3. Despedida
Vários dias se passaram, e na noite da festa de despedida dos Castros, a cidade de Orla dos Ventos ganhou vida. A celebração se espalhava pela rua em frente à casa de Helena, prometendo gravar-se na memória dos presentes com suas cores vivas, sons alegres e energia contagiante.
No entanto, nem todos puderam desfrutar plenamente da festa. Antônio, o avô de Arthur, não conseguiu comparecer devido a um mal-estar súbito que o acometera mais cedo naquele dia, deixando a família preocupada. Exames preliminares haviam revelado que ele precisava de repouso, o que o impossibilitava de participar da celebração.
Arthur, extremamente preocupado com a saúde de seu avô, hesitou em ir à festa, sentindo-se dividido entre o desejo de aproveitar os últimos momentos com Helena e a responsabilidade de cuidar de Antônio. No entanto, mesmo fraco e com dores, Antônio insistiu para que Arthur fosse à festa, compreendendo a importância daquela noite para o neto.
— Arthur... — disse ele com ternura, apesar de sua voz rouca — Esta noite é sobre você e Helena. Eu vou ficar bem. Aproveite a festa e celebre com seus amigos.
Com um aperto no coração, Arthur seguiu o conselho de seu avô, decidindo ir à celebração e aproveitar ao máximo aquele momento especial com Helena e os amigos. Logo, o resto da família Menezes partiu para festa.
Ao adentrarem o ambiente, Arthur e sua família foram instantaneamente envolvidos pela efervescência e o clima festivo que dominava o cenário. Grupos de amigos e vizinhos animados se reuniam, envoltos em conversas calorosas e risadas, enquanto moviam-se ao ritmo das músicas que tocavam pelas ruas, numa atmosfera alegre. Foi lá onde encontraram os pais de Helena, Roberto e Lúcia.
— Olha só quem chegou! — Exclamou Roberto, entusiasmado. — Venham, venham!
A família se aproximou, Arthur um passo atrás, o rosto leve, observando.
— Lúcia e eu estávamos falando sobre nossos jovens — Roberto soltou uma risada baixa. — como eles estão grandes!
Maria concordou. — Parece que foi ontem que eles estavam correndo pela rua, sujos da cabeça aos pés.
Nesse ponto, Arthur abaixou o olhar para suas mãos, um sorriso de nostalgia brincando em seus lábios.
Com uma rápida mudança de tom, o pai de Arthur se juntou à conversa, seu olhar correndo pela multidão de pessoas celebrando.
— E onde está a Helena?
— Ah, ela está dentro da casa, ajudando com os petiscos — Lucia apontou para a entrada. — Temos muitos convidados hoje.
José olhou em volta. — A festa está ótima. Muita gente apareceu.
Com o sorriso mais contido, Lucia concordou. — Sim, vamos sentir saudade de todos.
— Quando vocês pretendem fazer a viagem? — Indagou Maria.
Roberto sorriu gentilmente para responder:
— Decidimos partir amanhã à tarde, depois de arrumar a casa.
No entanto, antes que Maria pudesse responder, Lúcia interrompeu suavemente, com uma expressão séria. — Na verdade, decidiram por mim.
Roberto olhou para ela, surpreso — É uma decisão difícil. Eu não fiz nada sem que você concordasse...
José tentando suavizar o momento, decidiu intervir:
— Bem.... Essa mudança é difícil, mas vocês darão conta.
O sorriso de José não foi suficiente para aliviar a chateação que Arthur sentia. Seu rosto se contraiu em tristeza, e os olhos frustrados encontraram os pais de Helena.
— Vocês vão... amanhã? — Perguntou ele, sentindo desamparo. — Mas por que tão rápido?
Roberto suspirou. — É muita burocracia para resolver, não temos muita escolha.
Lúcia estreitou os olhos como se em desacordo. Enquanto uma sensação de impotência e tristeza se espalhava pelo peito de Arthur, diferindo da energia daquela noite. Era difícil aceitar que a decisão de partir estava tomada e que a mudança ocorreria tão rapidamente.
A música continuava alegre e envolvente, deixando convidados à vontade para dançar. Abandonando, por alguns momentos, a tristeza da iminente despedida. Os músicos locais se revezavam no palco improvisado, tocando canções folclóricas e contemporâneas.
As crianças corriam e brincavam, enquanto os adultos se deleitavam com quitutes regionais e bebidas típicas. A generosidade e o calor humano eram sentidos, com cada pessoa contribuindo de alguma forma para tornar a festa um evento memorável.
A tristeza que pairava em torno da despedida da família Castro parecia se desvanecer no ar, dando lugar a essa celebração, na qual todos compartilhavam união. Orla dos Ventos, com sua resiliência e espírito comunitário, transformava momentos de saudade em memórias felizes
No auge da festa, enquanto os convidados se divertiam e a música enchia o ar, Arthur sentiu uma mistura de emoções que o deixava angustiado. A despedida de Helena parecia uma realidade cada vez mais próxima, e ele se sentia perdido e sozinho.
O jovem caminhou até uma área mais afastada da festa, buscando um momento de introspecção e tentando lidar com a frustração que crescia dentro dele. Seu olhar encontrou Helena no meio da multidão, cercada por amigos e sorrindo. Ele não pôde evitar um sentimento de inveja.
Sufocado pela atmosfera festiva, Arthur se esgueirou para um beco, próximo a um pequeno córrego, onde o som da música ficaria tão baixo que tornaria-se indiferente. Ali, ele se deixou levar pela tristeza e a solidão que o envolviam, permitindo-se chorar e expressar a dor que guardava em seu coração.
Helena, percebendo a ausência de Arthur, seguiu em sua direção. Ela o encontrou no beco, com os olhos marejados e um olhar de desespero. Ela se aproximou, oferecendo sua compreensão.
— Arthur... É complicado. Eu também estou triste em ter que ir embora.
— Eu só... eu só estou assustado — Arthur admitiu, a voz um pouco trêmula. — Não quero que você conheça pessoas novas... e acabe, sei lá, me esquecendo.
— Olha, eu... também tenho medo. — Helena se afastou um pouco para ver seus olhos. — Tenho medo de que você encontre alguém para ocupar o meu lugar.
Arthur pareceu surpreso com a confissão. — Como assim?
— Eu entendo você. E sei que mudanças acontecem, mas também tem reencontros e novas histórias. E por mais que eu conheça novas pessoas, você vai continuar sendo meu amigo.
— Eu... eu acho que consigo entender isso — disse Arthur lentamente, absolvendo a mensagem. — É só que... é difícil.
— É difícil para mim também. Mas eu acho que vamos superar isso.
Os dois discutiram mais alguns minutos sobre o futuro incerto até que ambos decidiram retornar à festa com o sentimento de conexão e vulnerabilidade. Aquela experiência, embora dolorosa, fortaleceu ainda mais seus laços.
Ao final da festa, a brisa fresca da noite trazia consigo a ideia de novos começos e por um futuro de reencontros. Arthur e sua família, com os olhos brilhando e os corações apertados, se despediram dos Castros, trocando abraços demorados e palavras de incentivo. Eles, por sua vez, demonstraram gratidão pelo apoio e amor que receberam daqueles que os cercavam, prometendo manter contato e voltar para visitar Orla dos Ventos sempre que possível.
Enquanto se afastavam da festa, as luzes e os sons diminuíam gradualmente, deixando para trás apenas as lembranças daquela noite inesquecível. A caminhada de volta para casa foi silenciosa, mas repleta de reflexões sobre o impacto que Helena deixaria na vida de cada um deles e na cidade como um todo.
Com passos lentos e pensativos, Arthur e sua família retornaram, certos de que aquela despedida, embora dolorosa, não representava um adeus definitivo, mas sim um até logo — uma pausa temporária em uma história de amizade e afeto que continuaria a ser escrita, mesmo à distância.
Ao finalmente adentrarem a casa, a família Menezes ainda trazia a alegria e a energia contagiante do evento. Com sorrisos nos rostos e lembranças felizes em suas mentes.
Ao entrarem na sala, encontraram Antônio, o avô adorado de Arthur, serenamente deitado em sua poltrona predileta dormindo. Desavisados e alheios à verdade, eles se aproximaram alegremente, com a intenção de compartilhar as histórias e emoções da festa.
Foi Dona Maria quem primeiro notou algo de estranho. Aproximando-se de Antônio, ela percebeu que sua respiração estava ausente e seu rosto tinha uma palidez incomum. Com o coração acelerado, ela tocou a mão dele, que estava fria e sem vida. Com as pernas tremendo, ela se afastou do corpo. Seu olhar se desviou para os outros na sala informando que Antônio não respirava.
A altura da notícia, como uma onda, arrastou Arthur para o fundo do oceano. Por um instante, o ar pareceu lhe faltar, e seu coração pulsava como se estivesse prestes a se partir em mil pedaços.
Naquele instante, Arthur percebeu que a vida, com sua natureza imprevisível e impiedosa, podia ser brutal, causando feridas profundas nos corações de todos aqueles que amavam. Em meio à tempestade de emoções, ele vislumbrou a verdade sobre a fragilidade e a efemeridade da existência.
A escuridão envolveu a casa dos Menezes, como um manto pesado e sombrio que se estendia por cada canto e fresta. Essa despedida representava um adeus definitivo, uma pausa eterna em uma história de amor e carinho que não continuaria mais a ser escrita nos capítulos da vida.
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À medida que o sol despertava, hesitante, no horizonte, suas primeiras pinceladas douradas iluminavam suavemente a areia da praia de Orla dos Ventos. Nesse cenário pitoresco e comovente, a comunidade local se reunia para prestar suas últimas e sinceras homenagens a Antônio, um homem cuja bondade e sabedoria haviam conquistado o respeito e o carinho daqueles ao seu redor. A cerimônia começou com todos reunidos na areia, formando um círculo em torno da família Menezes. Dona Maria, a mãe de Arthur, segurava o braço de seu marido, Seu José, em busca de consolo e força mútua.
O funeral se desenrolou à beira-mar, sob o olhar tímido e solene do sol nascente. Ali, onde as ondas do oceano acariciavam a costa em um balanço suave e melancólico, a comunidade unia-se na perda de um homem que era um verdadeiro alicerce para sua família.
Cada pessoa presente segurava delicadamente uma flor em suas mãos. Vestidos de branco, seguiam uma tradição local.
O ar estava impregnado de emoção, e a cerimônia teve início com uma oração. Olhares tristes buscavam conforto uns nos outros, enquanto lágrimas deslizavam pelas faces dos presentes. Nesse momento solene, as conexões prevaleciam em meio ao sofrimento.
Durante o funeral, Mestre Benício, o líder espiritual local, um homem de meia-idade com cabelos grisalhos e olhos profundos, ergueu sua voz acima do som das ondas quebrando na praia, serena e reconfortante.
— Antônio viveu sua vida com generosidade e amor. Ele era uma alma genuinamente bondosa, sempre disposto a estender a mão para aqueles que precisavam, sem esperar algo em troca. Antônio deixará um vazio em nossas vidas. Mas é nosso dever honrar sua memória.
O líder entrava nos corações dos ouvintes, fazendo-os recordar momentos em que Antônio havia sido um apoio, um amigo, um mentor ou simplesmente um sorriso caloroso em um dia difícil. A ausência dele seria sentida, não só por familiares, mas por boa parte da cidadezinha.
O pai de Arthur tentava conter as emoções, mas sua voz traía a dor que sentia. A mãe, com os olhos avermelhados, enxugava as lágrimas constantemente. Arthur só pensava em como a vida seguiria sem a presença de Antônio na família, na falta de seus conselhos e de seu apoio incondicional. Como honrar sua memória ou como seguir em frente.
Seu coração transbordando de amor pelo avô que o inspirou e apoiou ao longo de sua vida. Enquanto ele e sua família se juntavam com os moradores, seus olhos varreram o grupo de pessoas reunidas. Foi então que ele a viu. Lá estava Helena, em meio à multidão, seus olhos cheios de lágrimas. Ao lado dela, estavam seus pais, também emocionados. Helena havia ficado em Orla dos Ventos para prestar homenagens ao avô de Arthur, mesmo com os planos de sua própria partida. Os olhares dos dois se encontraram por um breve instante, trocaram um sorriso triste, mas carinhoso.
Logo após a cerimônia na praia, os barcos locais, meticulosamente decorados com flores, fitas e bandeiras, estavam prontos para a ocasião especial. Eles começaram a se alinhar, imitando uma procissão marítima, embarcando nas várias embarcações.
A flotilha era composta por uma diversidade de barcos, incluindo pequenas canoas movidas pelos remos de pescadores experientes, que navegavam lado a lado com veleiros conduzidos por famílias inteiras. Enquanto a procissão avançava, o sol brilhava sobre a superfície do mar, refletindo nas ondas e iluminando o caminho.
Ao chegarem ao local escolhido, um ponto sereno e sagrado no mar aberto, os barcos reduziram a velocidade e ancoraram em círculo enquanto uma canção era entoada. Os olhos dos participantes acompanhavam as pétalas de flores enquanto elas eram lançadas suavemente no mar, deslizando sobre as ondas e formando um mosaico colorido exuberante.
As águas, agora salpicadas pelas cores das pétalas, dançavam graciosamente sobre a superfície do mar, num espetáculo poético que parecia unir o céu, o mar e a terra. Os raios do sol, pareciam abraçar as pétalas flutuantes, iluminando-as com um brilho dourado e etéreo. E conforme a cerimônia terminava, Arthur sussurrava a última mensagem de despedida:
— Vou sentir sua falta todos os dias!
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