Lago turvo
escrever é muito mais que colocar palavras num papel
é se colocar em cada detalhe, em cada ornamento das orações
as vezes, queremos ser lidos. o mundo nos obriga a guardar o que sentimos, então a escrita é a nossa porta ao além
mas as vezes não o queremos. temos de desviar entre diversas palavras e colocações
anseio por expressar o que sinto, mas usando as palavras mais turvas para um sentimento transparente
sou assim com as minhas palavras? colocaria que sou tão transparente quanto a água do pântano. tem que ter coragem para submergir
ah, e não nos esquecemos das autorizações. ainda temos os animais que assustam aqueles que se aproximam
todos fogem. acho que ninguém nunca tomou um banho nessa água
mas até que ponto será que desejo isso?
estou tão cansada de ser essa parábola. antena parabólica que capta sentimentos alheios mas não sabe ao certo o que sente e o que fazer
cansada desse paradoxo de medo e ansiedade
mas extasiada demais para fazer qualquer mudança
fossilizei junto com os animais. afundei nesse pântano turvo. enquanto ninguém mergulhar aqui, nunca me conhecerá
nem sei mais se cabe um socorro. talvez eu já tenha me acostumado com o frio da água, com a areia que se levanta quando outro animal se arrasta pelo chão, e com o medo quando eles se aproximam demais
no começo, tinha medo, hoje, vejo tanto de mim nos animais quanto vice-versa
eles são meus objetos e frutos. assim como eu
desaguamos em locais diferentes, apesar da mesma nascente
nascente de medo. insegurança. imobilidade.
26/07/2020
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