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Capítulo 2

Capítulo 2, relatos.

Terminei de pintar mais uma das partes da mandala feita na lateral da folha do meu caderno, tomando o cuidado para que a Sra. Lewis entenda que eu esteja apenas fazendo anotações ao invés de estar desenhando para ocupar o meu tempo.

Olhei de relance para a imagem refletida de um cérebro dividido em áreas coloridas enquanto ela dava uma extensa explicação sobre neurônios e sinapse. Terminei voltando a conferir o horário na parte superior do slide.

12 horas, 58 minutos e 20 segundos. Nunca vi segundos passarem tão devagar, era como se estivesse em meio-dia e cinquenta durante uma eternidade. Mais 30 segundos e já perdi completamente a noção do assunto sendo abordado na aula de Biologia. Sabia que o meu corpo estava ficando cada vez mais inerte e entrando no êxtase causado pelo sono, mas não pude suportar.

Tic tac tic tac tic tac...

— Anne Clark — disse uma voz altiva, puxando-me de volta à realidade.

— Oi?! — respondi atordoada.

— Está tudo bem contigo, senhorita? — perguntou, analisando-me.

Ela sabia muito bem da resposta, o seu ar de repreensão está nítido. Mas mesmo assim tive a cara de pau de disfarçar, nunca que eu daria a ela o prazer de me punir.

— Claro — tentei demonstrar certeza.

A Sra. Lewis apenas concordou com a cabeça, olhou para o slide, apontou para uma parte pintada de um rosa-escuro e prosseguiu:

— Pois bem, diga-me qual o nome desta área, localizada na parte póstero-inferior do cérebro, e sua principal...

Um barulho estridente invadiu a sala naquele exato momento, fazendo com que eu tivesse consciência do que havia acabado de acontecer apenas ao ver todo mundo se levantando e saindo. Nunca me sentiria tão aliviada.

— Acho que vamos ter que deixar para a próxima — disse, sendo levemente debochada.

Ela poderia muito bem me obrigar a permanecer e responder a sua pergunta, mas este é o horário que ela deve comparecer ao pátio para os primeiranistas cantarem o hino da Mundi. Além de que sem plateia, não seria tão satisfatório me ver errando.

Guardei o meu material e fui direto à porta, escutando-a me chamar mais uma vez. Pensei que ela tivesse voltado atrás na decisão de me deixar ir e fosse persisti na ideia de que eu a responda.

— Clark — disse.

Virei-me para ela, parecendo até um pouco cansada.

— Não admito que isso se repita — impôs, encarando-me sobre os óculos.

Seu rosto fino e pálido estava extremamente sério, adotando as mesmas feições que sempre usava ao falar comigo.

— Pode deixar — e bati uma continência antes de sair.

Odiava Biologia e ela ainda fazia com que os seus tempos fossem profundamente desinteressantes, entrava em um estupor após os cinco minutos iniciais. Anotava o mínimo, estudando apenas nos dias anteriores às suas provas. E não pretendia mudar esse hábito, já que, mesmo elas sendo terríveis, conseguia me manter na média. Considerava sorte, não inteligência. Porém, independente do que fosse, a impedia de mandar recados aos meus pais ou conseguir me reprovar — o que supunha ser um dos seus maiores desejos.

Cheguei ao corredor principal, destinado aos seniores, gastando mais do que era o tempo usual, pois ainda não tinha memorizado exatamente onde ficava aquele inútil armário verde militar entre paredes gelo. Abri-o e retirei um casaco e uma garrafa térmica vazia, deixando meia dúzia de chicletes sabor tutti-frutti, um tablet e carregador dentro dele. Passei o dorso pelo leitor mais uma vez, trancando-o definitivamente até o dia seguinte.

— E aí, Anne? — disse Loyal, abrindo o ao lado do meu.

Diferentemente, da maioria dos armários da West, o de Loyal tinha funções. Guardar cabos, um laptop, um tablet, umas três garrafas com diferentes sucos, dois moletons... até um estojo e caderno — além do que precisávamos comprar para as aulas obrigatórias de Caligrafia; acabava usando-o mais como um passatempo durante certas aulas.

— Oi, estranho — impliquei. — Várias descobertas interessantíssimas?

Ele disse nada, sabia que não estava interessada de fato. Não que eu não ligasse para Loyal — um dos meus pouquíssimos amigos —, mas por nunca compreender ou entender a verdadeira utilidade do que considerava "uma grande descoberta". Loyal fez algumas anotações no caderno dele, como sempre, e só então se virou para mim.

— São importantes sim. Muito — afirmou antes de completar. — E a resposta era lóbulos occipitais. São responsáveis pelo processamento visual, como a interpretação de cor, forma e distância. Porém, acho que não vê necessidade de saber disso.

— Não menos do que ter o domínio de letras cursivas, não é mesmo? — rebati irritada com o seu modo arcaico de agir.

— Você subestima muito a escrita. É uma arte, entenda. Meu irmão de 7 anos forma palavras com facilidade em um teclado, mas gasta quase um minuto escrevendo o próprio nome. Estamos passando por um grande retrocesso na comunicação...

"Se ficarmos sem energia elétrica por um longo período de tempo, como foi nos Anos Posteriores, seria essencial."

Loyal era uma das pessoas que faziam questão de carregar consigo os traumas do passado, sempre relembrando o que muitos queriam ou precisavam esquecer. Havia o lado bom, fazer com que nunca esqueçamos dos erros cometidos — mesmo acreditando ser inevitável —, mas também impedia que seguíssemos em frente. Relevei.

— Concordo. Só que a maioria dos aparelhos atuais são por energia solar e todos sabemos ser quase impossível acontecer outro apagão como aquele na história.

Loyal deu de ombros, fechando o armário.

— Anneeee! — soou a voz aguda de Katherine atrás de mim, levei um susto. — Tenho uma novidade para contar.

Lembrei do que tinha me dito mais cedo, disse ser muito importante. No entanto, eu conhecia muito bem a minha melhor amiga para dizer com certeza que Katy sempre considerava assuntos irrelevantes muito importantes e vice-versa.

Ela tinha passado seu clássico gloss labial rosa de morango — em suas palavras realçava seus lábios sobre a pele negra — e deixado o cabelo cacheado solto em cascatas impecáveis. Tanto Loyal quando eu éramos a sombra dela, Katherine Madaki se destacava sem esforço algum. E mesmo acreditando não chegar aos seus pés, nunca senti inveja dela. Estava satisfeita com a combinação sem graça que era a Anne.

— Eu sei, você sempre tem — brinquei, sorrindo.

— Mas dessa vez não é uma novidade qualquer, sério. — desdobrou um pequeno pedaço de papel com linhas rosadas, onde estava escrito um número de telefone. — Olhe isso.

— Nossa... Que legal! — forcei com desânimo e ironia. — É uma bela sequência.

— Para você pode ser apenas algarismos, mas para mim é o resultado de muito trabalho duro — rebateu a minha ironia.

— Andou procurando um emprego? — estranhei.

— Não, é o telefone de um calouro.

— Deveria ter duvidado — ri.

— Um dos garotos achados — completou triunfante.

— Os encontrados semana passada? — perguntou Loyal surpreso, entrando na conversa.

— Exatamente — respondeu com um sorriso de orelha a orelha.

Fiquei perdida, pois não lembrava de ninguém ter comentado comigo sobre "garotos perdidos", muito menos sobre "garotos achados".

— Que papo é esse? — perguntei.

— Andou vivendo em que mundo? — disse Katy. — Até eu estava sabendo.

— Isso eu percebi — disse, indicando o pedaço de papel que tinha me mostrado.

Evitava ver os jornais. Soava até como ignorância, só que às vezes me sentia melhor estando alheia a tantas notícias ruins. Loyal tomou a frente na explicação.

— Quarta passada, saiu nos noticiários que encontraram seis adolescentes nas Zonas Abandonadas. Três homens e três mulheres.

Fiz uma careta e eles perceberam o que quis dizer com aquilo. Duvidava muito que não estivessem naquele lugar por livre e espontânea vontade. Muitas pessoas "aventureiras" deviam fazer o mesmo.

— Pense bem antes de falar sobre o meu Mason — avançou Katy.

— Seu Mason?

— Tudo bem, futuro "meu Mason" — corrigiu. — Só que mesmo assim, acredito no que ele e os outros cinco disseram.

Notei que havia uma certa repreensão em sua voz, então disse mais nada. Afinal, nem os conhecia para julgá-los.

— Está certo, mas ainda não entendi essa história.

— Bem, umas das garotas, Aubrey, foi encontrada com o antebraço quebrado junto de um tal de Ash... — começou Loyal, mas foi interrompido.

— Axel! — corrigiu Katy rispidamente.

— Então, Axel. Quase na altura da avenida A17. Eles declararam haver mais quatro pessoas em uma casa abandonada na Zona B3 e terem nascidos e criados lá. Viviam de mercadorias de uma fábrica de produtos alimentícios largada nos Anos Posteriores, plantação e caça de animais na Floresta Costeira. O que seria um crime, senão considerassem os fatos. A repórter informou que, pelo jeito, nunca quiseram ir à procura de uma nova civilização até a fratura da garota.

— E os pais? — perguntei ainda duvidando se estariam sendo crédulos.

— Todos morreram do vírus A3-1.

Vírus A3-1 foi o responsável pela morte de 10% das vítimas da Terceira Guerra. Ele não pegava incialmente em crianças ou adolescente, estaticamente, apenas a partir dos vinte, vinte e um anos. Muitos cientistas afirmaram ser um dos fatores a imunidade, porém com o tempo começaram a aparecer casos também em jovens e desde então um a cada cinco Estados são isolados exclusivamente para os infectados do vírus.

Ainda não se consegue entender o verdadeiro motivo, portanto até o dia que, finalmente, acharem a cura, boa parte da população mundial continuará morrendo gradativamente e vivendo separada do resto da humanidade.

— Está aí uma coisa que eu sempre quis saber. Por que A3-1?

— 3 é o ano do surgimento da doença entre os 5 anos de guerra e 1 é a ordem em que surgiu — respondeu Loyal instantaneamente.

— Não acha nem um pouco suspeito todos eles terem morrido pelo mesmo vírus? — não consegui deixar de questionar.

— Não. Era extremamente contagioso e lento, às vezes, levava anos até matar. E, com base nas palavras dele, todos vieram a óbito nos últimos dois anos. Não tiveram acesso a nenhum tratamento, Anne. Nem vejo motivos para estarem mentindo. Além disso, não havia nenhum registro deles.

Parei de retrucá-lo. Afinal, sua inteligência era admirável, sempre com a resposta certa para qualquer pergunta... Acreditava mais na intuição dele do que na minha.

— Até hoje ainda encontramos efeitos da guerra — fez questão de completar.

Olhei para o lado e Katy só concordava com a cabeça, parecendo um enfeite de cão usado em carros.

— Podemos ir? Estou morrendo de fome — ela perguntou.

— Também estou — admiti.

O rosto de Katherine se contorceu em um biquinho e sobrancelhas franzidas, apelando para a manha. Eu sabia muito bem o que ela queria.

— Okay, eu vou pegar uns snacks para comermos no caminho. Mas avise a Jack, por favor — cedi.

Ela quase pulou de alegria, afinal sempre ganhava.

— Avisarei ao gatão do Howard para te esperar — tentou implicar.

Não fiquei com ciúmes, mesmo que no fundo duvidasse que Katy pudesse ter uma queda por dele — já que ela "gostava" de praticamente todo mundo. Mas não liguei, pois não se passava de uma tentativa de me irritar com o fato de eu estar apaixonada por ele — nunca havia admitido, porém ela sempre se sentiu com a certeza disso.

— Não passamos de bons amigos.

"Infelizmente," completei baixinho em minha própria confissão e fui na direção oposta à deles.

No caminho, a sala de projeção estava entreaberta com cerca de trinta alunos sentados em fileiras assistindo ao documentário "Cowspiracy: o segredo da sustentabilidade", que sempre exibiam aos alunos do primeiro ano do médio. Lembrando muito bem o porquê de sermos praticamente todos vegetarianos hoje em dia. Como podiam aceitar e apoiar que vivêssemos assim e acharem que estariam compensando alguma falta em nossas vidas com produtos "sabor carne"?

"Acabam com florestas para alimentar animais e plantar soja... 91% da floresta Amazônica até agora," escutei um pedaço do monólogo.

Depois de relembrar do dado, como o esperado, quando cheguei ao refeitório, o famoso dilema — "Snack de presunto defumado ou queijo?" — não veio a minha cabeça.

No meio daquele refeitório constantemente cheio, abarrotado de mesas longas e bancos, as prateleiras não estavam no lugar original delas. Demorei até me localizar, encontrando o que procurava a uns 10 metros de onde deveria estar. E soube com certeza ter sido ideia da Sra. Marion Rogers, a coordenadora da escola e quem eu mantinha certa rixa desde o fundamental. Ela era o típico estilo de pessoa que pregava o "Só quero o seu melhor" e dedicava a vida para conseguir fazer o oposto.

Logo deixei o pensamento de lado ao perceber que ainda havia snacks de pizza — um dia considerado de sorte era chegar a tempo para pegar um do sabor, nem um dos outros dois eram tão bons quanto. Apressei o passo, esquivando-me entre as pessoas. Entretanto, no meio do caminho fui interceptada pela voz aguda e levemente anasalada de Sienna.

— Bethany! Achei você.

— Bom dia para você também. E não, não autorizo que publique meu trabalho.

— Ah, Beth... Por favorzinho!

"Quando ela pararia de agir como alguém com a metade da idade?" pensei.

— Ah... — fingi pensar sobre. — Não! E o meu nome é Anne Bethany, não apenas Bethany.

— A Sra. Rogers vai duplicar tanto a minha quanto a sua pontuação, caso consiga publicar no Jornal Estadual os melhores trabalhos do projeto de Geografia. A Mundi valoriza muito o projeto e o seu estava ótimo, além de ter ficado em segundo lugar. Vamos receber a visita de um dos ministros da educação semana que vem, ela está quase me obrigando a conseguir sua autorização.

— Pois diga para Sra. Rogers que se eu consegui ficar em segundo lugar é porque não preciso de duplicação de pontos alguma.

— Pelo amor de Deus, a única coisa que terá de fazer é tirar uma foto com o minis... — prosseguiu, sendo ainda mais irritante.

Se queria me vencer com o desprazer de precisar ouvi-la, estava quase conseguindo.

— Oh, senhoritas Clark e White! Ouvi o meu nome. Conversavam sobre o projeto? — interrompeu Marion com seu sorriso amarelo e forçado.

A Rata Branca, Sienna White — ganhara o apelido tanto pelo seu sobrenome quanto por saber de tudo que acontecia dentro das paredes da West, enfiava-se nos lugares mais remotos por pura fofoca —, mudou o semblante imediatamente. Tive vontade de revirar os olhos com a cena, mas me contive.

— Prazer em vê-la, Sra. Rogers! Sim, exatamente isso. Beth disse que vai pensar sobre o assunto e me dar a resposta amanhã — disse, ajeitando a postura e intonação.

— Mentira, eu não disse que pensaria sobre — intervi. — E não me chama de Beth!

— Então é certo que podemos contar com você? — perguntou Marion.

— Não. Eu já informei às duas que não vou ter fotos e textos meus rolando Estados a fora por pontos — informei, um tanto irritada. Rogers respirou fundo.

Além de não apreciar a ideia, nunca que meus pais autorizariam. E eu respeitava, pelo meu pai Caleb, ex-policial de elite da Mundi e extremamente protetor em relação a mim. Nunca tive os motivos revelados, porém tinha ciência que toda a proteção vinda tanto do meu pai quanto da minha mãe envolvia muito mais do que um dia me deixariam saber.

— Pode ir acalmando os ânimos, senhorita Clark, caso não queira passar a sua tarde na detenção. A White não tocará mais no assunto. — então se direcionou a ela. — Além da capa, ainda temos os textos de Jax e Keeran e conseguimos uma coluna na parte de esportes com nosso time. Entendido?

— Correto, programei para tirar as fotos deles em quinze minutos — disse Sienna, verificando a hora.

— Como assim em quinze minutos? — soltei, antes mesmo de processar a ideia de ficar na minha.

— Por que, Clark? Algum problema com isso também? — perguntou Marion ríspida.

Jack era do time, significando que iriam alugá-lo por um bom tempo. Não me agradava nem um pouco a ideia de ir para casa sem ele.

— Nada. E com licença, preciso ir embora.

Saí pisando forte até as malditas prateleiras. Esperava profundamente poder seguir meu caminho sem mais intervenções, o que era praticamente impossível por aqui. E foi.

Um homem de proporções duas vezes maiores que as minhas agarrou os dois últimos de pizza e tacou para o amigo ao longo.

— Ah, desculpas, você queria? — perguntou depois de perceber minha reação ao seu lado.

Mesmo que não estivesse de fato sorrindo, era como se aqueles lábios persistissem em fazer suas palavras soarem cínicas e brincalhonas.

— Não. — menti. — Eu queria os de presunto.

— Eu pego para você — ofereceu, apanhando-os sem esforço algum. — É o mínimo.

"Era o típico sedutor barato," concluí.

— Muito obrigada... — agradeci sem jeito.

— De nada. E prazer, Mason — disse sem estender a mão. Devia ser a falta de hábito, garanti.

Mason tinha atraentes olhos castanho-escuros e tez pálida, tirando seu físico que roubava a atenção para si por conta própria.

— Prazer em conhecê-lo. Sou... — iniciei.

— Clark, se não me engano — disse convicto.

— Sim — confirmei com estranhamento. — Deveríamos nos conhecer?

— O que importa mesmo é eu saber quem você é — comentou, cruzando os braços. — A partir daí tudo vira uma questão de tempo.

"Bem o estilo de Katherine," pensei enojada antes de ameaçar seguir o meu caminho para fora do refeitório.

Não passou por minha cabeça a ideia de respondê-lo até um "Hey!" ser direcionado a mim e eu acabar virando por reflexo, a contragosto e sem certeza de quem tinha falado comigo a princípio. Pairei minha atenção sobre um grupo perto de Mason.

— Não quer mesmo? — perguntou um homem alto e de cabelos loiro-escuros.

Eu iria me pronunciar, mas para mim a situação não melhorou nem um pouco por um dos calouros ter decidido intervir. Interagia pouco com pessoas fora do meu grupinho restrito de amigos — Katy, Jack e Loyal —, o que chamava carinhosamente de "síndrome de invisibilidade" — ou princípios de antropofobia, com base em Loyal.

Observei Mason a menos de dois metros de distância dele, demonstrando completa indiferença a essa altura. Ignorei o que falava comigo e avancei na direção oposta, era assim que eu lidava com situações incômodas. Fugindo delas e fingindo que não me afetavam.

— Desculpas — aquela voz ecoou novamente, ele era persistente e iria me seguir pelo corredor adiante se não parasse para escutá-lo.

Encarei-o em silêncio, querendo evitar um diálogo que ultrapasse uma simples troca de palavras. Ele pareceu mais surpreso do que satisfeito ao finalmente ter conseguido que o escutasse. Seus olhos estavam levemente arregalados sobre mim, tornando a situação um tanto estranha e desconfortável.

— É... desculpas, mesmo.

— Tudo bem, mas você tem nada a ver com o que aconteceu — disse, quase me arrependendo de imediato pela grosseria.

Era sempre assim, praticamente uma ação em legítima defesa: agir como um ímã. Repelir e puxar, com a mesma força, apenas quem me fosse "compatível".

— Claro — soltou, mesmo parecendo meio desentendido. — Só estava preocupado se... — cortou-se no meio da frase.

Foi nesse instante, ao perceber um breve movimento feito por suas sobrancelhas, que saí da defensiva. E não foi apenas por aquela fina ruga de preocupação ser a última coisa em minha mente, mas também por ter me feito notar como ele em si era... intrigante?!

O olhar que tinha adotado era o mesmo usado ao lidar com animais feridos, temendo que eu recuasse ou ficasse com medo. Mesmo havendo certo orgulho no fundo deles.

— Sou Axel — apresentou-se, esticando novamente o pacote a mim.

Em meu subconsciente já havia uma anotação para mim mesma de que Axel era diferente dos demais. E isso nunca poderia ser ruim.

Mostrava estar disposto a ser convincente o suficiente para que eu aceitasse a oferta. Além de ter conseguido ler em mim o que eu jurava não ter ultrapassado meu rosto, sorrindo. Portanto, decidi ceder.

Só que o ato foi interferido antes que o concluísse por uma mulher de cabelos castanho-claros, feições fechadas e um dos braços envolto em gesso. Sua mão livre fechou no entorno do punho de Axel, exibindo as juntas esbranquiçadas dos dedos pela força que tinha empregado.

— O que aconteceu contigo? — perguntou a ele, porém olhava-me repulsivamente. Não dei brecha para que Axel respondesse.

— Com licença — pedi, rapidamente.

Inacreditavelmente, menos de três segundos foi o necessário para eu adquirir forte antipatia pela namorada dele. Isso era independentemente da existência de Axel. Ele era muito bonito, de uma beleza difícil de ser descrita ou caracteriza. E não tinha como ser negada, não para mim. Entretanto, ela definitivamente não tinha um motivo para agir de tal forma.

[...]

— Aqui está a sua esperada refeição — informei a Katy, tacando o pacote para ela.

Não tinha perguntado a Loyal se ele iria também querer, porque a resposta era certa: "Não consumo esse tipo de comida."

— Nossa, nem para ser um melhor não? — reclamou Katherine.

"Apesar de não ser da minha conta a relação deles, ela agia assim com todo mundo?," voltei a pensar sobre o ocorrido, apesar de não estar com a mínima vontade.

— Anne — chamou Katy.

— O quê?

"Preferia qualquer comida sabor carcaça de animal a me tornar um problema a alguém tão doentiamente possessiva."

— Tem uma garota comendo de queijo.

Não foquei nela novamente e logo senti suas mãos sacudindo os meus ombros.

— Acabou — menti outra vez, sem saber a o que estava respondendo.

— Você está legal? — perguntou Loyal, observando-me.

Mesmo se não fôssemos próximos, devia ser perceptível como não dava atenção às perguntas de Katy.

— Por que não estaria? — perguntei retoricamente, abrindo rapidamente o meu pacote. — E cadê Jack?

— Ele pediu para avisar que tem de tirar umas fotos para o Jornal e vai jogar basquete com uns caras aí. Liberaram uma das quadras para eles — respondeu Loyal.

Eu havia esquecido.

— Vamos então — disse, virando-me e indo até o portão principal.

Escutei Loyal e Katy conversando sobre tensão pré-menstrual, hormônios e como isso interferia nas mulheres — no caso, em mim — e tive vontade de informar ser nada do que pensavam. Eu não tinha deixado de me importar com Jack como antes  — definitivamente não. Ele era quem eu mais tinha intimidade, depois de Katherine. De certo modo, chegava a ser como um membro da minha família.

Simplesmente não achava necessário reclamar ou esperá-lo, era quase uma "obrigação". Além do mais, fiquei intrigada por estar com curiosidade em alguém ou algo, o que era difícil de acontecer.

Eles podiam ser a minha distração do dia.

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