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33. Quando as Paredes Caem

No íntimo da sala, no íntimo terremoto dos sentimentos, Sérgio Mendes via o ex-chefe apunhalando-o com uma afiada espada, que buscava encontrar a armadura de falsidade que o outro ostentava. Viveram nessa breve luta entre recentes palavras, que ousavam explodir em mil acusações.

Imaginou-se como o rebaixado, levantando-se, pronto para derrubar cada papel, cada evidência da incompetência de Armando espalhada ao redor da mesa. Visualizou-se despejando sobre ele toda a torrente de acusações e verdades guardadas, deixando que sua raiva diluísse a linha entre o profissionalismo e o pessoal. Ah, como desejava. Pena que permaneceu sentado, petrificado, moldado pela fúria que queimava na mais fria e profunda chama da indignação. Com a besta enjaulada. Mendes creia que a luta das lutas não acabaria naquele escritório. Havia um jogo em andamento, e ele acabara de ser colocado em xeque.

— Estou entendendo — ele tremia enquanto falava. — O-olha Armando, verdades aparecem. E quando isso acontecer... eu não serei mais o humilhado nesta mesa.

Dito isso, ergueu-se, encarando o julgador e, sem mais, deixou o recinto. A carreira selando-se como a porta atrás de si. O corredor recebia-o igual um protagonista de uma epopeia trágica. Com colegas do lado externo feitos de estátuas gregas que observavam-no com mera pena.

E por trás dessas estátuas, brilhos solares que moviam sombras invisíveis a essas construções vivas. O sol, culpado pelo fenômeno, seria Paulo, que empurrava quem estivesse em seu caminho para avistar seu amigo perdido em olhares quase malignos. "Dá licença, eu quero passar". E na leveza de um elefante, Paulo o tomou pelo braço, retirando-o daquela arena de espectros, levando-o em silêncio a rua da frente.

— Por que está aqui? — atravessavam o corredor — Estão falando de você.

— Para ver como as pessoas não têm nada melhor para fazer — Mendes respondeu em sarcasmo.

Paulo, contudo, não se levou pela tentativa do desvio. — É sério! O que Armando queria com você?

— O que ele queria? — Mendes deixou a verdade escapar — me despedir, Paulo. É isso que ele queria.

Na hora, o amigo parou, quando estavam a poucos metros da saída, suas pernas recusando-se a continuar. O baque o deixou momentaneamente sem palavras. Ele encarou Mendes, em busca de vestígios de zombaria ou mal-entendido.

— Você está falando sério? — Soltou do braço dele. — Isso... isso foi por minha causa? Sérgio, pelo amor de Deus, eu não queria... — Ele passou a mão pelos cabelos. — Eu nem sei o que dizer.

— Paulo, aqui não.

Paulo percebe o volume da própria voz, e Mendes acena para que ambos saíssem do Departamento. Ele não aguentava mais ver nenhum funcionário o fitando em curiosidade. Ao atravessarem a passagem, Mendes certificou-se da privacidade ao redor, antes de mirar o detetive a sua frente.

— Não é culpa sua. Armando é um idiota... nós só tentamos fazer o certo.

— E como descobriram você?

— Foi a lona com as armas e... a bicicleta.

— Então eles sabem que eu estive lá! — exclamou Paulo preocupado.

— Não. Eu não te entreguei.

Seu rosto retornou a expressão habitual. — Eu daria um soco na cara dele por você, Sérgio.

— Pois eu duvido. — Mendes tentou amenizar.

E após uma breve confusão por essa quebra de tensão, Paulo acabou por responder — Tem razão, mas eu olharia para ele com muita desaprovação.

O diálogo levou as laterais de ambas as bocas a se esticarem em sonidos harmoniosos de riso humano até ficarem em completo silêncio, desviando o olhar um do outro. A raiva voltou a borbulhar no peito daquele que havia perdido seu emprego. O cérebro, numa tentativa de buscar consolo, dizia-lhe verdades amargas sobre o descompasso entre o que considerava moralmente correto e as práticas toleradas - e até incentivadas - dentro daqueles muros. Mendes visualizava sobre a ironia de um lugar onde a excelência era constantemente limitada por regras e protocolos que, embora proclamassem justiça, frequentemente se dobravam sob o peso do ouro. A noção do certo e do errado tornava-se turva na presença do dinheiro, essa entidade capaz de transformar pessoas em mercenárias, de vender almas em encruzilhadas e de justificar os atos mais vis sob a teia da necessidade.

Como seria, Mendes ponderava, repousar a cabeça no travesseiro à noite, sabendo que era a cólera na vida de alguém? Como seu ex-chefe conseguia encarar seu reflexo, consciente do que semeava com suas decisões? Seja lá o que passasse pela cabeça daqueles que, como Armando, dormiam tranquilos apesar de suas ações, Mendes entendia que seu próprio valor se mantinha o de sempre, diametralmente oposto ao do Departamento.

A sabedoria reafirmava para que não se martirizasse por deixar aquela jaula dourada, onde leões uniformizados rugiam ordens e doutrinas. Ele preferiria viver na incerteza e adversidade de cabeça erguida, do que perpetuar uma mentira que manchasse seu nome com a imoralidade que tanto desprezava. Poderia estar sem dinheiro, mas sua dignidade permanecia intacta, recusando-se a suplicar por seu emprego aos pés de Armando. Um dia seus atos seriam pagos, e para o crente, o homem suplicaria por seu lugar no céu; para o ateu, reconheceria que sua existência, não passa de uma troca banal de tempo por dinheiro a troco do mal que o mesmo causa.

Esse mal, um entre tantos que ocupavam as preocupações de Mendes, demandava toda sua atenção. Refletindo o caminho à frente até as últimas horas, quando planejava suas ações contra a Seita. Ele estaria no dia da demolição, em um calendário curto, junto a Kaimbe, Isadora e Paulo. Chegariam tão rápidos que, ao fim dessa frase, já estariam lá.

~-~⏳~-~

Quando desceram dos cavalos, Paulo os amarrou algumas esquinas longe de onde iriam, Kaimbe caminhou colado ao lado de Isadora que havia lavado e trocado seus curativos antes de sair, diferente de Mendes que simplesmente arrancou seu gesso e retalhos com uma tesoura afiada. Usou a liberdade da pele para roçar a fita que dividia o mundo normal do mundo dos fracos e infortúnios. A fita dividiu com todas as cores as várias cabeças que perdiam sua comodidade. As pessoas aguardavam em pé, ansiando que os equipamentos não fossem usados, que a F.U.I não atuasse, que suas vidas importassem. Para Isadora, Kaimbe, Paulo e o pertencente da arvore genealógica conturbada, esperavam que o show de horrores abrisse suas cortinas, só assim, talvez, pudessem encontrar Aurélia Menezes ou seu marido Antônio Soares prontos para se apresentarem.

Uma nuvem fazedora de sombra, deu passagem ao forte sol que bateu nos rostos indignados dos moradores. Os primeiros movimentos das máquinas de demolição vieram com barulho metálico e inconfundível de motores sendo ligados e operários, bem delineados contra o brilho do dia ensolarado, que posicionavam-se ao redor da primeira casa humilde, elegida para cair.

A multidão, estava contida por uma barreira intimidadora de seguranças e pela própria esperança de alguma intervenção. Observavam com corações prontos para despedaçar junto a primeira casa demarcada. Alguns grupos estavam agitados com pessoas choramingando em abraços, enquanto outros eram contidos, evitando empurrar a barreira de seguranças. As máquinas já se posicionavam, contudo, os empurrões e gritos também ficavam mais altos à proporção que a destruição ameaçava cair sobre os lares.

Como se a desordem não intensificar-se-ia, um dos homens, nítido morador, conseguiu obliterar essa contenção e empurrar um dos seguranças, correndo em desespero. "Não!" ele gritava, os olhos escorrendo e a voz embargada, enquanto ia em direção à sua casa que estava prestes a ser reduzida a escombros.

Os seguranças o interceptaram antes que pudesse chegar mais perto evitando espaço para resistência. A cena que se desenrolou, foi indignante para Mendes e as testemunhas que viram o homem ser imobilizado por trás, com um dos seguranças, levando a força, os braços dele para trás da cabeça. E com força desproporcional, outro homem uniformizado surgiu, agredindo-o com socos no estômago diante de todos.

A reação da multidão foi como uma coleção de vozes que se elevou contra a opressão. Pás, picaretas e marretas erguiam-se do lado oposto iniciando a demolição meticulosamente coordenada, até que desabassem sobre a casa. A angústia precedeu o som da madeirame cedendo, das estruturas se partindo, das memórias construídas com tanto carinho sendo irrevogavelmente apagadas.

O homem, detido pelos seguranças, berrou entre lágrimas, se debatendo e vendo o desmoronamento de sua existência. Esse grito foi o estopim para todos. E movida por uma raiva justificável, alguns da multidão avançaram contra os seguranças. Mendes recebeu um baque da própria indignação. A injustiça que não era a favor a maior parte de sua vida, junto a criminalidade e a própria sociedade que recentemente falhara com ele, acendeu uma fúria vinda de todos os lados, de todos os empurrões de todas as suas versões.

— MALDITOS FILHOS DA MÃE! — gritou ele. — Esses canalhas tinham que apanhar do mesmo jeito! Deviam ver suas casas sendo destruídas na própria frente. Como fazem isso com eles?!

— Essa cidade é uma merda! Essa empresa é uma merda! — complementou Paulo. — Todos são um punhado de merda!

— Aqui é... perigoso de ficar! — Kaimbe aumentou o tom de voz colocando-se entre Isadora e os crescentes empurrões e gritos. — Vamos sair.

Mendes, ainda fervendo de indignação, olhava inquieto a todas as direções avistando moradores apanhando e socando por seus direitos e as máquinas trabalhando. Seu olhar pousou por todo furacão, até que parou em Clara ao longe com seu filho Lucas. "Ah não" pensou no pior. Queria gritar para eles, mas não ouviriam, será que se ouvissem confiariam nele? Parou de pensar, sentiu um impulso tomar conta de si. Seu coração batia mais e mais, e sem perceber, começou a empurrar as pessoas à sua frente, tentando abrir caminho até Clara. Paulo, notando o comportamento dele, perguntou com preocupação aonde ele iria, porém, ele somente respondeu mentalmente , não podia falar, estava focado, então Paulo o seguiu, chamando os outros atrás:

— Espera! Sérgio!

Clara aparecia e desaparecia atrás da aglomeração, ele concentrava-se para não a perder de vista e nem o pequeno Lucas. A ansiedade o corroeu, quando em apenas alguns segundos ela desapareceu novamente, o fazendo colocar-se na ponta dos pés afim de buscá-la, mas não a viu, olhou para os lados havia a perdido, estava perdido.

— Arthur! — Isadora o chamou. Ele virou-se com pressa, seguindo a direção do dedo dela apontado para um lugar distante.

E ali, entre a poeira e os destroços das casas, um homem brigava com um dos operários. Vestido com elegância, Mendes o reconheceu imediatamente, mesmo que algo em seu íntimo negasse a possibilidade. Era uma versão mais jovem de um homem que ele conhecia apenas através de estátuas e retratos em Orla dos Ventos, um homem que carregava o nome de Antônio Soares. Quando Mendes tentou redirecionar sua atenção para a multidão na esperança de localizar Clara e Lucas, eles haviam sumido de vez, sem deixar vestígios. A frustração o golpeou, mas a presença daquele homem exigia sua atenção.

— O que estão olhando? — Paulo perguntou, aproximando-se mais.

— Aquele homem ali. — Mendes apontou também — Creio que é Antônio Soares

Kaimbe questionou — Como vamos ter certeza?

— Indo até ele — Mendes informou.

— E para passarmos? — perguntou Isadora.

— Com isto — Paulo retirou o distintivo de suas vestes e empurrou caminho até de volta a fita.

Um dos seguranças, ao notar a aproximação do grupo, colocou-se à frente, bloqueando o acesso às casas em demolição. Na mesma hora, Paulo ergueu seu braço.

— Sou detetive! — anunciou. — Preciso passar!

O rosto do segurança girou do distintivo para o tumulto ao redor, avaliando a legitimidade da demanda.

— Como assim? O-o que quer?

— Nada que te envolva meu amigo.

— Eu tomo conta desse posto. Quem são eles? — o guarda acenou para Mende, Kaimbe e Isadora.

— Estão comigo — Paulo olhou rápido para vê-los — queremos entrar ainda hoje se possível. Não me importa o que esteja fazendo.

— Nã-o. Quer dizer... não sei se...

— Escute meu caro — Paulo blefou — Se não nos deixar passar, serei forçado a considerar isso como uma obstrução à justiça.

— Você faria isso?

— Preferiria não ter que fazer, mas se quiser...

O segurança virou-se para seu colega ocupado de mais para notar o diálogo, e depois voltou-se de novo para os estranhos.

— Podem passar — o segurança se afastou. — Não quero problemas.

— Ótimo — Paulo disse entrando pela passagem dada com os amigos logo atrás.

Dando passos em direção a área empoeirada Mendes informou — Quando chegarmos mais perto, usa esse truque também com Soares.

— Por mim, socava esse homem até ficar irreconhecível.

— Não sabemos se é ele. — Kaimbe lembrou.

— Mas provavelmente é, — Mendes se aproximavam mais da destruição — eles são muito parecidos, eu só não sei se ele vai nos ajudar.

Isadora teorizou. — E também, se a mulher dele está com a ampulheta, ela pode fugir de nós para sempre. Talvez isso que estamos fazendo agora já tenha acontecido várias vezes e...

A fala foi assustadoramente pausada por estalos altos de tiros. Em reflexo, olharam para trás e na multidão, viram seguranças caindo de repente como folhas arrancadas por um vento voraz de outono. As balas, invisíveis, atravessaram esses corpos um a um, deixando o caos anterior com aspecto inofensivo.

Paulo, instintivamente, retirou sua arma, chamando os outros para longe da origem dos disparos. — O que está acontecendo?! — ele gritou, tentando identificar a fonte do barulho.

O chão se manchava de vermelho, e homens começaram a invadir a área com rostos escondidos atrás de camisetas e panos velhos, distintos pelo desenho de um pássaro vermelho voando com uma corrente no bico. Paulo e Mendes reconheceram o símbolo imediatamente. "rebeldes".

Chegando atrás de escombros de uma casa destruída, e ao lado de Isadora, Mendes viu a cena desdobrar-se e diz a ela. — Isso responde à sua dúvida? — ele, referindo-se à possibilidade de terem enfrentado essa situação antes. — Isso nunca aconteceu antes, ou o marido dela não estaria aqui.

— Também pode não ser ele. — Kaimbe acrescentou novamente ofegando.

Isadora varre os olhos pela rua empoeirada — onde ele foi?!

Os tiros prosseguiram, e as pessoas ao redor corriam desenfreadamente, tentando se proteger da troca de tiros. Antônio Soares foi visto recuando por Mendes, escoltado por alguns seguranças, tentando se distanciar do tiroteio. Sem pestanejar, ele sinalizou para o grupo:

— Está ali!

— Não podemos sair! — Isadora exclamou, quase perdendo a voz entre os disparos e gritos de pânico. Ela agarrou o braço de Kaimbe.

— É pior ficar aqui! — retrucou Paulo. — Vamos atrás dele!

Não esperando deliberações, Paulo, em um salto, avançou pelos escombros. Os outros, seguiram-no sem muita escolha, apesar de seus próprios receios. A adrenalina banhou-se no sangue de Mendes, quando a linha de parceiros foi guiada a mais uma casa destroçada, amarrotada por obstáculos. Através da janela quebrada, indistinguíveis moradores, rebeldes e seguranças. Confundindo-se entre a trocação de tiros, sangues e gritos.

A parede meio caída a frente de Paulo, recebeu três tiros em diagonal, os estilhaços voaram sem padrão perto das cabeças dos outros. Em arrepio, todos mudaram de direção. "Ali!" Kaimbe indicou uma construção ainda intacta. Aproveitaram a sugestão e contornaram o edifício, assim como outros civis que tiveram o mesmo reflexo de sobrevivência.

O barulho não diminuía e a poeira finalmente abaixava, identificaram o alvo na metade da rua virando a esquina. O suposto Antônio Soares apressava-se em direção a uma carruagem amarrada. O grupo desviava de pessoas assustadas e evitavam se tornar vítimas para os atiradores ainda não identificados enquanto apertavam o passo.

"HEY!" Mendes balança os braços, tentando chamar a atenção de Soares, que não o notava. Ao mesmo tempo, vinda do nada, uma mulher coberta até a cabeça em verde musgo tropeçou em seu pé, batendo com violência contra o chão. Mendes, agachou-se na hora certa para puxá-la. Quando a caída levantou seu pescoço. Mal ouve tempo de perguntar como estava, quando esta voltou a correr.

Fizeram o mesmo, e com os tiros ainda muito reais. Tentaram fugir mais da guerra e se distanciar o menos possível do homem que buscavam. Finalmente estavam a apenas alguns metros da carruagem quando um novo tumulto começou por trás. Alguns rebeldes atiravam a distância em um dos operários da obra que foi atingido por um tiro na perna e outro nas costas, nesse instante, alguns desconhecidos pularam em cima de muros de casas, que muito provavelmente não eram deles.

O quarteto alcançou a carruagem bem quando Antônio subia. Os seguranças que estavam com ele, haviam acabado de desamarrar o veículo. O homem pareceu desconfiado ao ver aquelas quatro pessoas ali, tão próximas.

— O-olá... Soares. — Mendes chamou, ofegante. — Este é... é você? quer dizer... este é seu...

— Olhem, me desculpe, — O procurado se apressou em dizer — não tenho espaço para mais ninguém aqui.

— Não, não... não queremos espaço...

Um som alto, um grito, parecido a uma explosão, atravessou o cenário próximo à esquina da rua em que estavam, misturando-se aos estampidos ao fundo.

— Vamos sair! — Soares insistiu a seus seguidores ignorando os estranhos e tentando atravessar a entrada da carruagem mais uma vez. Em seu campo de visão, uma ação o fez parar novamente — O-o que está fazendo?

Mendes havia se colocado de frente aos cavalos, forçando os seguranças e Soares a prestarem atenção. — Só um minuto, pode me escutar?!

Sob essa ousadia imprecisa do ex-detetive, o homem elegante, se vendo amedrontado, fez um sinal nervoso para um segurança que estava atrás dos demais, "Tire ele dali!" esse guarda começou a aproximar-se inseguro do grupo com intenção de afastá-los. Suas mãos, em despreparo, prestes a fazer o que lhe foi ordenado, parou, quando Paulo, num gesto instantâneo, ergueu sua arma em direção a ele. A ação petrificou os seguranças de surpresa, e até o próprio Soares pareceu reavaliar com olhos bem abertos, dizendo:

— Abaixe essa arma.

Mendes acharia exagerada a ação do companheiro, ele acharia imprudência, irresponsabilidade. Mas, lembrara de algo que o mesmo havia dito "eu sei o que estou fazendo" e essa frase foi proferida enquanto levava um jovem Perpétuno a inconsciência dias antes, no entanto, em consciência, ficou nítido, que aquele mesmo jovem de cabelos bem cortados e olhos castanhos claro estava naquele exato momento diante da mira de Paulo.

Não tiveram tempo se quer, de sentirem o gelo que suas barrigas produziram a tal contatação. A visão periférica de Mendes alertou, e o resto dos seguranças já sacavam outras armas para o grupo numericamente injustiçado. De repente, um dos seguranças com cabelos grisalhos e rosto chupado; com um movimento rápido, retirou de baixo de seu uniforme clássico um símbolo metálico intricado dos guardiões do tempo.

Aos gritos e tiros, um dos seguranças não levantou sua arma e parecia assustado, apressado e confuso em relação aos outros. — O-o que... O que é isso. Eu não...

Não terminou de falar.

O homem com o símbolo apontou e disparou. O segurança verdadeiro caiu enquanto Soares se desequilibrava, assustando-se com a agressão. O segurança assassino foi revelado como um traidor, contudo, como algo pior. Dele vinha um apelido mencionado abertamente, o que fez Mendes indagar na mente que o homem a sua frente era Eldric.

— Não adiantou de nada fugir, guardiã — disse a voz reconhecível do líder da Seita, usando seu olhar mais gélido em Isadora e seus companheiros. — Sobreviveu a uma flechada, só para morrer agora. É irônico e... conveniente.

Ela não respondeu sentindo uma tremedeira nas mãos, preservando involuntariamente suas últimas palavras perdidas em medo estampado. Contudo, não fora somente ela a atingida pela opressão. Pois, cravada na cabeça do próprio Mendes, o homem criava a imagem de uma mão esquelética pertencente a morte. Esta mão lhe acariciava os cabelos lhe dizendo em consolo que naquele dia não partiria sozinho. Lembrou-se de sua infância, de seu trabalho, de sua mãe. "Como é morrer de fato?" se perdeu neste pensar ao mesmo tempo que os tiros ao redor lhe faziam lembrar que pessoas estavam vivenciando aquilo naquele exato momento e que todas essas pessoas não sabiam o que enfrentariam a seguir, até que já estivessem enfrentando. As pessoas esperam tudo da vida, que momentos ruins surjam, que momentos ruins se vão, mas não esperam que o ruim parta e leve suas vidas no processo. Às vezes é sombrio pensar no fim, e por isso, assim como muitos, Mendes ignorava tal vislumbre, mas não teria mais como o ignorá-lo, a mão esquelética arrepiava cada nervo de seu corpo, o que restava era escutar os últimos tiros e as palavras que Isadora teve coragem de pronunciar:

— Conveniente? Você incentiva isso tudo... com suas estúpidas justificativas.

— Oh, mas claro que não são estúpidas. — Eldric protestou. — A história humana é uma prova disso, guardiã. Desde tempos imemoriais, o homem justificou o derramamento de sangue em nome de causas maiores, não foi? A justiça, a liberdade, a paz... são todas justificativas para a violência. E eu... não sou diferente — Ele apontou os dedos para si. — Se é preciso acabar com o mal pelo mal, então que assim seja. A diferença é que eu estou disposto a sofrer as consequências do que vier depois disso.

Kaimbe, sem saber como passar seus últimos instantes entrelaçou os dedos na mão imparável de Isadora, fazendo-as cessarem a tremedeira. Paulo não baixava a guarda, e para Mendes, o amigo, que ficou até o último instante ao seu lado, arriscava-se a cair pelos demais, mesmo que não tivesse chance alguma.

— Abaixe a arma! — ordenou Eldric acenando para Paulo que não se moveu.

Mendes estremeceu o pescoço, ao virar perifericamente para Paulo, ouvindo pedidos de Eldric acelerando-os:

— Mandem seu amigo abaixar a arma.

A imprevisibilidade daquelas mãos que acariciavam gatilhos ao redor, exalavam o meio termo entre o medo e segurança. Eldric não denotava nervosismo, todavia o suor escorrendo pelos cabelos do detetive davam a seus olhos aspecto de quem não piscava a horas, sinais de pânico reprimido.

— Pa-aulo... abaixe a arma. — Mendes aproximou-se do ouvido do amigo. A impressão que dava, era a de que ele estava petrificado, então sem alterar a posição de cabeça, Mendes insistiu:

— Por favor. — Dessa vez, ele usou a própria mão para forçar com leveza o braço do amigo para baixo até que ele piscasse, e o braço alcançasse a lateral do corpo.

Eldric acenou em contentamento com o contexto negando calma, esperança e misericórdia.

— Pelo menos alguém aqui ainda tenta ter juízo. — A postura de Eldric sofria uma transformação súbita. Adicionada a essa fria perspectiva, o suposto contentamento dele que mal se via, mal existia, e evaporava-se em seus olhos mortos.

— Sem machucar ninguém! — Mendes posicionou as mãos na frente do corpo. — Vocês... ganharam.

— Eu sei... E talvez tivéssemos mais chances de negociar, talvez. Mas veja, seu amigo — apontou para Paulo — acaba de mirar uma arma para um dos nossos, e dias antes podiam tê-lo matado.

— Mas não o mataram.

— Por conveniência.

— Então talvez eu devesse tê-lo matado. — Insinuou Paulo.

— Sua dúvida é sem dúvidas, perigosa. — Retorquiu o líder. — Não vou deixar que a satisfaça, e nem que ponha em risco outra vez a vida do meu futuro guardião, a vida... do meu filho!

O calafrio das mais gélidas neblinas, congelou os nervos de Mendes, causando-lhe uma repentina paralisia "um filho". Mendes não parou para pensar que a própria existência dos Perpétunos, em suma, vinha derivada do senso de continuidade, e obviamente dependia da preservação de uma única linhagem - um filho após o outro, cada qual, carregando a missão de seu único antecessor. A verdade chegou tão depressa que em uma hora Mendes estava completo em sua completa perdição e em outra o líder da Seita proclamava a seu descendente:

— Sem medo de ser da Seita.

E o filho respondia:

— Não tenho medo... — levantou o braço na direção de Paulo. — Somos eternidade, Perpétuno!

As engrenagens do destino cruel fizeram Mendes engasgar-se em seus mudos protestos. Podia somente ver o corpo de Paulo tentar erguer a mão armada, para futilmente reverter o cenário calamitoso. O jovem, frente a Paulo, cuja vida o havia sido poupada dias antes, fermentou um fatídico propósito. Esse foi páreo a hesitação do detetive, então o jovem o mirou, e sem um pingo de piedade, disparou.

A velocidade o encontrou, e Paulo não teve tempo de agonizar ou de revidar, somente de olhar para o amigo prestes a gritar por um corpo que não teria mais o que contestar. Nesse tempo, ambos caíam, um literal e outro por dentro. Na bolha, onde a ação se repetia, Mendes sentiu-se incompleto em sua completa agonia, enquanto os olhos encharcavam-se. Nas memórias, eternas imagens de felizes sofrimentos "você não deveria fazer isso sozinho".

O corpo de Paulo colapsou, sua mão afrouxou, e a arma escorregou, inerte, para o chão até o último suspiro. A batida do objeto no chão dilacerou também o último tecido já fragilizado da moralidade e da justiça que Mendes tentava desesperadamente manter.

Não controlando o próprio corpo, jogou-se sobre o outro corpo frágil, não percebendo quando as mãos começavam a sujar-se de sangue. Ele apenas balançou a cabeça, mal percebia as palavras que saiam, ou os tiros ao redor enquanto soluçava.

— Levante! — Eldric diz com desdém. — Não adianta chorar, logo vai vê-lo.

— Não! — Isadora inflama. — VE-ERME!

— Oh, olha só — Eldric revira os olhos — achei que fosse menos sensível para uma guardiã.

— Sensível? Depois de matarem meus pais! me prenderem! atirarem uma flecha em mim, e eu perder amigos! Quero que vá para o inferno Eldric, e tente aguentar cada chama de lá.

— NÃ-ão! Pa-aulo... descu... não! — Mendes soluçava.

Eldric levantou a própria arma para Isadora e rebate com perturbadora calma — Eu vejo apenas duas soluções para este ciclo de violência terminar, Guardiã.

— EU VEJO UMA! — Isadora suspirava de fúria. — Desapareçam! A violência... começou por vocês!

Isadora respirava forte, seu braço tocado por seu amor conhecido na floresta que tentava lhe conter. Ao mesmo tempo, sem responder à acusação, o líder aproximou-se com dois passos curtos até os rivais. Quando seu andar parou, fez uma sombra no corpo caído de Paulo, a silhueta chamou por Mendes, que ao levantar o rosto abatido, foi recebido com um forte chute no queixo, fazendo-o ser empurrado de lado aos pés de Kaimbe. A dor o fez levar a mão ao rosto húmido, Isadora foi puxada um passo atrás por Kaimbe.

— Como eu dizia, só vejo duas soluções... Uma delas, vocês sabem, é tomar posse da areia do apocalipse... — Em decisão, seu braço estendeu-se para Isadora, o dedo pressionando leve contra o gatilho, ele ainda dizendo:

— A outra solução... é não deixar que nada atrapalhe isso. E obviamente, isso inclui vocês.

Então alto, reverberou-se um estalo, e uma bala fugiu. Kaimbe, por outra decisão maior, catapultou-se à frente da mulher. Foi tudo um borrão. O disparo, atravessando as ruínas daquele confronto, encontraria seu caminho, e com ele, sua sentença de morte.

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