apenas você e eu. Minha princesa, minha pequena Lua Beatriz. Eu te amo muito, agora eternamente.
E antes dos meus olhos se fecharem, tive o prazer de desfrutar um sorriso seu ao acordar.
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Em meio a lágrimas eu encerro essa história que escrevo a quase três anos. Agora caiu a ficha que realmente acabou e consegui finalmente terminar tudo o que planejei para o livro. Claro que sendo a primeira vez escrevendo eu possa futuramente revisar, apagar e acrescentar mais detalhes aos capítulos, mas, por enquanto fiquem com a primeira versão da história da vida de Olívia Menezes, minha primeira protagonista.
Agradeço a todos os comentários e feedbacks, foram todos essenciais durante todo o período. ❤️
Se gostaram do livro e puderem divulgar essa autora iniciante agradece demais da conta. ❤️
Um beijão e até o Epílogo!!!
❤️❤️❤️
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