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20

Não tinha como eu continuar interpretando a Dra. Alegria. Não porque eu descobri a doença da minha sogra, mas porque já havia desfeito a maquiagem e não me parecia mais com aquela personagem. Seria ridículo da minha parte me sentir fraca demais sendo que a mulher que tem tudo para se entregar à dor, se mantém de pé. Ela se tornou meu principal exemplo de força, uma inspiração, uma referência importante. Eu disse essas palavras à ela logo que escolhi o nome da nossa menina. O brilho em seus olhos quando eu dei a notícia, me deram ainda mais certeza de que tomei a decisão certa. Homenageá-la dessa forma, é o mínimo que eu posso fazer. Terei muito orgulho em explicar à Ana Beatriz as razões que me fizeram escolher esse nome.


Tudo passou a ter uma significante diferença na minha vida depois que soube do câncer da Dona Ana. De fato, eu entendi o quanto a vida é delicada, frágil, e curta. Passei o resto do dia com ela, alternando assuntos que hora eram sobre a Companhia da Alegria e o quanto ela está fazendo bem à minha sogra, e horas sobre a Bia.

Bia.

É incrível como a gente consegue amar um ser que ainda nem conhece; se apegar, amar, dar um apelido. Pego meu celular embaixo do travesseiro sentindo um desejo no coração que havia ignorado por todo o tempo desde que o Douglas se foi. Abro a galeria e meu coração transborda de emoção no mesmo instante. Nossas fotos, nossos momentos especiais. Dou play no vídeo que gravei dele cantando antes de tudo acontecer. Fico feliz por ter registrado esse momento e de alguma forma, poder manter a paternidade dele viva para a Bia assistir quando crescer.

"Gosto muito de te ver, leãozinho
Caminhando sob o sol
Gosto muito de você, leãozinho"

Naquele dia, eu não havia notado como ele estava envolvido no momento. Lembro que logo que ele começou a cantar, Bia chutou minha barriga e acabei desviando minha atenção para seus movimentos. Aumento o volume e me deixo levar pelo timbre de voz forte do Douglas. Fecho os olhos e retorno àquele lindo momento que passamos juntos, como se não houvesse amanhã. E não houve para ele. Novos e mais fortes movimentos se iniciam dentro do meu ventre, me trazendo à realidade. Ela ainda reage à voz dele exatamente da mesma forma.

"Para desentristecer, leãozinho
O meu coração tão só
Basta eu encontrar você no caminho"

— Quem me dera toda vez que eu precisasse desentristecer o meu coração tão só, ainda pudesse encontrar você no caminho, Douglas — falo.

"Outro dia o papai canta mais, bebê."

Essas são suas últimas palavras antes do vídeo ser encerrado. Puxo o cursor do vídeo para três segundos antes.

"Outro dia o papai canta mais, bebê."

Suspiro fundo e me levanto da cama. Eu precisava muito ver esse vídeo hoje. Ele registrou as melhores partes do Douglas. Sua linda voz em melodia; seu jeito carinhoso tanto com a nossa filha, como comigo; seu sorriso lindo; seu olhar profundo e apaixonado. Nada disso foi visto no meu pesadelo dessa noite e preciso ir contá-lo para a Dra. Juliana. Ao mesmo tempo em que sinto que houve um progresso no meu interior, existe algo perturbador nesse sonho que está me deixando transtornada.

Depois de estar arrumada, me sento à mesa com meus pais para tomar café. Ainda é bem cedo, mas eu gostaria muito de pegar esse momento com os dois, já que mamãe voltou para a clínica e papai tem estado mais presente lá para dar apoio nessa etapa, em que o objetivo é fazer jus ao nome da clínica e trabalhar em família.

— Você não nos contou como foi a visita à Dona Ana — diz papai ao adoçar seu café. — Disse apenas que foi especial.

— É verdade — mamãe concorda. — O que fizeram? Passaram o dia vendo fotos do Douglas quando pequeno e imaginando como vai ser a Karina?

Quase cuspo meu suco na mesa e contenho um engasgo. Mamãe adora nomes que se iniciam com a letra "K", mas ela não vai escolher esse nome para a minha filha.

— O nome dela vai ser Ana Beatriz. — papai transforma sua expressão em admiração e lança um olhar engraçado para minha mãe. Ela por sua vez, franze o cenho. — Que reações são essas?! Não gostaram do nome?

— Beatriz — diz ele em tom alto, parecendo experimentar a sonoridade do nome. — A que traz felicidade. Esse seria o seu nome se sua mãe não tivesse essa fascinação louca por nomes com "K".

— Sério, pai?! — pergunto encantada com a coincidência.

— É — diz mamãe. — Veja pelo lado bom, você não colocaria esse nome na sua filha se fosse o seu também. — sorrio. — Mas tem algum motivo especial para ter o "Ana" na frente?!

Assinto enquanto dou bons goles no suco.

— Eu quis homenageá-la de alguma forma, entende? Gostaria que mantivessem em segredo. Ela está doente e não tem muito tempo. Talvez não conheça a Ana Beatriz.

Inevitavelmente, eles meio que exigem que eu explique tudo o que sei. A intenção é das melhores, ajudar de qualquer forma, até financeiramente, mas depois de tudo posto literalmente à mesa, eles entendem que só se pode lamentar e dar apoio.

— Eu não imaginava o quão longe poderia chegar a força da Dona Ana — diz minha mãe, em tom de lamento.

— Entende o porquê do nome agora? — pergunto.

— Ela merece — mamãe admite com um sorriso que está mais para uma lágrima camuflada.

— Vocês me dão uma carona até o consultório da Dra. Juliana? — peço alternando olhares entre os dois. Papai arqueia uma sobrancelha.

— Achei que tivesse corrido tudo bem quando saiu sozinha no sábado — ele argumenta. Puxo o ar com tensão antes de contra argumentar.

— Tive a sensação de estar sendo seguida — falo e ele para de mastigar sua torrada por um tempo.

— Oh, meu Deus! — diz mamãe apavorada. — Por que não nos ligou? — antes que eu responda, papai retoma os sentidos e limpa a boca com um guardanapo.

— É normal você ter essas sensações. Um trauma forte deixa essas... sequelas — alega ele.

— Então acha que é coisa da minha cabeça? — questiono.

— Não! — exclama mamãe. — Isso tem que ser averiguado direito, Oli!

— Heloísa, olha aquela porta cheia de trancas — ele pede. Ela olha na direção da porta e se cala com um suspiro. — Se você disser que prefere que eu a leve, eu faço isso numa boa.

Respiro fundo e acabo chegando a conclusão de que aquela saída foi um bom primeiro passo. Não posso retroceder assim.

— Eu vou sozinha.

•°• ✾ •°•

Talvez meu pai tenha mesmo razão. É tudo coisa da minha cabeça. Hoje não notei nenhum carro me seguindo e senti um enorme alívio em transitar pela cidade, exceto pelo o que a Vivian disse: ainda vivo no Rio de Janeiro. Pois bem, olhos no trânsito, vidros fechados, ar e rádio ligados, receita da viagem segura. Apesar de estar transtornada com o tal pesadelo, outra coisa toma o lugar da minha inquietação. Durante o percurso, meu celular tocou pelo menos umas três vezes. Como eu nunca tive o hábito de conversar no telefone e dirigir ao mesmo tempo, não atendi. Só agora que estacionei o carro, resolvi pegar o aparelho e ver quem estava ligando a pouco. Analiso o número que nunca vi e com alguns toques na tela, constato que tirando essas três ligações, esse número nunca me ligou. Não vou retornar. Ao pegar minha bolsa, o som do toque volta a quebrar o silêncio no carro. Atendo.

— Alô.

— Dra. Karen? — a voz do outro lado é firme como a do meu pai e só ouvi uma voz que se assemelhasse à dele. — Delegado Pedro Henrique Da Matta. Tudo bem?

Sinto como se abrissem um corte profundo no meu peito, com uma lâmina cega.

— Tudo bem, e com o senhor? — pergunto apenas por educação.

— Tudo. Na verdade, nem tanto. As coisas ficariam melhores se a senhora pudesse me ajudar em uma coisa — ele diz.

— Em que tipo de coisa?

— Aqueles relatórios, lembra? Teria a possibilidade de irmos até sua casa para fazermos uma pequena busca?

— Na minha casa? — pergunto para nenhum de nós dois.

A ideia de voltar à minha casa, congela cada célula do meu corpo. Lembranças horríveis invadem à minha mente quase me transportando de volta. Disparos irreais fazem meu corpo estremecer, como se fosse atingida por eles neste exato momento.

— Dra. Karen? — a voz grave e intimidadora do delegado me arranca das assombrosas recordações.

— Oi — digo.

— Quando podemos ir?! — inquire com insistência.

— Sr. Pedro Henrique, eu não tenho boas recordações daquela casa e por mais que eu queira ajudar, acho que não me faria bem colocar os pés lá nem tão cedo. — ouço uma respiração contrariada e percebo que não atendi suas expectativas.

— Aquelas informações podem ser muito importantes para concluirmos a investigação que o Douglas tanto se empenhou, doutora.

Agora é minha vez de expirar o ar com irritabilidade. Independente dele ter conhecido o Douglas, terem trabalhado juntos durante anos, tentar me persuadir usando a memória dele parece muito frio e desumano. E mesmo que outras pessoas estejam liderando o caso, eu não posso admitir que ele use minha culpa contra mim, ou para se promover de alguma forma.

— Da Matta, eu sou um pouco leiga, minha área de atuação é a medicina. Mas tenho uma vaga ideia de que o senhor precisa de duas coisas para fazer uma inspeção na minha casa: meu consentimento, ou um mandado de busca. Estou certa?

— Sim — admite contra a vontade. — Mas veja bem, Karen, eu tenho pouquíssimo tempo antes de sair do meu cargo e gostaria muito de ter feito um bom trabalho, a senhora entende?

— Entendo — admito. — Mas meu noivo foi atingido por um tiro dentro daquela casa e morreu há menos de dois meses Isso ainda dói muito, o senhor entende? — pergunto devolvendo o tom inquieto, prestes a perder a paciência.

— Okay, a senhora está certa, Dra. Karen — diz ele em tom de quem chega à conclusão de que não tem mais argumentos. — Peço desculpas se estou sendo inconveniente, mas neste exato momento, a imprensa está ocupando a entrada da minha delegacia querendo informações sobre o caso, e eu não tenho nenhuma.

— Eu sinto muito. De verdade. Já tive repórteres na minha porta e sei bem o que é isso. Me desculpe se estou sendo grossa, mas a imprensa é problema seu agora.

— Doutora — ele diz em tom rude, mas faz uma pausa e recomeça. — Acho que a senhora consegue ser forte o suficiente em prol disso. Pelo Douglas.

— Olha, sinceramente, eu não tenho mais motivos para estender essa conversa por nem mais um minuto. Apareça no prédio onde meus pais moram com um mandado em mãos e eu irei, do contrário, não me ligue mais.

Encerro a chamada e arremesso o celular no banco do carona. Apoio a cabeça no volante totalmente entregue ao cansaço psicológico que essa ligação me causou. Como alguém ousa violar o sofrimento de uma pessoa em benefício próprio? Há muitas coisas não explicadas sobre isso. Se o Da Matta precisa tanto desses papéis, ele já poderia ter solicitado um mandado em vez de me pedir através de uma ligação. Talvez haja um motivo para ele não ter conseguido essa petição.

Respiro fundo e saio do carro. Tenho muito o que conversar com a Dra. Juliana e não posso me deixar abater por um inconveniente desses. Todas as minhas expectativas e preocupações se misturam de modo a me deixar ainda mais apreensiva. Eu queria poder estalar os dedos e ver tudo isso se colocar em seu devido lugar. Seguir em frente sem corvejar e tratar a morte do Douglas como se já tivesse se passado uns dez anos; ver esse cartel ser aniquilado e nunca mais ouvir sobre ele. São coisas que parecem muito distantes.

Quando meu nome finalmente é chamado pela secretária da psicóloga, sou tomada por ainda mais ansiedade.

— Bom dia, Karen! — Juliana me cumprimenta quando entro em sua sala.

— Bom dia! Eu... eu... Tive outro sonho, Juliana. E também entendi algumas partes do que...

— Calma, Karen — pede ela fazendo um gesto com as mãos. — Sente-se.

Só então percebo que estou sendo apressada demais. A porta ainda nem foi fechada e estou de pé falando feito uma matraca. Me sento me forçando a respirar mais devagar para me aquietar um pouco.

— Me desculpa — peço. — Estou um pouco nervosa hoje.

— Então você acabou de responder a primeira pergunta que eu ia te fazer — diz sorrindo ternamente ao fechar a porta. Em seguida, senta em sua poltrona de frente para mim. — O que está te deixando assim?

— Uma ligação indesejada — falo sem dar muita importância. — Mas não quero falar sobre isso. Tem algum problema?

— Nenhum — diz tranquilamente. — Sobre o que quer falar hoje?

— Sobre aquele papel que eu não conseguia ler naquele pesadelo. — ela assente com interesse no assunto. — Eu descobri o que ele simbolizava e você tinha razão. Não cabe à mim resolver.

— Certo — ela fala. — Como chegou à essa conclusão.

— Não tive mais o mesmo pesadelo. Na verdade, ainda é o mesmo, só que com algumas coisas diferentes. Coisas que estão me perturbando muito.

— E que coisas são essas?

— Bom, ainda estou no mesmo lugar escuro. Meu cachorro surge, mas está entretido, farejando algo no chão. Quando chego perto, vejo que é o mesmo papel do antigo pesadelo, porém não sinto a mesma inquietação e desespero para ler o que está escrito. Acaricio o Théo, mas do nada, ele começa a latir em alerta para algo do meu lado. — a mesma sensação horrível do pesadelo volta a me incomodar. — Olho para o lado e vejo o Douglas de costas para mim. O caixão ao lado dele está aberto e vazio. Fico receosa em me aproximar, mas acabo indo. Toco em seu ombro e quando ele se vira, vejo seu rosto desfigurado, em decomposição e com os olhos brancos. Aí acabo acordando com o susto horrível, com a respiração acelerada e parecendo que meu coração vai sair pela boca. O que isso quer dizer, Juliana?!

A doutora ainda faz suas anotações quando eu termino de pronunciar minhas palavras. Há sete noites eu estou vendo exatamente as mesmas cenas assombrosas nos meus sonhos. Por sorte, durante o dia consigo lembrar claramente dos traços angulosos do rosto do Douglas e inibir um pouco o que vejo quando durmo, ainda assim, isso parece ser pior com mais peso do que a imagem alegre que tenho dele quando estou acordada.

— Karen, os sinais desse sonho confirmam que você se desvencilhou daquela preocupação em relação ao que aquele papel representava. Ele não te causa nenhum sentimento quando aparece no seu sonho. Talvez só reste alguma expectativa, mas não uma sensação de ser obrigada a resolver — ela afirma.

— Sim, você está certa — falo. — Tenho apenas expectativas agora. E quanto ao Douglas naquele estado... Se decompondo? — pergunto temerosa.

— Isso não é nada preocupante. Na verdade, isso é absolutamente normal. Sonhar com alguém em estado de decomposição, ou ferido gravemente ou até cego, significa que você ainda está em processo de aceitação em relação à morte dela. Pode ser que esse sonho se repita mais algumas vezes.

— Mas existe alguma forma de me fazer aceitar isso? Pelo menos para que eu pare de ter esses pesadelos horríveis? — indago.

— Não há uma resposta clínica para essa pergunta, só um conselho que talvez você já tenha ouvido de alguém: sair mais, estar na companhia de amigos, fazer planos para o futuro, procurar uma nova atividade que te traga alguma recompensa emocional, sabe?

— Sei... — digo e sorrio à medida em que lembranças da minha visita ao INCA tomam minha mente.

Aquilo foi realmente muito gratificante, apesar de eu não ter me doado pelo tempo que gostaria. Naquele dia, eu não tive nenhuma preparação para encarar alguns detalhes importantes. Já perdi muitos pacientes, mas no trauma, ninguém recebe um aviso prévio. E infelizmente, o câncer às vezes significa isso. Não temos bola de cristal; não sabemos o futuro de ninguém, mas podemos nos esforçar para levar um pouco de distração e alento a quem está buscando uma cura.

— Terra chamando Karen?! — doutora Juliana chama minha atenção intrigada.

— Desculpa — peço. — Eu vou fazer tudo isso que você falou, mas não por causa da aceitação da morte do Douglas, mas porque eu ainda estou viva.

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Capítulo publicado finalmente! Perdão pelo atraso, parece que virou algo recorrente publicar atrasado. Ainda estou com dificuldades para escrever devido a um bloqueio e também por problemas pessoais. Não sei se vou publicar no próximo sábado, então queria aproveitar para lhes indicar um livro que li e amei. O casal desse livro é arrebatador e vai ser uma ótima companhia para vocês enquanto eu não publico - se eu não publicar.

Inspiração - Gisele Souza. Ele está disponível na Amazon com um precinho ótimo. Tenho certeza de que vocês vão amar Leila e Bruno. Vou disponibilizar o link na descrição do meu perfil.

Beijos!

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