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Capítulo 27

Capítulo 27, relatos.

Parabéns! Mandou bem hoje — disse Ira enquanto eu iria beber água.

— Obrigada — agradeci com a respiração forte.

Tinha motivos para o meu bom desempenho.

— Que bom! Isso mostra que pode mandar bem amanhã na Competição Mensal.

— Oi?! — disse assustada.

— Não ouviu anunciarem ontem nas Fogueiras?

Não, eu não estava lá. Estava na floresta com Axel.

— Não, fui dormir mais cedo ontem.

— Deve ser por isso que estava tão bem disposta hoje — brincou. — Pois bem, todos os meses temos competições. São percursos, parecidos com labirintos, que eles criam nas florestas com o intuito de que vocês sempre estejam bem preparados. Como você sabe, o seu Grupo é o responsável por cuidar da proteção, mas sem que todo mundo esteja apto para pelo menos conseguir se autodefender tudo fica bem mais difícil. O treino dos Grupos Um e Três, obviamente, é mais puxado, mas não deixa de ser essencial que os Grupos Dois e Quatro participem.

— E os quatro Grupos competem todos no mesmo dia?

— Não, primeiro é o Grupo Quatro, depois o Dois, Três e por último o Um. É para dar mais tempo de se preparem. E você vai competir amanhã pelo Grupo Quatro.

— Já sei, é porque sou "Café com leite".

— Exato, e a competição do Grupo Quatro é a mais leve. Basta você conseguir voltar para o Círculo Central o mais rápido possível. Eles nem capricham tanto na rota dos Quatro, então pode relaxar. Garanto que a do Um é muito pior.

— E o que acontece com as pessoas que chegam primeiro?

— No caso, com o Time mais rápido. Eles dividem os Grupos em Times de vinte pessoas, e o Time que for mais rápido ganha meros privilégios. Como um dia a mais de folga na semana e outras palhaçadas. Mas o que eles mais priorizam mesmo é a reputação que o Time fica.

— Falando sobre folga, quando eu vou ganhar alguma função aqui dentro?

— Ansiosa para isso? Talvez Moore arrume algo para você. Mas se for, deve ser só a partir do próximo mês. Você ainda está tendo aulas — respondeu, rindo. — E se eu fosse você, me preocuparia bastante com essa competição. Pois estamos com visitantes dos Estados que irão, especificamente, avaliar você e os Buscadores."

Ele terminou de escrever no caderno, como sempre fazia — anotava tudo o que eu tinha feito e como tinha sido o meu desempenho do dia —, e abriu a porta.

— Vamos, precisamos ter umas aulas de tiro.

Olhei surpresa. Tinha me esquecido do que havíamos marcado.

— Por isso me deixou terminar mais cedo.

Ele riu.

— Rápido, ou terá de ir para suas aulas sem almoçar.

Terminei de encher a minha garrafa e saí.

[...]

Peguei apenas um salgado no refeitório e fui comendo no caminho até o Grupo Quatro. Estava ainda com a minha roupa de treino, acho que não veriam problema se eu entrasse lá assim. Fazia alguns dias que eu não via Ruby, tinha lhe dito que iria com frequência visitá-la. Tirando que eu havia ficado super animada depois da aula que tive hoje.

— Bom dia!

— ANNE! — gritou Ruby, largando seu prato de comida e vindo me abraçar.

— Veio comer com a gente? — perguntou animada.

— Não, só passei aqui rapidinho para te ver.

— Ah, fica, por favor!

— Não posso. Daqui a pouco tenho que ir estudar.

— Estudar?

— Sim, eu também estou estudando. Igual a você.

— É a April que te dá aula também?

April abriu um sorriso ouvindo a pergunta dela.

— Não, infelizmente — brinquei.

— Ruby, vá comer a salada! Você nem tocou nela. Só vai poder conversar com a Anne, se comer tudo.

Ruby revirou os olhos.

— Eu falei que ela era chata — disse a mim.

— Vai lá! Eu só vou embora daqui a pouco — disse, rindo.

Ruby se arrastou até a mesa. April se levantou e veio para falar comigo.

— Se você puder me ajudar a fazê-la comer legumes e verduras, irei ficar muito grata. Ela te escuta muito mais do que eu.

"Além do mais, ando preocupada com ela. Não por um motivo ruim, de certo modo é até bom. Mas Ruby está apresentando um desempenho fora do normal, até do que imagino ser para uma criança prodígio. Já demonstra do uso de palavras complexas, elabora frases perfeitas... E estou com medo de passar isso adiante, ainda mais com esse pessoal estadual por aí. Apesar de tudo, ela não deixa de ser uma criança. E imagino que eles poderiam ver nela algo de especial, se me entende."

— Deixe que isso mora entre nós. Vão querer transformá-la em um experimento — avancei. — Depois eu dou um jeito nisso.

Ela assentiu.

— Quanto aos brócolis — prossegui. —, não sei se consigo convencê-la, mas posso tentar.

— Eu pensei em falar com Axel, mas ele parece estar tão conturbado. Preferi evitar falar sobre Ruby.

Comecei a me sentir mal, eu sabia o que estava acontecendo.

— Você sabe o que possa estar deixando ele assim? — disse, virando-se na minha direção.

— Ah, na... não. Ele não fala comigo sobre. Deve estar apenas muito ocupado.

— Sei... — e desviou o olhar. — Deve ser isso mesmo.

Fiquei sem jeito, estava ficando com vontade de sair dali.

— Então, já está treinando para as Competições Mensais? Para o Grupo Um se exige muito treino.

— Não, eu não vou participar pelo meu Grupo. Vou ficar no Grupo Quatro, o Ar.

— Oh, então teremos você conosco? Vou pedir para que eu fique no mesmo Time que o seu, assim poderemos até ajudar uma à outra.

— Claro, será ótimo! — exclamei, fingindo alegria.

Alguém bateu na porta.

— Com licença.

— AXEL! AXEL! — gritou Ruby, correndo desesperada até ele.

Ele se abaixou para abraçá-la. Oh, droga! Droga! Droga! Que vontade de sumir!

— É agora que ela não termina de comer — comentou April.

É agora que eu deveria sair.

— Que saudade que eu estava de você! — disse Ruby quase enforcando ele.

— Mas eu venho quase todos os dias.

— Não importa! — exclamou, dando um beijo na bochecha dele.

Ele riu e se levantou novamente. Olhou para mim e para April e espremeu os lábios. Por que infernos ele tinha que aparecer aqui logo agora?

Axel veio até a gente.

— Oi — disse.

Dei apenas um breve sorriso.

— Oi, amor! — disse April, dando-lhe um beijo.

Virei o rosto, não precisa ver.

— Sai de perto dele! Ele veio me ver! — disse Ruby com um bico no rosto e puxando o braço de Axel.

April se afastou.

— Não precisa falar assim com ela! — brigou Axel. — Ela é sua professora e minha namorada, tente entender, por favor — e abaixou-se na altura dela.

— Ela fica te beijando e te agarrando toda hora!

— Ela só fez isso agora. E April sempre gostou muito de você.

Ruby fez uma careta e virou a cara.

— Tchau, Axel! Estou indo comer a minha comida lamentável, naquela mesa deplorável, com aquelas crianças deprimentes enquanto sinto essa cicatriz profunda que você acabou de criar no meu coraçãozinho com suas ofensas — disse, fingindo voz de choro.

Ela voltou para mesa e Axel se levantou. Tive vontade de rir.

— Desisto de convencê-la a gostar de você. Ela nunca vai aceitar que eu namore alguém — soltou, parecendo cansado.

— Mas deveria, porque eu não quero que ela me odeie pelo resto da vida por estar com você.

Pelo resto da vida? Axel e eu nos entreolhamos.

— April, depois podemos conversar?

— O que, querido? Algum problema?

— Imagino que já saiba, mas prefiro falar sobre isso depois. Passo à noite aqui, tudo bem?

— Claro, estarei esperando — disse, passando a mão pela gola de sua camisa com um sorriso no rosto.

Ele fechou a cara e me olhou. Eu tinha cerado os punhos pronta para a qualquer momento quebrar a cara dela.

"Calma!", li em seus lábios.

Calma? Fácil para você falar isso, não é?

— Então... Você quer ir logo para a biblioteca? Já almocei. Se formos logo posso te liberar mais cedo se quiser — disse para mim.

— Mas já? Você acabou de chegar — estranhou April.

— Eu só pretendia dar um "Oi" a Ruby mesmo e falar com você sobre isso — ele a respondeu.

— Está começando a me preocupar.

— Não precisa, imagino que já saiba — e se virou novamente para mim. — O que você acha?

Seu semblante ficou sério, no entanto logo depois voltou ao normal.

— Por mim tudo bem.

— Okay.

— É... Tchau!

Ela acenou para mim e foi se esticando para beijá-lo. Ele desviou o beijo lhe dando na bochecha, fingi que não vi e saí andando. Porém, para ela não se passou imperceptível.

— Te vejo mais tarde — e foi se afastando também.

— Tchau, Ruby! — disse a menininha rabugenta, dando-lhe um abraço.

— Você já vai? E vai me deixar aqui com ela?

— Preciso ir.

Axel se aproximou e ela fechou de novo a cara.

— Tchau, princesa — ele disse, dando-lhe um beijo na testa.

— Não estou falando com você!

— Ah, então isso significa que não é mais para eu vir aqui?

Ela repensou.

— Okay, eu te perdoo. Mas só dessa vez — disse, revirando os olhos.

— Não terá outra vez — cochichou para ela.

E saímos.

— Não consigo mais gostar de April — desabafei.

— Meu Deus, que ciumenta!

— Não, não sou. O meu problema é com ela em si, ela tem algo de errado.

— Não fala assim... April ainda está comigo.

— Isso não é motivo para que a ache alguém melhor, bem pelo contrário.

— Ela tem um coração bom — disse convicto.

— É o que você acha.

Ele beijou meus dedos.

— É a verdade.

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