Arranha-céu
maldita mania que tenho
escalo meus próprios prédios
sou minha própria engenheira, mas sou péssima com cálculos
por isso, sempre que vejo a luz do sol, sinto o impacto do asfalto
sempre que acredito estar quase lá, desmorono e a poeira se espalha
como um resíduo tóxico, murcho e derramo lágrimas gordas e pesadas
são um fardo, até que escorrem pela minha bochecha e o processo se torna um pleonasmo
as vezes, queria perder essa esperança
talvez até perder a essência
perder essa capacidade de ser magoada pelos meus próprios personagens
assumir que não estou em posição de nada, por isso, me calar
mas sempre insisto, apenas sinto o ardor quando atinjo um nível superior de autoflagelo
malditas garras que insistem em me agarrar, porque preciso ter o controle de mim mesma? e porque a pressão tem de ser tão sufocante?
as vezes, apenas expirar é dolorido
meus olhos pesam
meus lábios se sobressaem numa expressão infeliz
estou largada no chão. minha roupa está rasgada. a poeira já abaixou, mas ainda há cicatrizes envolvendo meu maior órgão
fraquejo quando a palma da minha mão encontra o chão
mas sei que irei levantar
a questão é: quero levantar para voltar ao ciclo?
entretanto, não me permito responder. as amarras cegas que me prendem já me condenam a carregar novos tijolos, leves, para construção do novo arranha-céu
quanto tempo esse irá durar?
17/08/2020
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