Episódio 2 - A Primeira Eliminação
— Muniz, acorda logo, você está super atrasada — batidas fortes na minha porta me despertam e eu tenho que correr e me apressar em me aprontar para o dia de gravação. Merda! Que horas foi que eu desliguei a droga do meu despertador?
Logo eu que fiquei acordada até mais tarde com meus sonhos malucos e irreais com o lindo do Chuck.
Desde que eu me encontrei com ele sem querer naquele depósito, há dois dias, Chuck vem estando presente na minha mente, simplesmente não estou conseguindo tirar o brilho daqueles olhos deslumbrantes da minha cabeça.
Até quando eu estava dormindo ele estava lá. Sonhos em que eu fazia parte do programa me faziam suspirar dormindo, acordada, além do mais, quando eu despertava, demorava horrores pra voltar a dormir novamente.
O Chuck era um cara legal, eu conseguia dizer apenas pela nossa conversa de poucos minutos.
Mas eu com certeza não deveria estar toda boba assim por ele. Quando estava acordada, eu conseguia controlar pelo menos a minha postura, e me impedia de ficar procurando-o com o olhar, só que eu não tinha esse mesmo controle quando estava adormecida e as imagens dos meus sonhos povoavam a minha cabeça mais do que eu me permitia admitir.
Não tenho tempo de ficar pensando em nada no momento além de levantar e ficar pronta bem rápido. Hoje o dia vai ser bem cheio. Vamos começar a fazer algumas entrevistas individuais com as meninas, já que nos dias anteriores foram dias de pequenas festinhas, uma à tarde e outra a noite, que serviu para que conseguíssemos mais imagens para os primeiros episódios.
Já tínhamos que começar a nos preocupar de ter material de cada menina, pois queríamos ter coisas de sobra pra quando começassem as eliminações. Teríamos mais material para montar a história como melhor ficaria na televisão.
— Já estou quase pronta — menti descaradamente logo depois de me jogar pra fora da cama. Eu ainda tirava o camisão folgado do K-Power que eu usava para dormir e me livrava da calcinha, quando gritei — Só preciso de uns minutinhos.
O fato de estar nua correndo pro banheiro evidenciava a minha mentira, mas como ninguém estava vendo... O que os olhos não veem, o coração não sente. Antes que eu fechasse a porta, volto pro quarto, pois tinha deixado a toalha num pequeno varal que estava perto da janela.
Tenho que me abaixar e ir rastejando pelo chão, pois a janela estava aberta e mesmo achando pouco provável, não queria que alguém tivesse uma visão indesejada logo pela manhã. Não quero ser flagrada nua num local cheio de câmeras.
— Acho bom a sua bela bunda estar lá em baixo em menos de dez minutos Muniz! — agora reconheço a voz que estava do outro lado, e era o Marcelo, meu colega de produção.
— Eu e a minha bunda estaremos lá em baixo com certeza! — deixei o bela de fora, apenas porque não queria que esse adjetivo fosse uma coisa recorrente. Mas eu tenho mesmo uma bela bunda.
Consigo me cobrir com a toalha bem o suficiente para voltar ao banheiro de pé. Lavo apenas o necessário e faço mil coisas ao mesmo tempo e sorrio ao perceber que consigo sair do banheiro quase em tempo recorde.
Começo quase a dançar pra entrar na calça jeans que estava do lado de fora da mala e nem dou uma segunda olhada na primeira blusa que eu tiro de lá, só espero que não esteja amassada, mas vai ser ela mesmo.
Sem ter coragem de olhar qual era a situação atual do meu cabelo, eu pego uma liga que estava presa na calça que usei ontem e saio do quarto. Vou prendendo o cabelo no alto da cabeça enquanto desço as escadas. Não tenho coragem de deixar o cabelo solto depois da noite agitada de sonhos que tive.
Marcelo olha pro relógio assim que me vê e abre um sorriso satisfeito.
— Estou impressionado. Sete minutos Muniz. Você está bem — ele me entrega um copo alto de café e eu agradeço. Cafeína, era isso que estava faltando para que eu me encontrasse totalmente desperta. — Vamos lá? Tem uma mesa de café-da-manhã no local da gravação, se bater a fome, podemos beliscar alguma coisa por lá... — Marcelo aponta para um carrinho de golfe que aparentemente estava à nossa espera.
— Claro.
Assim que chegamos, a equipe de maquiagem e figurino já estava trabalhando a todo vapor para garantir extrair o melhor de cada uma. As gravações hoje seriam ao ar livre, então o figurino era bem mais leve, com vestidos florais, coloridos e roupas esvoaçantes. Os cabelos presos para mostrarem os melhores atributos delas. Vendo os sorrisos que elas esbanjavam ali percebi que elas não precisavam de vestidos longos e ousados para serem deslumbrantes...
Tenho dificuldades em pensar em qualquer uma delas com uma espinha descomunal no rosto, ou quem sabe aquele dia que você sabe que está inchada... Olhando de fora era fácil pensar no dia-a-dia delas sendo apenas o mais absoluto glamour. Era fácil se deixar levar pelas aparências, mas quando a de uma pessoa era tão perfeita ao seu modo, não me sinto culpada ao pensar assim.
Vou olhar o local da gravação, e percebo que está tudo funcionando corretamente e a primeira menina já poderia se aproximar para começar as perguntas.
Eu tinha ajudado a formular diversas perguntas base, que iam de coisas corriqueiras até assuntos mais complexos e estava bem animada com o resultado. Marcelo que ia conduzir a entrevista com cada uma das meninas e eu ia ficar atrás da câmera, apenas para fazer os melhores ajustes para cada candidata.
Vi e ouvi as dez meninas se sentarem com uma postura perfeita no banco alto de estofado vermelho que tínhamos escolhido e responder as perguntas e falarem um pouco mais sobre os seus sonhos, conquistas e realizações. Marcelo parecia escutar tudo com muita atenção, mas eu me permiti vaguear a mente por alguns momentos.
Não posso dizer que me surpreendi com algumas candidatas que em seu tempo tiveram respostas inteligentes e bem-humoradas, mostrando que eram muito mais do que rostos impecáveis. Assim como também não era surpresa as meninas que deram respostas mal ensaiadas e pareciam apenas querer parecer bonita para as lentes.
Os editores com certeza vão ter um longo trabalho pela frente organizando aquelas horas de conversa em minutos interessantes de histórias e risadas que serão reproduzidas depois. Eu não teria que me preocupar com isso, mas com certeza vou precisar olhar o produto final.
Quando as gravações delas terminam e as meninas são liberadas, é que eu percebo que estou morrendo de fome. Então vou pra mesa de café da manhã que o Marcelo tinha dito e apesar da quantidade de gente que tinha ao redor, ainda tinha muita coisa ali.
Pego um pratinho, coloco dois pedaços de bolo, uns pequenos croissants e pra completar sem parecer muito esfomeada, pego um copo alto de isopor de café.
Ali ainda estava muito lotado, então sinalizo ao Marcelo que ia me afastar um pouco pra tentar encontrar um local mais tranquilo pra comer. Eu preferia comer na companhia de alguém, mas todo mundo pareceu muito ocupado e eu realmente estou com fome.
Vou para o local perto da piscina, onde ficava o palco principal, mas como ainda era dia, não tinha muita gente por ali e deu pra sentar e comer com tranquilidade. O bolo estava uma delícia e praticamente engasgo de tão rápido que eu comi os croissants. Fico então saboreando um pouco mais o meu café e aproveitando a brisa do local.
Estou quase terminando o meu café quando escuto passos atrás de mim. Nem me preocupo em virar para ver quem é, pois o fluxo de pessoa aqui é intenso, e muito provavelmente é apenas alguém indo de uma locação a outra.
— Ei coisinha — uma voz estridente e bem chata fala num ponto não muito longe atrás de mim. Eu conheço essa voz. É de uma das candidatas, Aline.
Na entrevista dela eu viajei legal. Algo na voz dela me fazia quase querer torcer o nariz e correr na direção oposta. Mas como uma boa profissional nem me movi. Nem ao menos pensei que fosse comigo, mesmo estando num lugar com poucas pessoas.
Eu me recusei a pensar que aquilo fosse comigo.
— Coisinha de blusa verde. Você mesma de cabelo preso.
Eu sabia que o meu cabelo estava preso, então eu abaixo o olhar, apenas por descarrego de consciência e vejo que a blusa que estou usando é verde escura, com pequenos botões pretos.
Ah não. Ela não fez isso.
Essa criatura estava se dirigindo à mim? E ainda por cima me chamando de coisinha? Tá certo que temos as nossas diferenças, mas estou me sentindo extremamente ofendida. Quem ela pensa que é?
Fiquei de pé e fui logo erguendo o rosto para encarar a bela mulher. Seu rosto tinha traços finos e marcantes, os cabelos brilhosos e negros, o corpo esbelto, talvez até um pouco magro demais me olhava um bom palmo acima. O que ela tinha de bela por fora, era esnobe por dentro.
Se eu não tinha gostado dela à primeira vista, agora que ela tinha me chamado dessa maneira tão estúpida, eu passei a ter quase asco dela. Claro que eu não poderia externar nada disso, pois estava ali para ser profissional, mas acho que se ela permanecer muito tempo aqui vai ser um teste para a minha paciência e bom-humor.
Sei que a profissão da Aline era modelo, mas por mais bonita que fosse, todo mundo sabe ou tem a ideia que sair por aí chamando pessoas de coisinha não é nada educado.
— Eu? — vou dar essa última chance para que ela possa se explicar, vai ver essa palavra possa significar outra coisa... Mas não querendo ser ingênua demais, armo a minha defesa interior.
— Além de esquisita é surda coisinha? — Aline fala com um toque perceptível de desdém em sua voz.
Aquele tom fez a minha mão coçar pra dar uns bons tapas na cara dessa mulher pra ver se a vergonha entra nela nem se seja à base de pancada!
— Não. Eu não sou. Nenhuma das duas coisas — quis falar três, mas aparentemente ela falou coisinha e nem se tocou que era um insulto.
Junto com a vontade de dar uns tapas nela, nasceu uma vontade de mandá-la ir à merda e me afastar dela e de sua presença tóxica. Mas como estou no trabalho, quero me manter profissional, mesmo ela não sendo nem um pouco.
— Tanto faz — ela revira os olhos e faz um gesto com a mão de deboche.
Ela parece flutuar em uma nuvem de superioridade. Nem preciso dizer que me dá muita vontade de derrubar essa mulher do pedestal que ela pensa que está intocável. Mas também é claro que eu não faço isso.
Antes que eu possa responder alguma coisa pra ela, a mulher já vai falando, como se nem se importasse que eu tenho uma voz.
— Eu quero que você vá até o meu quarto e retire todos os meus vestidos da mala e os organize por cor. E os desamasse também.
Meus olhos devem parecem dois pratos tamanha é a minha surpresa com aquela ordem. Ela realmente pensou que eu tinha que fazer isso? Realmente tínhamos pessoas para ajudar a desmontar os guarda-roupas que as meninas tinham trago, mas eu não era uma dessas pessoas.
Eu nem me importaria de fazer isso para alguma das candidatas se apenas elas me pedissem direito! E mesmo que eu fosse responsável por isso, com certeza esse não era jeito de pedir... Mulher estúpida! Grossa!
— Não sei o motivo que você pensou nisso num primeiro momento, mas eu não sou nenhuma camareira... Na verdade eu sou uma das p...
— Tem certeza que você não é uma serviçal com essas roupas chinfrins? — ela faz uma cara de nojo e me analisa da cabeça aos pés, claramente não gostando do que vê. Ei! Posso não ter escolhido essa blusa, mas ela era uma das minhas favoritas!
— Sou uma das produtoras — digo da maneira mais educada que consigo e retiro o crachá de produtora que estava dentro da blusa, merda, pensei que iam ter certeza da minha posição aqui dentro com o meu crachá, mas que culpa o crachá tem se ele estava escondido atrás de uma camada de roupa?
— Você disse produtora?
Ela abre um sorriso, tentando parecer um tanto quanto mais amigável, mas só o que eu consigo ver é uma cobra querendo se preparar para dar o bote.
Hoje não Satanás!
Mesmo com o sorriso, algo na postura dela ainda quer permanecer superior a mim, e agora, com o crachá no meu peito, eu estufo um tantinho ele, apenas para o nome produtora ficasse bem visível. Não vou me deixar abalar por essa pose dela.
— Sim, e isso daqui comprova.
Mantenho a calma. Tenho que manter o protocolo, mesmo tendo que passar esses momentos na presença dessa mulher que acha que tem um rei na barriga. Pode ser o meu emprego na reta, meu sonho, e nada vai ficar na frente do meu sonho.
— Quero que você me arrume um tempo à sós com o Charles. Quero saber onde ele está o tempo todo, onde é que ele dorme, quero acesso a isso. Quero acesso a tudo que tem relação ao Charles.
Sei que os meus olhos arregalaram quando eu percebi o tipo de mulher que o coitado do Charles vai ter que lidar a partir desse momento.
É muita cara de pau! Tive que morder o interior da minha bochecha para segurar o riso que quis tomar conta de mim. Ela só pode estar brincando comigo!
Primeiro essa criatura, que nem me conhecia, vem perturbar a minha paz, me chama de um monte de coisas ridículas, e agora vem me pedindo esse monte de coisas como se eu tivesse a mínima obrigação de fazer algo por ela!
— Não posso lhe dar essa informação... E nem posso te dar nenhum tempo com ele se ele não quiser... — eu poderia até te arrumar um momento com ele, mas como você é uma coisinha chata e mandona, eu não farei! Nem se você fosse a minha candidata no bolão! Eu cometeria suicídio no bolão se tivesse tirado essa mulher!
— Ah coisinha, deixa disso, tenho que usar minhas armas para fisgar ele — ela diz fingindo uma amizade que não temos e nem teremos. Ela abre um sorriso perfeito de dentes brancos e alinhados e ajusta o decote farto.
Porra! Se fosse exclusivamente por beleza, ela com certeza seria uma das candidatas mais fortes. Só espero que o Chuck perceba que essa mulher é uma sem noção e não demore muito pra colocar ela pra correr. nem que eu tenha que montar uma situação pra livrar o Chuck disso.
E já deu pra mim! Ela que enfie essa "coisinha" no buraco do inferno que ela tinha saído.
— Cansei, eu tenho um nome, e ele é Catarina! — falo um pouco alterada. Respiro fundo para continuar a falar com uma voz mais calma. — Então por gentileza pode parar de ficar me chamando de coisinha que não é nada legal. E eu não posso te passar tudo sobre o Charles.
— Ah entendi agora, você não tem a informação é diferente. Bem que eu devia desconfiar que uma coisinha como você não teria a informação... — se ela tivesse um cabelo maior certeza teria batido ele sobre os ombros para a sua saída.
A mulher se afasta de mim e o meu estômago revira. Ainda bem que eu tinha comido antes desse "encontro". Não conseguiria comer nada agora.
Mas que merda foi essa que acabou de acontecer aqui?
Minha cabeça parece que deu um giro de trezentos e sessenta graus e eu tive que sair daquele lugar para tirar a minha mente dali. Entro na casa principal e feliz por ali não estar cheirando como milhares de arranjo florais juntos e misturados. Cheirava a madeira e algo bom.
Olá! Como estamos nessa bela manhã de sábado? Espero que estejam bem e que não tenham que lidar com nenhum pessoa com o nível de simpatia que a Aline! A mulher é uma desgraça!
E então, o que estão achando? Sei que ainda estamos bem no começo, mas será que temos algum personagem favorito ou algo parecido? Gente, eu adoro o bom-humor da Catarina, e acho que ela seria uma amigona pra todas as horas!
"Momentos amorzinhos" is coming!
Beijos e até a próxima semana com mais um episódio de O que Acontece nos Bastidores.
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