Capítulo Um : O Destino
“Coincidências é o nome que os tolos dão para o destino. A vida de todos está guardada nas estrelas, se você conhecer os astros, você conhecerá o seu destino, conhecendo seu destino, você terá o controle dos seus caminhos.
Livro dos Astros: Destinos 1:5
Capítulo um
Joseph e Tatiana já me esperam na porta de casa como de costume. Hoje iremos cavalgar nos campos de maça que outrora foram da minha família, hoje eles são tidos como um parque onde qualquer um pode entrar. Assim que saio a porta vejo Tatiana sorrindo, ela segura o meu corcel negro que apelidei carinhosamente de Neve.
— Finalmente vossa alteza resolveu sair de casa. — Caçoa Joseph fazendo uma reverência de cima do seu garanhão marrom. — Estava preparando o vestido para o oráculo?
— Você sabe muito bem que não ligo para essas coisas. — Respondo montando Neve, ignoro a pergunta dele, já estou farta de falar sobre o evento de hoje à noite. — Acho melhor partirmos logo, não posso voltar tarde hoje.
— Carey deixa de ser resmungona, se sua avó ouvir que você não liga para o oráculo, ela vai acabar te pegando de jeito. —Afirma Tatiana dando risada.
— Porque não vai cuidar dos seus anões e me deixa em paz? — Questiono saindo em disparada com meu cavalo.
Tatiana é a filha mais velha dos Blanc. Ela possui longos cabelos marrons que contrastam com sua pele escura, seus olhos se destacam pelo tom Âmbar que os fazem parecer em brasa. Todos em nosso reino se lembram dela por causa dos seus sete irmãos menores. A senhora Blanc deu à luz a sete crianças de uma vez, o que assusto todo mundo. Ela sempre contar a fantástica história dela, história essa que já decorei de pois de ouvi-la dezena de vezes. Ela sempre diz que depois de ter dado à luz a Tatiana tentaram ter mais filhos, só que não conseguiam. Durante anos tentaram, até o dia que a senhora Blanc encontrou uma velha mulher que estava faminta em uma estrada fora dos muros, ela lhe deu uma das suas tortas de maça e a velha agradecida tocou sete vezes no vente dela, oito meses se passaram e os sete bebês nasceram magicamente. Hoje as crianças têm quatro anos e andam atrás de Tatiana como loucos, todos brincam dizendo que os pequenos irmãos dela são como os anões das minas de diamantes.
— Carey espere. — Grita Joseph, finjo não ouvir e avanço em direção ao portão da cidade, passo pelos guardas que me olham com reprovação. Sei que a imagem de uma garota com roupas da corte em cima de um cavalo não é muito boa, mas parei de ligar para essas opiniões a muito tempo. Quando chego a estrada, olho para trás e vejo meus amigos vindo. Sigo a frente por uma boa parte da estrada, antes de cortar para dentro da floresta e espero meus amigos.
— Você realmente precisa correr tanto assim Carey? — Questiona Joseph exasperado. — Parece que estamos indo salvar alguém da forca.
— Joseph tem razão, você corre demais. — Murmura Tatiana esbaforida.
— Não tenho culpa se vocês são lentos, não se esqueçam que Neve é muito veloz. — Digo sorrindo enquanto faço carinho em meu cavalo. — Vamos de uma vez. — Falo guiando Neve para entrada da floresta. Uma trilha de chão batido leva direto ao campo de macieiras. Neve começa a correr devagar para meus amigos conseguirem nos acompanhar. Neve os sente antes mesmos que eu os veja.
Desde muito nova consigo os vê, os seres da sombra sempre estão por perto, sempre estão à espreita, agora eles correm ao meu redor como vultos indistintos. Neve relincha e sai em disparada, escuto o trotar frenético dos cavalos de meus amigos ficando para trás enquanto Neve correr em direção ao palmar de maças.
As sombras parecem dançar ao nosso redor, a floresta parece um borrão verde na velocidade em que Neve corre. Tudo que acontece depois parece que dura uma eternidade. Neve para bruscamente me lançando para frente. Sinto meu vestido ondular ao meu redor enquanto voo como um pássaro em direção a uma árvore. Sinto meu corpo caindo como uma pedra no chão, sinto um dor tomar todo o meu corpo, tento me levantar, mas não consigo me mover. Fico ali parada pelo que parece horas até ouvir passo vindo na minha direção, penso que podem ser os seres das sombras.
Tento novamente me levantar, mas meu corpo não me obedeci, então tendo me arrastar, mas sinto uma mão tocar as minhas costas.
— Calma, tenta não se mexer.— Murmura uma voz profunda e rouca de algum lugar do meu lado.— Esse foi um tombo feio, terá sorte se não tiver quebrado importante.— Finalmente o dono da voz entra no meu campo de visão, ele tem os mais profundos olhos azuis que eu já tive o prazer de ver, eles não eram totalmente azuis, não sei como mais seus olhos era uma confusão entre o azul, o verde, o violeta e um tom tão escuro que parecia negro.— Vou te ajudar a se sentar tudo bem?
— Sim, tudo bem. — Consigo responder olhando para o seu rosto. Ele não é bonito, seu nariz é grande demais, seus cabelos são de um castanho sujo. Assim que o estranho consegui me sentar, ele me apoia perto de uma arvore, se agacha na minha frente e começa a procurar algo no bolso de sua calça, após alguns segundos ele tira um vidrinho azul de dentro dela. — O que é isso? — Pergunto quando ele destampa o vidro e tenta levar o frasco aos meus lábios.
— Calma, isso irá aliviar a sua dor.— Diz levando o frasco aos meus lábios e por fim derrama o liquido adocicado na minha boca.— Não se preocupe, isso não é veneno e apenas verbena azul, você vai ver como vai se sentir melhor rapidamente.— Concordo com um gesto de cabeça enquanto encaro aquele homem.— O que está fazendo sozinha nessa parte da floresta?
— Maças. — Murmuro sentindo meu corpo ficar dormente. — Vim colher maças com meus amigos, mas meu cavalo se assustou e saiu em disparada.
— No mercado da cidade não tem maças? — Pergunta me olhando com um sorriso de canto.
— Não como as daqui. — Respondo colando meu olhar ao dele.— Meu tataravô prantou essas arvores, minha avó faz questão de comer as maças da nossa terra.
— Deixe-me adivinhar. — Diz me observando com curiosidade. — Você é uma Archer, neta da velha Judith Archer?
— Como sabe o nome da minha avó? — Assim que faço a pergunta ele se coloca de pé e olha para saída da floresta. Meus amigos aparecem em seus cavalos me procurando ao redor, o estranho acena para eles que logo o veem e avançam em nossa direção.
— Você ainda está sentindo dor? — Pergunta se abaixando novamente. Eu nego com a cabeça e ele me estende sua mão, eu a pego e com sua ajuda me levanto. — Não disse que a verbena ajudaria? — Tenho que reconhecer os efeitos da planta, rapidamente me sinto bem como se nada tivesse acontecido. — Tenho que ir agora, você deve ter cuidado com a floresta, existem coisas que podem ser perigosas nela. — Murmura antes de me puxar contra si e me beija de surpresa. — Esse fica como pagamento pelo remédio. — Sussurra se afastando rapidamente e corre em direção a um cavalo que eu não havia visto até então. Ele monta o majestoso animal e sai em disparada me deixando pasma o olhando se afastar.
— Carey! — Tatiana grita quando está quase chegando a mim. — Você está bem, meu deus esse cavalo enlouqueceu? – Ela para o cavalo ao meu lado e desce com um pulo gracioso, ela começa a procurar por ferimentos no meu corpo.
— Eu estou bem Tatiana, acho que apenas machuquei o cotovelo e os joelhos. — Afirmo olhando as manchas de sangue no meu vestido.
— Quem era aquele homem que estava aqui Carey? — Pergunta Joseph ainda sobre seu cavalo olhando para mim e Tatiana. — Eu o vi te beijando.
— Eu não sei quem ele é, ele me ajudou e roubou um beijo meu.— Respondo de forma distraída conferindo um cotovelo, ele estava intacto, mesmo com o tecido do vestido rasgado e manchado, meu cotovelo estava sem nenhum arranhão, rapidamente olho meus joelhos e vejo que eles estão perfeitos, Tatiana me olha com o mesmo assombro que eu. — Sumiu, os ferimentos sumiram.
— Carey isso não é possível, o que aquele homem fez? — Pergunta Joseph pulando do cavalo e vindo até mim, ele segura meu braço e busca por ferimentos, ele não os acha.
— Ele me deu um liquido. — Murmuro espantada.
— Que liquido? O que você bebeu e o porquê fez isso? — Questiona Joseph, visivelmente assustado.
Joseph é bonito, sua pele é branca e seus cabelos castanhos, os olhos são de um verde vivido com ranhuras marrons.
— Ele disse que era verbena azul, que ajudaria com a dor. — Explico olhando a cara assustada dos meus dois amigos. — O que foi?
— Ele te deu verbena? Você tomou erva de bruxa? — Questiona Joseph alarmado. — Pelos Astros Carey! Onde você estava com a cabeça, ele poderia ter enfeitiçado você!
— O que é erva de bruxa? — Pergunto apreensiva, a reação de Joseph estava me assustando.
— Verbena azul também é conhecida como erva de bruxa Carey, minha mãe dizia que as bruxas usavam isso para fazer feitiços e encantar pessoas. — Explica Tatiana.
— Eu não acredito nesses tipos de superstições, acho melhor pegarmos os que viemos pegar e irmos embora, e eu não quero mais ouvir sobre esse assunto de bruxas. — Digo olhando para os meus amigos, faço os dois prometerem não falar nada sobre o acontecido e colhemos as maças. Tenho certo receio em subir em neve novamente, mas logo tomo coragem e monto meu cavalo.
Uma sensação estranha passa por mim, sinto que os eventos acontecidos podem me levar a algo. Afasto essa sensação e cavalgo para casa, onde irei me preparar para a cerimônia de hoje.
***
Definitivamente odeio o dia do oráculo.
Após voltar da floresta e deixar todas as maças na cozinha, depois vou para o quarto da minha avó onde passarei as próximas horas.
— Carey você deve sorri sempre, hoje nossa vida pode mudar. — Não, ela vai começar novamente com a história. — Quando aqueles adivinhos conseguirem ver o que está na cara, todos saberão que é a flecha e não uma seta idiota.
— Vó, os adivinhos sabem o que fazem ou a senhora acha que eles deixariam 5 garotas morrerem por não saberem interpretar a profecia? — Pergunto olhando minha vó pelo espelho, ela já estava escovando meu cabelo a algum tempo.
— Eu acredito, Killiam nunca gostou da nossa família, por isso não duvido que ela esteja usando a magia escura dela para não permite que eles vejam.— Minha vó resolveu prender uma parte do meu cabelo usando uma tiara de ouro em formato de folhas de louro.— Você sabe o que estou dizendo, ela tomou nossa terra e hoje nossa herança não passa de um maldito pomar.
— Vovó a senhora sabe que podem prende-la por falar mal da rainha? — Questiono a velha que apenas dá de ombros. — A senhora ainda deseja me mandar para o ninho da víbora? Grande avó eu fui arrumar.
— Não seja insolente menina tola. — Esbraveja me dando um tapa no braço como sempre fazia. — Minha querida neta, reinos podem ser forjados nas trevas, mas impérios só nascem na luz. Luciuos nasceu sobre o sol do imperador, se ele quiser tomar todos os pequenos reinos, ele precisará de luz. — Minha avó tinha a estranha capacidade de me assustar com suas palavras, ela sempre dizia que eu seria a luz que tiraria o nosso reino das trevas, meu pai sempre me dizia que ela falava isso por está louca, mas eu sabia que no fundo eu sempre tive medo dela está certa.— Você é descendente do arqueiro, tem o sangue de Camille, quando você nasceu e eu vi seus olhos dourados eu entendi tudo, você minha amada neta, tem o sangue dos Archers, apenas você pode trazer a luz e nos tirar das trevas que aquela maldita nos jogou, uma rainha que não subiu, isso é sinal da maldade que aquela mulher carrega.
Todos dizem que o fato de a rainha não ter acendido aos céus com o rei Julian era um mal sinal, se passaram uma década e o reino nunca esteve tão decadente.
Minha avó não diz mais nada enquanto vai até seu baú, ela o abre com reverencia e tira um ramo de alecrim de cima do tecido que cobre os vestidos de Camille. Uma antiga tradição de família era usar o vestido de seu antepassado para conhecer seu noivo e um outro para seu casamento, na nossa família temos dois vestidos, um dourado que usei em todas as cerimonias do oráculo e usarei hoje novamente e um vermelho que possivelmente usarei em meu casamento.
— Esses vestidos estão na nossa família por quinze gerações, minha avó usou o vestido dourado quando conheceu meu avô, minha mãe o usou para conhecer meu pai e eu o usei primeiro na escolha do oráculo e depois para conhecer seu avô.— Minha avó sorri com as doces lembranças da juventude, ela não era tão velha assim, tinha apenas mil luas cheias, sua aparecia era vivaz.— Hoje você vai usar ele e no futuro sua sobrinha e depois a filha dela.— Minha vó tira o fino tecido de cima do primeiro vestido e puxa a peça para fora do baú, ele é lindo. O vestido possui um corpete justo e sua saia cai em ondas de tule dourado escuro, na parte de cima ele possui longas mangas em um dourado mais claro, em toda ela apliques de pequenas pedras ocupam o espaço sobre o fino tecido.
Minha avó me ajuda a entrar no pesado vestido e depois a fecha-lo, ela o ajeita o deixando armado e bem rodado. Caminho para frente do grande espelho do quarto dela e me olho nele. Estou perfeita, o tecido cobre quase todo o meu corpo, o único ponto que não está coberto é o sobre minha marca de nascença, uma mancha que lembra duas flechas cruzadas. Minha avó coloca um colar com pequenos rubis ligados por fios de ouro sobre o meu pescoço e um par de brincos também de rubis brilhantes.
— Você está linda Careymina, parece que ele foi feito para você. — Minha vó alisa o corpete do vestido e ajeita a saia mais uma vez. — Está parecendo uma verdadeira rainha. — Ela me encara com um brilho no olhar. Ela se coloca ao meu lado e vejo que ela usa um vestido na mesma cor dourada do que o meu, minha avó é uma mulher muito bonita, mesmo com toda sua idade, sua pele é dourada e seus cabelos negros como os meus e do meu pai e irmãos, isso além dos olhos dourados que todos os Archers ostentavam .— O dourado é nossa cor, sua mãe, seu pai e seus irmãos estão vestidos com a mesma cor, hoje só perderemos em brilho para família real.
— Ela diz isso porque a cor da realeza era o vermelho, o preto , o dourado e o prata. Eles conseguiam usar tudo de forma anormalmente brilhante. — Vamos descer logo, não quero me atrasar.
Todos da minha família tinham plena consciência de que a cerimônia do oráculo é algo muito importante para minha avó, tanto que todos caminhavam apressados para chegarmos no horário certo. Assim que passamos pelos portões do palácio, um dos guardas nos para e pergunta qual família somos, minha avó mais do que depressa anuncia que somos os Archers, ele confirma na lista e nos guia até uma mesa bem na frente. Assim que estamos acomodados, começo a reparar na decoração, o vermelho e o dourado dominam todos os lugares, percebo algumas garotas me olhando entre elas Denise Sets, segundo boatos ela será a nova rainha, ela tem uma seta no ombro e hoje ela resolveu ressaltar isso, o vestido cor de esmeralda se destaca sobre os cabelos vermelhos e os olhos azuis, ela me encara em desafio porque os segundo os outros boatos, eu seria a escolhida.
— Finalmente nos colocaram em um lugar bom, já estava achando que sentaríamos perto da saída novamente. — Sussurra minha mãe. Malelisse Archer era a filha mais nova de um lavrador, meu pai se apaixonou por ela e contra todos, meu pai se casou com ela, mesmo ele sendo herdeiro de uma fortuna. Eu e ela partilhamos os mesmos longos cabelos negros azulados e a mesma pele pálida, nossas semelhanças morrem aí. Minha mãe é mais doce e delicada do que eu poderia ser.
Após a chegada de todas as famílias do reino, incluindo as que perderam suas filhas. Eles começam a servir o banquete. Primeiro servem uma salada de dente de leão com maças e queijo curado seguida de uma sopa de flores e mariscos. O prato principal e um delicioso guisado de cervo com batatas, maçãs e arroz negro e a sobremesa é um bolo de chocolate e frutas vermelhas.
— Essa comida está uma delícia. — Diz meu pai sorrindo enquanto come seu segundo prato de guisado. — Vocês deveriam aproveitar, tudo está muito bom. – Todos na mesa concordam. Todos tinham o costume de comer muito em banquetes, minha mãe sempre dizia que era costume os homens comerem muito. Uma prova disso eram as montanhas de pratos formados em todas as mesas. Dessa vez até minha mãe tinha comido bem, eu como sempre, tinha disputado com meu irmão mais velho e meu pai quem conseguia comer mais, eles acabaram ganhando.
Diferente das outras cerimônias, percebi que minha avó não havia comido muito pouco e estava estranhamente em silencio olhando para escadaria.
— Não acredito que Judith Archer está negando comida! — Murmuro rindo, mas minha risada morre quando ela me encara.
— Você não percebeu não é? Essas são nossas maçãs, eles estão usando os frutos das nossas macieiras. — Sussurra minha avó que sem dúvidas está ficando louca.
— Vovó, não são nossas maças. — Afirmo sem muita certeza. — Estive no pomar hoje, as macieiras estavam lotadas, eles não conseguiriam colher tantas maças em algumas horas.
— Eu não duvido nada que eles o façam. — Diz minha avó. — A rainha tem acesso a bruxas e seres mágicos, eles podem fazer isso. — Minha avó olha para o patamar elevado na escadaria, eu acompanho o olhar dela e de repente tambores e trombetas começam a tocar e as luzes no salão diminuem fazendo a escadaria ser o único ponto iluminado.
— Senhoras e Senhores, gostaria de agradecer a presença de todos nessa bela noite.— A Voz do adivinho Solamilis toma o salão antes mesmos dele aparecer de pé sobre a escada, criados aparecem recolhendo os pratos antes que o homem que se equilibra ente dois degraus da escada volte a falar.— Essa noite viemos para trazer uma resposta definitiva das estrelas, hoje iremos anunciar aquela que realmente foi escolhida pelos Astros.— Todos aplaudem e por um breve instante olho para família Sets, Denise segura a mão de sua mãe ansiosa.
— Isso que veremos, esses idiotas vão acabar errando novamente. — Murmura minha avó. — Olhe lá a Sets, ela já tem certeza que será dito o nome dela.
— Mamãe fique quieta, alguém pode te ouvir. — Pede meu pai encarando a mãe. Meu pai é um homem alto e corpulento, seus olhos são dourados e seus cabelos são em um tom de preto que de alguma forma parece quente.
— Sobre a lua dourada, velada pelo caçador, o berço que uma vez deu fruto, fruto novamente dará, no decimo ciclo a flor de luz nascerá, O sangue do caçador em suas veias correrá. A última rainha da luz retornará e o reino das trevas tirara, mas para isso fazer, a seta o negro coração precisa perfurar sobre a noite do guardião, a mulher bêbada deve ouvir o que o espirito diz. Reinos formados pelas trevas são, mas apenas a luz impérios podem formar. Cuidado, cada erro uma vida custará, então sábio será aquele que essa profecia souber decifrar. Não se esqueça que a moça escolhida, a marca terá. — Bocô, o segundo mestre dos adivinhos aparece ao lado do outro na escada. — Por cinco luas nos reunimos para entender a profecia que temos a dez ciclos, nas últimas cinco vezes fizemos o nosso melhor, mas ele não foi o bastante.— O homem se cala e olha para algumas famílias.— Em nome do nosso amado rei peço perdão as 5 famílias que perderam suas filhas, nosso erro custou o sacrifício heroico dessas cinco moças.
— Nós tememos cometer o mesmo erro novamente. — Diz Solamilis. — Por isso pedimos um tempo maior, era preciso entender tudo corretamente, já que a profecia está na língua dos Fiordes. Foram longos dias até chegamos a uma tradução exata. — Um outro homem vestido em uma túnica negra se aproxima dos outros de túnica branca, ele é diferente dos outros, é ainda mais jovem.
— Boa noite a todos, eu sou o grã-mestre Alexei. — Anuncia o jovem rapaz. — A tradução da profecia estava errada, não entendíamos o que queriam dizer com lua dourada e tivemos uma resposta a duas semanas atrás. Uma lenda muito antiga falava sobre uma lua de ouro, uma lua que acontece uma vez a cada dez milênios. — Alexei olha para todos, ele demostra está muito seguro de tudo o que diz. — A última havia acontecido no dia que a rainha Camille subiu ao trono e se repetiu a 17 anos atrás, mas se olharem para cima poderão contemplar que hoje temos uma lua dourada no céu.
— O homem olha para cima e todos seguem seu olhar, a lua realmente está com um tom dourado.— Outro erro foi a tradução equivocada da palavra “šípka”, ela foi tida como seta, o que é errado, já que na linguagem dos Fiorde, a tradução correta seria flecha.— O homem faz uma pausa.— “A flecha o negro coração precisa perfurar”, essa seria a tradução correta, essa tradução nos levou a três famílias e quando chegamos a marca, sobraram apenas duas.
— Chegamos a duas famílias que já tiveram rainhas em suas linhagens. — Bocô volta a falar. — Depois de descobrimos isso, fomos pesquisar sobre o nascimento dessas duas rainhas e apenas uma nasceu em um ano em que misteriosamente, uma lua dourada estava nos céus. — Aproveito a pausa para olhar Denise, ela me encara e eu sinto meu coração disparar. Olho para minha avó que sorri como soubesse de algo, vou questiona-la no momento em que a trombetas tocam novamente.
— Nosso bondoso rei Luciuos. — Os três homens gritam ao mesmo tempo como sempre fazem. Essa é a deixa para o jovem rei abandonar seu lugar elevado e descer pelas escadas acompanhado pela rainha Killiam e a jovem tutora do rei, a senhorita Morgana. — Fomos buscar a resposta das estrelas para vossa majestade. — Voltam a gritar quando o rei para na metade da escadaria. Eu nunca o tinha visto de perto, sempre na noite de escolha minha família ficava no fundo do salão diferente de hoje, hoje consigo vê-lo e tenho a impressão que ele também me vê com seus olhos caleidoscópicos, os mesmos olhos do estranho que me ajudou hoje pela manhã. — O senhor deseja saber o que os astros dizem? — Luciuos dá um passo há frente e diz em voz alta.
— O que os Astros tem a me dizer? — Questiona com sua voz rouca e imponente. — Que dessa vez me tragam a resposta correta. — Os três adivinhos descem até os pés da escada parando a frente das primeiras mesas, parando entra as mesas.
— Sobre a lua dourada aquela que nasceu velada pelo caçador será exaltada.— Os três gritam em todas as direções, eles nunca fizeram isso em uma cerimônia.— Meu rei, os Astros dizem que a moça vem dá...— Eles fazem uma pausa olhando para Denise antes de cravarem os olhos em mim e apontaram para minha mesa.— Casa Archer.— Acho que o ar do salão acaba quando todos arquejam juntos.— Que os Astros salvem a escolhida! — Olho para todos ao redor em busca de um sinal de que eles tenham errado, mas apenas encontro olhares de espanto e descrença como os meus. Minha avó sorri altiva enquanto meus pais aparentam surpresa. Olho em direção a o rei e ele também me olha, ele sorri de canto enquanto estica uma mão.
— Que minha futura rainha venha a mim. — O modo que ele me encara é o mesmo que uma raposa olhando um cacho de suculentas uvas. Antes que um dos adivinhos venha até mim, me levanto quase no automático, seguro a mão que o adivinho me oferece e deixo que ele me guie até o pé da escada, posso sentir os olhares de todos sobre mim. Antes de subir, olho para minha avó, ela me apoia com um olhar caloroso.
— Se a senhorita escolher subir, estará aceitando seu destino e o querer dos Astros. — Sussurra Alexei.
— Eu nunca fugi do meu destino, eu sempre estive aqui, o erro foi de vocês. — Retruco respirando profundamente e dou um passo em direção ao primeiro degrau da escada. Subo encarando o homem que será meu marido, ele está vestido em seu traje real preto com detalhes bordados com fios de ouro, em sua cintura uma espada se prende, sobre seus cabelos loiros revoltos, descansa uma imponente coroa com a estrela que simboliza nosso reino. Paro um degrau abaixo de onde ele está e faço uma reverencia, quando me levanto, o encaro e sussurro quando ele me oferece sua mão. — Creio que não esperava revê-lo tão brevemente. — Ele me estuda com seu olhar frio e então sorri de canto.
— Posso dizer o mesmo senhorita Archer. — Sussurra enquanto pego sua mão, ele a beija. Sinto um ar malicioso emanar dele, algo nesse homem é atrativo e perigoso. — Essa é uma doce surpresa para mim, tenha certeza disso.
— Fico extasiada em saber. — Respondo em tom de deboche, ele sorri de forma felina antes de vim para frente e me dá um beijo de surpresa. Me assusto com o ato dele e acabo dando um passo para trás, me esquecendo totalmente que estava em uma escada. Sinto meu corpo ir para trás, mas no instante seguinte sinto os braços de Luciuos me envolverem. Escuto alguns arquejos atrás de nós fazendo o rei olhar para todos abaixo de nós, ele novamente coloca aquele maldito sorriso de canto e me firma sobre a escada mais não me solta. Bufo contrariada e impaciente peço que me solte.
— Ainda não, precisamos fazer uma cena para os seus futuros súditos. — Encaro o homem que me segura e tento me afasta sem sucesso, nosso olhar se cola e ficamos ali presos no olhar um do outro. Tento desviar meu olhar enquanto sinto que minha alma estiva sendo tragada para os olhos dele.— Apenas faça o que pedi Careymina. — Sussurra me mantendo presa no encanto dele. Sem ação me viro para todos e sinto meus lábios se esticarem em um sorriso, olhos espantados me encaram. Luciuos desce comigo até os pés da escada, ele se aproxima e me beija novamente, só então me solta e antes de se afastar diz. — Esse é por salva-la novamente. — Então ele se afasta e caminha de volta para o topo da escada.
Me sinto perdida por alguns instantes antes de caminha de volta para minha família. Sinto minha consciência voltar aos poucos, uma nuvem sai da minha mente, estava me sentindo hipnotizada pelas cores que brigavam nas íris dos olhos dele, ainda podia ver cada cor enquanto voltava para casa e enquanto eu tentava dormir. Minha vó estava em êxtase, ela festejava e dizia que finalmente a justiça seria feita. Minha mãe estava separando as coisas para o casamento. Deitada na escuridão, deixo que minhas dividas venham à tona, o rei de alguma forma conseguia mudar de aparecia, eu seria a futura rainha, eu poderia morrer amanhã, minha vida nunca mais seria a mesma depois dessa desse dia.
Eram quase dez horas da manhã quando minha avó me acordou. O sol invade o meu quarto que está lotado por mulheres que conheço apenas de vista, vejo Tatiana perto da minha cama, me pedi desculpas com o olhar. Minha amiga está com os cabelos presos no topo da cabeça e com um rico vestido azul claro, ela está linda assim como sua mãe que está vestida nas mesmas cores que ela. As outras mulheres estão vestidas com as cores de suas famílias, todas muito bem arrumadas, até mesmo Denise Sets está no meu quarto.
— Bom dia menina, está na hora de se arrumar. — Diz minha vó em seu exuberante vestido vermelho e dourado. Me sento na cama e vejo minha mãe em um vestido parecido com o da minha avó, os dois são grandes e rodados na cor dourada com bordados e pedras vermelhas, o de minha avó possui longas mangas e o da minha mãe mangas curtas. — Primeiro você deve se banhar, sua mãe preparou um banho de sálvia, tomilho-limão, hortelã, alecrim, Erva-cidreira, rosas e leite. São para relaxar, curar e preparar seu corpo. — Era uma tradição noivas tomarem banho com leite de ervas, o banho era feito com meia tina de água perfumada quente, meia tina de leite de cabra e uma infinidade de ervas aromáticas, diziam que era bom para pele e para acalmar a noiva.
Me levanto e as mulheres me guiam até a tina. Deixo que me dispam e entro no banho quente. Realmente a confusão de cheiros e o calor era bem relaxante, enquanto aproveito meu banho, minha avó lava os meus longos cabelos negros com jasmim e erva doce. Os cuidados que recebo não são o bastante para me esquecer de tudo que tenho pela frente, mas serve para me relaxar um pouco.
Dizer sim para o rei significava que estaria me entregando a ele, e se tivessem errado mais uma vez, eu não viveria para ver um novo ciclo de Calis no dia seguinte. Quando saio da tina e me secam, Tatiana me entrega uma taça de vinho de maça, tomo pequenos goles enquanto começo a me vestir, roupas intimas delicadas e uma grande anágua antes de colocaram o delicado vestido de casamento da família. O vestido é feito de um pesado tecido vermelho com bordados feitos de fios de ouro, as alças caem uma pouco abaixo do meu ombro, delas uma manga comprida desce até minhas mãos, a manga maior é feita de uma renda dourada muito delicada a mesma renda que adorna o topo do vestido, fazendo um detalhe no decote estilo canoa, o corpete aperta minha cintura de uma forma bonita. O vestido é pesado, imponente e me faz parecer uma rainha de verdade.
***
A astrologia é a única crença em Constelation, todos acreditamos nos deuses que vieram das estrelas e naqueles representados por elas. Quando os deuses deram os dons para os sacerdotes, eles revelaram que existiam outros reinos em outros véus, todos criados pelos por eles. Quando os antigos abriram os olhos para grandiosidade dos mundos, o tempo se tornou mais longo e logo nossos reis viviam por milênios. A Igreja dos astros é feita com pedra de estrela, uma pedra escura parecida com ferro com um brilho incrível.
Quando paramos em frente a imponente construção, sinto meu corpo estremecer, como se vibrasse por estar ali. Meu pai segura minha mão é me olha sorrindo com doçura, devolvo o sorriso e tento me acalmar antes de entrarmos no local lotado.
Luciuos está em seu traje reais vermelho e dourado, com uma longa capa vermelha escura, ele usava sua coroa com brilhantes estrelas douradas, tudo dá a ele um ar imponente. Quando chego até ele, o sacerdote inicia a cerimonia e logo sela nossa união. Luciuos me beija e me guia até o trono. A coroação na outras vezes era marcada para o dia seguinte ao casamento, para terem certeza que a noiva não iria morrer. Mas hoje eles resolvem me coroar após o casamento. Colocam sobre a minha cabeça uma coroa com estrelas iguais as que estão da cora de Luciuos, só que em menor tamanho, além disso pequenos rubis descansavam por todo o espaço dela. Tentei sorri enquanto me anunciavam como a nova rainha, como a escolhida. Mas falhei, porque o medo estava me dominando.
O caminho da igreja até o palácio estava cercado de cidadãos, todos estavam muito felizes e jogavam flores a frente do cortejo que seguia o tapete que se estendia da escadaria da igreja até a do palácio. Eu e Luciuos caminhávamos a frente acenando para todos, logo atrás minha família, todos vestidos em dourado e vermelho eram acompanhados pela rainha Killiam que usava um vestido preto com bordados dourados, um pouco atrás deles vinha a senhorita Morgana, que eu tinha quase certeza que estava bêbada, usando um esvoaçante vestido cinza.
Fechando o cortejo estavam membros da nobreza que desfilavam as cores de suas casas. Meu marido não solta minha mão, ele não sorri, seu rosto não possui nada além de uma máscara de indiferença, ele me conduz até a escadaria do palácio e me solta aos pés dela. Ele começa a subir seguido pela rainha e Morgana, ele olha para as duas mulheres e sobe até o primeiro nível da escada, ele para e me encara de um jeito estranho.
— Está na hora de dar adeus a sua antiga vida, quando estiver pronta, suba os degraus e venha para a sua nova vida Careymina. — A voz de Luciuos reverbera e me faz tremer por dentro.
Rapidamente abraço toda a minha família, me demoro em me despedir de minha avó e sussurrando, peço que ela clame a Melis por mim. Quando me afasto deles, clamo que volte a vê-los em breve.
Aceno para os meus amigos e respirando profundamente e subo os degraus.
caminho em direção a minha nova vida ou a minha ruína e destruição.
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