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6. Entre o Tempo e a Escuridão


A notícia caiu como um meteoro devastador, queimando todas as expectativas e esperanças em seu caminho. A bata branca do médico parecia mais imaculada e cruel sob a luz fria do quarto enquanto sentenciava:

— Infelizmente, houve complicações durante a cirurgia e Helena perdeu a visão.

A mente de Lucia parecia estar em outro lugar, uma dimensão onde essa terrível notícia era apenas uma mera fantasia. Seu rosto ficou branco como um fantasma, a expressão de incredulidade lentamente se transformando em desespero. Roberto estava parado em um canto do quarto como uma estátua. Seus olhos pareciam vazios. As mãos, geralmente calmas e seguras, estavam apertadas em punhos ao lado do corpo.

Foi ele quem havia insistido para a família se mudar para a nova cidade, atraído pela expectativa de uma vida melhor e uma oportunidade de negócio. Foi ele quem persuadiu Helena a trabalhar na loja de conveniência, querendo ensinar-lhe a responsabilidade e a ética do trabalho. Agora, essas decisões pareciam ter levado à condição de sua filha, enchendo-o de culpa.

Lúcia e Roberto haviam passado a vida inteira protegendo Helena, tentando proporcionar a ela todas as oportunidades e felicidades possíveis. Mas agora, eles se sentiam impotentes, seus sonhos e aspirações para a filha desmoronando diante de seus olhos.

— Helena, essa notícia deve ser assustadora. Mas você não está sozinha nisso. Vamos te ajudar a se adaptar. — O médico tentou tranquilizar.

Silencioso, Arthur permanecia ao lado dela. Parecia forte por fora, no entanto, estava tão abalado quanto todos os outros.

Lúcia segurou a mão da jovem, os olhos lacrimejantes. — Não pode ser... Ela... ela não merece...

— Sei que é muito difícil de aceitar agora. Mas Helena tem uma grande rede de apoio aqui, e temos recursos que podem...

— Recursos? — Roberto indignou-se — Nós confiamos a você a vida de nossa filha... e agora ela está cega!

— Sr. Roberto. As cirurgias têm riscos. Fizemos todo o possível para prevenir complicações, mas nem sempre conseguimos prever tudo.

Roberto sentiu a mão de Lúcia tocar seu braço.

— Eu... realmente espero que fiquem bem, mas vamos fazer o nosso melhor. — O médico ajeitou sua máscara. — Agora, vou deixá-los para processar tudo isso. Tenho outros pacientes para atender, mas se precisarem de algo, por favor, chamem a enfermeira. Estarei de volta assim que puder para conversar mais.

Quando o médico se retirou, Roberto se sentou em uma cadeira próxima ao corpo de Helena, seus olhos se prenderam na filha. Ele colocou a mão no rosto dela, mas o gesto parecia inútil diante da montanha que teriam que escalar.

— Filha... eu sinto muito.

Helena não respondeu. Seu rosto sem cor, ainda processava tudo. Sua ausência de palavras, de alguma forma, parecia mais doloroso que qualquer palavra que pudesse dizer.

— Eu deveria ter... — Roberto sentiu um aperto no peito. As palavras que queria dizer pareciam presas no remorso.

Perdido em seu arrependimento, Roberto se levantou da cadeira. A sala parecia estar girando em torno dele. Não conseguia suportar o silêncio ensurdecedor de sua filha, sua incapacidade de confortá-la. Estava se afogando na própria culpa. Então deu um passo em direção à porta, um ato que parecia exigir toda a força que lhe restava.

— Pa... pai. — Helena falou na quietude, trêmula e incerta. Ela estendeu a mão em direção ao vazio, buscando a presença que estava prestes a se afastar.

Roberto parou, mão na maçaneta da porta. A chamada de Helena perfurou o coração dele, e uma memória invadiu sua mente, de Helena pequena, com os cabelos cacheados e os olhos radiantes chamando por ele: "Papai, olha!" Sempre seguido de um desenho novo, ou uma dança que ela havia inventado. Aquelas lembranças pareciam uma vida atrás.

— Pai... — ela chamou outra vez, a voz baixinha. No entanto, ele não se virou, não conseguiu encarar a filha. Em vez disso, ele puxou a porta, ouviu-se o clique do trinco, e saiu, deixando Helena para trás.

Lúcia assistiu, paralisada. Sua angústia, porém, foi distraída pela mão de Helena, ainda estendida no vazio, chamando por um pai que já não estava mais lá. Ela rapidamente segurou a mão da filha, esforçando-se para dar conforto, mesmo estando despedaçada.

Soltando o ar dos pulmões, Lucia apertou a mão da filha. — Vou voltar, minha querida — prometeu, seu choro preso. — Só vou... só vou ver como seu pai está.

Ela se levantou, olhando Arthur, que permaneceu bastião ao lado da cama e com um aceno, ela os deixou.

Assim que a porta se fechou, um desconforto instalou-se, intensificando-se quando uma lágrima de Helena escorreu.

— Ei, Lê... Você quer conversar sobre isso?

A jovem virou o rosto em direção à voz dele, enquanto os traços vazios davam lugar a tristeza.

— Não sei se quero — admitiu ela.

Ficaram um tempo sem dialogar, até que Arthur teve uma ideia.

— Lembra do livro que você me deu? Eu o trouxe aqui comigo.

— E de que adianta agora?

— Talvez eu pudesse ler para você, se você quisesse.

Arthur esperou sua resposta, quando finalmente falou, sua voz era tão suave que quase se perdeu na quietude do quarto.

— Acho que... eu quero sim.

Um calor leve, quase imperceptível, se espalhou pelo peito dele.

— Ótimo! Você lembra onde parou?

— Talvez tenha sido... no capítulo 7... "Marés de Mistério". Não tenho certeza.

Arthur folheou as páginas até o Capítulo 7, limpou a garganta e começou a ler em voz alta:

"— A lanterna de Archie iluminava o convés do navio naufragado, seus raios de luz penetrando na escuridão do abismo. As madeiras estavam cobertas de algas e moluscos. Eles estavam prestes a entrar no coração do navio, no grande salão onde esperavam encontrar as respostas para o mistério..."

Ele parou e perguntou: — Esse é o capítulo certo?

— Sim, é esse mesmo — confirmou ela com uma pitada de entusiasmo.

— Beleza, então vou continuar — Arthur retomou a leitura:

"— Archie e o grupo de exploradores avançaram cautelosos. De repente, uma sombra se moveu à luz da lanterna, fazendo enroscar o suspense. Mas Archie manteve a calma. Ele sabia que o medo poderia ser tão paralisante quanto qualquer perigo real.

Se aventurando mais fundo no navio, ficava evidente que ali, havia um enigma à espera de ser desvendado. Archie sentiu-se responsável de descobrir a verdade e trazer luz ao mistério do abismo."

Arthur era cuidadoso na pronuncia. A história tentava oferecer a Helena uma nova maneira de enxergar o mundo através do poder das palavras. A leitura terminou com a equipe de exploradores encontrando uma porta misteriosa trancada no fundo do navio.

O som do livro fechando trouxe Helena de volta à realidade, e por um instante, ela parecia perdida em reflexões. A história havia mexido com ela, e Arthur pôde ver uma mudança sutil em sua expressão, como se algo dentro dela tivesse se movido.

— Obrigada, Arthur.

Ele deu um sorriso amigável, mantendo um olhar compassivo.

— Eu... eu queria pedir desculpas — disse ela. — Sinto muito por não ter respondido às suas mensagens.

— Não precisa pedir desculpas. Sei que a loja estava te ocupando muito.

— Não é só isso — Helena admitiu. — Não é só a loja, ou a mudança, ou... ou isso. — Ela fez uma pausa, como se estivesse reunindo a coragem para continuar.

— Eu sinto... sinto como se tivesse perdido alguma coisa, como se uma parte de mim estivesse desaparecendo, e eu... eu não consigo encontrar de volta. E eu me sentia assim mesmo antes de... de ficar cega. E isso me assusta, Arthur. Isso me assusta tanto.

Ela tremeu a respiração, a fala querendo se derramar dela como água de uma comporta que foi subitamente aberta. — Eu sinto como se estivesse perdida sem saber como voltar para casa... eu costumava ter sonhos, sabe? Sonhos sobre o que eu queria fazer, quem eu queria ser. E agora... agora, eu nem sei mais quem sou. Tudo que sei é que estou com medo.

Tais palavras gotejavam com um peso insuportável, sua voz oscilando de maneira quase inaudível. E então, como um dique rompendo, Helena começou a chorar. Eram lágrimas discretas, mas intensas, nascidas da dor que estava sentindo.

Ela abaixou a cabeça, os soluços sacudindo seu corpo enquanto as lágrimas escorriam. Seu choro enchia a sala, um som de quebrar o coração que parecia capturar toda sua dor e medo. Não era mais possível para Arthur suportar ver Helena daquele jeito.

Em silêncio, Arthur alcançou sua mochila, tateando a caixa acolchoada em seu interior. Os dedos se dobraram, e ele a retirou, a elegante ampulheta. Ele a admirou enquanto as frases do seu avô ainda pairavam em sua consciência. A insistência do ancião para que o curso natural do tempo fosse respeitado, a urgência com que ele advertiu contra a banalização de tal força poderosa como o tempo.

Mas ele tinha que tentar.

Seu estômago revirou um pouco antes de girar a ampulheta. E então, a areia começou a cair, com cada grão parecendo levar consigo um momento do tempo presente. À medida que a areia escorria, o coração de Arthur batia acelerado, um toc pulsante de ansiedade abafado em seus ouvidos. Ele fechou os olhos, um destino específico começou a formar-se em sua mente, um ponto na linha temporal para o qual ele ansiava retornar.

A sala de hospital começou a se dissolver ao seu redor, os sons e cheiros presentes se dissipando. Uma onda de energia percorreu o seu corpo, fazendo-o tremer. Era como se ele estivesse sendo puxado de seu próprio corpo, arrastado para uma correnteza invisível e poderosa.

Os segundos pareciam se estender em horas, o mundo ao seu redor girando em um borrão indistinguível de cores e luzes. Ele se sentiu flutuando, como se estivesse suspenso em uma tempestade de tempo e espaço. Foi uma experiência desorientadora e ao mesmo tempo emocionante.

E então, tão abruptamente quanto começou, tudo parou. Ele sentiu o chão firme sob seus pés novamente e o mundo à sua volta gradualmente ganhou foco. Estava de volta ao farol de Orla dos Ventos, mais uma vez naquela cena memorável.

— Eu tenho uma notícia para te dar, e não sei como dizer isso sem que pareça um golpe baixo. Mas, por favor, saiba que isso não muda em nada o quanto você é importante para...

Arthur interrompeu-a, indo direto ao ponto:

— Você vai se mudar para a cidade de Vila Nova, eu sei.

Helena piscou surpresa, enquanto seus olhos enxergavam o artefato que Arthur de repente tinha em mãos.

— Como... Como você sabe disso? E o que é isso que você está segurando?

— Helena, preciso que você me escute. Muita coisa vai acontecer... na sua festa de despedida, meu avô... ele... ele não estará mais entre nós — Ela arregalou os olhos, mas Arthur levantou a mão, pedindo que ela o deixasse continuar. — E depois... eu vou encontrar algo. Uma herança de família — ele mostrou a ampulheta e ela a encarou confusa. — Esta ampulheta... ela tem o poder de viajar no tempo. É assim que sei o que vai acontecer.

Helena o fitou, incrédula. — Você está brincando comigo, né?

— Eu juro que não. — Com essa confirmação, ele continuou. — E tem mais... na cidade nova, você... você vai sofrer um acidente. Voltei no tempo para tentar evitar que isso aconteça...

Ela encarou o objeto, absorvendo as implicações do que Arthur havia dito. Um acidente? Ela poderia se machucar gravemente, ou pior. Seu olhar se voltou para Arthur.

— Eu... eu não sei o que dizer.

— Eu sei. E eu... eu sinto muito por jogar tudo isso em você. Mas eu precisava que você soubesse. Precisava que você entendesse o porquê de eu estar aqui. Por favor, repense. Não se mude daqui.

Ela balançou a cabeça, fechando os olhos.

— Helena, você... você acredita em mim, certo?

Arthur sentiu-se vulnerável. Ela deu a ele um olhar inquisitivo, antes de aparecer no rosto dela um traço de sorriso.

— Eu não sei. — Ela disse — É insano, eu... não sei.

— Olha, não foi fácil vir até aqui e te contar tudo isso.

— Mas, Arthur... mesmo que seja verdade o que está dizendo... meu pai já tomou a decisão, ele já tem planos. Eu não sei se conseguiria convencê-lo...

Ele baixou os olhos, capturando um suspiro. — Eu sei que não é justo eu pedir isso a você. Mas... — ele voltou a olhá-la com intensidade. — Eu não estaria aqui, arriscando tudo, se não acreditasse que é possível. Se não acreditasse em você.

Seu tom fugiu súplica. — Seu pai te ama. Ele quer o melhor para você. Se você for honesta, talvez... talvez ele ouça. Eu sei que você pode fazer isso. — Essa era sua convicção. — Eu não estaria aqui se não acreditasse que você pudesse mudar as coisas. Por favor... tente.

— Eu... eu posso tentar, talvez. — Falou insegura, mas mesmo assim, algo em seu rosto fez Arthur confiar nela. Independente se ela acreditara ou não na história, ela não desejava se mudar.

— Combinado. — A vergonha o fez desviar os olhos — Bem... agora, acho que... preciso ir.

— Como assim, ir? Você acabou de me contar que tem uma ampulheta do tempo e que eu vou sofrer um acidente em Vila Nova e por isso tenho que ficar... aonde exatamente você vai? — Ela questionou, parecendo quase indignada com a ideia de que ele poderia simplesmente desaparecer depois de compartilhar todas essas notícias assustadoras.

— De volta para o futuro, eu acho. — Ele deu de ombros ligeiramente, parecendo tão incerto quanto ela sobre o que deveria fazer a seguir. Arthur olhou para ela uma última vez, ergueu a ampulheta e a girou, a areia dentro dela brilhando com a luz do sol. — Por favor... se cuida.

E então gradualmente o mundo começou a mudar.

O som do mar foi diminuindo, substituído por um zumbido que preenchia seus ouvidos, quase como uma tempestade se aproximando. Ele podia sentir a realidade ao seu redor dobrando, torcendo, se adaptando à presença da ampulheta.

Então, em um piscar de olhos, Helena começou a desaparecer. Seu rosto claro, estava desvanecendo na frente de Arthur, cujo nome chamado tornava-se mais distante.

E, finalmente, ele estava sozinho.

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