Capítulo 16 - Primeiro Contato
Ethan e Dante Corvin se agacharam dentro do contêiner, esperando serem derretidos, mas os raios avermelhados, atingiram em cheio as monstruosas criaturas. O impacto foi devastador, e os monstros caíram um a um, sem vida nas águas agitadas e manchadas de vermelho.
— Eu não sou o meu pai! — murmurou Meera com um leve sorriso no canto da boca, satisfeita com sua precisão.
Com as criaturas eliminadas, Meera lançou uma escada de cabos de aço na direção dos homens. Ethan, sem hesitar agarrou a escada primeiro, com Dante logo atrás, e os dois começaram a escalar com dificuldade, seus corpos já estavam exaustos, mas estavam movidos pela adrenalina.
Enquanto eles subiam, Meera estabilizou a nave no ar, silenciosa como uma sombra. Seus olhos estavam fixos nos dois homens. Uma série de pensamentos conflitantes passava por sua mente. Eles eram sobreviventes, sim, mas ainda eram seres humanos. E ela sabia que, cedo ou tarde, teria que decidir o que fazer com eles.
Seu interior estava dividido entre o que aprendeu e o que estava sentindo.
Sua mente fervilhava com dúvidas e temores.
Era o primeiro contato da marciana com humanos, e seu coração batia descompassado. Estava diante do momento decisivo: provar que suas crenças eram verdadeiras, que os humanos não eram monstros, mas seres capazes de redenção. Ou, ao contrário, descobrir que seu pai, Laris, estiveram certos o tempo todo, e que ela estava apenas alimentando uma ilusão.
E se suas ideias não passassem de uma loucura? Uma aventura perigosa que poderia comprometer o reino? A possibilidade a atormentava. E se estivesse abrindo uma brecha para a destruição de tudo o que conhecia e amava? Podia simplesmente desfazer sua escolha. Bastaria soltá-los, deixá-los cair de volta ao mar. Ou poderia capturá-los, entregá-los a seu pai como um pedido de desculpas. Talvez assim pudesse redimir-se e apagar o erro antes que fosse tarde demais.
Mas, no fundo, Meera sabia que não podia voltar atrás. Havia arriscado tudo por aquilo em que acreditava. Palavras não bastavam mais; era hora de agir. Mesmo com as dúvidas pesando sobre seus ombros e a insegurança corroendo seu coração, sabia que precisava seguir em frente. Porque, se desistisse agora, nunca saberia a verdade. E, talvez, jamais conseguiria perdoar a si mesma.
Ethan estava ofegante, cada músculo de seu corpo ardia após a difícil escalada pela escada. Suas mãos tremiam de cansaço, e o capacete estava embaçado pela respiração rápida que criava uma barreira tênue entre ele e o ar ao seu redor. Ao alcançar o topo, seu corpo quase cedeu, mas então, uma voz firme e decidida o chamou de volta à realidade.
— Segure a minha mão! — A voz era fria e direta, porém com uma nota de urgência, como se algo estivesse em jogo.
Ele ergueu o olhar, e seus olhos se fixaram nela. Meera estava ali, à sua frente, com o braço estendido. Seu olhar era penetrante, um par de olhos esverdiados que cintilavam à luz da cabine, quase como se fossem feitos de esmeralda pura. Ethan, sem dizer uma palavra, estendeu a mão trêmula e agarrou a dela.
No instante em que suas mãos se tocaram, o mundo pareceu parar por um momento. O toque foi breve, mas carregado de eletricidade. A pele dela era quente, contrastando com o frio do metal ao redor. Os olhos de Ethan se estreitaram enquanto ele tentava absorver o que via. Ele sabia que estava diante de uma marciana, mas o que não esperava era se deparar com uma figura tão impressionante. Seus traços eram delicados, mas havia uma força subjacente em sua postura, como se ela estivesse pronta para o combate a qualquer momento. O cabelo escuro e azulado de Meera, preso em um rabo de cavalo militar, balançava levemente com o movimento da nave. Ethan não conseguia tirar os olhos dos dela, hipnotizado pela profundidade que encontrava ali, um misto de curiosidade e algo mais que ele ainda não conseguia entender.
Meera, por outro lado, também não esperava o que sentiu naquele instante. O toque da pele de Ethan, ainda que através de sua luva, despertou uma faísca de algo desconhecido dentro dela. Seu olhar, que antes era apenas frio e calculista, agora estava curioso. Era a primeira vez que via um terráqueo de tão perto, sentia o calor e a respiração dele, ouvia o som abafado de sua respiração dentro do capacete, como uma melodia distante e constante. Ela não sabia o que estava acontecendo, mas algo na maneira como seus olhos se encontraram a fez hesitar. O treinamento rígido, as ordens de seu pai para eliminar qualquer humano que cruzasse seu caminho... tudo aquilo parecia desvanecer ainda mais por um momento com o humano agora a sua frente.
Os segundos passaram, mas para os dois, o tempo parecia ter se distorcido. A respiração de Ethan ecoava no interior do capacete, um som abafado e irregular. Meera permaneceu ali, sua mão ainda presa à dele, com os olhos fixos, como se estivesse tentando desvendar o que aquele homem realmente representava. Não era só um humano qualquer. Não podia ser. Ela sentia isso no fundo, ainda que tentasse afastar esses pensamentos.
— Hei, Ethan, vai entrar ou não para a nave?! - Dante Corvim gritou de baixo fazendo o rapaz despertar de seu trance. — Ethan começou a falar, com a voz rouca de nervosismo e surpresa.
— Uma Marciana!
Meera arqueou uma sobrancelha. Era a primeira vez que ouvia alguém falar com tanta hesitação ao se referir à ua espécie. Por um instante, ela pensou em soltar a sua mão, afastar-se e retornar para a casa, mas algo a manteve ali, imóvel, sentindo a vibração da tensão no ar entre eles.
— E o que esperava encontrar? - Ela questinou o fitando séria.
A verdade era que Ethan não tinha ideia do que esperava. A visão de uma marciana, especialmente uma tão próxima, bagunçava seus pensamentos. Havia algo em Meera que o desarmava, mas ao mesmo tempo o deixava em alerta.
— Alguém menos... humano. — ele disse por fim, num sussurro, seus olhos se moviam rapidamente pelo rosto dela, observando os pequenos detalhes: o contorno delicado da mandíbula, a intensidade daqueles olhos alienígenas, o modo como sua boca se curvava levemente ao ouvir suas palavras.
Meera apertou os lábios, sentindo a ironia em suas palavras. Averdade é que ela também esperava algo totalmente diferente do que estava diante de si, deveria sentir medo, más não. A respiração de Ethan era a mesma, a pele que sentia em sua mão tinha a mesma temperatura. Mas, mais do que isso, havia algo mais profundo, uma conexão silenciosa que ela não conseguia explicar.
O momento foi interrompido de forma brutal quando braços poderosos a puxaram por trás. Ela se sentiu imobilizada, e o seu coração disparou de susto.
— Não cometa essa tolice de deixar os terráqueos entrar! — disse Nekkar, o instrutor de voo que até então estava desacordado no chão da nave com sua voz baixa e cortante como a lâmina que agora repousava ameaçadoramente contra a garganta de Meera. — Está colocando sua vida e todo o reino em risco!
O corpo de Meera se retesou de imediato. O cheiro acre de suor de Nekkar e o metal frio da faca a enojavam. Ela tentou manter a calma, mas sentia o peso das palavras dele afundando em seus pensamentos, como se ele estivesse tentando se infiltrar em sua mente.
Ethan arregalou os olhos ao ver a cena diante de si. O instrutor marciano, tão rígido e impassível com seus muitos braços, agora ameaçava Meera. Sua própria mente estava em choque, incapaz de processar o perigo real da situação. A respiração pesada era o único som que ouvia. O vento uivava ao redor, mas sua atenção estava completamente focada nela, na garota marciana que lutava para se libertar.
— Me solte, senhor Nekkar! — Meera gritou, tentando desesperadamente se desvencilhar. — Eu não posso deixá-los morrer!
— Está na hora de crescer, garotinha. — ele respondeu com frieza, pressionando a lâmina mais perto da pele dela. O corte fino e preciso começou a desenhar uma linha de sangue. — Precisa aprender a tomar decisões que protejam seu povo. Os humanos não são confiáveis, e você sabe disso.
Meera tentou soltar-se, mas Nekkar era forte demais. Ela se jogou para trás, usando seu peso para desequilibrá-lo. Os dois caíram no chão da nave com um baque seco, e a faca deslizou para longe. Por um breve instante, ela sentiu esperança. Mas Nekkar recuperou o controle com a agilidade de um predador. Ele envolveu seu pescoço com o cinto de segurança, apertando-o até que sua visão começasse a escurecer. Volto-se para os homens pendurados e falou com satisfação:
— Adeus, terrák’rai… sok’tal laya dyik — murmurou Nekkar, suas palavras marcianas reverberaram com uma solenidade cruel. Era como se ele estivesse ditando uma sentença de morte. — Vocês nunca serão bem-vindos aqui!
E com um movimento rápido, ele soltou a escada que segurava Ethan e Dante Corvin, jogando-os ao destino. Meera tentou gritar, mas o aperto ao redor de seu pescoço roubou-lhe o ar. Seus olhos se arregalaram ao ver os dois despencarem pela abertura da nave, a gravidade tomou conta de seus corpos e os lançou ao vazio do oceano lá embaixo.
Ethan sentiu o frio da queda tomar conta de seu corpo, o vento açoitava o seu capacete e o som ensurdecedor de sua própria respiração preencheu seus ouvidos. Ele caiu, sem poder fazer nada, enquanto o mar abaixo se aproximava cada vez mais.
Meera, desesperada, puxou o cinto com toda a sua força, finalmente libertando-se. Ela arfava, e o pescoço estava vermelho e machucado pelo aperto apertado do cinto. Com o coração acelerado, correu para a entrada da nave, com os olhos fixos em Ethan, que agora, era apenas um ponto no vasto oceano. Lágrimas brotaram de seus olhos.
— Não! — Meera gritou, com a voz rouca e tomada pela raiva.
Ethan e Dante Corvin despencaram no vazio junto com a escada que Nekkar havia soltado. O impacto na superfície das águas marcianas foi como um trovão abafado, seguido por um silêncio que parecia engolir tudo ao redor. A água era densa, quase oleosa, e o choque os envolveu em uma sensação sufocante e gelada, como se o oceano tentasse arrancar o fôlego de seus pulmões.
Ethan sentiu seu corpo afundar rapidamente, enquanto uma pressão crescente apertava seu peito. A água queimava sua pele, um contraste estranho entre frio cortante e algo vagamente ácido. Ele abriu os olhos por instinto e imediatamente se arrependeu. A luz avermelhada do céu, filtrada pelas profundezas, tingia tudo com tons de sangue. Partículas luminescentes flutuavam ao seu redor, como pequenos vaga-lumes perdidos na escuridão líquida.
Dante, mais corpulento, lutava contra a sensação de ser puxado para baixo. Ele chutava desesperadamente, tentando subir, mas a água parecia ter vida própria, como se mãos invisíveis o agarrassem. Ele sentiu algo roçar sua perna, e um arrepio de pânico subiu por sua espinha. Quando olhou para baixo, viu sombras esguias serpenteando no fundo do mar, seus contornos eram indistintos, mas ameaçadores.
Juntos, estavam cercados por um mundo tão belo quanto alienígena, mas nada naquele lugar parecia convidativo.
A sensação de serem intrusos, de que algo maior os observava, era esmagadora.
Meera se virou para Nekkar, com suas mãos cerradas em punhos de fúria. — Seu desgraçado! Eu vou garantir que meu pai corte sua cabeça por isso!
Nekkar não recuou. Ao contrário, um sorriso satisfeito apareceu em seu rosto.
— Não, princesa. — ele disse com um tom calculado. — Seu pai vai me dar uma medalha. Ele sempre detesto os humanos, são perigosos. Eles não pertencem a este mundo. Um dia, você vai me agradecer por isso.
Ela não conseguiu acreditar na frieza dele, na convicção distorcida que o movia. Meera sentiu o ódio fervendo dentro de si.
— Eu ainda serei a Regente do reino! — ela declarou com uma intensidade que fez Nekkar hesitar por um momento. — E, quando esse dia chegar, eu juro que você será o primeiro a ser banido dessas terras!
Nekkar riu, mas sua risada soou forçada, como se algo nas palavras de Meera o tivesse atingido mais fundo do que ele gostaria de admitir.
— Nunca existiu, e nunca vai existir mulheres regentes, princesa. — ele disse, tentando reafirmar seu controle sobre a situação. — Essa honra é dos machos, e você sabe disso.
— Um dia isso mudará! — Meera falou com uma calma mortal. — Eu serei a regra!
Os olhos de Nekkar se estreitaram. Ele não estava mais tão certo de seu domínio sobre ela. Havia algo nos olhos dela, algo que ele não havia visto antes.
— Você precisa de descanso, princesa... — ele disse, como se falasse com uma criança que estava agitada. — Sente-se. Aproveite a viagem de volta para pensar no que fez. E prepare-se para a punição de seu pai.
Mas Meera não deu ouvidos. Ela caminhou lentamente até a beira da nave, o vento soprava forte, fazendo seu cabelo voar. Lá embaixo, as águas escuras do oceano pareciam uma promessa de silêncio eterno.
— Eu não vou voltar... — ela disse baixinho, como se estivesse falando consigo mesma.
Nekkar deu um passo à frente, alarmado. — O que está dizendo? Saia da beirada, princesa!
Ela o ignorou. Olhou para o horizonte, para o futuro que parecia tão distante. E, sem hesitar, se jogou no vazio, deixando apenas um pedaço de sua veste nas mãos de Nekkar que tentou segurá-la.
— Não! — ele gritou, ajoelhando-se na beira da nave, com os olhos fixos no ponto onde ela desaparecera. — Sua louca! O que você está fazendo?!
O desespero tomou conta de Nekkar. Como explicaria isso a Sharaak? O que diria sobre a princesa, sua filha? Ele sentiu o peso da responsabilidade esmagá-lo.
Meera havia tomado o mesmo destino de Ethan e Dante, mergulhando no no mar Marciano. Mas, ao contrário deles, ela não era uma estranha naquele ambiente. A água era seu elemento. Diferente dos astronautas, com suas roupas pesadas e rígidas, Meera movia-se livremente, sem barreiras. Sua pele marciana, adaptada ao ambiente, e sua habilidade nata a tornavam uma criatura graciosa no oceano de Marte.
Dante batia os pés com força, com o corpo lutando contra o peso da água marciana, até que finalmente alcançou a superfície, as vestes cheias funcionou como uma boia.
Mas Ethan não teve a mesma sorte. Seu pé ficara preso em uma camada espessa de musgos luminescentes que pareciam vivos, pulsando e se enredando cada vez mais ao redor de sua bota. Ele puxava desesperado, mas a cada movimento a sensação de sufocamento aumentava. O medo o envolvia como um abraço gélido.
Meera, deslizando pelas profundezas com a graça de quem dominava aquele ambiente, avistou o rapaz em apuros. Sem hesitar, nadou em sua direção. Quando seus olhos se encontraram, a determinação dela encontrou o desespero dele. Os dedos de Ethan estavam frios e trêmulos quando ela segurou sua mão. Meera apertou com força, comunicando uma promessa silenciosa: Não vou deixar você aqui.
Com um movimento ágil, começou a puxá-lo para cima, balançando o corpo com a fluidez de uma nadadeira. Ethan sentiu o aperto dos musgos ceder enquanto o puxão de Meera o libertava. Por um instante, um lampejo de alívio percorreu seus pensamentos, mas foi breve.
De repente, uma sombra colossal surgiu das profundezas. Uma criatura monstruosa avançou em alta velocidade, com sua boca descomunal e repleta de fileiras de dentes curvados abocanhando Ethan pela cintura. O "peixe-frente", como era conhecido entre os marcianos, tinha uma aparência aterradora: seu corpo era longilíneo e translúcido, revelando órgãos pulsantes no interior. Suas mandíbulas brilhavam com um tom fosforescente, enquanto seus olhos negros pareciam não ter fim, vazios como o próprio abismo.
Ethan arregalou os olhos, com o grito preso na garganta. Meera tentou gritar também, mas tudo o que conseguiu foram bolhas subindo rapidamente até a superfície, carregando sua angústia. A criatura o sacudiu violentamente, e o traje de Ethan se rasgou ao bater contra uma rocha submersa, expondo parte de sua pele. Imediatamente, pequenas bolhas de oxigênio começaram a escapar do traje danificado, subindo em espirais para o topo.
Meera, lutando contra o pânico, nadou ao redor da criatura, determinada a salvar Ethan. Seus pensamentos estavam em caos, mas uma coisa era certa: ela não podia deixá-lo morrer ali, engolido por aquela monstruosidade.
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