Episódio 11 - Beijos que machucam... : Parte 2
É isso, não tem a menor chance de explicar a situação.
Ambos estamos sem camisa, ofegantes e com os rostos corados demais para fingir que estávamos fazendo qualquer outra coisa. Deveria ter trancado a maldita porta, mas claramente agora é tarde demais!
Mesmo com a iminência de um desastre, não ousamos nem respirar.
— Xô, xô! — a voz volta a falar. — Caralho de coelho! Quase que me mata do coração! — a voz está absurdamente perto da gente.
Meu Deus! Não era nós que a pessoa tinha visto, e sim um coelho!
— Ainda bem que não tem ninguém aqui... Os produtores comeriam meu fígado se vissem o que tem nessa caixa que derrubei. Mas o que os olhos não veem, o coração não sente! — a voz vai ficando mais baixa e escutamos passos se afastando.
Só se for o coração dessa pessoa que não sentiu, pois o meu parece querer sair do peito de tanto nervosismo que bate.
Assim que consigo me acalmar o suficiente, percebo que estamos bem escondidos pela noite mal iluminada. A estante que estávamos atrás estava recheada por caixas e acho que só perceberiam que estávamos ali se estivesse de dia ou se fizéssemos mais barulho.
Ainda bem que o Chuck estava mantendo a minha boca ocupada a maior parte do tempo para que eu gemesse ou pior. E o que quer que tenha saído, foi abafado pelo barulho suave da chuva batendo no teto e paredes.
A sorte estava sorrindo pra gente.
A porta então fecha e não conseguimos escuta mais nada.
Passaram bons minutos até que tivemos a coragem de nos mexer. Meu corpo estava bem colado ao dele, nem tinha percebido como as minhas pernas estavam bambas até que Chuck as coloca no chão, me deslizando sem barulho algum sobre o seu corpo.
— Não se mexe, vou ver se a nossa barra está limpa... — Chuck sussurra. Antes que ele saia detrás da estante, eu seguro o seu braço. Ele se volta para mim e pergunta. — O que foi?
— Sua camisa... — digo apontando para o seu peito descoberto.
— Ah, bem lembrado! — ele com um pouco de dificuldade pelo espaço um tanto quanto apertado, coloca novamente a sua camisa, toda suja de tinta e molhada.
Ainda estou ansiosa e uso o tempo que o Chuck saiu para me vestir também. Não pego em nada e até respiro baixo. Poucos minutos depois, ele aparece e me estende a mão para que eu levante. Nem tinha percebido que tinha me agachado.
— A barra está limpa... — não consigo detectar muita coisa em sua voz.
— Certo... Essa foi por pouco não é mesmo?
— É... Acho que nos deixamos levar demais... Isso não é do tipo de coisa que deveríamos fazer assim sem tanto cuidado... E depois que reclamei com o Taz... Nunca vou contar isso pra ele, não vou ter paz se o fizer...
— Perdemos um pouco a noção...
— Me perdi em você e confesso, mas mesmo que tivéssemos sido pegos, eu ainda sim não conseguiria me arrepender...
— Eu também não...
— Não quero que pense que eu sou sempre tão inconsequente assim... Eu costumo pensar bem nas minhas ações, mas é que com você eu... Simplesmente não dá.
— Tudo bem, não precisa se explicar Chuck...
— Valeu... — ele suspira e então olha na direção da porta. — Vamos então?
— Claro!
Vou na frente, e não me permito olhar para trás. Tenho que ir devagar, já que o chão está escorregadio. A cada passo fico preocupada, será que tem alguém atrás de mim? Será que me viram sair do armazém? Viram o Chuck?
A lona que seguro acima da cabeça pesa um pouco e tremula em minhas mãos que não estão nada firmes, mas vou segurando como posso.
Cai uma chuva fina e chego no dormitório sem encontrar ninguém. Entro no quarto e vou direto para o chuveiro, tomar um banho quente e quem sabe colocar as ideias no lugar. As emoções de hoje foram bem intensas e quem sabe ver uns rostos conhecidos e que eu estava cheia de saudade não serviria para me animar e acalmar um pouco.
Depois de pentear os cabelos e colocar um pijama confortável, me ajusto na cama para ligar para os meus pais. Sei que está tarde, mas se eles já estiverem dormindo, não vai ser o barulho do celular que vai acordá-los.
Quando faço uma ligação de vídeo pra minha mãe ninguém atende, resolvo então ligar pro meu pai, e ele atende rápido. Pensei que só ia encontrar ele, mas na verdade quem está na frente é a minha mãe. Ela está sorrindo. Meu pai está próximo dela.
— Oi pessoal! — aceno pros dois.
Meu pai estava com uma presilha no cabelo, claramente da minha mãe, prendendo a sua franja para trás. Ele sorria e estava com o Bart no colo. Minha mãe tinha pintado o cabelo e cortado, estava linda.
Depois de perguntar como eles estão e ter toda uma pequena atualização de status, tanto meu, quanto deles, vou elogiar o cabelo da minha mãe. Se eu não fizesse isso, era capaz de escutar uma bronca na próxima ligação que eu fizesse para eles.
— Olha só dona Cláudia, a senhora está incrível com o seu novo cabelo! Um arraso!
— Gostou filha? Pensei que você nem tinha reparado... Não está tão claro aqui...
— Como eu não perceberia mãe? A senhora tá ainda mais bonita!
— Obrigada princesa. Seu pai quase que não me reconhece quando foi me pegar no salão... Estou me adorando! — ela fala toda feliz passando as mãos pelo cabelo.
— Eu reconheceria você sempre... — meu pai dá um beijo estalado na cabeça da minha mãe e se aproxima da câmera. — E eu não estou lindo filha? Mesmo sem nada de diferente?
— Você é sempre um gatão, seu carente! — digo rindo. E meu pai sorri.
Bart escolhe esse momento para me ver pela tela e começa a se alvoroçar nos braços do meu pai. Ele late e sacode o rabo com alegria. Passo os dedos pela tela do celular.
— Oi meu amor... Saudade de você também...
— Antes de voltar eu e sua mãe vamos arrumar um cachorro — meu pai anuncia. — A experiência de ter o Bart aqui com a gente está sendo tão legal, que a sua mãe me convenceu a irmos ao abrigo e adotar um!
— Espero que o Bart se dê bem com o novo coleguinha...
— É, mas a feira de adoção só vai ser daqui a umas duas semanas... Mas vamos cuidar de tudo filha! Mesmo esse daqui dando uns prejuízos, ainda sim é ótimo ter ele em casa...
— Nossa pai, ele comeu alguma coisa que não deveria? — pergunto lembrando de uma vez que o Bart estragou dois pares de sapatos meus e o fio do microondas.
— Nada de tão importante assim. Só tivemos que trocar alguns porta-retratos de casa, os que tinha a sua foto... Ele subia nos móveis pra se aconchegar com a sua foto. Uma coisa tocante de se ver, mas como ele é grande, acabava por derrubar o seu retrato e os que rodeava... — minha mãe informa.
— Desculpa... Depois eu compro uns pra repor os que ele quebrou...
— Não precisa se incomodar com isso...
Bart começa a latir mais alto e que descer das pernas do meu pai.
— Ih, esse é o aviso pra ir ao banheiro. Acho que vou dar uma volta com ele, pra enfim...
— Tá certo pai. Beijo. Amo o senhor e estou com saudades.
— Também filha! — ele pega a coleira do Bart e então sai do quarto. Minha mãe agora me olha e antes que eu possa falar alguma coisa, ela já vai falando.
— As coisas estão boas por aí minha filha? Você parece feliz, mas preocupada.
Impressionante como a minha mãe conseguiu resumir bem o que estava sentindo no momento. Mesmo por uma tela que não deixa ver o meu rosto com tanta clareza assim, ela ainda me conhece perfeitamente.
— Às vezes acho que a senhora tem uma câmera escondida dentro da minha cabeça...
— Quer falar sobre?
— Não sei se devo mãe... As coisas já estão ficando bem complicadas com as poucas pessoas que estão sabendo...
— Tudo bem filha, eu entendo, não vou te pressionar para falar se não quiser... — ela nunca me pressiona a falar quando sabe que o assunto é um pouco mais delicado, e ela sempre sabe quando é.
Da última vez que eu tinha falado com ela, minha mãe disse que era pra eu encontrar com ele com as câmeras desligadas e me jogar! Não foi exatamente assim como aconteceu, mas de algum modo nós dois acabamos nos envolvendo.
E tanta coisa tinha acontecido desde então que era bobagem eu não desabafar com a minha mãe. Não entrando em detalhes, dá pra falar um monte de coisas.
— Mãe... Eu estou apaixonada — melhor admitir logo.
— AAAAAAAAHHHHHH! — minha mãe solta o maior berrão de felicidade. — Finalmente você vai nos agraciar com netinhos gorduchos!
— Mãe! Vamos com calma... E como você sabe que não é uma coisa unilateral dona Cláudia?
— Não me insulte Catarina! Uma mãe sabe dessas coisas... Claro que o rapaz tinha que estar interessado também!
— Certo... Você fala isso porquê é minha mãe. Mas o problema é que a nossa situação não é tão simples... Não é como se a gente fosse livre para dizer para todo mundo ou fazermos o que quisermos aqui...
— Mas se vocês são da equipe não deve ser problema se... Espere um momento... A não ser que... — minha mãe arregala os olhos, mas já vai abrindo um enorme sorriso. Não preciso falar o nome do Charles, ela já sabe.
— É, já que é com ele com quem eu estou envolvida... Por isso todos os problemas associados — digo bem mais baixo, com medo das paredes me escutarem.
— Entendo... — minha mãe fica bem mais calma do que eu esperava com a informação. — Você já beijou ele uma primeira vez? — ela pergunta bem séria.
— Já... — digo um pouco envergonhada.
— E uma segunda vez?
— Claro né mãe? — digo um pouco mais alto.
— E quanto a sexo? Já rolou entre vocês?
— Mãe! Não que isso seja uma informação pertinente a você, mas não, nunca aconteceu... Como eu disse, é complicado...
— Olha filha. Vou ser bem sincera com você. Dá pra ver que você está bem feliz com a situação, e só pelo brilho do olhar, parece viver algo como um sonho. E ele deve estar se apaixonando por você nesse momento, se não já estiver. Mas você é uma produtora. E o seu emprego minha filha? Você trabalhou, se esforçou muito para chegar até aí. Tenho orgulho demais de você, então cuidado.
— Sei bem disso mãe. Hoje a gente quase que...
— As coisas escondidas têm um gosto bem excitante, mas não se deixe levar demais pelas emoções... Paixão é uma coisa ótima de se sentir, mas pode nublar o bom senso e os limites.
— Obrigada pelo conselho mãe.
— Disponha filha... Mas agora responda uma coisa pra mim... Ele beija tão bem quanto parece? Ele é um pedaço de coisa quente que minha nossa!
— Mãe! — dou uma risada aliviada por falar sobre essas coisas com alguém. — Mas é muito melhor do que eu poderia imaginar...
— Ah minha filha... As coisas poderiam ser mais fáceis para você, mas admito que estou muito feliz! Um homem daqueles... — ela suspira alto e meu pai aparece atrás dela.
— Que homem posso saber? — ele diz e dá uma mordida no ombro da minha mãe.
— Você meu querido! Posso olhar pra todos os homens do mundo, mas é só você que faz o meu mundo sacudir...
— Vou já te mostrar o que vai sacudir e...
— Podem ir parando! Vocês tem companhia, então tratem de se comportar! — digo rindo, desviando o meu olhar da tela.
— Pois depois nos falamos filha, vou mostrar umas coisas aqui pra sua mãe. Tchau e amamos você! — meu pai diz todo feliz e desliga a ligação sem me dar muita oportunidade para me despedir.
Deito a cabeça no travesseiro e me sinto bem mais leve. Quando o sono chega, só tenho sonhos agradáveis com cachorros, baixos e muitos beijos.
Ok, ok, eu percebi que talvez tenha sido um pouco mais malvada do que o esperado, usando aquele modo de terminar o capítulo no sábado, e por causa da comoção de vocês, resolvi vir aqui, em plena quarta-feira para acalmar o coraçãozinho de todos! Ufa, foi apenas um susto, mas como faríamos esse programa sem uma meia verdade assim que faz as pessoas pensarem coisas assim? Temos que usar os recursos, hahahahah ♥
Recebam com todo carinho e terminando de maneira bem mais calma esse capítulo! Hahahah espero que gostem, e mesmo saindo capítulo hoje, o nosso encontro de sábado ainda está de pé, então vamos continuar ligados!
Temos participação dos pais adorados, mas não tem como deixar de lado as "confissões" do nosso baixista! Gente, sei que é muita coisa na cabeça da Catarina, mas ela não pode passar batido por palavras tão interessantes quanto as que ele falou agora.
Obrigada a todos pelo carinho e nos vemos na próxima!
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