Capítulo 12
Capítulo 12, Axel.
— Vamos, Axel! Estou com fome — disse a voz de Aubrey atrás de mim.
Estava entrando pela janela do meu quarto, mais uma vez.
— Não quero ir — respondi, esfregando a cara no travesseiro para enxugar o rosto molhado pelo choro.
O barulho dela se tacando na cadeira da minha escrivaninha toma conta do lugar.
— Olha, pode tentar fingir o quanto quiser e você não vai me fazer acreditar que não estava chorando. O que aconteceu dessa vez?
— Nada — respondi de supetão.
Ela bufou.
— Quando você vai parar de chorar por ela?
— Então por que perguntou?
— Queria ouvir da sua boca.
"Pretendia piorar ainda mais?" questionei.
Virei-me para o lado dela.
— Já que você sabe que não estou legal, por que não me deixa em paz?
Não me preocupava com as palavras, o bom de conversar com ela é que nada soava ofensivo ou grosseiro.
— Primeiro: Porque, por mais incrível que pareça, me importo muito com você.
Aubrey não gostava de expressar seus sentimentos, então tentava menosprezar qualquer demonstração de afeto. Um "me importo com você" dela significava muito para mim. E, pior, isso começaria me convencer.
— Segundo: você é um trouxa. Faço questão de deixar bem claro — disse. — Terceiro: temos uma quase promessa.
— Oh, não, não mesmo. Como acabou de notar, estou bem mal. E se não sabe, essas horas são as piores para ir flertar com outra.
— Óbvio que não! Vejo como uma oportunidade para April... Esse é o nome dela, né?
Continuei imóvel. Eu não gostava do rumo da conversa.
— Tanto faz! Ela pode consolar esse seu coração partido.
— Não estou de coração partido! Apenas triste.
— Não sou você, então pare de tentar me convencer.
— Tchau, Aubrey! Melhor você ir, ninguém vai guardar comida para você — afirmei me virando de costas a ela novamente.
Escutei um bater de pernas e sua respiração profunda, exaustão.
— Você não está me dando escolha... — então o barulho dela se levantando da cadeira, precisei de mais nada para entender.
— Não, não, não! Já estou todo dolorido, não faça isso — coloquei-me na defensiva.
— Só se você for às Fogueiras — chantageou com a mão fechada em soco.
Toda vez que Aubrey queria que eu fizesse algo — por mais idiota que fosse — começava a brincar de lutinha. Luta está onde ela batia e eu só apanhava. Melhor dizendo, defendia. Não revidava por medo de machucá-la, apesar dela ser melhor nisso do que muitos garotos por aqui. Então quando eu não aguentava mais, consequentemente, recuava e ela conseguia.
— Okay! Posso pelo menos me trocar? — perguntei, levantando-me. — Três minutos — e se deitou em minha cama.
[...]
— Olhe! — disse Aubrey, olhando ao longo. — Vou chamá-la. Mal enxerguei a pessoa, quando ela disparou a gritar.
— Não, nem pense... — era tarde demais.
— Oh, garota!
Por um momento quis renegar meus laços sanguíneos com ela.
April olhou ao redor parando em Aubrey por duvidar se foi ela quem a chamou.
— É você mesmo — gritou Aubrey a ela para completar mais baixo. —, estranha! Bati em seu ombro.
— Posso fazer o que? Ela é.
— Não era para você ter chamado — comecei, porém senti April se aproximar.
— Oi, fulana! Como é bom te ver! — forçou ar de felicidade. Instintivamente, fiz o mesmo.
— Ah, oi. Prazer em conhecê-la — estendeu a mão a ela.
— Não é para tanto — disse Aubrey, recusando o aperto. Tentei prender o riso.
— Estou indo ali pegar alguma coisa que nem eu sei o que é. Fiquem aí conversando, ou... vocês quem sabem — insinuou Aubrey e, descaradamente, foi se retirando.
— Espera! — gritei.
Apenas me deu um breve aceno sem olhar para trás. Tive vontade de ir atrás dela, mas aqui estava April sorrindo para mim — de novo e de novo.
"Que raiva de você, Aubrey!"
— Bem discreta, não acha?
— Desculpas, April, pela minha irmã. Ela não pensa muito no que fala. Garanto que ela é bem melhor quando a conhece de verdade.
Eu sabia que April nunca iria conhecer Aubrey plenamente, ela não se abria para ninguém — além de mim. Mas falando assim eu esperava que as pessoas levassem as atitudes dela como apenas uma má primeira impressão. Deixando com o tempo descobrissem por conta própria que Aubrey era a personificação de uma "má impressão".
— Tudo bem. Já tinha escutado que esse era o jeito dela.
Não estranhei. Depois que você se torna um dos três vencedores da Competição de Busca ganha de bônus ser o centro das atenções por aqui, como faziam com Mason, Willian, Ashley... eu.
— Entendo. Gostam bastante de ficar por aí falando da gente, chego a acreditar que possamos mesmo ter uma vida bem mais legal do que qualquer outra.
— Imaginei que gostassem.
— Não... Chega a ser bem chato. Ficam prestando atenção em tudo o que fazemos. Um erro torna-se motivo de comentários... nunca quis isso — desabafei. — Ah, mas é claro que tem alguns que amam, e bastante — referi-me a Mason conversando com umas três garotas ao mesmo tempo.
Ela riu.
— Então por que se empenhou tanto para ficar entre os três primeiros? — perguntou curiosa.
Oh, não! Esse era o último assunto para se conversar com ela. Pensei em uma desculpa.
— Autossuperação. Queria me provar ser capaz — menti. — Também não é nada mal conhecer algum outro lugar, além dos domínios de Moore.
Ela refletiu.
— Compreendo. Mas você sabia que as coisas eram bem maiores do que apenas conhecer um lugar novo e, claro, a busca em si? Vocês tinham uma enorme responsabilidade.
— Sabia sim. Sabia muito bem. Estive ciente desde o início.
Abri a boca novamente para falar "Era um risco a se correr", porém desisti.
Então ficamos em silêncio por um tempo. Não tinha noção de em qual assunto entrar com ela. Normalmente, eu era a pessoa boa com palavras, só que, pelo jeito, quando eu mais precisava não era.
— Falando nela... — começou April. — Está bem ali.
Corri o olhar entre as centenas de pessoas emaranhadas na direção em que ela também olhava, parando ao vê-la junto de Jack sendo apresentada a um grupo de pessoas do Três.
Virei o rosto, estava ficando mal. Era incapaz de ficar confortável perto deles dois. Ou melhor, quando ele estava com ela.
— Ah, você e o Jack não se dão muito bem, né? Desculpa — e colocou a mão em meu ombro.
Então me vi como se estivesse em uma novela, a qual ela acompanha, e estou no papel do perso- nagem principal. De princípio pensei em recusar o toque, mas ela apenas estava tentando ser legal comigo.
— Não, tudo bem.
— Quer sair daqui?
Fiquei pensando na proposta. Olhei novamente para eles e então respondi:
— Sim.
— Mas para onde?
— Qualquer lugar.
Pode me guiar, April, te seguirei.
Apenas estava com vontade de sair dali, e o mais rápido possível.
[...]
Acordei, naquela manhã, furioso por ter acordado. O simples fato de querer dormir contribuía para que eu não tivesse mais sono algum.
Hoje eu não vou ver Ruby, por mais que quisesse, tinha convicção disso. Depois eu lhe dava uma desculpa convincente, como... ter sido raptado por ogros? Na verdade, eu não queria ver April.
Depois de se ter passado horas conversando com uma pessoa divertida e bonita, o esperado seria querer vê-la. Mas esta era a última coisa que eu queria fazer hoje.
E nem sabia qual era o meu problema — havia algum, com certeza. Ela tinha um sorriso contagiante, olhos castanhos transbordando vida a me ver e cabelos castanho-escuros tão lindos. Sentia, constantemente, seu esforço em não deixar o assunto morrer, me fazer rir e continuar vidrado. Por que isso tudo não era o suficiente para me prender a ela?
Hoje e amanhã eu não precisava comparecer na Jardinagem, estava com dois dias livres e uma vontade de ficar enfurnado dentro deste maldito quarto. Com remoço de ter me forçado a ser adorável ao máximo com April e agora ter me botado em uma grande confusão.
Culpa de Aubrey! Sempre era. E sei que não resolveria tentar culpar alguém, pois eu quem deixei a conversa fluir madrugada adentro podendo ter cortado desde o início e/ou esclarecido não querer nada com ela. Porém, se não fosse por Aubrey nada teria começado.
Os dias livres de Aubrey batiam junto com os meus, como os dos outros Buscadores — Willian, Hilary e Cia. Poderia passar o dia no Fogo, mas não sabia se isso era o que eu precisava.
Umas das únicas partes boas de ser um Buscador eram: não te olharem torto por entrar em outras Vilas e ter um quarto individual — agradeço muito agora por ter. Não queria ver ninguém além da minha irmã, sendo que também não queria escutá-la me enchendo de perguntas sobre ontem. Então hoje "eu" seria a melhor companhia para mim.
— Acorda, praga!
"Só foi pensar nela..."
— Bom dia, Aubrey — disse irritado e com a voz embargada.
Ela abriu a janela.
— Quando vai perder essa mania? E se eu dormisse pelado? — reclamei.
— Garanto que não faria diferença nenhuma na minha vida.
Ouvi o baque seco dos seus pés sobre I assoalho, logo depois bate as mãos para limpá-las.
— Sei que ontem você teve um encontro muito legal com a garota do Quatro, até ouvi dizer que a conversa dos dois rolou noite à dentro. Fiquei muito orgulhosa do meu irmãozinho em saber disso, mas... Estão precisando de você na Vila Principal.
Despertei de vez, sentando-me na cama.
— Não, nada disso. Foi apenas um encontro muito... interessante — tentei arrumar a palavra certa. — Nada além.
"É por que precisam de mim na Vila Principal? Não estou nem um pouco com paciência para Moore hoje."
— Não é nada com ele não — prendeu o cabelo em um coque. — Só digamos que um animalzinho exótico invadiu o Círculo Central e está preso em uma árvore pelo chifre.
Fiquei pasmo. Nunca tinha imaginado que isso pudesse chegar a acontecer. Se fosse o animal que estava imaginando, não poderia ser visto pelas pessoas daqui.
— Espera, como isso seria possível? Margaux e Craig já foram informados?
— Sim, foram. Foi uma falha na segurança, se assim posso dizer. É apenas um filhote, está muito arisco ainda. Além de que tanto Margaux quanto Craig são proibidos de entrar no Círculo Central, então a única coisa que veio a minha cabeça foi de chamar... você. Lembro que andou um dia desses lendo livros de Zoologia Mitológica.
— Moore é patético! — disse, levantando-me e começando a me arrumar às pressas. — Como consegue continuar pensando em babozeiras como essas, quando a vida de um dos seres mais preciosos e em risco de extinção está em apuros? Obviamente não sou tão apito para lidar com eles quando os próprios cuidadores.
— Não adianta reclamar comigo. Já intervenho demais por você com Garrett, não tenho como abraçar a causa de todos os animais indefesos que rondarem por aqui também.
Entrei no banheiro para lavar o rosto, precisando retirar o resto de sono que restava em mim.
— Pelo menos cobriram a traseira dele? — perguntei.
— Sim, não sou burra a esse ponto também.
Abri a torneira, jogando boas levas de água gelada no rosto e cabelo.
— Poderia ir chamar a Sra. Wilson para ajudar, por favor? — perguntei, mas na verdade não pretendia lhe dar a opção de negar.
— Eu não vou falar com essa mulher! — rebateu, como eu já deveria imaginar.
— Ah, você vai sim, Aubrey. Porque eu não vou aceitar a hipótese de um animal morrer por palhaçada sua.
Ela cerrou os punhos, deixando estampado em cada centímetro de seu corpo a fúria que sentia por mim naquele momento. Não dei a mínima, não era nada além do que ela bancando a orgulhosa.
Então passei por Aubrey sem lhe dar mais atenção ou rebater, apenas encaixando os meus coturnos nos pés e indo direto à porta.
— Eu te amo, você sabe disso — disse antes de sair de vez. — Te encontro na Vila Principal com a Sra. Wilson.
Não suportava saber que minha irmã pudesse estar de mal comigo, mas não seria por isso que devia sempre ceder para ela.
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