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Pequenas explosões de felicidade ainda percorrem meu corpo. Meu medo de que o pior acontecesse por pouco não me fez ter uma parada cardíaca antes de ouvir o choro da minha filha pela primeira vez. Layla permanece com o interfone do isolamento ligado próximo à boca da Bia enquanto fala alguma coisa com as enfermeiras. Deve estar mudando várias coisas no tratamento, já que Ana Beatriz não precisa mais de um respirador artificial.

Com o canto do olho, noto que a enfermeira que há pouco estava tentando me tirar daqui, está segurando algo apontado em minha direção. Afasto as lágrimas que embassam a minha visão e reconheço o objeto como sendo o interfone ligado ao isolamento. Pego-o com a mão trêmula e a boca imóvel. Inspiro todo o ar que consigo ao mesmo tempo em que forço alguma palavra a sair.

— Ana... Ana Beatriz — pronuncio chamando a atenção da Layla e das enfermeiras. — Ana é o primeiro nome da sua avó paterna e quer dizer "graciosa". — faço uma pausa para conter um soluço. — Beatriz quer dizer "a que traz felicidade", e você chegou assim, cheia de graça trazendo o momento mais feliz da minha vida. — respiro fundo me contendo para aproveitar o máximo desse momento único, em que posso falar com a Bia, mas fica difícil conter a emoção quando seu choro começa a se acalmar e a Dra. Layla olha surpresa para mim. — Continue melhorando e sendo forte, Bia. Mamãe está aqui fora te esperando.

São minhas últimas palavras antes de devolver o aparelho para a enfermeira, que agora sorri com compaixão para nós. Daniel afaga as costas da minha mãe, que parece ter se emocionado demais com os últimos minutos que se passaram. Kássia resmunga algo como "não tenho suficiência cardíaca pra isso", e Paola me abraça carinhosamente.

— Faltou você dizer à ela que dindinha quer pegar ela no colo logo — diz ela em um tom engraçado me obrigando a rir. — Eu deveria ter gravado isso pro Wes assistir quando chegar mais tarde. Ele iria adorar ouvir o primeiro choro da Ana Beatriz.

Dra. Layla sai do isolamento aos sorrisos enquanto se aproxima de nós. Estou mega ansiosa para ouvir o que ela tem a dizer.

— Ela não só está respirando sozinha como está se recuperando muito bem da cirurgia — diz ela e eu me permito suspirar mais um pouco. — Essas primeiras horas são cruciais para determinar o sucesso do procedimento e está tudo indo muito bem. Se continuar assim, ela vai poder sair do isolamento logo logo.

— Graças a Deus! — exclama Kássia levantando as mãos para o céu.

— E depois de sair do isolamento, qual é a previsão de alta? — pergunto ansiosa.

— Um dia de cada vez, Karen — diz minha mãe e Paola concorda com a cabeça.

— Mas estamos muito otimistas — a doutora argumenta. — Esse cara aqui fez um ótimo trabalho! — ela sorri e dá dois tapinhas nas costas do Daniel antes de sair para atender alguém que a chamou na sala ao lado.

Daniel sorri fazendo um gesto negativo com a cabeça, recusando o mérito que é dele em grande parte.

— Eu sinto muito, mas vocês não podem ficar muito tempo nessa ala — informa a enfermeira. Meu peito dói por ter que me distanciar da minha filha, mesmo assim, nós damos uma última olhada nela e deixamos a UTI.

Paola e Daniel iniciam uma conversa sobre o parto. Eu prestaria atenção em cada detalhe no ponto de vista dele se não estivesse com a cabeça voltada para a minha frágil bebê. Mal vejo a hora de poder pegá-la no colo e levá-la para casa, só que antes disso acontecer, terei que lidar com muitas outras coisas. Preciso terminar de arrumar o cantinho da Bia, contar à Dona Ana que ela nasceu...

— Daniel — chamo quando o estalo atinge minha mente —, como foi a volta do Caio para o INCA? Estou preocupada com a possibilidade da mãe dele comentar com a minha sogra e...

— Relaxa — diz ele a me interromper. — Eles me ligaram para saber de você e aproveitei para pedir que não contem nada. Seria muito para ela ficar sabendo disso e não poder sair do quarto para ver a neta.

— Ainda mais nas condições em que ela está... — comenta mamãe. Queria poder trocar olhares com ela e expressar que é um comentário cruel, mas é ela quem está conduzindo a cadeira de rodas novamente.

— Meu primo levou o Caio e a família dele para casa e eu os levei para o INCA hoje antes de vir para cá — continua ele me deixando mais tranquila. — Eu trouxe umas coisas pra você — diz ele ao passo que a Kássia abre a porta do quarto.

Meus olhos quase saltam para fora quando me deparo com um lindo arranjo de flores e uma cesta de café da manhã. Uma sensação boa me preenche me lembrando o quanto o Daniel é um amorzinho.

— Nossa! — Paola exclama.

— Não sei o que é mais lindo, as flores ou a cesta — falo maravilhada. — Obrigada, Daniel.

— Bom, eu só trouxe a cesta de café da manhã... — diz ele um pouco confuso. — Essas flores não estavam aqui quando eu cheguei.

— De quem será?! — Kássia questiona arregalando os olhos. Eu deveria falar para ela não fazer mais isso, porque ela fica esquisita, mas agora não é o momento.

Paola vasculha as flores até que encontra um cartão. Eu diria que mil e um nomes passam pela minha mente enquanto a Paola me entrega o pequeno envelope, mas a verdade é que apenas um se sobressai: Douglas. Porém, como ele saberia que estou no hospital ou que Bia já nasceu?!

"Toda a corporação tem o prazer de lhe desejar felicidades nessa nova etapa da sua vida. Parabéns e boa recuperação para a senhora e para sua filha."

— Acho que são dos agentes que fazem minha segurança — falo um pouco frustrada.

Paola toma o cartão da minha mão novamente e Kássia corre até ela para lerem juntas enquanto mamãe e eu observamos suas reações. Kássia ergue uma sobrancelha e diz:

— Pensei que pudessem ser do...

— Quem é Vinícius Britto?! — Paola pergunta encucada.

— O cara que tirou aqueles dois galos de briga do meio da rua pra gente poder vir pra cá — Daniel esclarece.

— Ele também me ajudou a desenguiçar meu carro quando o retirei do depósito da polícia federal — completo enquanto minha mãe tem sua vez de ler o cartão. Ela ri de algo escrito na parte de trás e me mostra.

— Você deveria ler o verso dos cartões — diz ela. — Tem sempre uma informação importante agarranchada.

"PS.: Eu que escolhi as flores. Vinícius Britto."

Sorrio achando a tal informação engraçada.

— Se eu não fosse médica, não entenderia essa letra — falo tapando a boca, chocada com a grafia de alfabetização.

Paola e Kássia caem na gargalhada e, ao lado delas, minha mãe reprova o que eu disse, mas sorrindo fica difícil levar a sério que meu comentário foi tirano.

— Eu preciso ir, Karen — Daniel informa vindo em minha direção. — A Marcela disse que vai vir te visitar no horário de visitas.

— Que bom! — exclamo enquanto nos abraçamos. — Estou mesmo sentindo saudades dela. Vai ser ótimo.

— Se precisar de alguma coisa, me liga — pede ele.

Assinto e volto a olhar para o cartão enquanto ele se despede das meninas. Eu vou evitar ligar para o Daniel porque aconteceram muitas coisas em pouco tempo e não quero ser inconveniente ou chata. Mesmo este sendo o início de mais um período delicado da minha vida, tenho muitas pessoas para me ajudar e não vou ficar importunando o Daniel. Nos encontramos por acaso ontem e acabei quebrando o isolamento que ele queria colocar entre nós. Se for para nossa amizade voltar a ser como antes, que o acaso faça isso sozinho.

Tudo o que tem acontecido ultimamente na minha vida está servindo para me provar que uma pessoa pode, sim, te deixar e você vai se sentir sozinha, mas só até perceber que outras, continuam do seu lado apoiando em tudo o que precisar. Minha mãe neste momento está tirando algumas roupas limpas e me obrigando a tomar um banho. Eu até quero, mas preferia conversar e aproveitar mais o pouco tempo que ainda nos resta antes da tolerância com a família Blanchard acabar. Depois disso, apenas às quinze horas é que mais pessoas poderão vir me ver.

Banho tomado e agora é hora de comer um pouco das maravilhas da cesta de café da manhã que o Daniel trouxe. Não sei onde ele encontrou um presente desse tipo, que só tem coisas que eu possa comer. Uma cesta comum teria muitas coisas com altos índices de gordura e nada saudáveis para uma mulher de resguardo. Será que ele mesmo comprou cada item e montou a cesta?

— Karen — minha mãe pronuncia meu nome de forma receosa e isso é sinal de que não vem coisa boa —, eu sei que sua cabeça está longe e cheia de preocupações, mas preciso te perguntar uma coisa.

— Não — falo antecipadamente.

— Mas você nem sabe o que eu vou perguntar — argumenta ela surpresa com a minha recusa.

— Eu não quero que meu pai venha me ver ou ver a Bia com aqueles... olhos! Os mesmos olhos que tiveram o cinismo de me encarar e mentir da forma mais cruel!

Minha mãe respira fundo e Paola olha algo lá fora pela janela, ficando neutra no assunto. Mas Kássia faz movimentos negativos com a cabeça, condenando minha forma de pensar.

— Não critico você por isso, Karen — minha mãe fala em tom calmo. — Na verdade eu te entendo e apoio. Foi horrível o que ele fez com você e com a Dona Ana. Só ia perguntar porque ele pediu.

— Okay — digo. — Então pode ligar pra ele e dizer que ele não precisa se dar ao trabalho de vir até aqui.

— Ele tá lá embaixo — diz Kássia e logo uma espécie de ódio fulmina do meu peito. — Já me mandou diversas mensagens perguntando sobre vocês.

— Era só o que faltava — bufo. — Vou pedir à equipe da UTI para impedir que ele entre — falo me erguendo da cama.

— Não precisa! — diz minha mãe. — Daqui a pouco nós vamos embora e eu vou passar lá para avisar que você não quer que ele suba.

— Ele é o Olivier Blanchard, Dona Heloísa — diz Paola em tom de deboche mostrando sua antipatia por ele pela primeira vez. — Não precisa da autorização da Karen e nem da equipe da UTI para entrar lá. — minha mãe abaixa a cabeça sabendo que ela tem razão. — Como o maravilhosíssimo neurocirurgião que ele é, pode transitar até pela NASA.

— Ele é mesmo um ótimo cirurgião, tá?! — Kássia diz com rapidez.

— Mas é um péssimo pai!!! — Paola responde de imediato aumentando a voz.

— Quem é você pra criticar o nosso pai?! — minha irmã rebate aumentando não só a voz, mas a raiva também.

— Calma, gente! — minha mãe pede e é ignorada.

— Sou a pessoa que estava ao lado da Karen no enterro fajuto e ridículo daquele filho da puta enquanto ela estava cheia de hematomas agarrando aquela porra de caixão!!!

— Pelo amor de Deus, gente — digo com a voz embargada. — Não briguem por causa do meu pai. Vocês são as pessoas mais importantes que eu tenho pra me ajudar a passar por isso. Precisam deixar isso de lado.

Um silêncio faz morada no quarto à medida em que eu alterno olhares entre as duas. Paola respira fundo passando os olhos por todo o cômodo e evitando olhar para a Kássia, que por sua vez encara o chão. Pode ser que esteja refletindo melhor sobre o que a Paola falou, já que ela não estava aqui quando o enterro aconteceu. Mas na boa, mesmo que ela estivesse longe quando todo aquele fuzuê estava acontecendo, isso não é motivo para defender o nosso pai.

— Kássia, por que você defende tanto ele? — questiono em tom de desconfiança. — O que você sabe que eu não sei? — ela não responde e continua olhando para o chão, o que me faz achar com ainda mais força que há algo errado nisso. — Não me diga que o dinheiro que você depositou na minha conta na verdade foi ele quem depositou???

— Não! — ela responde rapidamente me olhando nos olhos. Minha irmã é bailarina, e não atriz. — Aquele dinheiro foi fruto de muito trabalho meu e da sua ajuda quando eu precisei. Não tem nada a ver com ele.

— Então qual o motivo disso tudo? — volto a questionar.

— O motivo é simples... A gente nunca sabe quanto tempo ainda tem nessa vida e... não podemos semear ódio pra sempre — ela responde um pouco hesitante. — Ele é seu pai, avô da Bia. Você deveria dar uma chance pra ele consertar o que fez.

— O que ele fez não tem conserto, Kássia — argumento. — A mãe do Douglas está no nono andar deste hospital em fase terminal, achando que o filho está morto. Se meu pai for capaz de consertar isso, eu serei capaz de parar de regar o ódio que ele plantou em mim.

•°• ✾ •°•

Passar sete horas sem conversar com ninguém, me fez refletir bastante sobre muitas coisas. Uma delas é que as consequências do que o meu pai fez nunca chegam ao fim. Estão até causando desentendimentos entre minha irmã e minha melhor amiga. Quando elas saíram daqui o clima já estava mais ameno. Paola pediu desculpas à Kássia por ter criticado nosso pai. Percebi seu arrependimento por essa atitude durante os segundos em que minha irmã ficou inerte às suas palavras. Até que ela abriu a boca e disse que ele realmente não é o melhor pai do mundo, mas é o que a gente tem. Depois repetiu aquele discurso bobo de que todo mundo erra e que perdão é sempre o melhor remédio. Só depois disso foi que eu consegui ficar tranquila em deixá-las saírem do quarto. Se não chegassem a um consenso, tenho certeza de que a discussão continuaria lá fora, pois conheço bem as duas ao ponto de saber que elas não levam desaforo para casa.

Estou tentando digerir as palavras da Kássia, em razão da sua insistência para que eu perdoe o meu pai. Só que perdoar, no caso do meu pai, é muito complicado para mim. Vai significar que ele vai voltar a participar da minha vida e da vida da minha filha, isso tudo sem ela fazer nem ideia que ele foi a pessoa que inventou que o pai dela estava morto; que eu tentei suicídio com ela dentro da minha barriga porque não consegui suportar a falsa perda dele e por tudo mais que isso acarretou. Vai ser preciso muito mais que um pedido de perdão para que eu de fato o perdoe. Sendo que ele disse que nunca fará isso.

O entra e sai de médicos e enfermeiros aqui só me faz ter inveja de poder andar livre pelo hospital. Ser paciente quando se é médica é um dos paradoxos mais difíceis de aceitar. Quem me dera ter feito neonatologia e estar a par das condições da Ana Beatriz nos mínimos detalhes. Mesmo eu sendo perguntadeira e encher a Dra. Layla de perguntas, não me sinto satisfeita. Isso acaba me deixando na dúvida sobre isso ser uma reação médica ou de mãe leoa. Talvez um pouco dos dois.

Aos poucos minhas novas visitas vão chegando e alegrando minha tarde. Wesley foi o primeiro a chegar e trouxe o trabalho com ele. Estojo de maquiagem para me transformar na mãe de UTI mais linda do hospital, nas palavras dele. Logo depois dele, outra visita chegou. Minha obstetra, a Dra. Marina. A notícia chegou a ela por intermédio da minha mãe, assim que ela chegou na clínica para trabalhar.

— Batemos uma ultrassom ontem de manhã, te examinei e não tinha nenhum sinal de trabalho de parto, Karen — diz ela pasmada. — Como isso aconteceu?

— Se você que é a obstetra não sabe, imagina eu — falo dando risadas.

— Fica parada, minha Deusa — pede Wes. — Senão vou borrar sua pálpebra toda.

— Me refiro aos detalhes, Karen — ela fala segurando o riso.

— A bolsa simplesmente estourou e as contrações começaram a vir uma atrás da outra — digo movida às lembranças do meu desespero enquanto saía da academia de Jiu-Jitsu. — E ela acabou nascendo dentro do carro do Daniel.

— Sua mãe me contou... Não tinha como segurar mais um pouco até chegar aqui no hospital?

— Segurar?! Como? — Wesley pergunta perplexo. — Fechar as pernas só adianta se for pra não deixar o bicho entrar. E tudo o que entra tem que sair, amore.

— De onde essa figura saiu?! — Dra. Marina pergunta quando recupera o fôlego das risadas causadas pelo Wes.

— Prazer, Wesley Martins Frazão — se apresenta enquanto apertam as mãos. — Filho de Deboche Frazão e Ironia Martins.

Nós duas nos acabamos de rir enquanto ele mantém a pose ao terminar de me pincelar. Depois me estende um pequeno espelho para conferir seu trabalho VIP, que como sempre, ficou um arraso. Olhos levemente esfumaçados coloridos em tons azuis esverdeados nas laterias, bem sutis

— Obrigada, Wes — agradeço soprando um beijo enquanto ele guarda seu material de trabalho.

— Mas agora é sério, doutora — avisa ele antes de falar. — Teria como segurar a Bia por mais tempo até a época certa de nascer?!

— Até o tempo correto não, mas se a bolsa não tivesse estourado e a Karen tivesse apenas com contrações, poderíamos interná-la e monitorá-la. Administrar medicamentos para adiar o parto até que a bebê estivesse o mais formada e saudável possível — esclarece. — Mas não teve jeito, gente. Ela quis nascer.

Sorrio achando engraçado como ela colocou a questão, já que um bebê não tem a capacidade de escolher quando vai nascer. Não preciso ser obstetra e nem neonatologista para saber disso.

— Como eu faço pra dar uma olhadinha nela, Karen?! O horário de visitas já está no fim! — Wes pergunta em tom de súplica, como se dependesse de mim.

— Ah, Wes... Por mim, nós iríamos lá agora, mas a UTI neonatal é rigorosa — falo. — Mais cedo só conseguimos ir todos juntos porque o Daniel e minha mãe são médicos, sua irmã é enfermeira e todos aqui conhecem ela. — ele faz uma careta mostrando decepção com o que acabei de dizer.

— Vem comigo, Wesley — sugere Dra. Marina. — Vou passar lá pra vê-la e conversar um pouco com a Dra. Layla, não vão reclamar da sua presença se estiver comigo.

— Pronto! Agora fui promovido a visitante VIP — diz ele retomando sua pose convencida e nós duas achamos graça.

— Karen, te desejo uma ótima recuperação. — o abraço apertado da minha obstetra me conforta e me dá mais força. — Ao que tudo indica, Bia vai sair do isolamento logo logo.

Assinto apenas, evitando chorar novamente.

— Se cuida, Karen — diz Wes. — Fica com esse batonzinho rosa chá aqui. Você tá proibida de andar por aí sem uma cor nesses lábios.

— Eu te amo, sua bicha maluca — digo enquanto nos abraçamos.

Os dois vão animados até a porta e quando a abrem, surge mais uma visita que estava prestes a bater anunciando sua chegada.

— Marcela!!! — exclamo animada. Ela está linda. Nunca a vi tão elegante como hoje. — Achei que você nem viria mais.

Ela cruza todo o espaço da porta até mim com um sorriso tímido nos lábios e segurando um embrulho de presente.

— Eu demorei escolhendo um presentinho para a Ana Beatriz — se justifica.

— Não precisava — falo à medida em que ela deposita o embrulho nas minhas mãos e me abraça ternamente.

— Eu fiz questão, acho que você vai gostar — diz ela.

Não perco tempo e começo a desfazer o lindo embrulho, com um laçarote rosa enfeitando. Aos poucos um lindo macacão vermelho bem vivo com detalhes dourados se revela. Uma emoção forte se espalha dentro do meu peito, pois além da roupinha ser linda, ela tem um tamanho especial, é específica para prematuros.

— Eu amei, Marcela! A Bia vai ficar linda nessa roupinha — digo emocionada. — Obrigada.

— Imagina... — diz sorrindo.

— Sabe, ela até tem umas roupinhas que a mãe do Douglas tricotou e outras que eu mesma comprei, mas todas são do tamanho padrão. Essa é que vai servir nela primeiro — falo e me perco em pensamentos imaginando minha filha saindo daqui no dia da alta médica com essa roupinha linda.

— Foi difícil encontrar, mas depois te dou o endereço. Você vai ficar louca quando ver os outros modelos!

Nós duas sorrimos animadas durante um tempo, mas logo em seguida o sorriso dela se desfaz e ela respira fundo.

— Está acontecendo alguma coisa, Marcela? — questiono apreensiva.

— Não exatamente — ela responde mudando o semblante repentinamente ao notar que eu percebi algo estranho no seu comportamento. — Quero dizer, eu não sei como dizer...

— Como assim?! Pode me dizer qualquer coisa. De qualquer forma.

Marcela carrega algo diferente no olhar. Parece que ela luta para não transparecer, mas fica evidente para quem a conhece como eu.

— Eu sei que você e o Daniel tiveram algo no passado — ela revela fazendo as batidas do meu coração brecarem por um instante. — Sei também que ele sente algo forte por você.

— Não sente mais — falo na tentativa de apaziguar a situação, mas acabo me complicando.

— Como você sabe? Conversaram sobre isso ultimamente?

— Não... Já faz um tempo. Um bom tempo, na verdade. — Marcela volta a inspirar o ar com tensão e desvia o olhar do meu. — Olha, eu não acho que ele se comprometeria com alguém se ainda sentisse alguma coisa por mim, ou por qualquer outra mulher.

— Eu também acho que não, afinal ele é um cavalheiro. Nunca conheci um homem como ele, atencioso, educado, lindo...

— Então — concluo. — Não precisa ficar preocupada.

— Não é assim, Karen — insiste ela claramente com opinião formada. Só não sei qual é. — Ele tinha dito que iria se afastar de você, mas aí... Ontem você veio aqui e...

— Mas eu não vim atrás dele — falo antes dela.

— Eu sei, ele me explicou isso. Disse que se encontraram por acaso na academia também. Tudo no mesmo dia... — ela diz com um sorriso sem jeito.

— Espera, você não acha que eu provoquei esse encontro na academia! Acha?!

— Não, Karen! De verdade. Eu não acho. O Douglas morreu há pouco tempo e você ainda está se recuperando disso tudo — explica soando sincera e até se colocando no meu lugar, porém, ela não sabe da história toda. Mesmo assim eu não me jogaria para cima do Daniel nem em um milhão de anos. — Eu só fico chocada com o destino, que está sempre colocando vocês no mesmo caminho e chego a me perguntar se vocês não deveriam ficar juntos e eu estou atrapalhando isso.

— Marcela... — falo atônita com cada palavra dita por ela.

— Karen, eu estou muito apaixonada pelo Daniel. De um jeito que nunca fui por outra pessoa antes. Ele não foi nenhum cafajeste comigo e abriu o jogo no início, dizendo tudo o que sentia por você. Eu só aceitei continuar nesse relacionamento porque ele me assegurou que vocês nunca mais teriam nada.

— E não vamos mesmo. — concordo no mesmo instante, mas a Marcela nega com a cabeça. — Nós somos apenas bons amigos.

— Parece um pouco mais que isso — ela diz relutante e confusa com a aproximação que temos.

— Pode até ser, Marcela. Existem vários níveis de amizade. O Daniel vai ser sempre especial na minha vida. E você também! — saliento. — Vocês dois me resgataram no apartamento do meu pai, e agora o Daniel é a pessoa que salvou a vida da minha filha também — falo me impedindo de começar a chorar.

— Meu relacionamento com ele só vai dar certo se você não ficar entre a gente — ela vomita as palavras na minha frente e isso soa como um insulto para mim. — Eu sei que isso pode estar sendo terrível da minha parte, Karen. Eu não sou uma má pessoa e nem desejo seu mal por causa disso que está acontecendo. Pelo contrário, gosto muito de você e não quero que a gente tenha algum tipo de desentendimento, por isso prefiro conversar com você e resolver essa questão. O que me diz?

— Eu... — hesito. Estou chocada demais para conseguir falar sem travar. — Eu nunca vou ficar entre vocês dois. — faço uma pausa esperando alguma reação dela, mas Marcela apenas me observa gaguejar. — E também... Sei lá, não vou... ligar para ele ou... visitar... qualquer coisa que possa atrapalhar o relacionamento de vocês.

Ela assente devagar com os olhos estreitos, como se acabassemos de fechar um negócio ou fundássemos uma dinastia em que duas mulheres assinam um contrato livre de brigas por causa de homem. Eu me sinto ofendida de várias formas, mas o Daniel merece ser feliz e, se isso depende do nosso afastamento, nós vamos nos afastar.

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Olá, pessoal! Desculpem pelo sumiço dos últimos dias, eu havia ficado sem internet. Espero que tenham gostado do capítulo de hoje, cheio de tensão. Beijinhos até a próxima!
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Capítulo publicado em 25/01/2020

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