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Em uma escala de zero a dez, a intensidade em que fui surpreendida chega a nove. A parte em que o Douglas iria falar sobre ter refletido e que agora é uma pessoa diferente, eu já imaginava que ele faria. A surpresa foi ele ter comprado um restaurante. É admirável ele não só querer recomeçar, mas dar o primeiro passo. Isso com certeza irá fazer com que ele seja mais presente na vida da Bia e, consequentemente na minha também. Fora que é um trabalho que não nos coloca em perigo. Só que durante a volta para casa, eu não consegui evitar que minha mente trabalhasse nisso. A história de vida dele é muito intensa.

Douglas trabalhou e viveu para a polícia sua vida quase que inteira. Eu o conheci sabendo que ele portava arma e distintivo. Apaixonei-me por ele mesmo assim, mas o tempo foi passando e nós dois chegamos à conclusão de que, a partir do momento em que estaríamos nos tornando uma família, o mais seguro seria ele sair.

Essa decisão fez mais sentido no dia do nosso noivado. Um dia cheio de emoções em todos os níveis e categorias possíveis. Foi a primeira vez que ele falou sobre o suicídio de seu pai e eu descobri o quanto isso mexia com ele. Muito mais que a história do homicídio de sua irmã. Na verdade, cada um dos fatos mexia com ele de uma forma diferente. Sua motivação para ter escolhido ser policial federal veio do latrocínio que tirou a vida da Daiane, sua irmã. Segundo informações de testemunhas da época, o bandido que atirou nela friamente após roubar sua bolsa era viciado em drogas e costumava praticar assaltos naquela área, mas naquela noite, fugiu em seguida e nunca foi encontrado.

Apesar da pouca idade que Douglas tinha na época, sentiu que daquele dia em diante, sua missão era evitar que as drogas chegassem em território nacional e prender os traficantes responsáveis pelas que já tivessem passado das fronteiras. Isso tudo eu fiquei sabendo pelo próprio Douglas enquanto ele estava sob meus cuidados durante sua internação no hospital. A partir dessa descoberta, eu comecei a passar pelo meu conflito de interesses.

O suicídio de seu pai foi motivado por uma sensação de incapacidade por não ter conseguido oferecer proteção à sua família da mesma forma que protegia a população. Com apenas oito anos, Douglas presenciou o pai lamentando sobre isso durante os dez dias que sucederam o homicídio da Daiane, até que ele se matou com sua própria arma com um tiro na cabeça. Foi a narração da cena do garoto entrando desesperado no quarto e escorregando na poça de sangue do próprio pai que me fez desmoronar naquele dia. Eu havia entendido tudo. Tudo significa o medo que tinha de ser afastado da polícia por causa de um erro de julgamento que resultou na morte de um assaltante; sobre sua obsessão por cada caso que pegava; sobre a dificuldade em lidar com a minha gravidez nos primeiros dias. Casar e constituir uma família estavam depois de uma linha que ele não queria ultrapassar, por todos os traumas e maus exemplos que teve quando criança. Bagagens do passado. E foi quando nos conhecemos que tudo isso se misturou. O caso que ele pegou me envolvia de certa forma. Um conflito se iniciou quando o pessoal e o profissional se cruzaram. Ficou pior quando ele soube que se tornaria pai e o peso começou a cair sobre seus ombros, aumentando todas as suas responsabilidades como agente federal, noivo e pai.

Ele saiu da polícia, mas a polícia jamais sairá dele.

São constatações como essa que me fazem optar por manter um pé atrás com o Douglas. Acho que tenho razões suficientes para acreditar que ele não vai conseguir manter-se firme nessa decisão, principalmente por já ter sido fraco uma vez.

Assim que chego em casa, agradeço a Deus em pensamento pela Kássia já ter ido dormir. Caso contrário, eu teria que relatar à ela cada detalhe da noite. Não que eu esteja livre disso, pois ela pode estar acordada no quarto à minha espera. Entro no banheiro e tento ser breve no banho. Vim da rua e preciso ficar livre de qualquer impureza que possa trazer algum perigo à saúde da minha filha. Subo as escadas e entro no quarto de Bia para conferir se ela está bem. Não há motivo algum para estar preocupada, afinal ela estava sendo cuidada pela Célia e pela tia Kássia. A breve conversa que tivemos sobre o Daniel durante a madrugada do seu primeiro plantão, foi o suficiente para ter uma empatia a mais por ela.

— Boa noite, Célia — cumprimento-a.

— Boa noite, Dra. Karen.

— Não precisamos de toda essa formalidade — afirmo sorrindo. ― Pode me chamar apenas de Karen. Aliás, se quiser, pode descer para comer alguma coisa, ou... fazer qualquer coisa.

— Tudo bem, douto... Karen — corrige-se antes de terminar a palavra. — Vou aproveitar pra ligar pra minha filha. Ela está de casamento marcado e a data já está próxima ― diz e abafa uma risada. ― Está um pouco ansiosa.

― Imagino ― digo tentando soar gentil enquanto ela sai do quarto.

Aproximo-me da incubadora onde Bia descansa seu sono tranquilo, que eu observo sempre que posso. Mas a verdade é que neste momento eu preciso ficar na presença de Ana Beatriz por outro motivo. Todo o terror que eu passei por causa do Douglas, foi com a Bia ainda dentro do meu ventre. Tenho a sensação de que só ela é capaz de compreender as razões que eu tenho para não conseguir confiar no pai dela novamente.

Agora Bia resmunga baixinho. Parece estar despertando. É tão incrível como ela suportou tantas coisas e agora está aqui, em minha frente manifestando saúde e vida. Aos poucos sua voz tão fina e delicada vai se transformando e um choro em protesto à alguma coisa.

— Calma, meu amor — peço angustiada por ela. Abro a incubadora e a acaricio levemente antes de verificar sua fraldinha, que está limpa. Cuidadosamente, pego-a no colo, posicionando-a entre meus seios, de frente para mim. Seu calor se mistura ao meu e, pouco a pouco, ela se acalma e para de chorar.

Se Bia já pudesse falar, o que será que ela me diria?

•°• ✾ •°•

Detesto que o turno da Célia seja o noturno. Embora eu tenha dificuldades para dormir, tenho me esforçado para respeitar esse horário. Célia está aqui a trabalho, que é cuidar de Bia e medicá-la, mas os plantões noturnos são os mais exaustivos e compreendo que, quando não há o que fazer, meia hora de descanso é bem vinda. Digo isso tanto por experiência própria, quanto por certificação. Fui ao quarto de Bia duas ou três vezes durante a madrugada e vi Célia tirando um cochilo. Verifiquei o relatório e a medicação havia sido feita pontualmente nesses intervalos entre um cochilo e outro. Ela sabe o que está fazendo. Só que eu não fui capaz de afastar o sentimento de fracasso. Queria tê-la visto acordada em um desses momentos e, de alguma forma, chegar ao assunto da residência do Daniel novamente. Tenho muitas interrogações em minha mente e preciso de respostas. Essas tentativas sem sucesso acabaram me fazendo chegar à conclusão de que não é legal ficar bisbilhotando o passado dele assim. Ou eu tento conversar com ele diretamente, ou simplesmente esqueço o assunto. E, a propósito, a primeira opção eu já tentei.

Como eu imaginava, escapar do interrogatório da Kássia foi inevitável. Logo que eu acordei, dei de cara com ela de braços cruzados sentada ao meu lado na cama. Eu já sabia o que ela queria, então não esperei por mais e contei cada detalhe de ontem à noite.

— Nossa! — minha irmã parece tão surpreendida quanto eu fiquei. Seus olhos fitam um ponto qualquer na parede enquanto ela parece se perder em devaneios.

— Eu sei — falo. — Quem imaginaria...

— Eu achava que ele não tinha mais nenhuma carta nesse jogo. Aí ele tira um restaurante da manga.

— Isso não me convence — digo com convicção e um pouco surpresa por ela considerar isso um feito grandioso da parte dele.

— Mas, Karen, uma coisa eu preciso te dizer: ele está tentando! — ela ergue os braços para frente com as palmas viradas para cima, como se sua explicação estivesse desenhada diante do meu nariz.

— Ele está tentando do jeito errado — manifesto me erguendo da cama e me sentando para estarmos no mesmo nível. — É muito legal ele querer recomeçar, eu reconheço. Mas isso tá parecendo mais uma tentativa de me impressionar do que um primeiro passo.

— Não, Karen — Kássia insiste. — Seria arriscado demais ele usar quase todo o dinheiro que recebeu no seu último trabalho só pra impressionar você. Ele é pai agora. Tem muito o que perder se isso der errado.

— Kássia, deixa eu te contar uma coisa. — agora minha irmã franze o cenho e meneia a cabeça. — No dia do nosso noivado, eu passei por um susto tremendo quando vi uma notícia na TV. Um policial tinha sido morto numa troca de tiros próximo a um local onde ele disse que estaria. Foi um mal entendido, mas... Enfim, ele também ficou apavorado com o estado que eu fiquei e disse que queria sair da polícia. Mas se preocupava com o que seria do nosso futuro por ele não saber fazer mais nada da vida. Então, eu disse que ele poderia abrir um restaurante. Foi uma sugestão minha. — minhas palavras ficam no ar por alguns instantes enquanto Kássia faz um expressão confusa.

— Uma sábia sugestão — diz ela me contrariando. — Ele não gastaria tanto dinheiro num prédio se não concordasse com a ideia que você deu.

— Você não entende. — faço movimentos de negação com a cabeça e me levanto da cama sentindo o joelho reclamar pela forma bruta com que despejei meu peso sobre ele. — Essa atitude do Douglas é tão impulsiva quanto a de fingir a própria morte.

Antes que eu consiga alcançar a maçaneta da porta do banheiro, ouço meu celular tocando e retorno alguns passos para apanhá-lo. Fico apreensiva quando vejo o nome da Sofia estampado na tela do aparelho.

— Oi, Sofia — atendo sentindo minha pulsação aumentar. Kássia me encara com o mesmo olhar apreensivo que eu a estou encarando.

Olá, Karen. Como você está? E a pequena Ana Beatriz? — sua voz soa animada demais, então descarto a possibilidade do assunto envolver o Douglas e a forma como se mostrou ao mundo em pleno sepultamento da mãe.

— Nós estamos bem. Bia é uma menina forte. — sinalizo para a Kássia que ela não precisa se preocupar e ela relaxa.

Que bom! Fico feliz por vocês. Gostaria de te fazer um convite. — sinto uma ruga se formar no meio da minha testa.

— Que convite?!

Bom, sei que está um pouco em cima da hora, mas você se lembra do Caio, aquele menino que você levou a um evento há quase duas semanas?

— Claro! Como poderia esquecer? Minha bolsa estourou enquanto eu olhava pra ele — digo e começo a rir contra minha vontade e Sofia também não consegue evitar de achar graça.

Realmente isso vai ser inesquecível — diz ela. — Hoje ele está completando 7 aninhos e estamos organizando uma festinha para ele no próprio INCA. Você gostaria de ir?

Automaticamente sou golpeada pela lembrança da Dona Ana me pedindo para dar continuidade ao projeto e, até hoje eu não havia me lembrado.

— Adoraria... Mas chego a me envergonhar...

Por quê?! — Sofia parece surpresa.

— Porque eu deveria ter pelo menos ligado pra você ou sua mãe pra me inteirar sobre as coisas da Companhia da Alegria...

Imagina, Karen... Você está de resguardo e sua filha nasceu prematura. Minha mãe e eu estamos cuidando das coisas e você pode se recuperar com a Ana Beatriz sem se preocupar.

— Mesmo assim. Se ao menos eu tivesse me lembrado... — um sentimento de culpa recai sobre mim e fico pensando numa forma de recompensar minha ausência do projeto. Até que um estalo ecoa na minha cabeça. — Sofia, falta alguma coisa para a festa?

Bem... — ela diz em tom de reflexão. — Uma das irmãs da igreja vai dar o bolo, minha mãe vai fazer uma torta. Outros membros da igreja vão levar enfeites e saquinhos surpresas com brinquedos...

— Cupcakes! — grito. — Alguém vai fazer cupcakes?!

Hum. Não, que eu saiba. Fiz uma lista com as coisas que cada um vai levar e não lembro de alguém ter dito que levaria.

— Então eu vou fazer — falo animada. — Qual é o tema da festa?

Big Hero. Ele ama esse filme e esse herói é o preferido dele. — constato que vou precisar pesquisar sobre, mas eu vou levar esses cupcakes. Isso é um fato.

— Tudo bem. Me envia mais detalhes por mensagem. Nos vemos mais tarde.

Encerro a chamada e olho para a Kássia.

— Preciso sair hoje a noite e...

— Eu tomo conta da Bia pra você — diz ela antecipadamente.

— Tem mais uma coisa.

•°• ✾ •°•

Kássia nem pensou duas vezes quando eu disse que precisaria de sua ajuda para fazer as compras por mim. Eu já teria que me ausentar à noite por algumas horas, então preferi que ela fosse ao mercado para comprar ingredientes e confeitos. Nesse meio tempo, pesquisei sobre o tal Big Hero enquanto passava um tempo com Bia. Cantarolei musiquinhas infantis à medida que imaginava a alegria do menino quando visse toda aquela surpresa armada para ele. Vez ou outra, Kássia me mandava uma foto de confeitos e ideias que teve dentro da loja de festas. No fim das contas, compramos ingredientes para fazer não só os cupcakes, como também pirulitos de chocolate e chocomaçãs. Tudo com o tema do herói preferido do Caio.

Estamos passando o resto da tarde na cozinha nos preparos de todos os doces. Agora cheguei mesmo a conclusão de que eu nasci para ser médica. Bater massa de cupcake, derreter chocolate e colocar nas fôrmas, e até mesmo mergulhar as maçãs no chocolate, são tarefas um pouco mais complicadas que abrir um peito e fazer uma ponte de safena. Mas, numa boa, eu poderia passar o resto da vida fazendo doces tendo minha bebê no andar de cima, pertinho de mim.

Sem querer, me pego pensando no seu primeiro aniversário. Provavelmente vai estar dando os primeiros passos com um lindo vestido bufante e um laçarote no cabelo. Tantas coisas lindas ela ainda vai viver. Meu devaneio ganha um tom triste quando volto a pensar no Caio. As coisas para ele são mais complicadas devido sua doença. Que sonhos será que ele tem? Quais deles ainda conseguirá realizar no pouco tempo de vida que ainda tem?

Neste instante, meu celular começa a tocar. Deixo as formas já com a massa pronta para ir ao forno em cima da mesa e limpo as mãos no pano de prato. Pego o aparelho para atender Sofia, mas me surpreendo ao ver que a chamada é do Daniel.

— Oi — atendo.

Como está a nossa princesinha? — demoro alguns segundos tentando absorver o fato de sua pergunta ter saído num tom tão amigável e íntimo.

— Ela está ótima — respondo por fim. — Tem resmungado para conseguir colo, acredita? — ouço sua risada e não consigo deixar de notar que ela soa muito gostosa ao telefone. Bem que ele poderia nos fazer uma visita hoje.

Ela é mais esperta do que você pensa — diz ele quando cessa sua risada. Abro o forno e coloco o tabuleiro lá dentro. — Tá fazendo o quê?

— Assando cupcakes — respondo voltando a sentir a melancolia de minutos atrás.

Assando cupcakes?! — repete em tom de pergunta.

— Sim. Hoje é aniversário do Caio. Lembra dele?

Irmão do Diogo do Jiu-jitsu?!

— Ele mesmo — confirmo. — A Sofia me ligou me convidando e eu quis ajudar em alguma coisa.

Mas porque sua voz está tão triste? — ele pergunta me deixando intrigada. Me afasto da Kássia, mesmo que ela esteja concentrada em espetar os palitos nas maçãs e envolvê-las no chocolate.

— Não sei explicar — falo.

Tenta.

— O tema da festa do Caio é um herói, tal de Big Hero. Kássia e eu estamos fazendo cupcakes, pirulitos de chocolate e chocomaçãs, mas... Sei lá... Ele está fazendo 7 anos hoje e eu estava me perguntando ainda há pouco que sonhos ele tem. Quais sonhos vai conseguir realizar e quais não. — um silêncio fica no ar e eu chego a tirar o celular do ouvido para ver se a ligação caiu, mas não. — Desculpa, eu não queria te preocupar com meus pensamentos loucos.

Não, Karen... Imagina... Eu só estava pensando aqui — ele faz uma pausa. — Você está pensando como mãe. Está imaginando toda a vida que ele tem pela frente. Só que ele só tem 7 anos. Tem sonhos normais de uma criança da idade dele.

— Eu sei — falo não muito convencida. — Ou eu estou um pouco abalada mesmo. O fato é que eu gostaria de fazer mais. Só não sei o quê.

— Karen! — berra minha irmã. — Temos pouco tempo e muita coisa pra fazer!

— Eu tenho que terminar de fazer os doces — digo ao Daniel.

Tudo bem, depois conversamos. Dá um beijinho na Bia por mim.

•°• ✾ •°•

Célia só chegaria para o seu turno às 19h, e esse era justamente o horário indicado na mensagem de Sofia. Então precisei conversar com a enfermeira Rita e justificar minha saída. Não que eu tenha essa obrigação, mas uma vez que esteja me ausentando e deixando a Kássia como responsável pela Bia, me sinto na responsabilidade de deixá-la informada sobre isso. Embora ela seja a enfermeira do turno em que eu passo mais tempo em contato, minha preferida é a Célia. Talvez por saber que ela também trabalha com a Dra. Layla e conhece o Daniel há muitos anos. Me sinto em sintonia com ela. Mas para minha surpresa, Rita compreendeu meu motivo para sair quando contei alguns detalhes sobre o aniversário do Caio e a surpresa no INCA. Nas palavras dela, amar a saúde e a medicina começam por amar o próximo. Eu concordei com ela em silêncio. Por alguns instantes, sorrimos gentilmente uma para a outra e fizemos gestos positivos com a cabeça. Pela primeira vez consegui sentir empatia e até vi nela um pouco de mim e da Paola na época em que fazíamos faculdade. Nós costumávamos falar sobre isso. Sobre o amor ser um quesito nato para se trabalhar salvando vidas. É preciso ter amor para lutar pela vida até que todos os recursos se acabem. Um profissional que não ama o que faz, não faz tudo o que pode.

Além da hora para início da pequena festinha, a mensagem de Sofia também continha o número da enfermaria onde Caio está com as outras crianças e um código de identificação para informar na recepção. Em alguns momentos cheguei a pensar que não chegaria na hora, contudo, cá estou com um vestido plissado rosê e saltos não muito altos para não piorar meu problema no joelho. É óbvio que só com isso eu não poderia entrar, então, antes de trazemos todos os doces para o quarto, Sofia me deu um chapéu de aniversário com o tema da festa. A decoração não está deixando nada a desejar e até me fez esquecer que estamos numa unidade de tratamento contra o câncer. Há um painel móvel do Big Hero e pequenos porta balões, um de cada lado ostentando bexigas de aniversário na cor vermelha.

Hoje a Companhia da Alegria não está tendo muito esforço para deixar a turminha de crianças alegres. Elas têm sorrisos fáceis no rosto e, provavelmente, são elas que estão dando um show na arte de despertar a felicidade em nós. Músicas infantis tocam em um volume não muito alto, porém, agradável. Alguns rostinhos são novos e outros me recordo da última visita que fiz, mas estou sentindo falta de alguns e isso faz meu coração se partir mais um pouco.

Sinto meu celular vibrar na bolsa e abro rapidamente para ver quem está ligando. É o Douglas. Não vou atendê-lo agora, no meio da confraternização. Se for importante, ele vai ligar de novo e eu vou saber. Fecho a bolsa e vejo uma sombra tomar minha frente.

— Karen, estou tão feliz por você ter conseguido vir! — diz a mãe de Caio enquanto nos abraçamos calorosamente. Ao lado dela está seu marido, o Oscar, e um rapaz alto e bonito.

— Imagina, Lígia. Eu não poderia perder essa festa por nada — digo emocionada.

— Esse é o nosso filho mais velho — Oscar apresenta o rapaz. — O Diogo. — apertamos as mãos gentilmente e me vem o flash do momento em que ele recebeu a nova faixa no Jiu-jitsu.

— Eu nem pude te dar os parabéns pela conquista da faixa naquela noite, me desculpa — falo constrangida pela correria depois que minha bolsa estourou.

— Você levou o meu irmão pra me ver e isso já foi incrível — diz ele com uma nota de gratidão. Algo raro de se ver em um jovem da idade dele. — Obrigado.

— Não precisa me agradecer — falo gentilmente. — Foi um prazer ter contribuído de alguma forma.

— Infelizmente a festa não pode durar muito tempo — Oscar fala em tom de lamento. — Vamos cantar os parabéns agora. Vem com a gente?

— Claro — respondo e começo a seguí-los mais para perto da cama do Caio.

Sofia traz o bolo e um rapaz magricela traz um isqueiro para acender a vela colorida, mas comoção na porta do quarto chama a atenção das crianças e dos convidados. As enfermeiras estão boquiabertas olhando na direção do corredor. Elas abrem espaço e, de repente, o Big Hero passa pela porta com dificuldade. Minha pele se arrepia assistindo o Caio cobrir a boca com as mãos à medida em que seu herói preferido diminui a distância entre eles. O herói enorme abraça o pequeno menino de forma desajeitada enquanto todos em volta ficam maravilhados com mais essa surpresa. Os pais do Caio capricharam com esse grand finale e preciso dizer isso a eles depois. O garoto agora tem um brilho no olhar completamente impagável e um sorriso no rosto que parece ser impossível de ser desfeito. De repente, alguém puxa os parabéns e a vela é acesa.

"Parabéns pra você
Nessa data querida
Muitas felicidades
Muitos anos de vida"

Que assim seja, Deus. — penso clamando por mais tempo de vida para esse lindo menino.

Me distancio um pouco para ajudar a servir o bolo e todas as guloseimas que trouxeram. Entre um pirulito e um cupcake que sirvo, volto a observar o herói de quase dois metros de altura. As crianças estão maravilhadas e os pais se revezam para tirar fotos delas com ele. Os flashes das fotos piscam como se tivéssemos uma celebridade no hospital.

— Só falta nós duas agora — diz Sofia me estendendo uma fatia de bolo.

— Nem havia percebido que já servimos todo mundo — falo sorrindo ao pegar o bolo de sua mão.

Não espero por muito e mordo um pedaço. A massa é de chocolate e o recheio é de doce de leite. Está muito gostoso. Se o intuito era fazer essas crianças esquecerem, pelo menos por alguns minutos, que estão doentes, a tarefa foi cumprida com muito êxito.

— Acho que vou encomendar o bolo da festa de 1 aninho da Bia com essa irmã da igreja — digo limpando a boca com um guardanapo.

— Ela faz bolos incríveis — Sofia elogia.

Jogo o guardanapo no lixo e volto a olhar para o Caio, mas agora quem está ao lado dele são seus pais e seu irmão. Olho em volta e nem sinal do Big Hero. É uma pena porque eu adoraria levar essa recordação para casa. Lígia me pega olhando para eles e começa a caminhar sorridente em minha direção.

— Karen, nem sei como te agradecer — diz ela.

— Imagina, Lígia. Foi uma delícia fazer esses cupcakes, os pirulitos e...

— Sim, mas me refiro ao animador de festa. — a voz foge da minha boca e uma ruga se forma em minha testa.

— Como assim? Não fui eu que contratei ele... — falo confusa. Agora ela que faz a expressão estranha e direciona o olhar para Sofia.

— Não foi obra de ninguém da igreja e nem da Companhia da Alegria — argumenta Sofia erguendo as mãos em sinal de rendição.

Olho para as duas compreendendo cada vez menos e acabo decidindo sair do quarto e ver se encontro o animador lá fora. Cruzo a porta e olho para os dois lados e o avisto sendo fotografado pelas enfermeiras. Elas estão fazendo selfies atrás de selfies. Notando que ele não vai conseguir ir muito longe com todo esse assédio, caminho sem pressa em sua direção, mas sem atrapalhar a sessão de fotos. Paro a poucos metros de distância e meneio a cabeça observando a cena. O herói percebe que estou olhando demais e se distancia das enfermeiras, e então, vem para o meu lado e sinaliza para que elas tirem uma foto nossa. Elas nos fotografam com animação e depois o animador começa a andar na direção da saída.

— Espera — peço. — Quem é você?! — ele não para e continua andando e eu o sigo até que ele entra numa sala com a placa "apenas funcionários". Movida à curiosidade, fico observando parada no batente da porta que ele largou aberta. Fico perplexa imaginando que esse tempo todo era simplesmente alguém da equipe médica e eu não desconfiei. Ele permanece de costas e começa a puxar a cabeça do personagem, deixando sua nuca visível. Seu tom de pele denuncia que eu sei bem quem ele é, mas minha ficha só cai mesmo quando ele se vira para mim. Fico estupefata e boquiaberta.

— Você... — sibilo. Douglas sorri da mesma forma que eu colocando a cabeça do Big Hero em cima de uma cadeira. Sinto um misto de emoções observando-o enquanto tenta tirar a fantasia. O zíper parece estar emperrado. — Deixa que eu te ajudo.

Me aproximo ainda chocada demais por ser ele a pessoa que tornou o aniversário do Caio muito mais feliz. Mas como?

— É incrível como pequenas coisas podem deixar uma criança com câncer tão feliz — diz ele à medida em que puxo o zíper para cima antes de tentar abrí-lo novamente.

— Como você soube? — pergunto embasbacada.

— Passei na sua casa pra ver Bia. Sua irmã disse que você veio aqui... Enfim... — suspira fundo. O zíper continua estagnado no mesmo lugar, pois um fiapo da própria fantasia enroscou nele. — Minha mãe vivia me falando pra fazer algo desse tipo. Dizia que levar um pouco de alegria às outras pessoas também é uma forma de combater o mal.

— E o que você acha disso agora que sentiu na pele? — pergunto assim que consigo arrebentar o fio e liberar a passagem pelo zíper.

— Ela tava certa. Existem vários tipos de mal assim como varios tipos de heróis. — tento impedir que um sorriso se forme em meus lábios. Meu coração, estranhamente, começa a bater em um ritmo desordenado.

— Você foi um herói diferente hoje — admito sentindo sua respiração quente a milímetros de distância do meu rosto.

— E eu tô gostando de ser esse novo herói.

Antes que eu possa dizer qualquer coisa, Douglas cobre minha boca com seus lábios lentamente parecendo liberar algum tipo de neurotoxina paralisadora. Só que essa toxina adoça minha boca e se espalha por todo meu corpo levando chamas por cada terminação nervosa. Isso é uma delícia, mas não parece certo, então afasto minha boca da dele. Porém, Douglas enlaça minha cintura me impedindo de ir muito longe. Fico incerta sobre o que dizer ou fazer, apenas sentindo os golpes desordenados do meu coração. Sua boca macia e quente em contato com a minha só me deixa ainda mais perdida no que estou sentindo e fazendo.

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Oieee!
Desculpem por deixar recadinho aqui de novo, mas achei que não precisava criar um capítulo no livro de avisos apenas pra dizer que estava morrendo de saudades de publicar e ver a reação de vocês ♡
Faz três dias que tenho conseguido escrever uma quantidade significativa de palavras e finalmente o final da história está com destino certo e caminhando super bem!
Mas farei um informativo no livro de avisos sobre algumas coisas importantes e peço que, caso alguma de vocês ainda não tenha adicionado-o à biblioteca, que faça isso para melhorar nossa comunicação.
Beijinhos!😘
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Capítulo publicado em 05/08/2020

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