As vezes tento mudar os finais
Mudar a ordem das coisas e como me sinto
Mas nunca dá certo. Me sinto o mesmo lixo
Não me sinto capaz

Tenho tanto medo
Tenho vontade de chorar, mas não posso
Quero dormir, mas me odeio por ser tão fraca

Eu devia fazer as coisas que tenho
Mas por que tenho de fazê-las?
Eu tentei tanto ter de fazer as coisas que sonhei
Por que Deus me deu como fardo isso?
Me parece um castigo, prisão perpétua por sonhar]

Procurei tanto um significado naquilo, que quando não o alcancei, me perdi]
Ando por aí, sentindo o piso de concreto, vagando por entre os sentimentos ruins e contrações musculares]

Não consigo mais chorar, mas como queria
Queria poder sonhar
Queria poder descansar
Queria poder deixar essa mochila no chão e me abster desse fardo]

Queria poder querer.
Queria poder mudar.

Ah, e se eu pudesse voltar no tempo? Teria feito diferente, teria me matado antes que a vida o fizesse de maneira hedionda.

Teria matado meus sonhos. Os arrancado do belo jardim que cultivava desde 2013. Teria causado a maior dor antes que alguém o fizesse. Teria me cegado e me anulado antes que a vida o fizesse por mim.

Inválida. Anulada. Alma vaga.

Não se muda finais. Há chaves para todas as portas, menos as recentes as salas em que estou presa. Quatro paredes me envolvem de maneira sufocante. O chão se move em direção ao teto em um movimento imperceptível, assim como meu diafragma se movimenta.

Como sinto falta de tudo.
Hoje, fardas e armamentos me preenchem. Medo e fúria me cegam. A vida me tortura a casa segundo em que vago, buscando aquilo que perdi no momento em que assinei o artigo inexistente.

Se ninguém pode ser punido por crime não previsto, por que estou encarcerada?

doutora dos sonhos,

27 de setembro de 2020.