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Por dentro eu estou um turbilhão com visitas no andar de baixo querendo minha atenção quando o tempo todo, tudo o que eu quero é subir e observar minha filha dormindo na incubadora, recebendo leite pela sonda ou até mesmo trocar sua fraldinha. Quem está fazendo isso é uma enfermeira que, até agora, só sei que seu nome é Célia. O ambiente lá em cima precisa ser o mais estéril o possível, por isso estamos todos aqui embaixo já que todo mundo queria comemorar que Bia está em casa, finalmente.

Mesmo não sendo tantas visitas assim, me sinto incomodada, pois estamos todos divididos. Não tive coragem de proibir meu pai de vir, então, minha mãe e ele estão sentados à mesa tomando o café que Kássia fez e serviu a todos. Douglas está de pé com as mãos nos bolsos olhando para o jardim mal cuidado através da parede de vidro da sala. Eu deveria ter colocado cortinas ali faz tempo. Paola e Wesley estão no sofá conversando com a Marcela, mas claramente os dois estão se esforçando muito para não deixar transparecer que sentem ranço dela. Tudo isso por causa daquele pedido que ela me fez, sobre me afastar do Daniel. Ignoro todas essas cenas e vou até o armário da cozinha. Abro-o na ponta dos pés à procura da caixa de chá de camomila, que está na prateleira de cima. Me estico mais um pouco e tento alcançar a tal caixa no instante em que uma sombra me cobre e uma mão que dá o dobro da minha pega o chá antes de mim.

— Isso deveria estar num lugar onde você conseguisse alcançar — diz Douglas.

— Eu sei, deve ter sido o Wesley que colocou aí. Ele e a Paola me ajudaram na arrumação das coisas quando vim pra cá — justifico. Alguns segundos se passam enquanto abro a caixa.

— Cadê a água quente? — pergunta olhando para todos os lados me fazendo perceber que não coloquei a água no fogo para fazer o chá. Douglas sorri da situação enquanto faço movimentos negativos com a cabeça. — O que tá te incomodando?

Não respondo. Apenas olho na direção dos meus pais e ele segue com os olhos até entender tudo.

— É difícil — falo em resumo. Douglas enche a chaleira e põe no fogão. Em seguida acende o fogo. — Não que esteja sendo fácil conversar com você, sem querer ser rude — ressalto.

— Eu sei. Eu até poderia tentar diferenciar o que ele fez do que eu fiz, mas não sou mais essa pessoa que fica piorando os erros dos outros pra minimizar os próprios erros — diz e ergue o olhar ao meu. — Vai ser no seu tempo que as coisas vão acontecer.

— Do que você tá falando?! — questiono confusa.

— De... perdoar ou não — ele gesticula enquanto fala. — Superar ou... esquecer. Eu não sei. Mas sei que você já sabe de tudo o que deveria saber pra tirar as conclusões que precisa.

Respiro fundo e tento imaginar se isso é mesmo verdade. Em se tratando do meu pai, acho que não tem como entender as razões pelas quais ele mentiu. Ele mentiu e ponto. Mas o Douglas...

— Não.

— Não o quê? — indaga ele.

— Não sei tudo o que eu deveria saber pra tirar minhas conclusões.

Nos olhos do Douglas eu passo a ver uma atenção maior depois das últimas palavras que acabei de falar.

— Quer conversar?

— Não — respondo imediatamente. Sem querer, dei a entender que quero explicações. Eu não quero. — Sabe o que eu quero? Que todo mundo vá embora pra eu poder ficar com a mi... nossa filha.

— Todo mundo me inclui?! — inquire com uma sobrancelha arqueada. A chaleira começa a fazer um som agudo indicando que a água já está fervendo.

— Não — admito e expiro o ar que prendi nos pulmões desde que me corrigi ao quase o excluir como pai novamente.

Coloco o sachê do chá dentro da xícara e Douglas despeja a água quente. Dobro o pano de prato e coloco sobre a xícara para fazer a infusão. Um toque de celular fica audível de repente e Douglas coloca a mão no bolso. Em seguida se afasta para atender. Contra a minha vontade, meus olhos se cruzam com os do meu pai e eu desvio automaticamente quando percebo que ele está se levantando. Tiro o pano de prato da xícara para inspecionar o chá e quase recebo uma descarga elétrica ao sentir uma mão no meu ombro.

— Nós já estamos indo, Karen — a voz tranquila da minha mãe em meu ouvido me alivia ao constatar que a mão no meu ombro é sua. Viro-me e a abraço forte.

— Obrigada por ter vindo — digo dentro do seu abraço. — Não queria que fosse tão cedo.

— Nem eu — diz ao me soltar —, mas a clínica está fechada até agora... Estamos começando a sair daquela crise toda e não podemos relaxar neste momento.

— Eu sei — falo evitando olhar para o meu pai quando ele começa a tomar meu campo de visão pelo fato da minha mãe estar se distanciando.

— Se precisar de alguma coisa, fala comigo, filha — meu pai pronuncia a palavra filha de forma muito fácil e se limita a deixar que nossa despedida seja essa. Paola e Marcela se levantam ao perceber que seus patrões estão indo.

— Karen, sua filha é uma gracinha — Marcela diz ao se aproximar de mim para nos despedirmos também. — Pena que ainda não podemos pegar no colo.

— Se nos organizarmos e dividirmos as visitas, talvez dê pra subirem até o quartinho dela e vê-la melhor — digo a fim de ser gentil enquanto nos abraçamos.

— E como é que vocês duas vão descansar recebendo visita todo santo dia? — Wesley se manifesta.

— Ele tem razão, Karen — Paola concorda.

— É o quê??? Ouvi direito?! — ele ironiza para a irmã fazendo todo mundo rir, menos Douglas que está concentrado ao telefone. — Eu também vou nessa, gata. E prometo que só vou vim perturbar a sua paz quando a Bia tiver cabelo o suficiente pra fazer uma chuquinha. — gargalho.

— Vocês podem vir sempre que quiserem — falo e repenso. Isso não se aplica ao meu pai. — Tchau, gente. Amo vocês.

Kássia começa a recolher as xícaras espalhadas pela mesa de centro e de jantar. Douglas encerra a ligação e coça o cavanhaque ainda observando as plantas disformes. Desvio o olhar antes que ele perceba e me direciono até a escada.

— Karen — a voz dele me faz titubear. Paro no caminho e me volto a ele. — Eu vou ter que ir embora. Preciso resolver um problema. Quando posso vim ver a Bia de novo?

Meneio a cabeça e molho os lábios para conter a vontade de falar um palavrão. É o primeiro dia da Bia em casa e ele tem um problema para resolver?

— Quando você quiser — falo e me obrigo a parar por aqui. Ele assente com gestos positivos.

— Tô indo então — anuncia à distância. — Tchau, Kássia. Tchau Karen.

Arqueio uma sobrancelha quando a porta se fecha e olho para minha irmã.

— É um babaca mesmo — diz ela.

— Achei que só eu pensava isso. Vou ver como a Bia está.

•°• ✾ •°•

Tudo muda quando a gente acorda preocupada no meio da noite, mas pode sair do quarto e abrir a porta ao lado para ver se está tudo bem em vez de ter que esperar amanhecer para dirigir por quarenta minutos até o hospital. Célia está medicando Bia através da bomba de infusão enquanto meu anjinho continua dormindo.

É um hábito estranho que a gente desenvolve sem perceber. Um movimento rápido, porém, sutil e quase imperceptível que se repete tão depressa e incontáveis vezes por minuto, acaba virando um vício. Chega a ser irônico eu trocar a tela do monitor cardíaco e seus bips baixos por observar o peito de Bia se inflando e esvaziando. Me acalma; me prova que ela não só está bem, mas que continua lutando firmemente pela própria vida.

— Por quanto tempo acha que ela ainda vai precisar de tudo isso? — pergunto à Célia. A enfermeira anota no prontuário o horário que a medicação foi feita e se volta à mim.

— Acredito que em duas semanas ela já possa ir para o bercinho. Já a medicação será ajustada conforme ela for se recuperando e se adaptando ao ambiente — responde. Não é nada que eu já não soubesse, mas as vezes é bom ouvir novamente. Célia olha o relógio em seu pulso e me encara com cautela. — São quase 1h da manhã. A senhora não está com sono? — sorrio.

— Não sei o que é sentir sono há um tempo — falo cruzando os braços. — Às vezes me sinto exausta e apago, mas sono mesmo, não sei se um dia vou voltar a sentir.

Fico com uma leve impressão de que não deveria ter dado essa resposta à ela. Célia se volta novamente ao prontuário e o folheia verificando alguma coisa.

— Tá ouvindo isso?! — Célia pergunta percorrendo o quarto com os olhos.

— O quê?! — meu coração acelera e olho o monitor para ver se há algo errado.

— Tem um celular vibrando — diz ela indo em direção à sua bolsa. Ela a abre e gesticula negativamente para mim. — Deve ser o seu.

Caminho hesitante até meu quarto, onde a única fonte de luz vem do meu celular em cima do criado mudo. Kássia está ferrada no sono e jamais perceberia meu celular vibrando. Apanho-o verificando rapidamente quem está me ligando e fico surpresa e preocupada ao mesmo tempo. É o Daniel.

— Oi — atendo e saio do quarto, para não acordar minha irmã, mas não entro no quarto de Bia pelo mesmo motivo: não acordá-la.

Diz que eu não te acordei — ele pede receoso.

— Não me acordou. Eu estava conversando com a Célia. Aconteceu alguma coisa?!

Aconteceu que eu fiquei preso numa cirurgia. Era pra ter ido embora às 19h, mas você sabe como é... — Ele faz uma pausa e ouço um bocejo.

— Sim, eu sei. Passamos por isso inúmeras vezes.

Pois é... Acabei não conseguindo ir na sua casa. Posso passar aí pra ver vocês?

— A-Agora?! — gaguejo tentando entender melhor.

Sim, se você não se importar, é claro.

— Não, imagina... Não é incômodo nenhum — falo estranhando minha reação e meu tom de voz um pouco mais agudo que o normal.

Tudo bem então. Estou indo aí.

A ligação é encerrada antes que eu tenha tempo para processar que é madrugada e vou receber uma visita. Quem sai de uma cirurgia de longas horas e em vez de ir para casa descansar, quer vir visitar Bia e eu?

Desço a escada devagar pensando se há alguma coisa pronta para servir ao Daniel, mas o que seria conveniente oferecer uma hora dessas? Jantar ou café da manhã? Acendo as luzes da sala e da cozinha. Está tudo organizado e bem limpo. Deve ser por isso que a Kássia está desmaiada na minha cama.

Abro a geladeira, mas antes de conseguir analisar o que tem, meu celular vibra no bolso seguido de um barulho de motor de carro se aproximando. Não pode ser... Olho primeiro o celular sem nem desbloquear a tela.

Daniel: Cheguei.

Fecho a geladeira e começo a destrancar a porta. Assim que a abro, os faróis do carro se apagam e o motor é desligado. Uma sensação gélida se instala no meu estômago enquanto destranco o portão. Daniel sai do carro de boné preto. Isso me chama mais a atenção do que nunca, pois nunca o vi usando boné antes. Pelo menos não que eu me lembre.

— Você tá com uma cara de... — ele para de falar por um instante sorrindo e com uma ruga no cenho. — Mãe! Você está com cara de mãe agora — ele ri do próprio comentário e me abraça.

— Agora é mais do que oficial — falo envolvida em seu abraço aconchegante. — Como chegou tão rápido?! — Daniel me solta ainda sorrindo, mas interrompe o sorriso para abrir um bocejo.

— Acredita que eu estava vindo pra cá sem ter a mínima noção de que horas eram? — arregalo os olhos dando espaço para que ele entre. — Parei pra abastecer e por acaso olhei pro relógio. Aí resolvi te ligar.

— Caramba! E que cirurgia foi essa que você fez?! — pergunto enquanto caminhamos até entrarmos na sala.

— Um cara teve a perna decepata num atropelamento. Estávamos tentando salvar o membro para reimplantar, mas estava muito deteriorado.

— Lamento — digo de forma sincera. — Tá com fome? Quer comer alguma coisa?

— De verdade? Eu tô sim, mas queria ir lá em cima ver a Bia primeiro. — sorrio.

Nunca me passou pela cabeça que o Daniel se preocuparia tanto com a gente a ponto de vir aqui no meio da madrugada. Isso faz eu me sentir especial. Sei que eu não sou a única que ele veio ver, aliás, isso me deixa ainda mais feliz. O carinho que ele tem, não é só por mim, agora é pela minha filha também. Eu já sabia que ele era o tipo de amigo que não abandona nunca, mas ver isso acontecer quase me faz flutuar até o andar de cima.

— Entra — falo quando chegamos próximos à porta.

Daniel sorri ao dar os primeiros passos para dentro do quarto com o olhar vidrado na Bia dentro da incubadora. Célia está sentada na poltrona que colocamos aqui para ela passar o tempo em que não está fazendo nenhuma tarefa.

— Isso é hora de incomodar os outros, Dr. Daniel? — ela ironiza e chego a ficar desconfortável com sua reação.

— Você não tem nada pra fazer não, Celinha?! — ele devolve chamando-a pelo apelido e ela sorri sem fazer barulho. — Como ela está? — Em vez de responder, Célia pega o prontuário e o entrega. Ele folheia observando atentamente cada página. Parece até que ele é o médico da minha filha.

— Agora é só levar as amostras pro laboratório — diz ela.

— Perfeito — ele comenta devolvendo o prontuário à ela. Em seguida, dedica uma boa atenção à Bia. O modo como ele a olha... — Karen, ela é a cara do Douglas. — reviro os olhos e sorrio.

— Isso eu constatei sozinha — falo. — Mesmo ninguém tendo a coragem de me falar. Talvez porque eu poderia ficar chateada por não parecer comigo ou...

— Só que ela é linda — ele completa me fazendo rir.

Daniel acaba de dizer que o Douglas é feio e eu estou achando graça. Além disso, ele está compenetrado analisando cada traço físico da minha filha, e eu, analisando os dele. Sua barba está um pouco maior do que de costume, mas ainda está bem cuidada. Inclusive, ele está tocando ela neste exato momento, como se estivesse refletindo sobre o que acabou de falar. Só interrompe sua observação para abrir mais um bocejo. Ele põe a mão na boca e se afasta da incubadora aos poucos.

— Trabalhou por quantas horas seguidas hoje? — pergunto ao mesmo tempo em que estudo seu cansaço.

— Sei lá... Eu emendei um dia no outro — fala sorrindo.

— Quero te oferecer alguma coisa, mas não sei o quê...

— Acho que um café vai ajudar bastante.

Descemos a escada debatendo sobre a possibilidade de haver alguma característica da Bia que tenha vindo dos meus genes, mas segundo ele, só quando ela crescer mais um pouco e aprender a andar é que vamos saber; se levar um tombo a cada quinze passos, é um gene meu.

— Senta aí enquanto eu faço o café — sugiro apontando para o sofá —, é mais confortável do que as cadeiras.

— Já que você insiste... — brinca se jogando no sofá, se sentindo em casa. Eu gosto que ele se sinta assim aqui, já que sempre me recebeu bem em sua casa e me fez ficar à vontade todas as vezes em que fui lá. À vontade até demais. — Me conta como está sendo estar em casa com a Ana Beatriz.

Respiro fundo. Esse é realmente um assunto que eu tenho vontade de conversar.

— Bom — inicio enquanto encho a cafeteira com água —, é a primeira noite da Bia em casa e eu não sei se quero sair de perto dela ainda. Quando você me ligou, eu estava justamente no quarto dela — falo me rendendo à vontade de rir da minha nova obsessão e Daniel faz o mesmo. Coloco o pó de café na máquina e ligo-a. — Mas entrar lá e ver a Célia — digo em tom mais baixo para não correr o risco dela ouvir —, me incomoda um pouco. Óbvio que eu sabia que não seria fácil sabe? Não me leve a mal, Daniel, sei que a Célia é muito competente e não deixa nada a desejar, só que ver outra pessoa cuidando da Bia quando eu sou médica, me deixa com uma sensação de incapacidade. — abro o armário para pegar o pote de açúcar. Levando o silêncio do Daniel em consideração, isso vira uma crítica. — Eu sei, minha área é outra e não posso menosprezar o trabalho de uma enfermeira especializada em neonatologia. Principalmente quando ela passa poucas horas por dia na minha casa e... — me calo ao me virar e deparar-me com o Daniel dormindo no meu sofá.

Penso se estou enxergando direito e me aproximo devagar para confirmar. Seus olhos estão fechados e suas pálpebras não se mexem. Sua respiração está lenta, profunda e pesada. Ele está ferrado no sono. Uma sombra aponta ao pé da escada e meu reflexo me faz olhar na direção. Célia desceu e está parada encarando a cena com uma expressão de pena.

— Eu... estava fazendo um café... — explico em sussurro. — Ele apagou...

— Eu tomo o café dele, se você não se importar.

Abafo o riso com a mão e faço um gesto para que ela me siga até a cozinha, mas antes, apago a luz da sala. Sirvo o café para nós e nos sentamos. Célia não faz cerimônia e dá o primeiro gole, em seguida olha para o Daniel. Meu primeiro pensamento é que ele acordou, então miro meu olhar na mesma direção que ela. Ele ainda dorme como dois minutos atrás e até me arrisco a dizer que estou ouvindo um ronco leve.

― Faz tempo que não vejo ele assim ― diz ela em tom baixo ainda o observando. Provo meu café e logo uma sensação de bem estar me preenche.

― Assim como?! ― pergunto instantaneamente totalmente movida à curiosidade.

― Eu sei que vocês são amigos ― começa aumentando os questionamentos na minha cabeça ―, mas é curioso ver ele se dedicando tanto a um caso de prematuro extremo. Parece que ele tá voltando a se interessar pela área. ― sinto uma ruga se formar em meu cenho.

― Se interessar pela área??? ― Célia tira a xícara da boca repentinamente ao ouvir minha pergunta.

― Você não sabia?! ― nego com gestos. Não faço ideia do que ela está falando. ― O Dr. Daniel ia começar a se especializar em ortopedia quando a Dra. Layla viu um grande potencial nele para neonatologia. Ele realmente levava muito jeito. Sempre manteve um autocontrole muito grande, porque, você já deve saber que lidar com o início da vida não anula as chances de morte. ― minha expressão muda quando lembro que sou mãe de prematuro. ― Mas não se preocupe ― diz ao notar que me amedrontou ―, não permitiriam a alta da Ana Beatriz se ela corresse algum tipo de risco.

― Eu sei, mas é inevitável ter medo às vezes ― justifico-me. ― Continua falando do Daniel, por favor.

― Pois bem. Ele auxiliou em mais partos e recuperações de bebês que qualquer outro residente daquele hospital. Ligava em todas as folgas para saber como os bebês estavam. A Dra. Layla passava tanto tempo ensinando os procedimentos a ele que ninguém imaginou que aconteceria o que aconteceu.

― E o que aconteceu?! ― questiono intrigada.

― No dia da escolha da especialização, ele optou pela ortopedia. Ninguém entendeu, pois ele amava fazer o que estava fazendo. Ele e a Dra. Layla pareciam dois estranhos quando se esbarravam pelos corredores nas vezes em que ele subia para a maternidade. O hábito de observar os bebês ele nunca perdeu. Depois de um tempo, saiu do Firmino Machado e foi para o São Silvestre, hospital público dirigido pelo Dr. Gilberto.

Célia volta a beber seu café e eu volto a olhar para o Daniel. Essa transferência dele para o São Silvestre foi o que fez a gente se conhecer, mas sei que um motivo maior causou isso. Ele nunca foi de falar da sua vida pessoal, mesmo nós dois sendo grandes amigos no trabalho. Talvez fosse isso. Tínhamos uma amizade dentro do hospital e ele limitava isso por motivos que ele mesmo se impunha. Estou muito tentada a acordá-lo e fazer milhões de perguntas sobre o que acabei de ficar sabendo, mas óbvio que não farei isso.

― O café tava uma delícia, Dra. Karen ― diz Célia se levantando. ― Vou voltar pro meu posto.

― Tudo bem. Quando eu terminar meu café também vou subir.

Assisto Célia sumir na direção da escada e depois foco meu olhar no Daniel, agora roncando um pouco mais alto. Bebo o último gole do meu café e levanto-me calmamente. Coloco as xícaras sujas na pia e verifico as horas no relógio de parede da cozinha. Já passa das 2h e eu jamais acordaria o Daniel para fazê-lo dirigir até sua casa estando tão cansado depois de horas de cirurgia. Vou a passos lentos até o armário embaixo da escada e pego um cobertor. Tenho deixado roupas de cama aqui embaixo, pois de vez em quando tiro um cochilo no sofá também. Vou até o Daniel na ponta dos pés e o cubro com cuidado para não acordá-lo. O que acho muito difícil.

O que te fez desistir da neonatologia, Daniel? ― pergunto em pensamento.

Como eu não desconfiei de nada? Ele não é só um ortopedista. É um médico que tem muito conhecimento na área neo. Do contrário, não teria noção de como fazer aquelas manobras para saber em que posição a Bia estava. Tinha algo por trás daquela ligação para a Dra. Layla enquanto o parto acontecia. Quando ela disse que ele tinha competência para aquilo, se referia a isso. Mas por que nunca me contou nada?




Capítulo publicado em 04/07/2020

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