Capítulo 4
- Eu estava vindo do mercado quando entrei no apartamento e encontrei ele assim, chamei pela minha amiga mas ela não estava aqui.
Narro o acontecimento pela terceira vez para um policial. Já faz um dia que Ellen sumiu, e eu só pude prestar queixa de desaparecimento agora. Já perdi a conta de quantas vezes liguei para ela, todas as vezes caindo na caixa postal.
Respiro tentando controlar minha raiva enquanto vejo o homem fardado anotar o que eu disse no computador, ele parece fazer perguntas apenas porque precisa seguir o protocolo, não parece interessado em achar minha amiga.
Samuel chegou dez minutos depois da polícia, eu liguei logo depois de chamar eles. Eles avaliaram superficialmente a casa antes de sair e pedir que eu esperasse vinte e quatro horas para fazer a queixa de desaparecimento e que conferisse se algo valioso havia sido roubado.
Minha raiva parece aumentar toda vez que vejo o olhar despreocupado no rosto deles, a resposta implícita de que aquele bairro é perigoso e qualquer coisa pode ter acontecido, e que não há chances de eles irem investigar.
Perguntei hoje pela manhã ao Sr. Mars se ele havia visto algo de estranho mas ele disse que havia sido um dia tranquilo como todos os outros, que me viu sair e então ninguém tinha passado pelo corredor até a hora que eu cheguei.
- Calma Farina, eles vão achar ela.
- Eles não estão nem sequer procurando!
Vejo Samuel se encolher quando grito, ainda com raiva. Peço desculpas e o puxo para fora da delegacia sob o olhar de pena e irritação de alguns policiais e pessoas comuns. Ele diz que preciso comer algo e me acalmar enquanto me guia para a lanchonete do outro lado da rua.
Estou entrando na loja quando vejo algo estranho no reflexo da vidraçaria do estabelecimento, a silhueta daquele casal que vi dias atrás. Quando me viro, eles ainda estão lá, olhando para mim fixamente antes de se virarem e entrarem no beco atrás deles. Murmuro para Samuel que o encontro em alguns minutos, que preciso fazer uma ligação. Ele parece preocupado, mas entra e me deixa ir.
Sei que é estúpido, mas sigo para aquele beco com medo, curiosidade e raiva fervilhando dentro de mim.
- Você é bem difícil de achar, sabia?
Olho para o homem desconfiada, ainda perto da saída caso algo ocorra fora do previsto. Agora que não estou aterrorizada pelo homem de olhos negros e sobre o que ele pode fazer comigo, avalio o homem a minha frente.
Jeans desgastadas, camisa laranja por baixo de uma jaqueta preta e um colar com pingente de floco de neve, a pele bem bronzeada faz parecer que ele fica o dia todo na praia e seus cabelos são ruivos, lembrando labaredas de fogo. Ele sorri como se fossemos velhos amigos, isso me faz dar um passo de segurança para trás.
A garota que naquela noite segurava sua mão está encostada despreocupada na parede ao lado dele, sua pele é branca como a neve e ela tem cabelos loiros lembrando o branco. Ela usa um vestido azul celeste por baixo da jaqueta jeans, a única cor quente vem do pingente de chama no seu pescoço e eu sinto vontade de falar da cafonice que são os colares de casal, mas me mantenho quieta quando subo meus olhos para o seu rosto. Diferente dele, ela me olha como se eu fosse nada mais que uma formiga que ela pode pisar quando quiser, sem sorriso nos lábios sem cor.
- Quem são vocês?
Pergunto confusa, ele sorri como se aquilo fosse uma brincadeira.
- Está brincando, não é?
Ele olha para a garota confuso quando vê que não faço ideia do que está acontecendo, ela dá de ombros, respondendo que não sabe o que está acontecendo também.
- Para onde vocês levaram a Ellen?
Dessa vez os dois me olham confusos em conjunto, tento dar mais um passo para fora desse lugar, mas sinto que meus pés estão presos no chão. Um rápido olhar me mostra que o chão está molhado pela chuva que caiu de madrugada e que meus pés estão congelados ao chão, tento me tranquilizar ao mesmo tempo que lembro o destino do homem no beco dias atrás, me pergunto se doeu. O homem faz cara feia para a mulher.
- Solta ela, Lizzie. Você vai assustar a garota.
Lizzie não parece muito disposta a fazer isso, ela se aproxima e me olha de cima a baixo, seus olhos param no meu colar por um segundo antes dela voltar a me encarar, sua voz saindo dura.
- Nós que perguntamos, onde está Eleonora Castelhano?
Medo se apodera de mim enquanto estou na mira do seu olhar gelado e me pergunto de onde Ellen conhece eles. Sinto que posso mexer os pés novamente, mas o medo me impede de me mover um único centímetro.
- Eu não sei, ela sumiu ontem.
Lizzie sorri como se ela fosse um lobo e eu sua presa, o ruivo atrás pigarreia e ela revira os olhos. Ela cheira o ar e minhas roupas fazendo uma expressão de nojo.
Solto meu fôlego quando ela se afasta alguns passos e olha para o homem.
- Ela fede a enxofre.
Um resmungo indignado sai da minha boca e ele sorri como se me pedisse desculpas. Lizzie apenas dá de ombros e volta a se encostar na parede com indiferença.
- Me chamo Daniel, príncipe do Reino do fogo, só para você saber. Ela se chama Elizabeth.
Aceno ainda confusa e digo que me chamo Farina, Daniel me dá um sorriso como se já soubesse disso.
- Tenho um pedido estranho para te fazer, Farina.
Franzo o cenho desconfiada, olhando para a rua atrás de mim, apenas alguns passos e então vou estar onde todos podem me ver. Falo para ele continuar.
- Precisamos ver sua casa.
Eu olho para as duas pessoas tentando assimilar o que acabei de ouvir e então faço o que qualquer pessoa sã faria: eu corro.
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