fecho os olhos

abaixo a cabeça

fecho a boca

passo um café

te entrego a minha alma e tudo que minhas mãos são capazes de produzir

risadas sarcásticas ecoam

sua cabeça parece um cérebro em coma

fica repetindo, como o bipe das máquinas de hospital indicando o fim da vida, algo que já passou

cansada de ruminar a mesma ideia, viro objeto do ataque

a pessoa que sou

os meus atributos

você deve ter [...]

você nunca vai [...]

são frases tão duras que me nego a compartilhá-las com outrem

são frases tão duras, que me sufocam, e não importa o quanto eu lhe diga o quanto eu odeio quando as defere, você ainda faz

vejo um indeferido frente ao meu pedido de misericórdia

uso palavras pesadas, e você me reprime, como sempre

como eu odeio quando faz isso.

uma parte do que sinto por você degenera toda vez que rumina as suas ideias rancorosas sobre mim.

e eu te amo menos, como consequência

distúrbio social

ausência...

erro seu... erro meu...

responsabilidade referente coação, na verdade, temos referencial

odeio quando me compara. mas sempre o faz.

sou absolutamente incapaz para você.

incapaz de ser meu eu próprio

te der bondade dentro de mim

uma puta

fala grosso

uma puta

fala grosso

uma puta

uma p-u-t-a

p-u-t-a

pu-ta

puta

puta. sua filha. uma puta. que fala grosso. uma puta. que manca com seus sentimentos porque é incapaz de fornecer o básico de respaldo e conforto afetivo. que vai morrer sozinha. que precisa de psiquiatra. que deixa de viver pra cuidar de uma criança sendo que é virgem. sua filha. uma inútil, uma puta. uma puta. uma puta. uma puta. puta. puta. puta. puta... puta... puta... uma puta que fala grosso fora de casa... uma puta... uma puta que trabalha na rua da amargura, e fala grosso fora de casa porque é o único lugar em que a agridem e violam a sua personalidade. meu lar não é meu porto seguro, é meu martírio, lugar de crucificação. mas eu sou uma puta. puta. PUTA.

tudo que eu disse em silêncio e me matei pra não fazer o que faz comigo com você,

puta,

20 de novembro de 2020.