CAPÍTULO TREZE
Durante o almoço eu não disse uma palavra sequer, estava magoada demais. Tudo se resolveria se eu ficasse aqui com minha tia, garanto que ela não se importaria. Enfim, isso é uma droga.
— Ricardo me chamou para ir ao campo. — Não soou como um pedido, mas como uma afirmação. Que seja.
— Pode ir. — Mamãe só diz isso.
Quando Ricardo estaciona o carro, abro a porta e me sento ao seu lado.
— Pensei que iríamos com o motorista.
Ele solta um riso.
— Tem medo de sair sozinha comigo, Olívia?
— Claro. Se acontecer algo e precisarmos de ajuda, esqueceu daquela sua aventura perigosa?
— Está bem, você tem um argumento.
O tempo estava limpo, é até raro ver o céu sem alguma nuvem.
— Não vamos demorar. Tenho coisas para fazer mais tarde.
Falamos pouco enquanto Ricardo dirigia. Minha mente transbordava de informações. Memórias recentes e antigas, o que eu deixarei para trás em Canobra.
Fecho os olhos e respiro fundo.
Não quero chorar perto dele. Não sei se foi pela nossa amizade antiga, mas sinto coisas fortes por Ricardo. Sentimentos que quase me sufocam só em pensar em me afastar.
Olho para ele. Todo sério, com uma mão no volante e a outra largada de forma aleatória. Me acostumei com seus silêncios. Ricardo só com um olhar me faz sentir importante, importante para ele. E o corpo não mente. Prefiro acreditar nisso.
— O que tanto pensa? — Ele não virou o rosto, porém sempre sabe quando estou o fitando.
— Em como estou feliz aqui, nessa cidade. — Volto meu olhar para a estrada. — Faz tempo que não penso nisso. Em como aproveitar minha vida aqui nesse lugar. — Ricardo olha-me quando percebe meu tom de voz entristecido.
— Aconteceu alguma coisa?
Não respondo sua pergunta no momento. Falar é algo tão simples, mas meu coração parece estar me esmagando. O carro está parado. Só percebi porque Ricardo abre a porta para que eu desça. Seguro em sua mão e sinto uma carga elétrica sair do meu corpo.
— Estou ficando preocupado, Liv. Você comeu antes de sair?
Balanço a cabeça.
— Também tenho algo a dizer, Ric. Mas, não tenho coragem. Não pergunte o porquê.
Ele resmunga algo e passeia sua mão no cabelo.
— Vou te levar aos tapetes dourados como prometi.
Caminhamos até uma cabana próxima ao Rio Dourado. Ricardo conversou com um homem um pouco mais velho que não fez muitas perguntas. Ele sempre vinha para cá então não demorou muito para nos levarem até uma canoa. Atravessamos o rio em alguns minutos. Meus olhos lacrimejaram. Aqui tudo é tão bonito. O reflexo da paisagem na água daria um excelente quadro, trabalharia nisso mais tarde. Jamais quero esquecer algo tão belo e natural.
Deixamos a canoa, porém antes disso, o homem entregou a Ricardo um aparelho para comunicação caso precisasse voltar antes do tempo estimado.
Começamos a trilha que daria para a árvore que deu origem a Canobra. Essa árvore é contada como lenda pela minha família. Depois do que pareceu séculos subindo aquela montanha, demos de cara com algo surreal. Fiquei paralisada ali analisando tamanha obra da mãe-natureza.
— Seu nome popular é Canafístula. Tem pouco mais de 110 anos. Tribos que viviam aqui tiveram os primeiros cuidados com a região. Depois das revoluções a urbanização veio acelerada e viram na madeira um potencial para vários setores econômicos. Então isso deu a base para o desenvolvimento da Cidade Dourada.
Eu escutei mais de uma vez toda a história de Canobra. Mas, ouvi-la aqui, tem um ar de magia. Ricardo estende sua mão direita para mim. Seguro-a. Ele me guia até ficarmos sob a árvore. Me sinto como uma formiga da menor espécie que existe. Essa árvore tem mais de 30 metros de altura. Ricardo me olhava com um brilho nos olhos. Algo estremece em minha barriga e a vergonha estampa minha face.
— Não olha assim para mim.
Solto sua mão e viro-me de costas para ele.
— Assim como, Liv?
Droga. Inspirei tentando acalmar meus batimentos. Olívia, lembre-se, seu amigo que está contigo.
Ele anda até parar em minha frente.
— Precisamos conversar. — Sussurra. — Preciso que olhe para mim.
Daí percebo que tinha fechado os olhos.
— Você sabe que sempre foi importante para mim. Desde o momento que te vi pela primeira vez, quando nem ainda ficava de pé sozinha eu te enxergava como algo raro. Te reencontrar depois de anos me fez pensar sobre muitas coisas. O que eu quero conquistar na vida e o que realmente importa para mim. — Ouço sua respiração forte. Ele estava corado. E parecia suar. — Aquilo que eu vi no seu aniversário me deixou transtornado. Admito. No início eu pensei que fosse por querer te proteger como sempre fazia. Mas, no fundo, eu já sabia que não era mais apenas isso...
Meus olhos se arregalam. Ricardo também estava se declarando para mim?
— Ric, eu...
— Eu amo você, Olívia Menezes, com todo o meu coração. Sempre te amei. Me desculpa por ser babaca às vezes, mas eu precisava te dizer isso. Acho que não aguentaria esconder por mais tempo.
Não consegui formular palavras para responde-lo. Diferente da situação com Miguel que eu fugi, com Ricardo meu coração parecia liberto e que esperava por isso. Eu também o amo? Isso minha mente gritava. Explicaria porque meus sentimentos iam do zero ao cem tão rapidamente quando se tratava de Ricardo Fernandes.
— Não preciso que me diga nada.
— Ric, eu...eu quero te dizer. — Respiro fundo. — Achei que tivesse compromisso com a Angelica.
— O quê? De onde tirou isso? — Ele parecia surpreso. — Ela é a irmã mais nova do Charles, meu melhor amigo e segurança. Ela anda comigo, mas é só isso.
Ricardo passa as mãos no cabelo novamente. Em um ato ligeiro levo as minhas mãos até sua face. Ele franze a testa, porém não reclama. Quando eu toco em seu cabelo o vejo fechar os olhos. Não nego que as vezes pensava qual era a sensação. Sempre pareciam macios de tanto ele mexer. E realmente eram, meus dedos deslizavam facilmente. Tiro minhas mãos rápido. Por que eu fiz isso? Já entendi finalmente os meus sentimentos, mas agora não importa mais, irei mudar novamente e terei de esquece-lo.
Ricardo segura minha nuca e antes que eu pudesse sentir a proximidade entre nós, seus lábios tocam os meus. Ninguém nunca havia me beijado antes. Ele sabia. Meus altos batimentos confirmavam meu nervosismo. Porém nada acontecia.
Ricardo estava parado. Esperando minha permissão? Deus, eu quero muito ser beijada por ele. Abro minha boca levemente e no segundo seguinte uma sensação nova toma conta do meu corpo. Nos beijamos. Calmamente. Uma, duas, três vezes. Não fazia ideia se estava fazendo certo ou não. Mas ele dava leves sorrisos entre uma pausa e outra. Que frio na barriga. Não havia outro lugar que eu quisesse estar senão aqui com ele. Isso me traz de volta a realidade. Me afasto dele.
Respirei fundo e sentei-me em um tronco caído.
— Meu pai recebeu outro chamado, vamos embora semana que vêm. — Não consegui olha-lo. Meu rosto já estava encharcado com lágrimas silenciosas. — Eu também amo você, Ric. Acho que sempre amei só não quis admitir tamanho absurdo. — Ele estava mudo. — Mas agora não importa, terei que esquecer tudo o que sinto porque vou estar longe. Você também.
— Caralho. Isso é uma merda. — Ricardo andava de um lado para o outro. —Droga, Liv.
Encaro seu rosto. Poderia jurar que vi lágrimas em seus olhos.
Ele senta ao meu lado. Mexe em meus cabelos.
— Você é tão linda, anjo. Sempre foi.
Beija-me novamente. Eu poderia ficar horas assim, em seus braços. Ele estava abatido, sabia que não podia fazer nada para me manter aqui em Canobra. Enfim, é mesmo uma droga.
— Presta atenção, Olívia. Jamais esquecerei tudo o que eu sinto por você. Tentei antes e falhei. Agora que sei que é recíproco não tem a menor possibilidade. — Ricardo pousa as mãos em meu rosto. Encaro a profundidade em seus olhos. — Você vai embora, mas não quer dizer que nunca voltará. Esperarei sempre pelo dia em que possa finalmente te amar.
Não evitei as lágrimas. Era mesmo Ricardo a me dizer tantas coisas bonitas?
— Ric, eu... — parei para secar o rosto com as palmas das mãos. — Nunca pensei que fosse assim. Você sempre todo fechado, com poucas palavras. Aparenta não ser nada romântico. E olha só isso
— Eu sei. O que o amor não faz com as pessoas, anjo? — Ele sorriu para mim.
Acho que nunca havia visto Ricardo tão belo como agora. Estou mesmo apaixonada por ele, Deus.
O aparelho que o homem entregou a Ricardo começou um barulho. Em seguida saímos do paraíso e voltamos para a canoa. Dentro do carro não trocamos uma palavra sequer. A magia dourada pareceu desaparecer assim que deixamos o campo. Ricardo estava sério mirando a estrada. Eu não estava diferente. Não chorei mais, porém meu rosto mostrava claramente a tristeza que partia meu peito. Inspiro profundamente tentando ter clareza nos pensamentos.
Agora é só questão de tempo, quando cheguei em casa as tão conhecidas caixas de papelão enfeitavam a sala. Já haviam começado a encaixotar tudo. Não disse nada, peguei algumas e subi para o quarto que já não seria meu. Roupas por último. Comecei tirando objetos decorativos da mesa e das paredes. Sapatos, cobertores, os materiais escolares. Já não iria mais ao Colégio. Lágrimas escorrem mais uma vez. Quase não converso com Júlia ou Pedro. Vou sentir tanta saudade das gêmeas e Dalila. Até do Paulo com suas brincadeiras bestas.
Os dias passaram depressa. Eu já estava de partida. Pedi que meus amigos viessem se despedir de mim ontem à noite. Essa cidade que sempre foi tão alegre para mim, hoje parecia sombria. Sentia como se minha tristeza estivesse por todos os lados. E algo no meu coração e no fundo da minha mente sussurrava o tempo inteiro que deixar essa cidade era a pior coisa que eu já havia feito.
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Então, leitores, o que acharam do último capítulo dessa primeira parte da vida da Olívia?
E essa declaração, hein? A autora está fazendo os pombinhos sofrerem muito?
Conto com vocês para acompanharem a parte dois do livro, espero que gostem.
Não esqueçam dos votos, ok? Essa autora iniciante agradece desde já. Um beijão e até o próximo capítulo.
❤️❤️❤️
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