"E tá tudo bem", repito em uma conversa imaginária, enquanto me desfaço em lágrimas

"Mas para ver o arco-íris, tem de suportar a chuva", leio em uma rede social.

Então é fácil, é só sobreviver a tempestade

Mas tem dias em que a chuva é torrencial

A água enche meus pulmões, não consigo nem gritar socorro

Tem dias em que o granizo arde contra a minha pele, mas não deixa marcas visíveis

Tem dias em que chove tão forte, que alaga e sou levada pela maré, e cá estou

Sozinha. Com frio, e calada

Eu sabia que as coisas seriam difíceis, mas não havia porque serem dessa maneira

Que chuva é essa! Seria o suficiente para três reencarnações, mas espero que só esteja presente nessa]

Fecho os olhos e percebo que as marcas da chuva já me deixaram, para sempre. Há um silêncio que me persegue, um medo que se alastra e um desespero gritante de forma silenciosa.

Aquela palavra já não se faz mais audível, e eu me consideraria apenas um corpo, faltam apenas as rosas para a exumação, mas não há necessidade, rosas são caras, e lágrimas, salgadas. Deixemos do jeito que está, passos em falso, vozes fraquejante, mas uma constante. 

Não posso desistir. Puta merda. 

Eu só queria desistir.

Para mim já deu.

Cansei, mas não parece suficiente.

Nem palavrões expressam de maneira certa o que sinto. Aliás, o que sinto?

Há um tempo eu acreditei que tudo isso passaria, mas desde então passei a ser coveiro e defunto em tempo integral]

Hoje, já não tenho mais grandes convicções

Mas uma permanece intacta

"Vai ficar tudo bem"

Mesmo que para isso, eu precise ficar mal

Mesmo que para isso eu vire só.

V.,

13 de maio de 2020.