Capítulo 3
Conheço inúmeras pessoas que dizem odiar segundas-feiras, e eu entendo, é início de semana e geralmente o final de semana passou muito rápido, mas enquanto todos os adolescentes normais odiavam segundas eu tinha um enorme desprezo pela quarta-feira. Não importa se o dia amanheceu claro com o sol ou nublado com chance de chuva, eu detestava o meio da semana. E trabalhar parecia ser uma tarefa impossível nesse dia.
— Você está de mau humor, não é?
Não preciso me virar para saber quem está falando, a voz masculina e divertida é reconhecível para mim. Samuel Henkins. Um cliente habitual dessa lanchonete e um amigo insuportável que fiz.
— O que vai querer?
Pergunto no automático mesmo que já saiba a única coisa que ele pede do cardápio.
— Que tal o número da sua amiga Ellen?
Reviro os olhos para ele, cansada demais para ter essa conversa novamente. Samuel tem um penhasco por El desde que a viu um dia aqui me esperando para irmos para casa juntas, desde então vive me pedindo o número dela. Ellen foi firme ao dizer que não queria nenhum contato com ele e eu entendi, Samuel podia ser meio estranho as vezes.
Estou me virando para voltar ao balcão quando sinto ele segurar meu braço, Sam possui um sorriso divertido enquanto seus olhos verdes reluzem como se dissessem que ele está me zoando. Puxo meu braço de volta para mim e ergo uma sobrancelha.
— Um café forte, mas quero falar com você antes.
Olho para o lado vendo se meu chefe está por perto antes de suspirar e me sentar na cadeira do outro lado da mesa, cinco minutos de descanso não vão ser o fim do mundo. Samuel me olha com expectativa e eu o olho confusa para ele em resposta. Quase me sinto ofendida com seu olhar que grita "lenta" e ameaço me levantar quando ouço sua pergunta.
— Você passou? Na faculdade?
Tudo bem, Samuel pode ser meio estranho por gostar obsessivamente do Flash e de um quadrinho japonês com conteúdo duvidoso entre garotas muito novas, mas é 2020, todos são estranhos e ele é um bom amigo, então foi a segunda pessoa a saber da minha inscrição para a faculdade. Só não achei que ele se lembraria disso meses depois quando sequer se lembrava o que havia comido ontem.
Sua animação vai caindo quando vê minha falta de animação, posso ver ele questionar se deve pegar minha mão e me dar apoio por uma resposta que ele sequer recebeu.
— Eu não sei, não abri a carta ainda.
Ele me olha feio, resmungando um palavrão e sobre como isso foi maldoso, sorrio ácida para ele. Não que não seja verdade, eu ainda não abri a carta, El e eu chegamos tarde ontem e acabei acordando atrasada para o trabalho hoje, não tive tempo ou coragem de abrir no caminho ou quando cheguei.
— Vou saber só mais tarde.
Vejo a cabeça quase sem cabelos e a carranca do meu chefe no fundo da loja e me levanto num pulo, murmuro para Samuel que já trago seu café e volto para trás do balcão, vendo o olhar desconfiado do Sr. Torres, lhe dou um sorriso amarelo e volto ao meu trabalho.
— ¥ —
— Droga Ellen, era para você me encontrar na frente do mercado hoje.
Vejo um dos meus vizinhos me olharem estranhamente enquanto eu reclamo com meu celular após ter ligado para Ellen pela terceira vez e ter ido para a caixa postal novamente. Ela devia me encontrar no mercado para fazermos as compras e dividir o peso das sacolas, mas aqui estou eu, sentindo minha mão esquerda doer pelo peso das sacolas que eu seguro enquanto uso a mão direita para segurar o celular enquanto ligo para minha amiga sumida.
Me assusto quando meu celular toca, o nome de Samuel brilha na tela e eu suspiro antes de atender.
— Diga que já sabe a resposta, eu estou morrendo de curiosidade.
Suspiro cansada pela milésima vez no dia, respondendo que não, ainda não abri a maldita carta na minha mochila. Só mais um lance de escadas e então estou na porta do meu apartamento.
— Pode parar seja lá o que esteja fazendo e abrir a carta agora, eu não vou morrer do coração só porque você está tentando ser má comigo.
Dou de ombros para o nada, decidindo que preciso de um descanso e que Ellen merece ser a última a saber por sua mancada comigo. Largo as sacolas no chão do corredor em frente à minha porta, tiro uma alça da mochila e pesco a carta no fundo da bolsa, um pouco amassada pelo caminho longo e sufocante dentro do ônibus no caminho da ida e da volta para o trabalho, aquele negócio é pior que uma lata de sardinha.
Abro a carta com cuidado, ouvindo a respiração de Samuel pela ligação, emito um ruído desacreditado após ler o que está escrito.
— O que foi, Farina? Você passou? Tudo bem se não tiver passado, sempre há outras tentativas e essa escola nem é tão boa assim, certeza que consegue uma carreira melhor sem ela e...
Interrompo a tagarelice de Samuel, sentindo minha respiração irregular e algumas lágrimas brotarem no canto dos meus olhos ao reler pela terceira vez o conteúdo do papel.
— Samuel eu... eu passei.
Preciso afastar o celular do ouvido quando Samuel começa a gritar de alegria, não que eu não esteja perto de dar pulinhos aqui. Sinto a felicidade preencher meu corpo por inteiro e decido que vou esquecer que El furou comigo e entrar para lhe contar que passei.
Samuel resmunga algo insatisfeito quando digo que vou desligar, mas o faço sem prestar atenção no garoto, vasculhando o bolso das minhas calças a procura das minhas chaves. Minhas mãos tremem um pouco mas consigo abrir a porta e entrar sem problemas.
— Ellen você não acredita! Eu passei na faculd...
E de repente minha animação se esvai quando eu olho para o interior da casa. Grito por Ellen desesperada enquanto vejo o apartamento completamente revirado e destruído.
Oieee, semana passada por motivos pessoais eu acabei não conseguindo postar esse capítulo e por isso essa semana vai ter atualização dupla, o capítulo quatro vai essa quinta-feira e é a partir dele que a nova versão dessa história começa a aparecer.
Beijinhos,
Kauh Walker
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