Perdida e encurralada
Me empurram deveres e afazeres
Descem pela garganta ardendo, como álcool
Escorrem pelo rosto como pequenas lâminas, as lágrimas

Ideias sufocadas
Sonhos esquecidos
Desejos assassinados

Grito por socorro, mas ninguém me escuta
O quarto onde estou volta a se comprimir
E cá estou dormindo, sonhando com você
Mas tudo se torna um pesadelo que não consigo acordar

Não sei o que quero
Me enforco em promessas. Uma vida em vão
Quais meus propósitos?
Se eu ao menos os soubesse

Te quero apesar da distância
Há algum problema sentir a ardência?

Súplicas, súplicas, súplicas

Mas o mundo é surdo para o outro
Apenas o próximo deve ouvir

Primeiro fecho os olhos, depois a boca
Meus sentidos foram guardados no além
Como faço para recuperar a chave?

Deite em conformidade
Aceite a deformidade
Me esqueça de verdade
E viva a ansiedade

O receio assola meu seio
Mas o anseio domina a mente fértil

Onde eu estava há um ano
E onde estarei daqui há um ano

Onde e quando. Como?

Não há mobilidade.
O medo me paralisa
Faço parte dos móveis e das belas imagens que construo na minha mente]

No final me tornei decoração esquecida
Adorno agradável de se ver, mas sem valor
Me tornei carne, e a ela retornarei, recheada de sonhos]

As certezas hoje são inefáveis para mim
Há alguém aqui?
Socorro. Socorro. Socorro.

O vidro embaça pelas lágrimas
O mundo gira
A proteção se quebra

Mas de dentro sai algo tão mínimo
Que volta a se resguardar embaixo do medo
Quando se forma alguma sombra, seu corpo se retrai, e voltamos a pedir ajuda]
Mas não ninguém nos ouve

O hospício da mente é onde estamos
Nós nos trouxemos aqui

Tudo é branco.
Súplicas. Lamúrias. Mãos e pés.
Eu me esvai pelo contato
Perdi o que me fora negado

"Socorro", uso pela última vez
Mas a cama eterna é tão próxima
Os sonhos já estão ali. E ao menos, ali posso vivê-los. Ali, nada por dar errado]

"Podem me levar", sigo por fim o homem de branco]
Já aceitei a minha punição antes da apresentação dos fatos]

Sou culpada. Estou suja. Estou estática.