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✨ Capitulo 5 ✨

⚜️ SERENA ⚜️

O vestido de brocado pesava sobre meus ombros como uma corrente invisível. O corpete apertado limitava minha respiração, mas minha mãe insistia que uma dama deve suportar qualquer desconforto com graça. As pérolas em meu pescoço pareciam um colar de espinhos, cada nó apertado me lembrando do destino que ela tentava me impor.

— Endireite os ombros, Serena. Seu futuro marido não se casará com uma mulher desleixada. — A voz dela era cortante, carregada de impaciência.

Mordi a língua para não responder. O espelho à minha frente refletia uma estranha vestida de dourado e branco, com os cabelos ruivos trançados de maneira impecável. Minha mãe sorria satisfeita, como se estivesse lapidando uma joia rara para ser exposta em um grande evento. Mas eu sabia a verdade. 

Não passava de uma mercadoria sendo preparada para a venda.

— Caminhe pela sala — ordenou, gesticulando com elegância. — E lembre-se, passos curtos, delicados. Uma dama desliza, não pisa como um soldado.

Respirei fundo e obedeci, sentindo o tecido pesado do vestido arrastar-se pelo chão de mármore. O som abafado ecoava pela sala, cada passo me afastando um pouco mais da liberdade que nunca tive. Minhas mãos estavam frias, mas minha mãe continuava a me avaliar com olhos críticos.

— Você precisa sorrir mais, Serena. O Barão deseja uma esposa radiante, não uma mulher de feições amarguradas.

O Barão. O título provocava em mim uma repulsa que era o quase física. Não importava o quanto eu me enfeitasse, não importava o quanto minha mãe tentasse me transformar na esposa perfeita, para ele eu não passava de um investimento político.

— Estou sorrindo — menti, forçando meus lábios a se curvarem em algo que se assemelhava a um gesto educado. Minha mãe suspirou, ajeitando a saia de seu próprio vestido.

— Não seja impertinente. Se você continuar com essa teimosia, fará o Barão desconfiar de seu temperamento. Ele pode decidir que uma esposa insubordinada não vale o esforço.

Se ao menos fosse verdade.

Se ao menos essa fosse minha chance de escapar. Mas eu sabia que Frankfurt já havia tomado sua decisão. O dote estava acertado, os acordos selados. A opinião dele sobre mim não importava.

— Agora, pratique a saudação. Você deve curvar-se com a leveza de uma pétala ao vento. Nada de movimentos bruscos.

Fiz o que ela pediu, escondendo o nojo que subia pela minha garganta. A cada gesto ensaiado, eu me sentia menos eu mesma e mais uma boneca vazia, uma peça perfeitamente moldada para agradar um homem que eu odiava sem sequer conhecer direito.

Minha mãe observou, inclinando levemente a cabeça, avaliando cada detalhe com perfeição.

— Melhor. Mas ainda falta doçura em seus olhos. O Barão precisa sentir que você o admira.

Admirar? Eu preferia arrancar meus próprios olhos a admirar aquele porco.

Minha mandíbula travou, mas mantive a compostura. Olhei para minha mãe pelo reflexo do espelho e forcei um sorriso polido, calculado, como ela tanto exigia.

— Claro, mãe. Admirá-lo será um desafio e tanto.

Seu olhar endureceu, e por um instante, achei que ela fosse me repreender. Mas ao invés disso, ela apenas apertou os lábios, ajustando uma mecha solta do meu cabelo com dedos frios.

— Cuidado. Ingratidão não combina com uma noiva.

Engoli a vontade de rir. Ela realmente achava que estava me concedendo um destino glorioso, como se fosse uma dádiva ser vendida a um velho fedorento.

Curvando ligeiramente a cabeça, fiz uma leve reverência, mantendo o tom educado, mas deixando o veneno escorrer entre as palavras.

— Como sempre, farei exatamente o que espera de mim, mãe. Serei obediente, graciosa e encantadora. Uma esposa perfeita para um homem que poderia muito bem ser meu avô.

Seus olhos se estreitaram, e por um momento, vi sua mandíbula se contrair. Mas minha mãe nunca perdia a pose.

— Sua língua afiada pode se tornar sua ruína. Homens não gostam de mulheres que falam demais, Serena.

Dei um passo à frente, segurando levemente a barra do vestido, como uma dama bem-educada faria.

— Oh, não se preocupe, mãe. Prometo que usarei minha língua apenas para dizer as palavras certas... — Inclinei levemente a cabeça, fingindo inocência. — "Sim, querido Barão, o senhor tem razão." "Oh, como o senhor é sábio, querido Barão."

Meu sorriso era doce, mas meus olhos ardiam em desafio. Minha mãe inalou o ar lentamente pelo nariz, mantendo sua compostura, mas eu vi. Vi a faísca de frustração brilhar em seu olhar. Ela deu um passo à frente, sua voz baixa, afiada como uma lâmina.

— Não se iluda, Serena. — Seus olhos frios encontraram os meus. — Um casamento vantajoso é o único escudo que uma mulher tem neste mundo. Você deveria estar agradecendo por ser entregue a um homem poderoso, em vez de desperdiçar sua juventude acreditando em contos de fadas!

Ela inclinou ligeiramente a cabeça, estudando minha expressão como se quisesse garantir que suas palavras penetrassem fundo.

— Se, por um acaso, você pensa que a sociedade se importa com o que sentimos, com o que desejamos, então, minha filha, você é mais ingênua do que imaginei. Amor não tem lugar no casamento. Nunca teve. O que importa é posição, influência e estabilidade financeira. O resto? O resto é ilusão.

A voz de minha mãe soou como um açoite, fria e cortante, mas algo em seu olhar vacilou por um instante. Um brilho breve, uma hesitação quase imperceptível. Como se, por um momento, ela se lembrasse de algo. Ou de alguém.

Mas então, como sempre, ela ergueu o queixo, fechando-se em sua armadura de indiferença.

— Eu pensei no Barão Frankfurt por um motivo. — Sua voz retomou a firmeza habitual. — Ele é um homem influente, mas já viveu muito mais do que deveria. Não tem herdeiros homens. Quando ele morrer, a fortuna será sua. Você será uma viúva jovem e rica, livre para decidir seu próprio destino, sem precisar se humilhar diante de homem algum.

A surpresa me atingiu como um choque gelado.

Minha mãe acreditava que essa era a única liberdade que eu poderia ter? Ser entregue a um homem repulsivo, esperando pacientemente sua morte para, enfim, ser livre?

Meu estômago revirou.

— Você acha que isso é liberdade? — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro, mas carregada de incredulidade. — Me vender para um homem nojento e esperar que ele morra?

Minha mãe piscou lentamente, sua expressão impassível como mármore.

— É o máximo de liberdade que uma mulher, como eu e você, pode ter.

De repente, eu enxerguei minha mãe de verdade. Pela primeira vez, vi além da frieza, além da rigidez e da obsessão pelo status. Vi uma mulher que teve seus sonhos esmagados, que aprendeu a sobreviver no jogo cruel da nobreza do único jeito que sabia.

Mas isso não tornava o que ela estava fazendo certo.

Meu maxilar travou.

— Controle seu temperamento, Serena. — Sua voz saiu firme, mas por um breve momento, vi algo vacilar em seu olhar.  — Você pode me odiar agora, mas um dia entenderá que faço isso por amor a você.

Sorri. Não um sorriso doce, não um sorriso obediente, mas um carregado de veneno.

— Não se preocupe, mãe. — Murmurei, deixando a ironia escorrer pelas palavras. — Vou sorrir para ele. Vou me curvar com toda a graça que me ensinou. E quando ele finalmente cair morto... eu me lembrarei de agradecer a você por sua generosidade.

Um silêncio pesado se instalou entre nós. Ela me avaliou por um longo momento, seus olhos buscando qualquer traço de fraqueza. Mas eu já havia recolhido minhas garras.

Não valia a pena discutir. A cerimônia já estava sendo planejada.

Raquel estava no canto da sala, observando tudo sem dizer uma palavra. Seu olhar, diferente do de minha mãe, não era crítico ou exigente. Era distante. Ela era apenas uma serva. Ainda assim, sua presença ali era um lembrete sutil de que alguém via. Alguém entendia que eu não era uma dama ansiosa para casar, mas sim uma prisioneira condenada a um destino que nunca escolhi.

Mordi a parte interna da bochecha, sufocando a vontade de chorar que ameaçava me dominar.

Então, a porta se abriu de repente, e uma pequena figura irrompeu na sala com energia.

Cassandra.

Minha irmã mais nova correu até mim, segurando sua boneca de pano com força. Seus cabelos ruivos estavam desalinhados, as bochechas coradas de excitação.

— Serena! — Ela exclamou, agarrando a barra do meu vestido com suas mãozinhas pequenas. — Você parece uma princesa!

Meu coração se apertou.

Ajoelhei-me para ficar em sua altura e sorri suavemente.

— Uma princesa?

Cassie assentiu energicamente, seus olhos brilhando com entusiasmo inocente.

— Sim! Igual às histórias! Você vai casar com um príncipe e ter um castelo lindo, e eu vou visitar você todos os dias!

Minha garganta se fechou.

Oh, Cassie...

Engoli em seco e forcei um sorriso, tentando esconder a dor que suas palavras inocentes me causaram.

— Sim... — murmurei, minha voz quase inaudível. — Igual às histórias.

Mas eu não estava sendo entregue a um príncipe encantado. Minha mãe soltou um longo suspiro de exasperação, cruzando os braços com impaciência.

— Cassandra, quantas vezes já disse para não entrar sem permissão? — Sua voz cortante quebrou o momento, mas Cassie, teimosa como sempre, apenas continuou me encarando, ignorando a repreensão.

— Mas eu só queria ver a Serena... — Ela murmurou, agarrando a barra da minha saia como se tentasse se manter ali.

Minha mãe pigarreou, impaciente.

— Vá brincar em outro lugar. Serena tem que aprender a se comportar como uma dama.

A expressão de Cassie murchou instantaneamente. Ela soltou minha saia devagar, seu lábio inferior tremendo levemente, mas não protestou. Seus olhos me fitaram uma última vez, cheios de admiração e... algo mais.

Tristeza.

Quando Cassie saiu, senti um nó apertar em meu peito. Eu não queria que ela crescesse e passasse por isso. Não queria que um dia, minha doce irmãzinha fosse moldada para agradar homem nenhum. Mas como eu poderia protegê-la, se nem conseguia salvar a mim mesma?

Minha mãe voltou a me encarar, como se a breve interrupção tivesse sido apenas um incômodo passageiro.

— Agora, onde estávamos?

Quando finalmente fui dispensada, caminhei até meu quarto, fechando a porta atrás de mim com um aperto sufocante no peito. Meus olhos ardiam, e antes que pudesse me conter, as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.

Caí sentada na beira da cama, os dedos apertando o tecido pesado do vestido. Eu não queria isso. Eu nunca quis. Solucei baixinho, minha respiração entrecortada.  A porta estava trancada, e ninguém podia me ver assim. Era aqui, longe dos olhos julgadores de minha mãe, que eu permitia que minha máscara caísse. E, mesmo envolta nesse desespero sufocante, um som suave ecoou no meu quarto.

Três batidas na porta.

Meus olhos se abriram lentamente, meu coração saltando no peito.

— Serena?

A voz rouca e familiar me atingiu como um raio.

Por um momento, hesitei. Não queria que ninguém me visse assim. Mas era Darien. E, contra toda a lógica, eu sabia que poderia ceder na frente dele.

Com os olhos marejados, levantei-me e destranquei a porta.

Assim que abri, Darien não disse nada. Apenas a fechou e me puxou para um abraço, envolvendo-me em seu calor. Meu rosto encontrou seu peito, e seus braços apertaram minha cintura, como se quisesse segurar todas as partes quebradas dentro de mim.

— Está tudo bem. — Ele sussurrou contra meu cabelo.

Fechei os olhos, deixando-me afundar naquele momento, naquele único instante onde eu não precisava ser forte. Meu corpo relaxou contra o dele, e por um breve segundo, a dor não pareceu tão esmagadora.

— Eu não quero isso, Darien. — Minha voz saiu embargada, quase uma súplica. — Eu não quero esse casamento.

Ele afastou-se levemente, apenas o suficiente para encontrar meus olhos. Sua mão quente subiu até meu rosto, afastando uma lágrima com o polegar.

— Eu sei que não quer. — Seus olhos azuis estavam escuros, tomados por uma fúria contida, mas havia algo mais ali. Algo que ele tentava esconder.

Eu inspirei fundo, tentando conter o soluço que ameaçava escapar.

— Ela nem ao menos perguntou o que eu queria... — Minha voz tremeu, e eu odiei a fragilidade que transparecia.

A mandíbula de Darien se contraiu, e seus dedos deslizaram para a base do meu pescoço, como se quisesse ancorar minha dor na dele.

— Eu não quero ser uma mercadoria.

— Eu sei. — Ele sussurrou, e havia algo tão intenso em seu olhar que fez meu coração vacilar. Darien desviou o olhar por um instante, como se lutasse contra algo dentro dele.

— O que foi? — Perguntei baixinho, estreitando os olhos.

— Nada. — Murmurou, mas seu maxilar estava travado. A mão dele deslizou de meu rosto para meu ombro, segurando-me firme.

— Se eu pudesse... — Darien hesitou, e então sua voz se tornou quase inaudível. — Se eu pudesse, eu te tiraria daqui agora mesmo.

Um nó apertou minha garganta e senti meu peito se aquecer com aquela promessa impossível. Ele me estudou por um momento, seus olhos dançando entre os meus lábios e minha alma despedaçada.

— Eu iria para qualquer lugar onde você nunca tivesse que derramar uma lágrima de novo.

Minha respiração ficou presa na garganta. Ele estava sendo sincero.

— Então apenas fique aqui comigo. — As palavras escaparam antes que eu pudesse pensar.

Darien franziu o cenho por um instante, como se ponderasse minhas palavras, como se estivesse prestes a dizer algo, mas então, ele se afastou levemente.

Foi quando notei que segurava algo escondido na outra mão.

— O que é isso? — Perguntei, enxugando os vestígios de lágrimas do rosto.

Ele ergueu o objeto entre nós, um pequeno sorriso brincando no canto dos lábios.

— Uma surpresa.

Meus olhos se arregalaram assim que reconheci a capa.

— Não pode ser...

Darien balançou a cabeça com diversão e entregou-me o livro com delicadeza. Meus dedos deslizaram pelo couro macio da capa. Era o livro novo do meu autor favorito.

— Como conseguiu isso? — Murmurei, ainda sem acreditar.

Ele se inclinou ligeiramente para frente, um brilho malicioso dançando em seus olhos. 

— Digamos que eu tenho meus métodos. 

Minha boca se abriu em surpresa, e um sorriso escapou antes que eu pudesse impedir. 

— Esse livro custa uma fortuna, Darien. — Cruzei os braços, estreitando os olhos. — Não me diga que você... roubou?

Ele arqueou uma sobrancelha, a expressão perfeitamente ofendida. 

— Está insinuando que sou um criminoso, minha dama? 

— Estou constatando os fatos. — Retruquei, tentando manter a seriedade, mas falhando miseravelmente quando ele sorriu de lado. 

— Bom, para sua informação, não roubei de ninguém. Apenas... peguei emprestado. 

— Pegou emprestado sem a intenção de devolver? 

Ele soltou um suspiro dramático. 

— Agora está sendo exigente demais. 

— Darien... 

— O quê? — Ele ergueu as mãos em falsa inocência, um sorriso brincando nos lábios. — É original, novinho em folha e estava esquecido em uma prateleira empoeirada. Achei que precisava de um novo lar.

Revirei os olhos, mas não consegui evitar o sorriso que ameaçava surgir. Ele sempre fazia isso—transformava qualquer momento ruim em algo mais leve, arrancando-me um riso mesmo quando eu achava impossível. 

— E onde exatamente você conseguiu algo assim? — Cruzei os braços, arqueando uma sobrancelha. 

Ele inclinou a cabeça ligeiramente, como se saboreasse o momento antes de responder. 

— Já que está tão curiosa... Digamos apenas que conheço as pessoas certas. — Seus olhos azuis brilhavam com um misto de mistério e diversão. — E achei que precisava de algo que te fizesse esquecer... tudo isso, pelo menos por um tempo. 

As palavras dele me atingiram com mais força do que eu esperava. Meu peito apertou, e por um momento, apenas o encarei. Ele sempre sabia. Sempre entendia. Enquanto todos ao meu redor tentavam moldar quem eu deveria ser, ele enxergava quem eu realmente era. 

Abaixei o olhar para o livro em minhas mãos, os dedos correndo suavemente sobre a capa. 

— Romeu e Julieta. — Murmurei, reconhecendo o título. 

— Um romance trágico sobre um amor impossível. — Ele inclinou-se um pouco mais perto, a voz mais baixa, carregada de algo que fez minha pele arrepiar. — Achei apropriado. 

Levantei os olhos para encará-lo, e ele estava ali, tão perto que podia sentir seu calor. 

— Está insinuando que somos um caso perdido? — Tentei soar leve, mas minha voz falhou levemente. 

Ele sorriu, um daqueles sorrisos com direito a covinhas, lentos e perigosos. 

— Estou dizendo que nem toda tragédia termina em desgraça. Alguns finais... ainda podem ser reescritos. 

Meu coração vacilou, e antes que pudesse responder, ele deslizou o livro para minhas mãos com um olhar intenso. 

— Leia. — Ele disse suavemente. — Quem sabe, pode encontrar algo nele que te inspire. 

Eu queria dizer algo, mas as palavras pareciam presas na minha garganta. Apenas segurei o livro, sentindo seu peso, enquanto Darien permanecia ali, tão perto, tão impossível... e tão irresistivelmente real.

— Obrigada. — Murmurei, minha voz mal passando de um fio.

Ele não respondeu de imediato. Apenas me observou, sua expressão suavizando aos poucos.

— Não precisa agradecer. — Um sorriso lento surgiu em seus lábios. — Só queria ver esse brilho nos seus olhos de novo.

Meu coração se aqueceu, e por um instante, o peso do mundo pareceu um pouco menos esmagador. Darien me observou, como se quisesse gravar minha expressão em sua memória. Então, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele deu um passo à frente e segurou meu rosto entre suas mãos.

Meu coração parou.

Seus polegares deslizaram suavemente sobre meu rosto, sua respiração misturando-se à minha. Por um momento, achei que ele fosse dizer algo, mas, em vez disso, ele apenas se inclinou e pressionou um beijo suave em minha testa.

Fechei os olhos, sentindo o calor daquele gesto se espalhar por todo o meu corpo. Quando ele se afastou, abri os olhos lentamente, apenas para encontrar os seus fixos em mim, azuis como o oceano antes da tempestade.

— Preciso ir antes que percebam meu sumiço. — Ele murmurou, sua voz mais rouca do que o normal.

Assenti, incapaz de dizer qualquer coisa. Ele hesitou por um instante, como se não quisesse partir. Mas então, deu um último sorriso e caminhou até a porta, abrindo-a com cuidado antes de desaparecer pelo corredor.

Fiquei ali parada, segurando o livro contra o peito, ouvindo os ecos de seus passos se apagarem.

E foi naquele momento, enquanto meu coração ainda martelava em meu peito, que percebi a verdade.

Eu estava irremediavelmente apaixonada.

E não havia mais volta.

⚜️⚜️⚜️

Depois de passar quase a tarde inteira imersa no livro que Darien me deu, fui obrigada a comparecer ao jantar com meus pais naquela noite. A sala de jantar estava iluminada por candelabros imponentes, lançando sombras suaves sobre a mesa longa e impecavelmente arrumada. O aroma dos assados e das ervas frescas se espalhava pelo ar, mas meu apetite havia ficado para trás, preso entre as páginas que ainda ecoavam em minha mente.

Cassie, minha irmã mais nova, balançava as perninhas sob a cadeira, completamente absorta em um pedaço de pão amanteigado. Sua inocência me fazia questionar por quanto tempo mais ela permaneceria alheia às verdades da nossa família. Minha mãe, como sempre, mantinha a postura impecável, os olhos atentos a cada um de meus gestos, como se eu ainda estivesse sendo avaliada em um treinamento interminável.

O som dos talheres contra os pratos preencheu o silêncio até que meu pai, em seu tom firme e deliberado, quebrou a quietude:

— Vocês já ouviram a história do rei perdido? — Ele repousou a taça de vinho sobre a mesa, seus olhos carregados por um brilho enigmático.

Conhecia bem aquela história, murmurada entre os criados e repetida nas conversas dos nobres, sempre envolta em mistério e conspiração. Cassie arregalou os olhos, largando o pão sobre o prato com um pequeno baque.

— Um rei perdido? Como alguém pode perder um rei? — perguntou, a curiosidade cintilando em sua voz infantil. — Ele simplesmente se escondeu como no jogo de esconde-esconde?

Suspirei, rolando os olhos de leve.

— Cassie, reis não brincam de esconde-esconde.

Ela me ignorou, voltando-se para nosso pai com a curiosidade brilhando em sua expressão. Meu pai sorriu levemente, recostando-se na cadeira, como se estivesse saboreando cada palavra antes de pronunciá-la.

— Há muitos anos, Baróvia foi governada por um rei justo e poderoso. Seu governo trouxe muita prosperidade ao reino, mas também incomodou os nobres que desejavam mais poder para si. Então, em uma noite traiçoeira, o rei e a rainha foram assassinados. Com apenas seis anos, o príncipe herdeiro foi coroado e, a apesar da pouca idade, demonstrou uma sabedoria e determinação que impressionavam até os mais experientes da corte. — Ele lançou um olhar sutil para Cassie.

— Ele tinha a sua idade, minha pequena.

Cassie arregalou ainda mais os olhos e se inclinou sobre a mesa, apoiando os cotovelos sem perceber o olhar reprovador de nossa mãe.

— Ele governou mesmo sendo uma criança? — perguntou, os lábios entreabertos em fascínio. — Mas como ele sabia o que fazer? Ele tinha um monte de babás dizendo o que fazer, como eu? Porque eu não gosto quando tentam mandar em mim.

Soltei uma risada baixa e cruzei os braços.

— Imagino que os conselheiros também não gostassem de receber ordens de uma criança — murmurei, lançando um olhar curioso para meu pai. — Mas suponho que ele não tivesse muita escolha, certo?

Meu pai cortou a carne do prato com calma deliberada, como se a pausa fizesse parte da história.

— Por seis anos, seu reinado foi próspero e impecável, ainda que tutelado pelos conselheiros reais. Mas, quando completou doze anos, ele desapareceu sem deixar rastros... Alguns dizem que foi morto pelos mesmos traidores que assassinaram seus pais. Outros acreditam que ele escapou e que, em algum lugar, cresceu longe dos olhos da corte, preparando-se para o momento certo de reivindicar seu trono. 

Ele girou suavemente a taça de vinho, seu olhar distante.

— O fato é que a coroa jamais confirmou a morte do Rei Vicent. Apenas colocaram um regente para governar em sua ausência. Por isso, até hoje, há aqueles que sussurram que o rei perdido pode estar vivo, esperando a hora certa para voltar.

Cassie olhou para mim e depois para nossa mãe, claramente encantada pela história.

— Se ele ainda está vivo, por que não voltou? — perguntou, franzindo a testa. — Talvez ele tenha se perdido mesmo, porque uma vez eu me perdi no jardim e ninguém me achou por horas!

Minha mãe pigarreou, cruzando os talheres sobre o prato com delicadeza ensaiada, seu olhar rígido pousando sobre Cassie.

— São apenas velhas histórias, querida. O passado já foi selado, e a coroa está onde deveria estar. Não há por que alimentar essas lendas.

Bufei baixinho, empurrando a comida pelo prato com o garfo.

— E o senhor? — perguntei, olhando diretamente para meu pai. — Acha que ele ainda está vivo?

Cassie se animou ainda mais, batendo as mãos pequenas sobre a mesa.

— Sim, papai, você acha que ele vai voltar? Porque se ele estiver escondido há tanto tempo, será que ainda lembra como usa uma coroa?

Meu pai sorriu, levando a taça de vinho aos lábios, mas seus olhos carregavam um brilho distante e indecifrável.

— Talvez. Mas há quem diga que o sangue real nunca se apaga. E que, cedo ou tarde, ele sempre encontra o caminho de volta.

O silêncio que se seguiu foi espesso. Cassie, ainda absorta na história, mordiscou distraidamente um pedaço de pão, como se já imaginasse mil possibilidades para o destino do rei perdido. Minha mãe suspirou discretamente, ajeitando os talheres diante de si, claramente desconfortável com a direção que a conversa havia tomado.

Eu, por outro lado, não conseguia afastar a sensação de que aquela história não era apenas um conto distante. Meu pai não costumava trazer assuntos à mesa sem um propósito. Meu estômago revirou com essa possibilidade, e de repente a comida diante de mim parecia ainda menos apetitosa.






***

N|A: Oii

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