Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

13. Isadora de Castilho parte 1

              ~-~Especial~-~            

   ==================

Isadora se sentia como se estivesse em um pesadelo. À noite estava estrelada e o cintilar das fogueiras, espalhadas. Sua mente estava coberta por uma nuvem de preocupação e medo. Kaimbe, estava em grave perigo. E agora, Wai'ana questionava sua habilidade de lidar com a situação.

Ela e o detetive se afastaram, abandonando-a com a tarefa de salvá-lo. Enquanto os Wanakauas o carregavam, Isadora os seguia de perto, direcionando-os para a cabana de seu pai.

Os homens, com grande esforço, deitaram o ferido em um leito. Agradecida, Isadora gentilmente os dispensou. Assim que eles saíram, ela colocou de lado o Kashiri, que havia trazido. Agora, era uma luta entre ela, Kaimbe e o veneno.

A cabana estava abarrotada de instrumentos médicos, incluindo um bisturi feito de pedra polida afiada, ataduras limpas de algodão, um lampião à óleo que servia para iluminar o espaço. E o mais importante, uma série de extratos de ervas e frascos contendo antiveneno de cobra.

Sua respiração estava irregular e superficial, o suor já começava a se formar no corpo, e ela sabia que o tempo estava contra eles. Rapidamente, ela acendeu o lampião que iluminou o interior da cabana com um brilho laranja suave.

Kaimbe agarrou fracamente a sua mão. Seus olhos, repletos de dor, travaram um esforço constante para se manterem abertos. Um olhar sereno, mas intensamente atormentado, encontrou os da jovem. Em um momento que parecia durar horas, seu aperto enfraqueceu, e, cedendo à exaustão e ao peso da dor, ele deslizou para a inconsciência.

Um terror a abateu. Estava sozinha, tanto com a responsabilidade quanto o medo. Os olhos de Kaimbe estavam fechados, o peito subindo e descendo irregularmente. Ela estava tão assustada. Mas precisava ser forte, para Kaimbe, para a aldeia, para o seu pai.

E falando nele, cada objeto na cabana lembrava ele. Ela podia quase vê-lo, dobrado sobre uma mesa, os olhos atentos e as mãos seguras enquanto a ensinava. Agora, no entanto, seu pai estava ausente e eles por conta própria.

Ela se forçou a lembrar das lições dele. Com uma mão trêmula, ela agarrou o pé de Kaimbe enquanto a outra segurava o bisturi. Lutando para estabilizar a tremedeira, ela fez uma incisão cuidadosa. Uma linha vermelha apareceu, e ela colocou o bisturi de lado.

Respirando controladamente, Isadora pegou o frasco de antiveneno. Com cuidado, ela derramou algumas gotas do remédio na ferida aberta. Ela podia ver o líquido desaparecer, absorvido pela pele de Kaimbe. Depois ela apanhou as ataduras limpas de algodão e começou a envolver o pé do dele.

Quando a atadura estava segura, Isadora se inclinou para trás, a exaustão se abatendo sobre ela. A mulher havia feito tudo que podia, tudo que seu pai teria feito. Agora, tudo que ela podia fazer era esperar. Aguardar para que o antiveneno funcionasse, para que Kaimbe acordasse. Para que ele ficasse bem.

De repente um barulho vindo da entrada chamou sua atenção, e Wai'ana entrou sem aviso. Ela não demonstrava medo ou preocupação, mas havia uma quietude nela que sinalizava seu desconforto com a situação. Isadora se sentiu tensa, antecipando o julgamento da líder tribal.

Wai'ana analisou a sala antes de seus olhos se fixarem em Kaimbe. Caminhando até ele, ela passou as mãos pelo rosto do filho, um movimento leve e maternal. Depois sua cabeça virou para Isadora.

— Você lutou bem por ele — disse de forma neutra, mas respeitosa. — Seu pai iria gostar de ter visto isso.

O elogio de Wai'ana conseguiu tocá-la. Automaticamente, seus olhos foram chamados por Kaimbe. Era um olhar carregado de preocupação, afeição e algo mais profundo. Ela o observava com um sentimento que não ousava dizer o nome, e era aí que Wai'ana notou a troca muda.

— A maneira como você olha para o meu filho. É a mesma que eu olhava para o pai dele.

Isadora foi pega de surpresa e antes que ela pudesse responder, Wai'ana continuou.

— Nossas tradições, nossos caminhos, devem ser respeitados. Kaimbe tem um papel a desempenhar e não posso permitir que nada o desvie disso.

— Eu... eu não sei do que você está falando — Isadora conseguiu dizer, desviando do olhar perspicaz de Wai'ana. Ela tentou manter o rosto impassível, mas a verdade borbulhava em seu peito, ameaçando derramar-se.

— O amor não é sempre suficiente, Isadora. Por mais forte e profundo que seja, existem responsabilidades maiores que nós mesmos. O bem do nosso povo, deve vir antes de nossos próprios corações.

Tais falas pareciam piorar a dor de Isadora. Ela sentiu as lágrimas subirem, mas as reprimiu. Renovada, ela encarou Wai'ana.

— Ele vai ficar bem... é tudo o que importa agora.

A líder assentiu e então sentou-se ao lado dela.

— Eu falei com o detetive. Ele me disse sobre os corpos. Os corpos que foram encontrados. Achei que deveria saber.

Isadora balançou a cabeça em negação, o medo começou a amarrar seu estômago. Ela podia sentir o olhar de Wai'ana pesando sobre ela, estudando-a enquanto a notícia era entregue.

— Isadora... ele disse que ao lado do corpo do casal havia um símbolo desenhado na terra. Você sabe que...

— Não... não para, por favor... — Isadora sussurrou, a negação brotando de seus lábios mesmo quando lágrimas quentes começaram a correr por suas bochechas. Ela pensou em seus pais, o sorriso caloroso de sua mãe. O pensamento de que eles foram assassinados, era quase demais para suportar.

Wai'ana tentou continuar. — Isadora... entenda uma coisa...

— Não, eu já entendi — ela interrompeu. — Eu já sei o que vai dizer, eu só não queria ter que pensar que... eu estou sozinha agora. Verdadeiramente sozinha.

— Não, você não está — Wai'ana insistiu. — Você tem a nós.

Isadora balançou a cabeça, a dor nos olhos dela tão profunda que se tornava insuportável.

— Se isso fosse verdade... você não teria tanto medo de me ver ao lado de Kaimbe.

A discussão não se prolongou, e Isadora sentiu alívio ao ver as folhas da entrada da cabana se moverem, deixando emergir a figura de Turi. O rosto dele ainda mostrava vestígios de preocupação de quando vira o irmão anteriormente.

— Como ele está?

Isadora suspirou. — Não sei dizer ainda. Vamos ter que esperar.

— Precisamos de notícias melhores do que essa. — Wai'ana parecia esforçar-se para manter a postura.

— Talvez eu tenha uma. — Logo atrás, Iaraú surgiu, sua entrada fazendo as folhas se agitarem violentamente. — Aritana convocou a aldeia para a fogueira. Jacy-Paraná está aqui.

Wai'ana levantou as sobrancelhas, surpresa. — O cervo... não é coincidência. Isso é bom.

Isadora olhou para Kaimbe, notando o suor frio em seu rosto e o ritmo incerto de sua respiração.

— Vou observá-lo esta noite, vocês podem ir. — Avisou ela chamando a atenção de todos.

Iaraú, com um traço sutil de indiferença sobre o aviso, chegou mais perto de Kaimbe.

— Quem diria que uma cobra te deixaria assim, irmão. — Falou com um tom de leve sarcasmo. — O grande Kaimbe.

— É difícil de acreditar, mas é a realidade, Iaraú. — Wai'ana falou por trás. — Kaimbe é forte, mas vai precisar ainda mais de nossa força quando acordar.

— Você vai vir com a gente mãe? — Turi perguntou, os olhos marejados.

— Não... não vou filho. Preciso ficar sozinha esta noite. Mas vá com seu irmão.

Iaraú franziu a testa. — Alguém ficará de olho no detetive e no caçador?

— O detetive já me deu o que eu queria. Não é uma ameaça e com certeza não é nossa prioridade. O caçador muito menos, vou pedir para que o libertem.

Iaraú imediatamente revirou os olhos, mostrando estar descontente com a decisão. — Você está sendo generosa de mais mãe.

— Generosidade não tem nada a ver com isso, Iaraú. Você sabe, seu pai teria tomado a mesma decisão. — Wai'ana começou a se levantar.

Ela se aproximou de seus filhos, e beijou cada um, com um beijo mais longo e demorado em Kaimbe. Com um último suspiro e um aceno final, ela caminhou até a abertura da cabana, deixando os três jovens e Kaimbe, que ainda jazia inconsciente.

Ao vê-la sair, Iaraú disse:

— Eu não entendo por que nossa mãe quer deixá-los soltos.

Turi semicerrou os olhos, inocentemente. — Você acha que eles podem fazer algo ruim?

— As pessoas que vem do mesmo lugar que ela, não deveriam ser considerados confiáveis. — Iaraú olhou para Isadora.

— O que quer dizer com isso? — Isadora imediatamente intervém.

— Simplesmente os que vêm de fora deveriam ficar do lado de fora.

— Não é você quem decide quem fica ou sai. — Ela diz, sentindo o rosto esquentar.

Turi denotou desconforto, movendo-se como se quisesse interferir, mas ao mesmo tempo não. Antes que ele pudesse dizer algo, Iaraú continuou.

— Eu só estou dizendo a verdade. Alguns de nós veem as coisas mais claramente. — Ele deu um sorriso antes de voltar-se para Turi. — Vou para a fogueira. Vai vir, irmão?

Turi congelou. — Po-ode ir na frente. Eu... te encontro lá.

Não se sabia se Iaraú havia aceitado a proposta. Sem nenhum gesto, ele foi em direção à saída, mas antes de partir, fez uma pequena parada, apenas para olhar Isadora como se estivesse sondando sua alma, e então deixou a cabana.

Turi havia ficado inseguro, olhava para Isadora, se esforçando para falar.

— Olha... o Iaraú. Ele tem suas... idéias. Ele parece muito protetor quando o assunto é a aldeia.

— Eu sei, mas há limites.

Turi coçou a nuca, procurando as palavras certas. — Seus pais também eram... hm, protetores assim com você?

Isadora não respondeu de imediato, pois perdeu-se nas memórias, levando Turi a se desculpar, acreditando ter tocado em um ponto sensível.

— Isadora, eu não...

— Está tudo bem. — Ela balançou a cabeça. — É só... complicado, eu acho. Lembrei deles.

— Nunca conheci meu pai. — Turi desviou os olhos de mal jeito. — As pessoas sempre falaram bem dele, e eu gostaria de ter tido a chance de conhecê-lo. — Turi estabilizou o olhar no irmão — Eu espero que Kaimbe se torne um líder tão bom quanto dizem que ele foi.

Isadora abaixou as sobrancelhas e o garoto afastou-se dela, indo em direção de Kaimbe.

— Ele sempre pareceu não ter medo de nada. — Turi tocou a beirada do leito — Sempre foi corajoso. Eu, por outro lado...

— Você não precisa ser Kaimbe, Turi. — Isadora estudou o rosto do jovem, observando as sombras de insegurança que se escondiam ali. — Você tem sua própria força.

Ele soltou um riso triste. — Eu não sei se tenho alguma coisa... eu acho que sou o filho mais inútil.

Ela se levantou e se aproximou dele, colocando uma mão reconfortante em seu braço. — Coragem não é só se atirar em perigos. Às vezes, é apenas estar lá quando alguém precisa. E você está aqui, certo? Kaimbe te vê. Eu vejo isso. A aldeia toda vê.

— Obrigado, Isadora. Às vezes, acho que estou à sombra de Kaimbe e Iaraú. Mesmo assim... eu agradeço. — Ele olha para a saída e depois para ela. — eu acho que vou indo.

— Tudo bem Turi... boa noite.

Com um sorriso tímido, ele andou para fora da cabana, deixando-a em silêncio, acompanhada por Kaimbe e a luz do lampião. A noite ainda estava jovem, ela olhou para o homem de coração apertado, murmurando:

— Não me deixe sozinha.

Então, um cheiro específico invadiu suas narinas, transportando-a de volta no tempo através de suas memórias. Era o cheiro de madeira polida, de uma casa limpa e organizada, de um lar que ela conhecia muito bem, uma que tentava esquecer.

Estava em casa, com apenas onze anos, quando seus pais começaram a fazer as malas. Ela os observou confusa, não entendendo o motivo da movimentação. O pânico se apossou dela quando eles lhe disseram para fazer as malas também.

— Mas eu não quero ir — ela lembra de ter protestado, suas pequenas mãos segurando firme a beirada da mesa da cozinha. — Por que temos que ir?

Seu pai, um homem de feições gentis, ajoelhou-se para ficar na altura dos olhos dela. Ele segurou suas pequenas mãos nas dele, apertando levemente para lhe transmitir conforto.

— Isadora, querida, acredite em nós. Precisamos fazer isso.

Os olhos da garota se encheram de lágrimas. Ela lembra de ter se sentido perdida, assustada. Mas também lembra do carinho que teve de seus pais. No meio da organização, Isadora se agarrou ao seu brinquedo favorito, um pequeno cavalo de madeira feito por sua mãe. Ele servia como seu companheiro constante, um objeto de conforto e lembrança de casa. Ela o colocou cuidadosamente em sua mala, decidida em levá-lo para onde quer que fossem.

Então eles partiram em um elegante Ford Model T. Abandonando a vida que conheciam, rumo ao desconhecido. A viagem foi longa e calma, as únicas conversas foram cochichos baixos entre seus pais, que tentavam disfarçar a tensão. Ela se lembrava de ficar observando a paisagem até ela mudar drasticamente, de prédios altos e ruas movimentadas para uma floresta densa e deslumbrante.

Contudo, a aventura tomou um rumo inesperado quando o confiável Ford Model T começou a engasgar e parou bem no meio do nada. O rosto do seu pai estava tenso enquanto ele abria o capô do carro, tentando encontrar o problema. Mas, em pouco tempo, ficou claro que eles não continuariam a viagem de carro. Resignados, seus pais pegaram as malas e lhes disseram que teriam que caminhar pelo restante do caminho.

Foi um esforço monumental para a pequena Isadora, que mal conseguia segurar sua mala. A floresta parecia ainda mais intimidante agora que estavam caminhando por ela. A trilha era acidentada e estreita, com raízes de árvores ameaçando tropeçá-la a cada passo. Mas ela não se atrevia a soltar a mão de sua mãe, o aperto firme era a única coisa que a mantinha seguindo em frente.

Ela reclamava constantemente para seus pais na tranquilidade da floresta. "Estou cansada", "Meus pés doem", "Não consigo mais andar". Eles a ouviam com paciência, oferecendo palavras encorajadoras, prometendo que logo chegariam. Porém, também se lembrava de vê-los trocando olhares preocupados quando achavam que ela não estava olhando.

Justo quando as reclamações de Isadora estavam alcançando um pico e seus pais pareciam prestes a ceder ao desespero, eles foram repentinamente abordados por figuras que surgiram das sombras da floresta. Eram indígenas, com arcos em suas mãos e rostos desconfiados. Ao verem as armas, Isadora gritou e se escondeu atrás da mãe, tremendo de medo.

O pai dela, tentou manter a calma. Ele lentamente levantou as mãos pacificamente, transmitindo que não eram uma ameaça. Tomando coragem, ele começou a falar com um dos indígenas que por sorte falava sua língua.

— Somos pacíficos. Estamos apenas de passagem, nosso carro quebrou e estamos tentando chegar até a próxima cidade.

Mesmo ouvindo, os indígenas ainda estavam com os arcos apontados em direção à família. Foi um momento de tensão extrema, todos à mercê desses guardiões da floresta. Eles trocaram algumas palavras entre si, depois o mais velho deles se adiantou e respondeu:

— Não deixamos nenhum homem passar daqui. Por que deveríamos acreditar em vocês?

O pai da garotinha pensou um pouco e respondeu em tom de súplica:

— Porque não temos outra escolha. Apenas queremos passar. Por favor.

Isadora, que espiava timidamente por trás de sua mãe, tentou observar o índigena que falava, mas ela rapidamente se escondeu novamente atrás da mãe quando seu olhar travou com o dele. Depois, ouviu os homens conversando entre si em um idioma desconhecido, antes de darem o veredicto.

— Nós vamos levá-los ao chefe da aldeia.

Isadora soluçou, agarrando o vestido de sua mãe com mais força. Ela não queria ser levada à uma aldeia cheia de nativos, longe da cidade para a qual eles se dirigiam. Seus olhos se encheram de lágrimas e ela começou a chorar baixinho.

— Está tudo bem — Sua mãe se abaixou e acariciou seus cabelos. — Vamos ficar bem.

Então, eles começaram a seguir os homens armados, embrenhando-se ainda mais na floresta. O clima era pesado, mas a mãe de Isadora continuava dizendo palavras de conforto para a filha, mesmo que ela mesma não estivesse tão certa assim.

Conforme o pequeno grupo avançava pela floresta, a aldeia começou a emergir à vista. Casas de palha e madeira formavam um círculo ao redor de uma praça central. Homens, mulheres e crianças pararam o que estavam fazendo, voltando seus olhares curiosos para os recém-chegados. O coração de Isadora batia acelerado enquanto ela se agarrava à mãe, assustada com a quantidade de olhares sobre eles.

O homem que havia falado com seu pai os conduziu até a maior tenda da aldeia. Dentro de seu interior, sentado em um trono esculpido em madeira e coberto por peles de animais, estava provavelmente o chefe da aldeia. Ele era um homem de traços fortes e olhos escuros como os da mulher ao lado, que possuía uma trança longa e roupas coloridas.

Mais ao lado, duas crianças estavam sentadas entre nove e onze anos. Uma delas tinha um olhar contemplativo, enquanto a outra exibia uma expressão astuta e maliciosa.

Com a voz grave, mas um tanto rouca, o homem no trono, introduziu-se — Sou Ahote, o comandante desta terra. Esta é minha esposa, Wai'ana, e nossos filhos. — Com isso, ele fez um gesto para a mulher ao lado de duas crianças, que olhavam para a família com grandes olhos de curiosidade. A garota não pode evitar, e retribuiu o olhar com curiosidade igual.

Sem perder tempo, o homem perguntou diretamente ao pai de Isadora.

— Quem são vocês? — Disse tossindo um pouco.

O pai dela, deu um passo à frente, fazendo um aceno de cabeça respeitoso para o chefe e a mulher ao seu lado.

— Eu... eu me chamo Daniel, esta é minha esposa Amanda.

— Daniel e Amanda...— murmurou Ahote, antes de seus olhos escuros se fixarem em Isadora. — E quem é essa garotinha?

— É nossa filha... Isadora.

— Isadora. Você parece ter a idade dos meus filhos. — Disse ele, suavizando um pouco de sua expressão. Então retornou à atenção de volta ao homem mais velho. — E o que fazem aqui?

— Tivemos que deixar nossa casa. Estamos tentando chegar à cidade mais próxima, procurando um lugar seguro para viver.

Ahote tentou rir, um riso baixo, mas que logo se transformou em uma tosse grave. Os espasmos pareciam sacudir seu corpo inteiro, e Wai'ana rapidamente colocou a mão em suas costas, seus dedos se movendo em círculos suaves numa tentativa de aliviar seu desconforto.

— A cidade não é um lugar seguro... — disse ele. — Os homens estão destruindo tudo, poluindo nossos rios. Eles não respeitam nada, apenas tomam tudo. Essa é a segurança que você busca?

— Você tem razão. Mas... não tivemos muita opção.

Ahote inclinou a cabeça, estreitando um pouco seus olhos escuros. — Opções parecem escassas quando o caminho certo não é o caminho fácil.

Antes que Daniel pudesse responder, Ahote foi tomado por mais uma onda de tosse que parecia rasgar sua garganta, sua face se contorceu em uma máscara de dor. Era uma cena difícil de presenciar, e Daniel, movido por um impulso incontrolável, interrompeu:

— Eu sou médico. Posso tentar ajudar.

Houve uma troca de olhares entre o chefe, que havia mudado de cor, e sua esposa. Eles hesitaram no instante, mas acabaram cedendo, Ahote fez um gesto com a mão, dando permissão para Daniel examiná-lo. Momentos depois Isadora viu seu pai ser guiado à uma grande cabana onde avaliaria o que estava acontecendo com o líder da aldeia, longe de olhos alheios.

Quando terminou, a jovem não se lembrava muito bem quando ou onde a notícia foi dada, mas via seu pai olhando para Ahote e Wai'ana, dizendo seriamente:

— Acredito que ele esteja com tuberculose, e em estágio avançado. Mas, com o tratamento certo, podemos melhorar seus sintomas.

— E o que você precisa para este tratamento? — Perguntou Wai'ana.

— Infelizmente eu não tenho tudo aqui comigo. Mas seria ótimo se pudessem me arrumar algumas plantas medicinais — explicou Daniel.

— E em troca? — Perguntou Ahote. — O que você deseja?

Daniel olhou de canto para sua esposa e filha. — Precisamos de um lugar para ficar.

Ahote ponderou até acenar com a cabeça.

— Está feito. — Ele disse —Você tratará de mim e sua família ficará sob nossos cuidados.

Então a aldeia tornou-se a nova casa de Isadora e sua família. Os dias se transformaram em semanas, e as semanas em meses. A saúde de Ahote melhorou com o tratamento, mas a doença estava muito avançada, e todos sabiam que o resultado final era inevitável. A presença da família de Isadora na aldeia era tolerada, mas não plenamente aceita. Eles ainda eram estranhos naquele lugar, uma presença exógena em um meio que não compreendiam completamente.

Isadora observava com frequência Kaimbe, o filho do chefe, um garoto tão misterioso quanto intrigante para ela. Eles não tinham uma relação de amizade, mas havia uma curiosidade sobre as respectivas culturas.

Um ano havia se esvaído desde a chegada dela na aldeia. E foi nesse dia, marcado pela convivência que a triste notícia veio à tona: Ahote havia morrido.

A aldeia mergulhou no luto. As atividades diárias deram lugar a rituais de despedida. O funeral, com cantos, danças e orações, durou vários dias e noites. Eles acreditavam que esses rituais ajudavam a guiar o espírito do homem para a próxima missão.

Foi durante o funeral que Isadora encontrou Kaimbe chorando sozinho. Ela nunca o havia visto expressar tanta vulnerabilidade antes. Sua mãe seria a próxima líder e depois ele, um papel que exigia força e coragem, mas naquele momento, ele era apenas um menino que havia perdido seu pai.

Ela se aproximou do garoto e ele ergueu o rosto ao ouvir os passos dela. Os olhos dele estavam vermelhos e inchados pelo choro. Foi quando sem dizer nada, ela estendeu a mão a ele, oferecendo o pequeno cavalo de madeira, seu brinquedo favorito e consolo durante tempos difíceis de mudança. Naquele dia, apesar de não serem amigos, Isadora sentiu que era a coisa certa a fazer.

E então, a vida seguiu o seu curso na aldeia, com a dor da perda ainda presente. Mas, como sempre acontece, o universo encontra um jeito de trazer novas esperanças em meio à dor.

Enquanto a comunidade estava reunida para uma cerimônia, um movimento sutil, um pequeno chute na barriga de Wai'ana, revelou um segredo há muito guardado: ela estava grávida. Em instantes a notícia se espalhou, embora Ahote tivesse partido, uma parte dele havia ficado.

A gravidez foi cercada de cuidados. As mulheres da aldeia se reuniam ao redor de Wai'ana, cantando canções antigas, enquanto as mãos delicadas massageavam seu ventre até que o dia do nascimento chegou. Na data, a aldeia se reuniu, e em meio a orações, um choro de bebê pintou a floresta. Era um menino.

Wai'ana, com lágrimas de alegria, decidiu nomear o filho de Turi, um nome antigo que significava "O Presente do Coração", pois ele era, de fato, um presente do amor entre ela e Ahote.

Continua...

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro