CAPÍTULO VINTE
— A cada dia que passa eu me surpreendo mais com sua beleza, Olívia.
Ouço suas palavras assim que me aproximo do carro.
— Você está perfeita.
Ricardo segura minha mão e a beija mirando seu olhar no meu. Sorri sem conseguir disfarçar o rosto rosado.
— Você também está, Ricardo. — Digo quando o analisei de cima a baixo.
Ele usava uma camisa social branca que estava com o botão superior solto e levantada até os cotovelos. Seu peitoral musculoso estava bem marcado naquele pano claro. Sua calça era escura. O cabelo estava molhado, o corte valorizava ainda mais o seu rosto junto aquela barba. Ricardo parecia querer que eu perdesse o juízo completo. Ele é uma perdição de homem.
Corei mais ainda ao notar seu belo sorriso quando se deu conta da minha análise.
Ele abriu a porta para mim. Entro no carro e coloco o sinto de segurança. Ricardo se ajeita no banco ao lado e vira o carro para seguirmos na mão correta da rua.
Eu estava nas nuvens. Não conseguia tirar o sorriso do rosto. Esperei anos por esse momento com ele. Apesar de passar o caminho inteiro em silêncio, era o nosso silêncio. Um misto de nostalgia invadia meus pensamentos. Sempre foi assim o seu jeito de demonstrar querer estar comigo, perto de mim, mesmo que não dissesse uma única palavra.
Ricardo parou o carro em um estacionamento. Em seguida saímos dali. Ele procurou minha mão e caminhamos de mãos dadas até o elevador. Subimos alguns andares até que parou. Assim que a porta abriu, um homem fardado nos recepcionou.
— Bem-vindo, senhor Fernandes. Senhorita.
Cumprimentei o mesmo com um sorriso. Ricardo me guia entre as mesas espalhadas pelo salão. Chegamos a uma porta dupla de vidro que é aberta pelo mesmo homem que nos acompanhava. Ricardo reservou uma mesa do lado de fora.
Solto sua mão e caminho até chegar ao limite da sacada. Vidros laminados cercavam essa área livre. Podia ver as ruas da cidade, as casas, alguns edifícios. A lua no céu estava cheia e linda. O aroma de seu perfume invade minhas narinas. Ricardo me abraça por trás ainda em silêncio.
— Eu amei, Ric.
Ele joga meu cabelo para um dos meus ombros e inala meu perfume. O ouço suspirar. Um arrepio percorreu todo meu corpo. Fico feliz em perceber que não sou só eu que gosto do seu cheiro.
— Vem, vamos comer.
Ricardo me guiou até a cadeira. Ele se senta de frente pra mim. Eu mal podia controlar as borboletas que dançavam frenéticas em minha barriga. Ele era tão lindo.
— Você tem alergia há algum alimento?
— Não. Pelo menos não até agora.
— Espero que aprecie tudo esta noite tanto quanto eu. — Ele pega a minha mão.
— Está tudo perfeito, eu custo a acreditar que é real. Que estamos juntos de verdade.
— Eu sempre soube... — ele diz com sua linda voz grave. — Desde que coloquei meus olhos em você, mesmo criança, sempre tivemos uma troca de sentimentos que não era igual com mais ninguém. Você sempre foi tão linda, e bagunceira. Não ligava para os perigos, corria pelo castelo inteiro sem medo de cair ou se machucar. Eu não conseguia deixar você. Sempre quis estar perto caso precisasse. Sua mãe perdeu a paciência muitas vezes quando nos escondiamos dela.
— Eu não me lembro muito dessa época. — Ricardo sorri pra mim.
— Você era muito pequena pra conseguir lembrar agora. O que importa é que mesmo com todas essas distâncias nosso sentimento permaneceu. Eu que custo a crer que você finalmente me aceitou.
Ricardo beija minha mão. Após isso, vira a mesma e deposita uma caixinha preta sobre ela. Paraliso. Ele está com um sorriso de orelha a orelha quando abre a caixa. Um anel dourado se destaca.
— Olivia Menezes, você quer namorar comigo?
Meus olhos enchem de lágrimas involuntariamente. Isso está acontecendo mesmo com a gente?
— Sim. Sim, meu amor.
Levanto sem pensar e me aproximo dele o suficiente pra tomar seus lábios. Ricardo também se levanta e abraça minha cintura. Sorrimos durante o beijo.
Ele coloca o anel em meu dedo assim que nos separamos. Outro beijo, nosso compromisso estava finalmente confirmado. Meu Deus, como eu gosto dele.
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— Como vamos falar para as pessoas, Ricardo?
Pergunto enquanto mexo na refeição com um talher.
— Falando, ué. — Ele estava tão relaxado. Suas feições não estavam calmas nos últimos dias.
— Se fosse tão simples assim. — Eu nunca me relacionei com ninguém, apesar de já ter vinte anos. — Meu pai nem imagina.
— É só dizer, amor, como um comunicado.
Amor. Ele me chamou de amor. Não controlo o sorriso que estampa minha face. Eu estou ferrada de tão iludida.
— Acho que ninguém esperava nós dois juntos. Somos tão diferentes.
— A minha mãe também sempre soube. — Ele diz tranquilo. — Ela ficou uma fera comigo quando descobriu que eu não falava com você. — Sua revelação me deixa eufórica. — Clarisse ama você.
— Eu a amo também. Nossa, agora ela é minha sogra.
Jantamos em um clima agradável. Os assuntos surgiam um atrás do outro como nunca houve entre nós. Parecíamos conectados.
Dentro do carro Ricardo transmitia uma tranquilidade que amolecia cada vez mais meu coração. Estamos namorando, de verdade.
Uma buzina chama nossa atenção quando paramos no sinal vermelho. Ricardo baixou o vidro. Pude ver Bianca no outro carro, acho que vi Paulo no banco do motorista. Eles estavam indo para uma festa, decidimos ir também quando nos chamaram.
Chegamos a uma boate depois de alguns minutos na pista. As festas que estou acostumada sempre foram os eventos de Clarisse ou alguma comemoração de aniversário de amigos. Nada como entrar em um lugar desses.
Ricardo segura minha mão enquanto me guia entre as pessoas. Havia muita gente dançando no ritmo da música alta que tocava. Pude ver as bancadas com as bebidas, mas seguimos pelo caminho oposto.
Subimos uma escada que deu acesso ao camarote. Tinha menos pessoas circulando por aqui e todos pareciam conhecidos deles.
— Vem, Olivia. Vamos dançar.
Bianca puxou meu braço me afastando do meu namorado. Ele me olha, mas não diz nada. Bianca se solta ao meu lado acompanhando as batidas da música. Eu confesso, a tempos que não dançava, o luto não me permitia. Aos poucos consegui me animar e fazer par com ela.
— Acho que estou passando vergonha aqui, Bianca.
— Deixa disso, amiga. Você arrasa.
Ela me incentivava a me mexer e admito que gostei de me sentir viva dessa maneira. Bianca pediu drinks para nós duas. Neguei a princípio já que não costumo beber, contudo acho que a adrenalina subiu minha cabeça. Bebi a mini taça de uma vez só.
— Vai com calma aí, princesa, porque não quero receber reclamação por isso. — A ouço gargalhar. A bebida desceu queimando em minha garganta. Após alguns segundos tudo pareceu melhorar de zero a dez.
Pedi outra taça. Eu estava feliz demais, resolvi aproveitar o melhor que podia daquele dia que foi perfeito. Puxei Bianca para a pista de dança e me diverti como há tempos não fazia.
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Uma mão na minha cintura me faz parar de dançar. Olho por cima do ombro e vejo meu namorado com uma cara nem um pouco amigável.
— Você bebeu, Olívia? — Mordi os lábios quando senti um tremor leve em minha barriga. Balanço a cabeça. — Não posso tirar os olhos de você por meia hora que já apronta.
Ricardo fala rouco em meu ouvido por conta da música alta. Ele cheira meus cabelos.
— O que você tomou, anjo? Não está bêbada, está?
— Eu não sei, amor. A Bianca que me ofereceu. — Bianca já não estava mais por perto. Nem percebi quando ela saiu.
Volto a dançar ainda com sua mão presa a minha cintura. Ricardo me aperta junto ao seu corpo e acompanha meus movimentos.
— Dá um desconto vai, essa noite é para se comemorar.
Falei em um tom que ele escutasse mesmo com o barulho em volta.
— Se você está feliz, não tem problema. É só não exagerar.
Mal sabia ele que eu já estava sob efeito do álcool. Estava começando a ficar zonza, então parei de dançar. Um mal estar subiu pela garganta. Ele me fitou sério.
— Quantos copos você bebeu, Olívia? — Apertei os olhos tentando lembrar.
— Não sei, amor. Uns cinco...ou foram seis? Não contei, Ric. Ai, minha cabeça.
As luzes coloridas piscavam sem parar. Minha mente rodopiava.
— Vem, vamos embora.
Meu namorado me arrastou dali até seu carro. Se passamos por nossos amigos nem reparei, eu estava muito tonta. É, Olívia, ficar bêbada não está na lista de prioridades.
— Por que está tão silencioso aqui? — perguntei a ele. — Você tem alguma música? — Ricardo continuava a dirigir em silêncio. — Por favor, amor, eu quero cantar, liga o som, por favorzinho.
Implorei com as mãos juntas. Eu estava elétrica. Meu namorado que parece ser mudo ligou o som do carro. Uma banda estrangeira começou a tocar.
— Eu não conheço isso.
— Pois deveria, música boa de verdade quase ninguém gosta.
Comecei a pular todas as músicas, até encontrar o que parecia ser MPB. Cantei todas que sabia até que chegamos a minha casa.
— Liv, você precisa descer.
Eu me sentia confusa. Ricardo tirou o meu sinto de segurança e me puxou para fora do carro.
— Espera, espera! — Puxei sua camisa me aproximando. — Eu não quero entrar agora. Fica comigo um pouco.
Ele me olha de cima.
— Já está tarde, Liv. Você precisa ir. Amanhã nos vemos, sim? — subi minhas mãos até seu rosto. — O que está fazendo, mulher?
— Quero aproveitar você.
Me joguei em sua boca roubando um beijo que logo foi aceito. Beijar Ricardo está se tornando meu maior vício.
— Mas o que significa isso?
Alguém grita perto de nós. Ricardo rapidamente afasta seu rosto, mas mantém as mãos em mim.
— Estou beijando meu namorado, ué. — Respondi como se fosse nada.
— Seu o que? — Reconheço meu pai assim que se aproximou. — O que significa isso, Olivia?
Antes que eu possa falar qualquer coisa, Ricardo ergue a voz.
— Senhor, eu a pedi em namoro e ela aceitou. Sinto muito que saiba assim, Olívia pretendia conversar com você.
Eu gargalhei.
— Pretendia, mas como falar do nada que estou namorado para o meu pai. Ele não vai entender nada.
— Por que está falando assim, Olívia?
— Depois que jantamos, saímos com alguns amigos, ela não está cem por cento consciente agora.
Papai olhava furioso para Ricardo. Eita, acho que ele não gostou.
— Vamos, mocinha. Amanhã quando estiver sóbria você vai me ouvir.
Ele pega no meu braço e me arrasta dali até o meu quarto. Nem pude me despedir direito do meu namorado lindo e gostoso. Já sinto saudades dele.
Papai mandou eu tomar banho e ir dormir. O banho frio pareceu tirar toda aquela adrenalina que meu corpo sentia, e assim que visto meu pijama apaguei na cama.
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Na manhã seguinte custei para abrir os olhos. As janelas estavam sem as cortinas e a luz do sol brilhava na minha cara. A cabeça estava latejando. A garganta seca. Droga, Olívia, sua primeira ressaca da vida.
Corro para o banheiro e vomito horrores dentro do sanitário. Que gosto amargo, minhas mãos tremiam. Deus, não quero morrer hoje.
Me afasto do vaso e encosto na parede com os olhos fechados. Eu estava um nojo. Tento me lembrar do porquê estou tão destruída. Me lembro de ir aquele hotel, depois a boate, de dançar, e, merda, eu bebi muito.
Me levantei lentamente e tirei a roupa. Após o banho, escovei os dentes algumas vezes para tirar aquele sabor do pecado da boca.
Visto uma roupa leve e desço para a cozinha. Papai estava tomando café da manhã. Olho para o relógio do micro-ondas, franzi o cenho. Por que ele ainda estava aqui?
— Bom dia! — minha voz saiu como um sussurro. Papai estava sério, poucas vezes na minha vida o vi assim. Flashs de ontem a noite invadem minha cabeça. Droga, ele me viu bêbada. Onde posso me esconder? — Você está muito bravo? — perguntei baixo. Ele respira fundo.
— Bravo não, magoado. Você nunca foi disso, filha. Chegar bêbada e ainda com um homem de madrugada. É muita informação junta para absorver.
— Sinto muito, pai. Eu já estou arrependida. Minha cabeça dói muito.
Papai se levanta e me traz o remédio para enxaqueca. Bebo a água que ele também trouxe.
— Quando você estiver se sentindo bem a gente conversa sobre essa história de namorar Ricardo Fernandes.
Balanço a cabeça positivamente, meus pais sempre foram compreensíveis. Não posso questionar a educação que tive, não poderia ser melhor.
Comi algumas frutas, pois foram as únicas coisas que meu estômago não rugiu. E assim que terminei fui para a sala me esticar no sofá. Coloquei a série que não via há meses na netflix e passei o restante da manhã.
Depois do almoço papai saiu para resolver algum assunto e me deixou sozinha. Isso já era a minha rotina de anos, mas hoje eu estava triste, podia ver a decepção no rosto do meu pai pela minha atitude de ontem, não tirava a culpa das costas.
A campainha toca. Penso se era mesmo necessário me levantar e ir abrir. Podia simplesmente fingir que não estou aqui. Um anjinho pareceu pousar no meu ombro mandando eu levantar. Resmunguei e fui até a porta. Era Ricardo e Bianca.
— Oi — minha voz ainda não tinha voltado ao normal. — Amiga — Bianca me abraça quando fiz sinal para entrarem.
— Fiquei preocupada quando Ricardo disse o que aconteceu, me desculpe.
— Eu estou bem, e não foi sua culpa eu que surtei e bebi que nem louca sem costume algum. — Quando Bianca se afasta, Ricardo caminhava em passos lentos até mim. — Oi, Ric — mordi os lábios nervosa.
Ele estaria magoado também? Não lembro de muita coisa detalhada que aconteceu ontem. Ricardo me envolve em seus braços e me beija calmamente. De olhos fechados aprecio a sensação que me fascina.
— Está bem mesmo? — balanço a cabeça. — E meu sogro te deu bronca? Preciso conversar com ele sobre minhas intenções.
Eu ri alto.
— Suas intenções? Que século você está, amor? — perguntei risonha. Ele sorri também.
— Seu pai não deve tá olhando com bons olhos nosso namoro depois de ontem. Mal começamos e já te trouxe bêbada pra casa. — Ricardo diz.
— Pode falar que foi eu que te obriguei, Olívia. — Sugere Bianca.
— Vocês dois juntos conseguem ser mais preocupados que eu. — Conclui. — Respirem, está tudo bem. Mais tarde vou conversar com papai. Acho que ele só estranhou por eu nunca ter agido assim na adolescência e depois veio o luto. Sei que ele vai entender.
Eu realmente pensava que era verdade. Sempre fui a filha perfeita, obediente, com boas notas. O máximo de rebeldia que fiz na vida foi ser contra as mudanças de cidade na infância, porque de resto, nunca dei trabalho aos meus pais como a maior parte dos filhos dão. Preferia receber elogios por ser assim do que pela minha aparência.
Fomos para sala, Ricardo sentou comigo no sofá e Bianca na poltrona do outro lado. Conversamos sobre algumas coisas que eu não estava por dentro que aconteceram, aliás, Bianca e eu. Ricardo e seu jeito sério e de poucas palavras não fez mais que poucos comentários. Por exemplo, quando disse que estava quase concluindo o curso de ciências contábeis, logo será sua formatura. Ele já trabalha na empresa por ser da família, agora Ricardo irá se especializar, pois a fortuna dos Fernandes ficará como sua responsabilidade no futuro.
Uma luz acende em minha cabeça. Somos namorados, Ricardo quer conversar com papai sobre suas intenções sérias comigo, isso quer dizer que...um dia vamos nos casar?
Respira fundo, Olívia. É o que casais fazem, não é?
Sim, no entanto, vai demorar séculos para isso acontecer e se acontecer. Meu Deus, eu comecei a namorar não tem nem vinte e quatro horas e já me apavorei com a probabilidade de casamento. Ás vezes eu gostaria de ser uma pessoa normal.
Quando eles foram embora subi para o meu quarto e me joguei na cama. Meu corpo todo doía, e aquela sensação de mente conturbada ainda permanecia.
As coisas parecem estar se normalizando, depois de dois anos vivendo no automático estou conseguindo aproveitar os dias. Preciso me programar e ter uma rotina séria. Meus amigos seguiram suas vidas, estão estudando, trabalhando, tenho que resolver o que farei com a minha vida. Minha mãe infelizmente não está ao meu lado, e não faço ideia até quando terei meu pai e tia comigo. É necessário um plano para não ficar sozinha e nem desempregada. Em meio a incertezas do futuro, apaguei.
— Acalme-se, meu anjinho. Prometo que amanhã você verá ele de novo.
A criança estava com os olhos cheios de lágrimas e com os braços cruzados.
— Vem, filha. — A jovem mulher pega a menina no colo. — A mamãe precisava mesmo vim embora. Agora dá um abraço. — A pequenina a abraçou forte. — Isso, meu amor. A mamãe te ama muito e te amará para sempre.
Estava acostumada a ter lembranças conectadas a Ricardo Fernandes aos meus sonhos. Sorri ao recordar desse momento de anos atrás.
Eu podia me ver, menor e com o cabelo assanhado, vestida em um minivestido roxo e com as sandálias cheia de nós, sob o olhar amoroso da minha então falecida mãe. Ouvir a sua voz mesmo que em sonho, já tirava todas as minhas preocupações.
— Sinto sua falta. — Meus olhos estavam iguais ao meu eu mais novo. — Quero te abraçar de novo, mãezinha.
Ela sorri para mim como se eu fosse a joia mais bonita que existe. Após isso, seu corpo foi ficando cada vez mais brilhante até sumir do meu campo de visão. Me lembrando que ela não era real, eu apenas estava sonhando. Um lindo e maravilhoso sonho.
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Leitores, lindos, o que acharam? ❤️
Ricardo está bem diferente notaram? Muitas gente está se surpreendendo com ele.
E esse lado da Olívia? O pai dela coitado não entendeu nada.😂❤️
Votem e comentem muito, Aguardando as críticas.❤️
Beijos e até o próximo capítulo!!!
❤️❤️❤️
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