Eu tenho caído rápido e você não parece se mover

Mas será pior para mim se eu disser a verdade?

E você é apenas um veneno que eu não deveria usar?

Gostaria de poder dizer-lhe o que não posso dizer-lhe

TATE MCRAE - SLOWER

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Eu estou na faculdade, mas não tenho certeza o que quero fazer da minha vida. Não tenho planos e muito menos expectativas.

Olhando a minha volta, para esse monte de gente que finge prestar atenção na aula, tudo parece "bizarro". Pessoas escondendo seus problemas e seu passado diabólico com um sorriso mentiroso de uma boa rainha de copas. Hipócritas! Detesto...

Sabe qual a grande ironia? Eu também sou uma.

A faculdade que faço por hobby é psicologia. E aí estamos com o uso da ironia mais uma vez. Logo eu, que odeio pessoas e não dou conta de cinco dos meus melhores problemas diários aprendendo sobre pessoas e um jeito "legal" de aconselhá-las. Eu definitivamente sou um erro divino, uma causa perdida.

Os outros alunos se levantando é minha deixa para sair de meus devaneios e perceber o fim da última aula do dia, mas assim que saio da sala me deparo com uma pessoa, e não é qualquer pessoa...Cole.

- Que isso anjo! Sei que me quer, mas não precisa se atirar assim em mim.

Convencido! Seu sorriso malicioso só prova o quanto ele realmente acredita ser irresistível.

- Pode ter certeza que não me jogaria em você nem se fosse o último copo d'água no deserto querido - Falou em tom de deboche arrumando a roupa - Da próxima vez olha por onde anda. Deus não te fez com duas íris atoa.

Saio andando tendo a certeza de que estou sendo seguida (de novo).

Cole logo começa a caminhar ao meu e percebo que ele chama atenção da mulherada. Seu ego apenas infla enquanto ele pisca e acena para algumas.

- Eu estava aqui pensando - Sua voz me tira de meus devaneios novamente - Acho que terei que te matar antes que comece a me desvendar. Sabe? Como eu fiz com você.

- Se quiser tentar... Fica á vontade. Agora, me fala mais sobre o "me desvendar".

Seu sorriso se desmancha por alguns segundos. Eu sabia! Sua alegria só dura enquanto me provoca.

- É mais fácil te desvendar do que você supõe - Igualmente querido - Mas não faz diferença. Prefiro usar meus dons para te fazer gemer meu nome implorando para ir mais fundo.

O pensamento me deixou acesa mas prefiro não inflar seu ego já enorme.

- Você só pensa em sexo? Quando passou na fila do cérebro estava esgotado e te deram bosta no lugar dele?

- Perto de você só consigo pensar em arrancar essa roupa.

Seu sorriso voltou a crescer e era difícil não cair na tentação. Maldito inferno que me seduz a cada palavra de Cole.

- Ai ai Cole... Se fosse outra já tinha caído nesse papo furado e sorriso de anjo - Ele ri - Mas não funciona comigo. Cai fora!

- Ah entendi. Você tem medo.

Pela primeira vez do dia, Cole não me olhou com malícia ou deboche. Me olhou como se estive lendo todos os meus segredos no fundo do meu olhar e eu detestava isso.

- Medo do que? - Me levantei batendo na mesa. O tom alto chamou atenção de algumas pessoas, mas não pareceu ter efeito no garoto em minha frente.

- América, olha para você. Acha que disfarça bem alguma dor ou cicatriz? - Ele sorri - Acorda. O fato de ninguém se importar o suficiente para perguntar não significa que é boa atriz.

Cole levanta pegando uma maçã da minha bandeja e a morde antes de se aproximar.

- Não aumente o tom de voz para mim. Te garanto que suas cicatrizes aumentaram.

Sorriso sarcástica disfarçando o golpe que suas palavras me deram.

- Acha que tenho medo de você?

- Não quero que tenha medo de mim gatinha. Só que para de fingir perto de mim. Você é um caos. Você mente, se tornou uma mina realmente perigosa, que toda mãe detestaria ter em casa, sem sentimentos e se tornou a vadia de um grupinho popular, não por dormir qualquer um, mas por tratar todos como meros objetos substituíveis. Age como se fosse inquebrável. Só que não é. Uma mera frase te deixou desarmada. E beleza, se o seu objetivo é bancar a fodona, não vai ser comigo.

- E você liga?

A pergunta saiu automaticamente. E eu me odiei por isso.

- Pode não acreditar América, mas essa confusão que você é só te colocou no top da minha lista de mistérios a serem desvendados. E eu não quero te tirar de lá.

A proximidade que estávamos só foi percebida quando ele deposita um selinho demorado em mim, antes de se virar e pegar seu cigarro.

Depois disso eu me vi parada no meio do refeitório numa confusão maior do que a confusão em que "encantou" Cole por assim dizer.

O filho da puta me observa. Me estuda. Por mais contente que pudesse estar em saber que pelo menos ele não é burro, não sinto nem um vestígio de algo bom em mim. Só raiva. E dúvidas. Para quantas meninas ele repete o discurso? Ele anota a característica de todas elas? Isso tudo é um jogo?

Saio do refeitório indignada com a atenção. Essa cambada de universitário não deve ter nada pra fazer. É a única explicação plausível para ficarem prestando atenção na minha vida.

Vim de carona com uma amiga e resolvo voltar andando a fim de pensar melhor nas minhas próximas decisões. Um plano. É isso. Preciso planejar.

Será que isso está certo? É assim que deve ser? Ou Cole foi um erro de percurso? Um erro que está estragando com tudo. Um erro maldito e filho da puta que me deixa furiosa e excitada em questões de segundos.

E sobre minhas "dores" ? Cicatrizes que Cole mencionou. Ele sabe delas ou foram chutes ? Ah...William Shakespeare já dizia; todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente".

Era só o que faltava. Citando Shakespeare. Qual a próxima merda America? Cantar um dueto na janela do seu quarto esperando Cole subir pela árvore e cantar junto?

Não.

Não.

Isso é a vida real! Eu sei que...

Antes de continuar divagando, ouço uma buzina alta e quando olho à esquerda percebo que tem uma caminhonete em minha direção. De onde ela surgiu?

Sou puxada para a calçada me dando conta de que estava no meio da rua e encaro meu "herói". Um moreno de sorriso largo.

- Hey maluca, você é a garota do Cole, né?

Arrrg. Me solto dele depressa e volto a caminhar. Aquela era a última frase que gostaria de ouvir naquele momento.