Bilhete Único
Novamente naquele ponto
Vejo, mesmo diante das gordas lágrimas que caem do céu, a frenesi que se instaura
Diversos ônibus, lotados, abarrotados
Repletos de pessoas segurando seus livros, seus conhecimentos e sonhos que concretizarão
O cobrador e o motorista conversam
Falas políticas
Será que um dia serei capaz de fazê-las?
Tenho tanto medo
Porque na faculdade em que me graduei — e lecionei — isso não era objeto
Nunca imaginei postular em juízo divino requerendo política como provimento
Mas agora o faço
Junto com a adaga que carrego
Me lembrando dos sonhos aveludados que nunca provarei
Uma vez que as paredes que me cercam impedem meu diafragma de se movimentar
Não há ar suficiente para viver
Suplico, me rastejo
Como um invertebrado
Miserável, fadada a ser mínimo e não tangir coisa maior
O ônibus facilmente me atropelaria e não teria impacto algum a suas calotas
Enquanto suas rodas fazem o movimento percebo não sentir nada
Tão minúscula e insignificante que preferiram desviar
Pisco os olhos repetidas vezes
Visão turva
Estou em uma sala de aula
Colegas. Semelhantes, contudo, parecem saber e serem capazes de maravilhas que nunca sereri
Me perco em devaneios adolescentes
Depois me violento mentalmente
Arranco, permitindo que todo o sangue que possuo se esvaia, cada milímetro que me constituiu para me martirizar
O faço em silêncio, na mesma sala que sirvo aos meus colegas e os auxilio
Sorrio complacente ao professor
Você pode ver além do que mostro? Você pode ver essa dor?
Dirigindo a voz a mim, volto a me reduzir
Rastejando sob o chão sujo
Desviando de sapatos sociais e conversas altas nos corredores
Subo por uma flor que encontro
Ela é de plástico
Me agarro a falácias
Acordo abruptamente com o barulho da rua
É o ônibus! É o meu ônibus!
Aceno para o motorista
Ele para
Subo no ônibus
"1521-001 - Jardim da Incapacidade - Insignificância"
Meu bilhete único não é aceito
"Saldo insuficiente"
Enfio a mão na mochila em busca de moedas
Sou engolida para um mundo escuro
Ninguém percebe que eu desapareci
O cobrador chuta a mochila pro lado
Horas depois, devido a chuva de grandes lágrimas, quando o ônibus já está no terminal
Jogam a mochila fora, devido ao seu estado deplorável
"Quem é o imbecil que esquece a própria mochila?"
"Tem gente que esquece até a cabeça" — Respondem, negando com a cabeça
Contudo, esta não existia
Explodira de tanto pensar em sofrimento, finais infelizes e dor
Os ratos corroeram seu interior lentamente para quem sentia, mas fora tão repentino que não fora notado
Porque sempre fora invisível
A mochila nunca transitou
Apareceu subitamente
Assim como a dor crônica
Assim como desapareceu a garota
A garota na mobília
Que se escondeu embaixo da mesa de home office e nunca mais fora encontrada
Junto com o corpo sumiram as memórias
Fora como se nunca existira
Porque nunca a viram a de verdade
sobre política. desejos. relações repulsivas. medo. sobre ser condenada antes da denúncia e encarcerada dentro de si, sem poder receber visitas e tendo todos os recursos com provimento negado em votação unânime.
a garota na mobília,
13 de abril de 2021
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