Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

52

Fui quebrada em milhões de partes. Partes essas que se perderam pelo caminho até que eu consegui chegar até aqui. Partes que eu já nem lembro mais que um dia fizeram parte de mim. Mas quer saber de uma coisa? Estou me refazendo à partir de peças novas. Elas se encaixam de forma diferente e eu realmente não sinto falta da minha antiga eu. A única coisa que eu quero agora, é que o resto da tarde passe em um piscar de olhos para que eu possa voltar ao hospital e buscar a única parte de mim que eu preciso para me sentir completa.

Já do lado de fora do hospital, eu paro de andar, pois simplesmente esqueci onde estacionei o carro. Gargalho sozinha ao passo que seguro meus cabelos. O vento os joga por cima dos meus olhos e eu só consigo rir. Amanhã voltarei aqui para buscar Bia e eu ainda estou tentando me fazer acreditar que isso vai, de fato, acontecer. Ouço meu celular tocar dentro da bolsa e o pego rapidamente. Na tela, o nome da Kássia se mostra por cima da foto em que ela está radiantemente linda.

— Você não vai acreditar numa coisa — falo eufórica.

— Ah, eu posso te assegurar que acredito que você deixou o Douglas pintar o quarto da Bia, porque ele está aqui na porta com tinta, rolo e broca.

— Broxa. — ouço o próprio Douglas corrigindo a Kássia.

— Espera — peço desconfiada. — Deixa eu ver se eu entendi direito. O Douglas está aí com toda a parafernália pra pintar o quarto da Bia?!

— É exatamente isso, Karen. Mas como você não falou nada sobre isso, resolvi ligar pra saber.

— Acho que não vai dar pra pintar o quarto hoje, senão a casa vai ficar fedendo à tinta e a Bia...

— Não vai, não — a voz do Douglas ecoa mais alta dessa vez indicando que é ele quem está com o celular na mão. — Eu comprei tinta hipoalergênica, inodora e livre de qualquer coisa que possa fazer mal à nossa filha.

— Hum — resmungo baixo. — Mas espera. Qual a cor da tinta que você comprou? Eu disse que eu ia comprar...

— Ah, é quarto de menina. E quartos de meninas são rosa... Certo? — bufo e reviro os olhos.

— Tá bom — falo por fim. Estou feliz demais para fazer questão da cor das paredes. — Cuidado para não sujar as coisas que já estão no quarto. Chego aí em vinte minutos.

Encerro a chamada com os olhos estreitos à procura do meu carro. Preciso chegar em casa logo para ver se o Douglas vai mesmo pintar tudo direitinho. Vê se pode, eu havia dito que não poderia tomar um café com ele pois iria conversar com a Dra. Layla e depois compraria as tintas. Ele se adiantou e foi na minha frente. E o pior de tudo, é que eu acabei não dando a notícia da alta à Kássia. Mas tudo bem, falo pessoalmente aos dois logo de uma vez.

Com paciência, poucos minutos depois eu já estou dando partida no carro. Meus pensamentos retornam ao momento em que o Daniel e eu conversamos. Como eu não pensei nisso antes? Chega a parecer burrice minha eu não ter olhado as coisas pelo mesmo ângulo que ele. Realmente minha família, meus amigos e eu formamos meio que uma junta médica e a Bia vai estar recebendo a melhor assistência possível. Só tem alguns detalhes que eu vou ter que providenciar, como uma incubadora e alguns outros equipamentos que ela está usando no hospital. Ou será que ela já pode ficar sem aquilo tudo, apenas recebendo alimento pela sonda e alguns medicamentos especiais? Paro no sinal vermelho. São tantos pontos que precisam de mais atenção, que chego a pensar se não é melhor eu voltar ao hospital e esperar o término da cirurgia que a Dra. Layla está realizando. Precisamos de uma conversa mais detalhada. Mas o Douglas está na minha casa portando armas diferentes: rolo e tinta. O chão do quarto já deve estar mais rosa que o carro da Penélope Charmosa. Falando nisso, qual será o tom desse rosa? Rosa choque? Rosa velho? Amanhã vou chegar bem cedo no hospital. Hoje eu preciso fiscalizar o Douglas.

•°• ✾ •°•

Não sei se é a pressa ou dor no joelho que surge de repente, mas estou com dificuldade até para estacionar o carro dentro da minha própria garagem. Talvez seja uma mistura dos dois, juntando com o fato de eu querer ver a sujeira da tinta com meus próprios olhos.

Saio do carro a passos lentos, contra a minha vontade, porque eu queria mesmo era sair correndo até lá. A porta de entrada se abre antes mesmo que de eu tocar a maçaneta, e eu dou de cara com Kássia.

— Por que você não tá lá em cima vigiando o que ele tá fazendo no quarto?! — indago aos sussurros à medida em que entro e largo minha bolsa no sofá no caminho até a escada.

— Eu subi com ele e ajudei a arrastar os móveis — responde me seguindo —, mas desci porque o Edu me ligou e eu quis privacidade, né? Só desliguei agora que vi você chegando e lembrei que o Douglas tá aqui.

— Obrigada — ironizo olhando-a de lado e forçando um sorriso falso.

Chego esbaforida ao segundo andar e me arrasto até o quarto da Bia, que está com a porta entreaberta. Empurro-a devagar olhando primeiramente para o chão, que está forrado com jornal por toda a parte. O rodapé está protegido por fita crepe, assim como a moldura da janela de madeira. As paredes ainda estão com a cor palha, então ele ainda nem começou. Douglas está de costas e não percebe que estou o observando enquanto mergulha o rolo no balde de tinta.

— Espera! — grito involuntariamente. Douglas se estremece como se o cabo do rolo estivesse energizado.

— Porra! — deixa escapar em voz alta. Kássia mexe nas folhas de jornal no chão e fica visível que tem mais de uma camada. Ele está sendo cuidadoso. — Que susto, Karen...

— Desculpa — peço ao me aproximar olhando na direção do balde. — Que tom de rosa é esse?!

— Rosa bebê. Qual mais seria? — diz zombando da minha pergunta.

— Sei lá... Tem muitos tons de rosa, sabia?

— Sim. Rosa chá, magenta, fúcsia... Você tem uma calcinha fúcsia que... Puta que pariu... — sibila com malícia. Sinto meu rosto arder no mesmo instante.

— Opa! — Kássia exclama ao se levantar do chão. — Vou sair daqui. Não quero presenciar a Karen te agredindo porque não vou testemunhar a seu favor. Fui — avisa mostrando os dedos simbolizando paz e amor.

Assisto a Kássia sair e fechar a porta ouvindo o som da risada do Douglas como resposta ao que minha irmã falou.

— Vai me acertar de direita ou de esquerda? — questiona em tom sarcástico.

— O assunto em questão é a cor da tinta, não a cor das minhas calcinhas — esclareço sentindo o constrangimento dominar o cômodo. Douglas mantém o mesmo sorriso nos lábios, se divertindo com as minhas palavras.

— Então, se eu perguntasse qual a cor da calcinha que você tá usando agora, você não responderia?

— Não! É óbvio que não! — exclamo a ponto de explodir. — A gente só pode conversar sobre a cor das paredes, entendeu?!

— Das calcinhas, não — diz desmanchando o sorriso e se forçando a ficar sério.

— Não.

— Certo, entendi. Então posso começar a pintar?! — olho mais uma vez para a cor da tinta no balde e a imagino nas paredes. Vai ficar lindo o cantinho da minha filha.

— Pode.

O primeiro rastro rosa surge no canto da parede, de alto a baixo, dando vida ao quarto; dando aquele ar de nova etapa se iniciando. Observo em silêncio o quarto se transformando na realidade mais linda que um sonho pode se transformar. Se eu tivesse sonhado de forma literal com essa cena uns meses atrás, acharia que seria sonho para o resto da minha vida. O Douglas estava "morto" e eu acordaria em lágrimas por não poder ver o pai da minha filha pintar o quartinho dela. Eu sei que ele não vai viver para sempre, pois todos nós vamos morrer um dia, mas ela vai poder crescer tendo o pai por perto. Seria doloroso a presença do pai dela ser um amontoado de lembranças contadas pelo meu ponto de vista. Mesmo que eu ainda sinta muita raiva dele por ter me trocado por trabalho como fez com todas as outras namoradas que teve, é bom ver que ele se importa até com os mínimos detalhes.

— Vai ficar só olhando?! — indaga me trazendo de volta. Me dou conta de que estava perdida em devaneios tendo ele como foco de visão. — Pega um pincel nessa bolsa aí do seu lado. — olho para a tal bolsa e depois para ele.

— Douglas, eu não sei se você sabe, mas eu estou de resguardo — falo e ele se volta a mim meio confuso.

— Ah, é verdade. Você tá tão... — hesita quando arqueio uma sobrancelha. — Tão em forma... Nem parece que teve uma filha há 8 dias.

— Está contando os dias?! — falo surpresa.

— Claro — diz molhando mais o rolo na tinta. — O dia em que nossa filha nasceu é também o dia em que eu renasci. É um marco na minha história. Pra sempre. Hoje faz 8 dias que ela nasceu e eu estou comemorando pintando o quarto que ela vai dormir quando puder vir pra casa. — sorrio aproveitando que ele está concentrado em cobrir o tom bege da parede.

— Acha que essa tinta seca até amanhã?

— Depende do tempo... Mas acho que sim. Por quê? — indaga ainda colorindo a parede.

— Porque ela vai ter alta amanhã — revelo. Seus olhos encontram os meus e ele possui uma ruga no cenho.

— Não é muito cedo?! Quero dizer... Vai ser... maravilhoso trazermos ela, mas ela se desenvolveu o suficiente? Não há riscos???

— Riscos sempre vão existir, até mesmo no hospital. Mas o Daniel estava falando uma coisa e...

— O Daniel?! — questiona interrompendo a pintura. — Achei que você tinha ido conversar com a médica da nossa filha.

— Ela estava em cirurgia e, como eles são amigos... — paro de falar. Não porque a frase seja autoexplicativa e dê para deduzir o resto, mas porque estou dando explicações ao Douglas. — Você tem que entender que se a nossa filha está viva e bem, é por causa do Daniel! E se eu dependesse de você pra dar a luz à ela, estaríamos as duas mortas.

Douglas fica em silêncio e desvia o olhar dos meus. Por mim, eu falaria muito mais que isso, mas o Douglas é adulto o suficiente para entender sem que eu precise gastar minhas preciosas palavras. Ele retoma a tarefa cobrindo mais um pedaço da parede com tinta.

— O que o Daniel falou? — pergunta como se não tivéssemos interrompido o assunto.

— Que como falta pouco pra ela alcançar os 2kg que precisa pra ter alta, e que praticamente a família toda é médica, que ela pode continuar recebendo todos os cuidados em casa.

— Então sua mãe vai passar um tempo aqui pra te ajudar?! — pergunta mais interessado no assunto e menos nervoso.

— Pode ser, eu não sei. Ou ela e a Paola podem se revezar... Posso até ensinar a Kássia a...

— Não — diz ele. — Já viu a quantidade de equipamentos que tem dentro daquela UTI? Acha que vai ser a mesma coisa se trouxermos ela pra cá?! — engulo em seco.

— Eu sei, parece que não vai dar certo, mas antes da alta, ainda vou ter uma conversa com a Dra. Layla e ela vai me dar mais instruções.

— Qualquer um daqueles equipamentos deve valer um dinheirão. — inspiro fundo. De repente minha alegria começa a se dissipar, e o que era quase realidade, vira desilusão. — Marcou pra ter essa conversa com a médica à que horas?

— Não cheguei a marcar horário. Vou de manhã cedo — respondo cabisbaixa.

— Eu quero ir junto. Provavelmente não vou conseguir entender muita coisa de uma conversa entre duas doutoras em medicina, mas eu quero saber do que ela vai precisar. Vou comprar tudo o que for preciso pra poder trazer a Ana Beatriz pra casa.

Agora quem tem uma ruga no cenho sou eu.

— Você acabou de... renunciar seu cargo na Interpol — falo confusa e ele ri.

— Mas recebi um bom adiantamento quando aceitei esse trabalho e acho que essa é uma boa ocasião pra mexer nesse dinheiro.

— Nossa... — uma pressão forte se acumula no meu peito ao ouvir as palavras do Douglas.

— O que foi? — pergunta ao perceber minha hesitação. Penso se deveria

— Nada. Vou descer — falo ao me levantar. — Antes de você ir embora, a gente conversa melhor sobre amanhã.

Ele assente sem perceber que estou inventando motivos para sair de perto dele e volta a colorir a parede antes de eu dar as costas e sair. Disfarçadamente, mudo o caminho e sigo para o meu quarto, onde fecho a porta sem fazer barulho e me jogo na cama. Eu inflo meu peito de ar, mas parece que não é o suficiente. Preciso respirar, porém meus pulmões parecem comportar tão pouco oxigênio...

Quando foi que a razão de tudo dar errado passou a ser o que vai fazer tudo dar certo? Essa é a maior incógnita que eu já vi na minha vida. Eu poderia muito bem ter dito que eu tenho dinheiro para comprar tudo sozinha e que não quero a ajuda dele para nada, mas eis que outra discussão surgiria e eu não estou a fim disso agora. Prefiro pensar antes de fazer qualquer coisa.

Eu não quis saber por quais motivos entrei em trabalho de parto precoce. A Bia está bem e isso é tudo o que importa. Pode ser que o tempo em que estou sem exercer minha profissão esteja me fazendo analisar as coisas erroneamente ou até mesmo de forma infantil e irreal, mas eu acredito que tudo o que aconteceu comigo tenha enfraquecido o meu corpo e ele não aguentou gerar a minha filha como deveria. Quando eu digo "tudo o que aconteceu comigo", quero dizer tudo mesmo; a surra que o Alejandro me deu, a falsa morte do Douglas, minha tentativa de suicídio e por aí vai. Mas se uma dessas coisas pudesse ser desfeita para que minha gestação fosse à frente normalmente, tenho certeza que seria a ausência do Douglas. Não existe outra coisa no mundo que fortaleça uma gravidez além da união de um casal. Eu não tive isso em nenhum momento, e agora tenho que engolir o fato do dinheiro, que é fruto desse trabalho sujo e que me trouxe tanto mal, ser o que vai pagar a conta de trazer minha filha para mim.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro