Perguntaram-me Por Que Eu Escrevo
Logo cedo naquele dia, Luciana se sentou na frente do computador. De um lado o mouse; do outro, a xícara de café e no centro, o teclado.
Encarou, ainda meio sonâmbula, a tela em branco. Capítulo 21. Nada vinha à sua cabeça.
Ergueu-se, pegou o caderno onde anotava todo o planejamento da história. Não gostou de nada do que leu. Não parecia dela. Largou o caderno.
Um gole... dois goles de café.
De volta ao computador, abriu uma nova aba na internet, foi checar suas redes sociais. Cobranças e mais cobranças. "Onde está o livro novo?" a maioria dos comentários se resumia a esse questionamento.
Luciana suspirou, retornando à tela branca. Perguntou-se então se queria mesmo continuar com aquilo. A questão não era seu querer, era que tinha.
Abriu outro arquivo, seus vários enredos que surgiam entre um pensamento e outro, um olhar, um passeio. Todos parados. Dedicação total ao livro estagnado há dois meses no capítulo 21.
"Eu tenho que terminar." dizia a si mesma.
Entrou no e-mail após um bip anunciando uma nova mensagem. Era a editora. "Esperamos o original para publicação até o final do semestre. Queremos-te tão logo na bienal. Todos estão esperando por você." Bienal. Sessão de autógrafos. Viagens. Turnê. Antes mesmo disso, escolher arte de capa, definir a diagramação. E ela ainda não chegou ao fim do livro.
"Preciso de um tempo." definiu, desligando o computador e saindo do escritório com sua xícara. Andou pela casa até decidir voltar ao quarto. Na cama, no meio do cômodo, seu marido encontrava-se de bruços, contudo, ele notou a movimentação dela e após se virar, sentou-se na cama e estendeu a mão para ela.
"Ainda nada?" perguntou ele, aconchegando-a em seus braços. Luciana apenas concordou com a cabeça.
"Tenho dois meses para acabar, Vini." lembrou-o e bufou. "Esqueci de tomar meus remédios."
"Espera" ele pediu, prendendo-a em seus braços. Levantou o rosto de Luciana com cuidado até ela olhar em seus olhos, ele sorriu e tirou as mechas de cabelo que caiam no belo rosto dela. "Primeiro, me responda, Luci, por que você escreve? Só conseguirá acabar o capítulo quando me responder, quando se responder, isso."
"P-porque..." Ela estancou. Pensou, lembrou-se de quando começou, de como a escrita a ajudava a não cair definitivamente na depressão.
Não voltou ao computador naquela manhã.
Saiu.
Entrou em livrarias, viu alguns dos seus livros em destaque, mais vendidos.
Encontrou coincidentemente algumas leitoras, deu autógrafos e ouviu que seus livros as fizeram adentrar o mundo dos livros.
Pelo celular, entrou novamente em suas redes sociais, na mensagem privada, mais uma leitora. "Um desenho de como imagino Bea, espero que goste 💜", e abaixo um desenho a lápis. Agradeceu, emocionada.
Logo depois, uma notificação do e-mail, a editora. "Querem seu livro em Portugal. Seus livros vão conquistar o mundo, Luciana!".
Quando voltou para casa, encontrou mais uma vez seu marido. E sorrindo, enfim, conseguiu responder:
"Eu escrevo porque escrever é uma das poucas coisas que me motivam a viver."
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